Major coloca a cabeça na guilhotina ao atacar Flávio Bolsonaro: “Eu quero que se dane que é filho do presidente”
Tempo de leitura: 5 minDa Redação
Talvez a campanha da deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) para que o presidente Jair Bolsonaro não viaje a Nova York para a abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, na semana que vem, seja bem sucedida.
O motivo pode não ser médico.
Como definiu um internauta, é “fogo no laranjal”.
O Major Olímpio (PSL-SP), líder do governo no Senado, disparou um míssil contra Flávio Bolsonaro, seu colega de Casa.
“Eu quero que se dane se é filho do presidente, aqui é senador”, disse ele se referindo a Flávio em entrevista ao Congresso em Foco (ver trecho acima).
A disputa tem relação com a CPI da Lava Toga.
O pedido para a criação da CPI, com a assinatura de 27 senadores, deveria ser apresentado esta semana.
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, é contra.
Apoie o VIOMUNDO
Ele fez lobby telefônico contra a apresentação do requerimento, dizendo que haverá desgaste entre o Legislativo e o Judiciário.
Graças à Vaza Jato, sabemos que o então juiz federal Sergio Moro, o procurador Deltan Dallagnol e colegas trabalhavam na surdina para enquadrar ministros do Supremo Tribunal Federal, especialmente Gilmar Mendes e Dias Toffoli.
Partidários da Lava Jato denunciam Gilmar não só pela suposta leniência com réus da Lava Jato, mas por acumular com a esposa Guiomar, que é advogada, fortuna estimada em R$ 20 milhões.
Toffoli, por sua vez, estaria “contaminado” por ter trabalhado como advogado do Partido dos Trabalhadores.
Um dos vazamentos do Intercept Brasil mostra que Deltan Dallagnol recorreu à Receita Federal para obter informações sobre o escritório de advocacia onde atua Roberta Maria Rangel, a esposa de Toffoli.
Os procuradores da Lava Jato parecem suspeitar, embora não mencionem isso, que as esposas advogadas dos ministros tiram proveito ou são instrumento para que os maridos tirem proveito financeiro do poder no STF.
Gilmar Mendes já disse em entrevista recente à Folha que, se a CPI da Lava Toga for instalada, será barrada pelo STF.
Nas últimas semanas, diante das revelações da Vaza Jato, a Corte parece ter adotado uma posição majoritariamente corporativa.
O presidente do STF, Dias Toffoli, deu recente entrevista à GloboNews para dizer que um inquérito aberto para investigar ameaças a integrantes da Corte apurou “ameaças de uma gravidade excepcional… a ministros e a cidadãos também”.
Toffoli mencionou a deep web e robôs. Não entrou em detalhes. Mas a mensagem política ficou registrada: os ministros se enxergam num círculo de fogo.
Não é para menos. Foi o filho do presidente da República, candidato a embaixador do Brasil nos Estados Unidos, o hoje deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), quem disse que para fechar o STF só eram necessários um cabo e um soldado.
Porém, desde que Dias Toffoli trancou uma das ações contra o irmão dele, o senador Flávio Bolsonaro, em andamento no Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro, a família Bolsonaro amenizou seu discurso.
Flávio é suspeito de lavagem de dinheiro, caixa 2, organização criminosa, desvio de dinheiro e improbidade administrativa em apurações em andamento na Polícia Federal, na Procuradoria da República e no MPE-RJ.
Toffoli trancou a ação no MPE e remeteu ao plenário do STF a decisão que pode enterrar ou não uma das principais acusações contra o filho 01: se é válido ou não o uso do relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que apontou movimentações “atípicas” nas contas de Fabrício Queiroz, o ex-policial militar suspeito de ser laranja financeiro da família Bolsonaro e de ter ligações com milícia que atua na Zona Oeste do Rio de Janeiro.
Queiroz assume que desviou dinheiro do salário de assessores parlamentares de Flávio para beneficiar o mandato do então deputado estadual, mas diz que o chefe nunca soube disso.
Porém, há indícios de que o ex-PM pode ter contribuído para o enriquecimento ilícito do senador em negócios imobiliários.
O MPE-RJ pediu a quebra de sigilo fiscal de 95 pessoas e empresas ligadas a Flávio para investigar a compra de 19 imóveis por R$ 9 milhões.
Flávio Bolsonaro alega que é vítima de perseguição política.
Jair Bolsonaro diz que tentam usar o filho para atingí-lo e reagiu furiosamente.
Trocou o nome do Coaf, enfraqueceu e mudou a repartição de lugar (foi do Ministério da Fazenda para o Banco Central).
Trocou o superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro, atropelando o ministro da Justiça Sergio Moro e a hierarquia da Polícia Federal.
Indicou um nome para a Procuradoria Geral da República que não estava na lista tríplice votada pelos procuradores de todo o Brasil.
Flávio passou a atuar no Senado contra a CPI da Lava Toga.
Por pressão dele, a senadora Selma Arruda, apelidada de “Moro de Saias” por ser ex-juiza, trocou o PSL pelo Podemos.
“Vocês querem me foder! Vocês querem foder o governo!”, teria dito Flávio a Selma numa ligação telefônica, ao pedir a ela que retirasse a assinatura pela criação da CPI da Lava Toga.
Curiosamente, a Juiza Selma, a “Moro de Saias”, teve seu mandato cassado pelo TRE de Mato Grosso por abuso de poder econômico e caixa 2.
Está recorrendo.
É ela quem está tentando lavar a toga alheia.
Numa entrevista ao site de extrema-direita O Antagonista, Selma explicou:
Ele [Flávio Bolsonaro] gritou comigo, com a Soraya e com o Major. Ele disse que não gritou comigo e que entende o momento difícil que eu estou passando. Ele quis dizer com isso que eu estou fazendo drama por causa do processo? Não sei o que ele acha, como ele acha que eu posso me beneficiar com isso. Não tenho nada pessoal contra ele. Só acho que ele não podia pessoalizar. O meu caso pode ser mais grave que o dele, inclusive, até porque eu não tenho metade da força política dele. Mas eu não corro dele. Ficar enterrando as coisas, ficar tentando postergar, isso não é a minha cara. Não usaria jamais esse tipo de coisa para falar isso.
Traduzindo: Selma disse que o 01 ralhou não apenas com ela, mas com os colegas apoiadores da Lava Toga, Soraya Thronicke (PSL-MS) e Major Olimpio (PSL-SP). Selma disse que ela não tem medo de enfrentar o processo de cassação de seu mandato, mas que o 01 está tentando fugir das acusações contra ele e para isso está fazendo barganha política com uma CPI!
Na entrevista ao Congresso em Foco, Major Olímpio avisou que fica no PSL: “No momento em que estivemos em lados opostos, eu e as duas senadoras do partido, em função da CPI da Lava Toga, ele ficou do outro lado, entendeu? Nós fizemos uma avaliação, quem tem que sair não somos nós, então saia quem está errado”, afirmou.
Porém, a “Moro de Saias” saltou rapidinho do barco.
A declaração do Major pode ser apenas uma bravata.
O presidente do PSL em São Paulo é Eduardo Bolsonaro, o 03. Por enquanto. Ele quer ser embaixador do Brasil em Washington, mas ao assumir a direção partidária paulista falou em planejar as eleições de 2020.
No Rio, Flávio preside o PSL estadual e determinou em nota o desembarque do governo de Wilson Witzel: “Aqueles que quiserem permanecer devem pedir desfiliação partidária. Nossa oposição não será ao Estado do Rio, mas ao projeto político escolhido pelo governador Wilson Witzel”.
Ou seja, vem aí o dedaço dos Bolsonaro para as eleições municipais do ano que vem, essenciais para o projeto de reeleição do pai em 2022, se ele chegar até lá.
Major Olímpio, em tese, quer ser candidato a governador de São Paulo pelo PSL.
Em tese, pois o último que peitou Flávio Bolsonaro publicamente foi o deputado Alexandre Frota. Expulso do partido por unanimidade, migrou para o ninho tucano de João Doria.
Que, por acaso, odeia o Major Olimpio, que lhe fez oposição em 2018 e apoiou Márcio França (PSB).
O Major pode ter colocado a cabeça na guilhotina. Pelo histórico dos Bolsonaro, é apenas uma questão de tempo.
Comentários
Nenhum comentário ainda, seja o primeiro!
Deixe seu comentário