Festa da Consciência Negra perde com cancelamento da estreia do filme Marighella; leia o livro e veja o trailler

Tempo de leitura: 3 min

É este o filme que não consegue estrear no Brasil. É esta a história que não querem que seja conhecida. É este o personagem que pretendem condenar ao esquecimento. O esquecimento é amigo da barbárie. Mário Magalhães, jornalista e escritor do livro que deu origem ao filme; leia o livro clicando aqui.

Julho de 2019: ‘Se não puder ter filtro, nós extinguiremos a Ancine’, diz Bolsonaro. Setembro de 2019: Filme ‘Marighella‘ de Wagner Moura tem lançamento cancelado no Brasil por problemas com a Ancine. O filtro tem outro nome: censura! Guilherme Boulos, militante do Psol

“Marighella”, de Wagner Moura, tem lançamento em novembro cancelado no Brasil

Dificuldades burocráticas com a Ancine fizeram com que distribuidoras desistissem de lançar a obra em tempo do aniversário de 50 anos da morte do ativista e do Dia da Consciência Negra

por Matheus Fiore, no B9

Após estrear com ótima recepção em fevereiro durante o Festival de Berlim, o filme “Marighella”, obra que reconta a trajetória do guerrilheiro Carlos Marighella e é protagonizada por Seu Jorge, viveu poucas e boas.

O filme, inicialmente, sairia em abril, mas desde sua exibição em Berlim, o longa-metragem dirigido por Wagner Moura vem sido adiado e enfrentando enorme dificuldade de chegar ao circuito brasileiro.

E dessa vez, mais uma vez o lançamento foi cancelado.

Após muita incerteza, o filme havia ganhado uma data para chegar ao cinema: 20 de novembro, no Dia da Consciência Negra.

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Entretanto, hoje, a O2 Filmes e a Paris Filmes, distribuidoras de “Marighella”, divulgaram hoje uma nota oficial onde os produtores afirmam que, em virtude da falta de tempo para cumprir todos os trâmites exigidos pela Ancine (Agência Nacional do Cinema), esta chegada de “Marighella” ao circuito nacional foi anulada.

Em agosto, a O2 entrou com um pedido para a verba de comercialização do filme ser liberada antes da assinatura efetiva do contrato com o Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), já que este estava demorando para ser finalizado.

No mesmo período, a O2 teve outro recurso negado, referente a um pedido de ressarcimento de despesas pagas com dinheiro da produtora no valor de mais de R$ 1 milhão, por meio do FSA.

O governo de Jair Bolsonaro tem tido muitos problemas com a Ancine, agência que um porta-voz do governo já chegou a afirmar ter a intenção de reformular para que trabalhe apenas com projetos com um “sentimento cristão”.

Em agosto, Bolsonaro demitiu o diretor da Ancine e afirmou buscar um substituto com visão “evangélica”.

Nessa semana, o presidente apresentou, no Poder Legislativo, um projeto de lei que prevê um corte de quase 43% no orçamento do FSA em 2020.

Com os atritos administrativos e ideológicos (e a clara perseguição do governo), não surpreende o fato de “Marighella” não conseguir chegar aos cinemas.

Afinal, além de todos os problemas burocráticos, há também o fato de “Marighella” retratar o período da ditadura militar pelo ponto de vista de um guerrilheiro de esquerda, enquanto o presidente, um militar da reserva, já deixou claro publicamente ser a favor do golpe de 1964 e da ditadura.

Não deixa de ser triste, porém, ver um filme nacional que estreou com uma recepção internacional tão positiva, não conseguir chegar às luzes do projetor do cinema brasileiro.

Quem perde, como sempre, é o público e o próprio cinema.

Você pode ler abaixo o pronunciamento oficial dos produtores do filme sobre o adiamento da estreia:

Nós, produtores do longa-metragem “Marighella”, dirigido por Wagner Moura, anunciamos que a data de lançamento do filme nos cinemas brasileiros, divulgada anteriormente para 20 de novembro de 2019, está cancelada.

Os produtores haviam escolhido o mês de novembro, que marca os 50 anos de morte de Carlos Marighella, e o dia 20, da Consciência Negra, para a estreia. No entanto, a O2 Filmes não conseguiu cumprir a tempo todos os trâmites exigidos pela Ancine (Agência Nacional do Cinema).

“Marighella” segue sendo apresentado com muitos sucesso em vários festivais de cinema no mundo. Nosso objetivo principal sempre foi a estreia no Brasil. Os produtores e a distribuidora Paris Filmes vão seguir trabalhando para que isso aconteça.

Produtores de “Marighella”

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Comentários

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Biel

Ora, criem uma vaquinha online e doa la 100R$ pra ajudar eles.. Se querem que saia dos cofres publicos de qualquer forma, que saia do bolso de quem ‘luta’ pela causa.
O Cara quer fazer filme contando com a grana do estado??? Falta de planejamento financeiro e mal acostumado a ter tudo mamado.

Zé Maria

“Numa ofensiva contra @AncineGovBr,
Bolsonaro cortou 43% do fundo audiovisual.
Ele tá destruindo um setor q movimenta R$ 20 bilhões ao ano
e gera mais de 400 mil empregos.
Hj o filme #Marighella teve o lançamento no Brasil cancelado.
É um ataque à cultura e à economia brasileiras.”
https://twitter.com/50ChicoAlencar/status/1172326968739516416

“A censura econômica é uma forma menos óbvia
de impor padrões ideológicos, mas não deixa de ser censura,
é proibida pela Constituição e não tem nada que a justifique”.
https://twitter.com/Leoni_a_jato/status/1172489134935564288
https://gauchazh.clicrbs.com.br/cultura-e-lazer/cinema/noticia/2019/08/ancine-recusa-pedido-de-reembolso-de-r-1-milhao-de-produtora-de-marighella-cjzye27z400vw01qtgcs2okyu.html
ANCINE bolsonazista proíbe o filme Marighella no Brasil
a partir de 7 de setembro todo brasileiro patriota está obrigado
a comparecer nos cinemas p assistir ao vídeo completo da
colonoscopia do nosso mito. Oferecimento:
Riachuelo
Havan
RedeTV!
Jequiti
Universal do Reino d Deus
https://twitter.com/PatoCorporation/status/1172270311007576064
.
Quando suspenderem os Shows da Daniela Mercury,
da Marisa Monte e do Caetano Veloso, com certeza
os Movimentos Temáticos vão às ruas protestar …
Tomara que os Protestos não cheguem tarde demais.
Depois de décadas da última vez que houve censura
descarada, como essa, o País parecia ter se recuperado,
sobretudo com a Promulgação da Constituição de 1988.
Democracia não é só Eleição Direta para Presidente.
.
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