Dr. Rosinha: “Vergonha para o Paraná, para o nosso legislativo e para própria Damares, que não se deu ao respeito”; vídeo e fotos
Tempo de leitura: 7 minNo vídeo acima, a íntegra da solenidade. Aos 36min17 da solenidade, o “show” de machismo, sexismo e misoginia, com a complacência da ministra; 50 segundos de desrespeito absoluto às mulheres
por Conceição Lemes
Nessa semana, o plenário principal da Assembleia Legislativa do Estado do Paraná (Alep), em Curitiba, foi palco de um “show”, que misturou machismo, sexismo, misoginia e hipocrisia.
No “elenco”, deputados da Casa, com participação especial do seu presidente, o tucano Ademar Traiano, e da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves.
Na segunda-feira passada, 12 de agosto, em solenidade ao longo da sessão da tarde, ela recebeu o título de cidadã benemérita do Paraná, proposto pelo deputado Delegado Francischini (PSL-PR).
Traiano presidiu a homenagem a Damares, que chegou ao plenário fazendo coraçãozinho.
A solenidade dura 38 minutos. Está na íntegra no vídeo acima.
A FALA DO PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA
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Após o mestre de cerimônias fazer as apresentações, aos 4min5s, Traiano se manifesta.
Confiram a fala ipsis litteris:
“Excelentíssima senhora Damares Regina Alves, ministra de Estado da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, a nossa homenageada na tarde de hoje.
(…)
É uma honra o Poder Legislativo do Estado do Paraná poder agraciar com o título de Cidadã Benemérita do Estado do Paraná a nossa ministra paranaense, da cidade de Paranaguá, no qual nos honra ocupando um dos mais importantes cargos da República e que sintetiza com a sua presença também a presença do Estado do Paraná no novo governo.
Nós estamos aqui orgulhosos por poder recebê-la, ministra. Saber da importante missão que vossa excelência tem neste ministério. Ministério esse complexo, de tantas divergências, mas com habilidade, capacidade, inteligência, sabedoria, vossa excelência tem sabido conduzir as ações deste ministério, acima de tudo sempre procurando com muita racionalidade exercer esta função com equilíbrio e com intuito de fazer com que todas as medidas sejam elas pelo interesse comum do nosso país.
Queremos dizer a vossa excelência da alegria de tê-lo aqui na nossa companhia nesta casa que também, na sua composição, ela reflete os vários segmentos da sociedade organizada do estado, ela se transforma também na caixa de ressonância da nossa sociedade organizada.
Enfim, de todos aqueles que procuram expressar a sua presença, mesmo não tendo as suas vozes aqui presentes, mas no anonimato, representados pelo senhores e senhoras deputadas, fazem-se presentes neste poder legislativo.
Seja muito bem-vinda aqui na nossa casa. Ela é sua e, a partir de hoje, ainda mais com este título que honrosamente iremos lhe entregar nesta tarde”.
EM PROTESTO OS 4 DEPUTADOS DO PT SE RETIRAM
“Senhor presidente, pela ordem”, intervém, aos 7min30s, o deputado Tadeu Veneri (PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania.
“Eu quero só deixar registrado, presidente, com todo o respeito que tenho ao deputado Francischini, proponente desta homenagem, que, aliás, está sendo feita em horário de sessão, coisa que não é usual, mas como presidente da Comissão de Direitos Humanos, eu não me sinto à vontade com aquelas declarações – desculpa ministra, eu não quero ser indelicado com a senhora, mas que estão nos jornais: ‘Damares pretende encerrar os trabalhos dos desaparecidos políticos’; a ‘Comissão da Anistia trata agora vítimas da ditadura como terroristas’.
Eu entendo, ministra, que a senhora está no seu papel, a senhora será homenageada, mas eu peço licença, presidente, para me retirar”.
Veneri sai sob vaias da claque do governo Bolsonaro (PSL-RJ), presente nas laterais do plenário e galeria, que, em geral, abrigam assessores que auxiliam os deputados durante a sessão.
Na segunda-feira passada, porém, assessores que não costumam sair dos gabinetes ocuparam esses espaços só para aplaudir e vaiar, como foi com Veneri.
Os deputados petistas Professor Lemos, Luciana Rafagnin e Arilson Chiorato também abandonam o evento em protesto aos ataques da ministra e de Bolsonaro aos direitos humanos.
“Fascismo não se homenageia, o fascismo se combate”, comenta depois Veneri.
De pronto, o deputado Ricardo Arruda (PSL) pede a palavra e detona Veneri:
“O que nós acabamos aqui de ouvir e ver é algo tão lamentável.
Uma falta de ética e educação com uma mulher que acabou de assumir um ministério e tem uma missão tão importante… e vem cumprindo à risca de colocar o Brasil no caminho certo, depois de ficar 20 anos nas mãos de bandidos, que destruíram os valores da família, que apoiaram guerrilheiros que eram contra o governo e se acham no direito de dizer algo tão lamentável que ouvimos.
Ministra, eu peço perdão aqui em nome da grande maioria desta casa, que apoia o seu trabalho, que é uma honra tê-la aqui”.
Francischini discursa então.
Na sequência, Damares, que encerra assim:
“O Brasil é uma nova nação. É o país da inclusão. E o nosso Governo é incomum formado por pessoas comuns. Por isso, o meu recado é: há esperança para esta nação. A garantia dos direitos humanos para todos é a nossa meta”.
“O Brasil está em boas mãos”, retoma a palavra Traiano, para suspender em seguida a sessão.
A solenidade já dura 34min30.
Deputados e convidados começam a deixar o local. A saída é pela passagem que dá acesso ao espaço, atrás da mesa diretora da Casa.
A ministra é efusivamente cumprimentada.
Fotógrafos passam a tirar fotos do grupo, que está de costas para o plenário.
50 SEGUNDOS DE MACHISMO, SEXISMO E MISOGINIA
De repente, aos 36min17, todos dão meia-volta e se postam à frente da mesa para mais fotos.
A ministra agradece, de novo, com o coraçãozinho.
Ao lado, o presidente da Assembleia acompanha-a, só que simula com as mãos a vagina.
Reprodução de vídeo
Os deputados ao redor percebem, dão risada e alguns até imitam.
Pelo vídeo, apenas um – Do Carmo (PSL) — dá-lhe um toque no braço, como se repreendesse o presidente da Casa.
Traiano dá de ombros, volta a exibir mais duas vezes o gesto obsceno para uma rodinha de deputados, que gargalham como um bando de moleques.
Lamentavelmente, a ministra também ri.
FOTO-FAMÍLIA ILUSTRA MATÉRIA DA SOLENIDADE
Detalhe: fotógrafos da assessoria de imprensa da Assembleia Legislativa registraram essas imagens de perto, com qualidade — as nossas foram capturadas de vídeo.
Nenhuma delas ilustra a matéria da solenidade postada no portal da Assembleia Legislativa.
A imagem usada é a foto-família da entrega do título à ministra Damares.
— Mas o que tem demais esse gesto, simulando a vagina? – alguns e algumas talvez questionem.
Suponhamos que a pessoa homenageada fosse um homem e quem o condecora, mulheres.
O que ele deveria fazer se uma delas exibisse o dedo indicador e as outras rissem e até repetissem o gesto?
— Ah, mas…
O que diria ou faria se uma mulher lhe apontasse o dedo indicador? Também daria risadinhas, como fez a ministra?
O gesto de Traiano, reproduzido por alguns pares, é vulgar, ofensivo.
Para eles a mulher se resume a um aparelho genital.
O que se vê no vídeo vai além da vulgaridade escrota.
É uma combinação de machismo, sexismo e misoginia, que desqualificam a mulher perante o homem, deixando-a numa posição inferior, com desigualdade de direitos. É a principal causa de feminicídio.
— Ah, mas a ministra não deu a menor bola, também riu – alguns e algumas vão contestar.
Infelizmente, machismo, sexismo e misoginia não são exclusividade de homens.
Muitas mulheres se acham inferiores ao homem e que, por isso, não devem ter os mesmos direitos.
Parece ser o caso da ministra, uma figura melosa, com gestual e voz infantilizados.
— Ah, mas os deputados elogiaram a ministra – outros insistem.
Da boca para fora. Ao deixarem-na ali, pateticamente exposta, numa situação constrangedora, em espaço de visibilidade, estão dizendo: mulheres não se prestam à atividade pública, política, reforçando o machismo num ambiente dominado por homens.
O mais triste é que a ministra se presta a este papel e ainda acha engraçado.
— Ah, mas os deputados não fizeram por mal …– alguém tenta passar o pano,
Nesse caso, suponhamos que no lugar de Damares estivesse a filha, a irmã, a esposa ou a mãe do presidente da Assembleia Legislativa do Paraná. Será que ele faria o gesto obsceno na frente de uma delas?
Logo no início, ao detonar o colega Tadeu Veneri, o deputado Ricardo Arruda diz: “depois de o poder “ficar 20 anos nas mãos de bandidos, que destruíram os valores da família…”
Curiosamente, ele é um dos que riem. Veja a foto abaixo. Ele está circundado por laranja.
Daí pergunto: se naquele plenário estivesse a filha, irmã, esposa ou mãe do nobre parlamentar, ele também se divertiria com o gesto obsceno?
Nem precisa responder. Haja hipocrisia.
Estranhamente, nos dias que se seguiram, nenhum deputado foi à tribuna criticar o que havia acontecido no plenário na segunda-feira, 12 de agosto.
Sinal de corporativismo escancarado.
Alguns, para se proteger. Outros, para não se expor. Outros ainda porque não veem nada demais.
Na sexta-feira, 16 de agosto, o Viomundo perguntou à assessoria de imprensa da Alep o que a Casa havia feito em relação ao caso. Não houve retorno.
“Vergonha para o Paraná, vergonha para o legislativo do nosso estado, vergonha para a própria ministra, que não se deu ao respeito”, lamenta o dr. Rosinha, presidente do PT Paraná.
Definitivamente Damares não representa a maioria das mulheres brasileiras.
Comentários
MAM
é muita gente rasteira reunida em um lugar só. Mas é o povo, trouxa como de hábito, que põe essa camarilha no poder, para depois ficar reclamando deles.
a.ali
ela se presta pois é tão safada qto. ao bando que a “homenageou”…
Zé Maria
O tal Traiano é Presidente da Assembleia
ou do Cabaré Legislativo Estadual do Paraná ?
Com o gesto obsceno, o Deputado Estadual Ademar Traiano,
Presidente da Assembléia do Paraná, pretendeu sinalizar
que quem estava ali presente era ‘Damares, a Arrombada’ ?
É isso ?
Goretti Bussolo
Lamentável isso que aconteceu Eu estava na platéia representando a casa civil e não vi nem percebi. Perguntei à ministra se ela viu, respondeu-me que não percebeu o gesto.
Lamentei não ser uma mulher na mesa.
Enfim, triste em conhecer está história machista e sórdida.
Tenho com a ministra um enfrentamento à pedofilia, há muitos anos e com.muitas prisões no Paraná por minha e ajuda dela.
Sem palavras diante do li acima.
Como mulher que trabalha com políticas para mulheres, repúdio com veemência!
Nicola Granato
Até onde vai o sabujismo, a falta de pudor, a falta de respeito até aos seus familiares destes deputados ridículos? O que leva o ser humano a adotar posturas deste tipo? Inacreditável!
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