Beatriz Cerqueira fez a carta que a Vale não se dignou: Perdão, mães, pais, filhos, pelo nosso crime!
Tempo de leitura: 2 min
ÀS MÃES QUE PERDERAM SEUS FILHOS E AOS FILHOS QUE PERDERAM SUAS MÃES
por Beatriz Cerqueira, em sua página
(Carta que a Vale deveria ter colocado em sua publicidade)
Pedimos desculpas. Não, a palavra correta seria “perdão”! Pedimos perdão.
Perdão por não terem seus filhos para ganharem o abraço nesse 12 de maio.
Perdão pelas mesas do almoço que não tiveram a alegria do encontro da família!
Perdão aos pais que tiveram que explicar aos filhos a ausência de suas mães. Perdão pela casa que se encheu de saudade; saudade da vida que tiramos de vocês.
Perdão pela casa que ficou maior, vazia, sem vida, num luto interminável!
Perdão por não entregarmos seus filhos como saíram de casa naquela sexta-feira: corpos inteiros e com vida.
Perdão por não lhes darmos o direito ao velório de seus filhos e de suas mães.
Perdão por não termos orientado corretamente seus filhos para que tivessem a saída mais segura do refeitório e, com isso, a chance de lutarem pela vida! Não tiveram essa chance!
Apoie o VIOMUNDO
Perdão por não aceitarmos a lápide que escolheram em memória de seus filhos, pois estava fora do nosso padrão. Perdão pelas noites em claro à espera de notícias que só chegariam cem dias depois.
Perdão às mães que ainda esperam notícias de seus filhos, cem dias depois! Perdão às avós que ficaram sem seu netos. Perdão àquelas que perderam a possibilidade de serem avós!
Perdão por termos matado o filho único, termos tirado a vida de vários da mesma família, tornando o luto e a dor ainda mais imensuráveis.
Perdão porque, apesar de mais de 300 mortes, não paramos a produção nem por 30 segundos num luto simbólico e numa tentativa de demonstrar respeito, o que não temos.
Perdão porque temos uma rede de advogados que cumpre a função de nos blindar, propor inúmeros recursos, conseguir habeas corpus para manter os nossos representantes em silêncio em depoimentos.
Pedimos perdão por apresentarmos uma perspectiva de vida e futuro aos seus filhos, dizendo que a mineração é nossa vocação. E levá-los à morte, soterrados pela lama.
Pedimos perdão por investirmos nas relações não transparentes com o poder público para garantir nossos interesses.
Perdão porque escolhemos o menor custo para nossos empreendimentos, não nos importando com as consequências.
Perdão porque, ano a ano, diminuímos os nossos investimentos em segurança.
Perdão por matarmos as mães e os filhos que escolheram a região para passear e foram soterrados junto com a pousada que desapareceu.
Perdão porque levamos às casas de vocês as tentativas de suicídio e os tratamentos contra depressão, antes inexistentes.
Perdão por termos trabalhado insistentemente para silenciar todos os movimentos que denunciavam nossas práticas. Se fossem ouvidos, talvez não teríamos tantas mães sem filhos, bem como tantos filhos sem mães.
Perdão porque sabíamos que a barragem estava com problemas estruturais e, mesmo assim, deixamos seus filhos e mães lá.
Perdão por sermos reincidentes nessa prática criminosa, pois permitimos que a brragem de Fundão, em Mariana, sob nosso controle, da Samarco e da BHP Billiton, no dia 5 de novembro de 2015, se rompesse.
Esse crime matou 19 pessoas, tendo sido ainda tirada a vida de um bebê que estava no ventre da mãe e foi abortado enquanto ela corria da lama.
Perdão pelo luto de caixão vazio que impomos a Minas Gerais.
Fonte: Jornal O Tempo
Comentários
Zé Maria
https://pbs.twimg.com/media/D7xNqlFXsAEYCLO.jpg
https://pbs.twimg.com/media/D7xQsdqWwAEnI53.jpg
2ª Turma do STF decidiu que Fábio Schvartsman, Presidente afastado da Vale,
não precisa ir à CPI de Brumadinho
Atendendo a um habeas corpus protocolado pela defesa, o colegiado entendeu que o presidente afastado não é obrigado a comparecer à CPI.
A decisão foi obtida com base em um empate na votação e prevaleceu
o voto proferido pelo relator, ministro Gilmar Mendes, favorável a Schvartsman.
O ministro Celso de Mello seguiu voto de Gilmar Mendes.
Edson Fachin e Cármen Lúcia entenderam que o presidente poderia ficar
em silêncio, mas deveria comparecer.
Ricardo Lewandowski não participou da votação.
Em março, Fabio Schvartsman e três diretores da mineradora foram afastados
temporariamente por decisão do Conselho de Administração da empresa.
Segundo nota divulgada à imprensa, os pedidos de afastamento foram feitos
pelos próprios executivos, depois de recomendação do Ministério Público
Federal, da Polícia Federal, do Ministério Público de Minas Gerais e da Polícia Civil do estado.
O rompimento da barragem ocorreu em janeiro.
Mais de 230 corpos foram retirados dos rejeitos pelo Corpo de Bombeiros de Minas Gerais.
Quebra de sigilo
Horas depois da decisão do STF, o deputado Rogério Correia (PT-MG),
relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) de Brumadinho,
informou que será pedido a quebra do sigilo telefônico de Fábio Schvartsman.
“Vamos fazer um requerimento pela quebra do sigilo telefônico e bancário
do senhor Schvartsman”, diz.
“O objetivo é apurar todas as ligações e movimentações no período que antecede
e procede o rompimento da barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho”, completou.
“O ex-presidente da Vale dá todas as provas de que não quer ser investigado.
Sua solicitação de liberação pelo STF o coloca ainda mais sob suspeita,
pois ele sabe que há muito a esconder e que colocaremos em questionamento
as perguntas de toda a população”, finalizou o deputado.
https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2019/05/28/interna_gerais,1057325/stf-presidente-afastado-da-vale-nao-precisa-ir-a-cpi-de-brumadinho.shtml
Deixe seu comentário