Lincoln Secco: Atos pró-Bolsonaro têm o objetivo de testar as instituições

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A auto-intitulada musa da direita em frente ao Palácio do Iguaçu em Curitiba. (PR). Foto: Eduardo Matysiak

Manifestações pró-Bolsonaro têm o objetivo de testar as instituições, diz historiador

Em entrevista ao BdF, Lincoln Secco debate a natureza dos protestos deste domingo (26) em apoio ao presidente

Lincoln Secco é professor de história contemporânea na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Nos últimos anos, tem estudado a ascensão do que ele classifica como um movimento neofascista em terras brasileiras.

Entrevistado pelo Brasil de Fato, o historiador falou sobre as manifestações deste domingo (26), convocadas em apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PSL).

Secco avalia que, tendo características semelhantes aos dos governos fascistas clássicos, o “bolsonarismo” precisa mobilizar permanentemente sua base social.

O professor também argumenta, no entanto, que este núcleo duro do governo perde força por não contar com o apoio da mídia hegemônica e por ter provocado – com políticas equivocadas – um racha entre os próprios movimentos que impulsionaram sua eleição.

Confira os melhores momentos da entrevista:

Brasil de Fato: De modo geral, qual é sua impressão em relação às manifestações pró-Bolsonaro convocadas para este dia 26? Qual é o seu principal objetivo? Quais são as chances de que este objetivo seja contemplado?

Lincoln Secco: Não é a primeira vez na história recente que um governante tenta mobilizar a população em defesa do seu mandato. Fernando Collor de Melo, diante do crescimento da oposição popular nas ruas, fez uma convocação semelhante, para que as pessoas fossem [às ruas] em defesa da sua permanência no poder. Foi um fiasco.

Qual é a diferença para o bolsonarismo? Ele é um movimento neofascista. Uma vez no poder, depende de uma mobilização permanente da sua base política.

Vai dar certo? É difícil que ele consiga mobilizar os seus apoiadores mais amplos que se manifestaram em 2018. Ao contrário de manifestações de direita anteriores, essa não tem o apoio explícito dos meios de comunicação de massa, especialmente da Rede Globo.

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Em segundo lugar, agora o bolsonarismo não é mais estilingue, é vidraça, e está comandando um governo que tem uma popularidade decrescente, em função da recessão que o país vive, da elevada taxa de desemprego, do não cumprimento da promessa de melhoria da segurança e de apontar como perspectiva para a população uma reforma impopular e antipopular, que é a da Previdência.

Grupos como o MBL e o Vem Pra Rua, assim como parlamentares do PSL, não aderiram à convocatória dos protestos. Por vezes, usaram inclusive as redes sociais e a imprensa para criticá-los. O que essa divisão significa?

Os movimentos da nova direita, que despontaram a partir de 2013, passaram por um processo esperado de institucionalização. Ou seja, seus principais líderes se tornaram vereadores, deputados, políticos estabelecidos, e perderam o encanto da crítica da política.

Esse elemento de natureza ideológica explica uma divisão com o bolsonarismo, que, mesmo no poder, mantém uma perspectiva de crítica da chamada velha política e de mobilização permanente da sua base social.

Um segundo elemento que explica essa divergência no seio da direita diz respeito ao modus operandi do bolsonarismo.

Esses políticos jovens, de direita, que se estabeleceram no DEM, no PSDB e mesmo no PSL, aderiram perfeitamente ao liberalismo conservador tradicional. E as práticas confusas do bolsonarismo no governo – especialmente na área externa, na educação e na relação com o Congresso – atrapalham a efetivação da agenda liberal conservadora.

Portanto não há uma divergência de fundo ou de essência, o que existe é uma divergência de método.

Na semana passada, setores da base de Bolsonaro nas redes sociais vinham levantando bandeiras como o fechamento do Congresso e do STF. O senhor acredita que os protestos possam ser parte de uma escalada autoritária desenhada pelo núcleo do governo?

É típico de movimentos fascistas testar o ambiente democrático no qual eles surgem. Nós não podemos nos enganar e esquecer que os movimentos do tipo nascem dentro da democracia política, ainda que em um momento de descrédito das instituições liberais.

O fascismo italiano não chegou ao poder a partir de um golpe de Estado. A marcha sobre Roma foi um blefe que levou Mussolini a ser convidado ao poder. Da mesma forma, o partido nazista se alimentou dentro das instituições políticas liberais, mas, ao mesmo tempo, testava essas mesmas instituições. O tempo todo provocavam e recuavam.

Então, é esperado que o bolsonarismo no poder vá o tempo todo testar as instituições. Ele pode ou não ter sucesso, mas é da natureza dele que vá provocar o tempo inteiro um clima de guerra política e tentativa de desestabilização e destruição das instituições democráticas.

Portanto, faz parte de um objetivo de uma escalada autoritária. Agora, em uma situação muito difícil, porque o movimento popular começa a reagir.

Com a crise política que assola o governo, o presidente corre risco de cair?

Alguns cenários podem ser desenhados, embora eles não deem conta da riqueza da realidade que vivemos, [porque] pode acontecer algo totalmente imprevisto.

O primeiro cenário é de uma renúncia a la Jânio Quadros, que era um presidente de discurso exótico, prática esdrúxula e dificuldade de relacionamento com o Congresso. [Ele] tentou usar a renúncia como forma de mobilizar setores militares e parte da população contra as instituições, dizendo que era vítima de “forças ocultas”.

O segundo cenário diz respeito ao impeachment de Fernando Collor de Melo. Ali o Congresso manteve o vice-presidente que, na prática, implementou a essência do programa liberal de Collor, depois continuado por Fernando Henrique Cardoso.

Isso nos faz voltar àquilo que já disse anteriormente: as divergências nunca são de essência ou de fundo. A classe dominante só se divide em torno de métodos. Existem oligarquias que são dissidentes e outras que representam a corrente principal.

Um outro cenário possível que está se desenhando é o do parlamentarismo, também bastante difícil para os conservadores. No sistema parlamentarista, o presidente da república tem que ser uma figura mais moderada e discreta. As disputas políticas ocorrem no parlamento, enquanto que o presidente precisa representar um equilíbrio perante as instituições e poderes constituídos.

Bolsonaro não tem nenhuma dessas prerrogativas. [Ele é] um presidente que tem muita dificuldade de trabalhar, porque passou sua vida política frequentando o baixo clero do Congresso sem lidar com grandes questões nacionais e internacionais.

Ele não tem apetite pelo cargo, não mantém uma agenda que se exige de um presidente, não tem paciência para conversas com políticos de diversas tendências ideológicas, e já declarou que não tem muitas qualidades e que o Brasil é ingovernável.

Então, ele dá vários sinais de que poderia desistir ou tentar uma espécie de auto-golpe.

Mas nós temos que levar em consideração que a cassação da chapa, o parlamentarismo ou uma renúncia não vão resolver o problema da recessão, a não ser que haja uma mudança de política econômica, e nenhuma dessas forças políticas que querem dar uma suposta solução para a crise, pretendem resolver a sua essência.

Nesse cenário, o que a esquerda pode fazer?

Para a esquerda não existem perspectivas imediatas. Ela só pode apostar no crescimento e fortalecimento das mobilizações populares contra os cortes na educação, em defesa da Previdência pública e não poderá ingressar em nenhum tipo de acordo de cúpula que não passe pela perspectiva de novas eleições e liberdade do presidente Lula.

Me parece que a esquerda acha que tem tanto capital político acumulado que se esforça todos os dias para destruí-lo com declarações desastrosas como a do governador da Bahia, em relação a cobrança de mensalidades em universidades, ou a declaração confusa do tesoureiro do PT, que coloca em segundo plano a campanha Lula Livre, ou aproximações do governador do Ceará com a presidência da república.

Essas coisas precisam ser evitadas, e a esquerda precisa centrar fogo na mobilização popular e não esperar uma solução institucional por cima que, mesmo restrita aos setores conservadores, não deve acontecer em um prazo curto.

A não ser que haja um elemento imprevisto como a renúncia do presidente ou alguma catástrofe política que possa se abater sobre o país. Uma outra catástrofe, porque a eleição de Bolsonaro foi a primeira.

Edição: Aline Carrijo

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Zé Maria

Sinais do Risco: A Democracia Começa a Ficar Fora de Controle

Por Janio de Freitas, na Folha de S.Paulo

As palavras, a forma, variam um pouco. O motivo é invariável. “A democracia está em risco?” / “resistirá por quatro anos?” / “vão esperar que aconteça o quê?”

As perguntas são também respostas preliminares, como expressões de um sentimento que se espraia e se aprofunda. Indagações inquietas são percebidas até em parlamentares vividos que se apresentaram, no início da legislatura, dispostos a apoiar Bolsonaro.
Enganam-se os que difundem as sucessivas derrotas de Bolsonaro e Sergio Moro no Congresso como represália, por falta de toma lá dá cá, ou falha de coordenação no governismo. Bolsonaro tentou.
Mas as promessas de mais ministérios para mais nomeações e, ainda melhor, de R$ 1 bilhão para destinação pelos parlamentares não evitaram as derrotas dele e de Moro.

Bolsonaro é adepto confesso de ditadura.
Os contatos que seus emissários têm buscado, no exterior, são com os governantes opressores, na Hungria, na Polônia, na Itália, em Israel.
Não é à toa, claro.
Tanto pode ser para uma rede de apoios mútuos do direitismo extremado,
como —o mais provável— para coleta de vitoriosos modelos de avanço sobre
o Legislativo e o Judiciário.

Não falta quem esteja atento, na Câmara e no Senado brasileiros, para os atos de desgaste que Bolsonaro lhes dirige.
Agora adotados também por Paulo Guedes, com sua ameaça, recebida como chantagem política, de deixar o governo se a “reforma” da Previdência não sair do Congresso ao seu agrado.
O provável é que Paulo Guedes se surpreenda com a resposta prática à ameaça.

A liberação da posse armas, inclusive de fuzis no decreto original, recebeu várias explicações.
Fora delas, eis a recomendável: é, no mínimo, uma provocação, de variados alcances.
O que não exclui outros objetivos possíveis.
O argumento de que Bolsonaro cumpriu o que disse na campanha só é aplicável por bobos e cínicos.
E aceito por bobos e distraídos.
Bolsonaro disse também, por exemplo, que ia retirar o Brasil da ONU.
Onde está a palavra dada nessa e em tantas outras maluquices de igual quilate?
Ocasiões para cumpri-la não faltaram, em seus cinco meses de tanta enrolação e nenhum momento produtivo.

Tanto quanto a Bolsonaro, a liberação de armas põe em questão os quase incontáveis militares do governo: nem um só foi capaz de uma atitude, uma palavra ao menos, em favor do bom senso e da vida civil.
Há meia dúzia de meses, o Exército estava ainda como interventor no Estado do Rio e em operação no Rio Grande do Norte contra ataques de quadrilhas.
Essas ações do Exército confirmam a responsabilidade que assume pela segurança da população.
Responsabilidade inconciliável com a medida que não diminui a insegurança, só pode aumentá-la.
Ainda assim, aceita e avalizada pelo silêncio dos generais que, não adiantam as negações, representam o Exército no governo mais do que o próprio Ministério da Defesa.

A democracia começa a ficar fora de controle. Com ela, Bolsonaro nunca teve compromisso, nem quando congressista.
Se os generais representantes do Exército e o Ministério da Defesa aceitam medida contrária à segurança pública que a Constituição lhes atribui, o risco vai mais longe.
É também institucional: os militares expõem a possibilidade de sua maior concordância com Bolsonaro do que a democracia suportaria.
É uma hipótese em aberto.

Clareada em um ou em outro sentido, servirá de base para uma resposta objetiva àquelas perguntas iniciais.

No que a democracia depender de Bolsonaro,
o já indiscutível é sucinto:
estamos diante de uma aberração.

https://t.co/CLfgZTc8OU
https://twitter.com/folha/status/1132760822806175748
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/janiodefreitas/2019/05/sinais-do-risco.shtml

Zé Maria

https://twitter.com/i/status/1132786829999124482

Manifestações de Ódio Contra Mulher, que vestia camisa
com nome de Marielle Franco, é ofendida na Av. Paulista

Uma mulher vestindo uma camiseta com o nome
da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL),
assassinada em março de 2018 no Rio de Janeiro,
foi hostilizada por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PSL),
na avenida Paulista, em São Paulo, neste domingo (26).

Dinah Caixeta caminhava onde aconteciam os protestos
a favor do presidente quando foi abordada por manifestantes.

“Uma sociedade só se faz com o contraditório.
Imagine esta gente com armas”, disse Dinah.

https://www.jb.com.br/pais/2019/05/1001647-mulher-com-camisa-de-marielle-franco-e-perseguida-e-hostilizada-em-sp.html

https://www.diariodocentrodomundo.com.br/a-coragem-de-dinah-a-mulher-que-encarou-uma-multidao-de-fascistas-na-paulista-com-uma-camiseta-de-marielle/

Zé Maria

https://pbs.twimg.com/media/D7hiDJGW0AAsNgH.jpg

“Bozo é um Messias msm..
Ele faz milagre..
Levou o mar até Minas Gerais..
Digam amém, irmãos!!!”

https://twitter.com/papel_em_branco/status/1132763122966638592

Zé Maria

https://twitter.com/da_museu/status/1132728568641982467

“O fundamento do Bolsonarismo e de sua base social
na baixa classe média branca é o seu “racismo prático”
travestido de discurso moral: o projeto é matar negros e pobres
e/ou deixá-los sem chances de educação.
Sádico com o vulnerável e capacho de poderoso no Brasil e nos EUA.”

https://twitter.com/JesseSouzaecht/status/1132756418140999681

Zé Maria

“A Globo é muito, muito safada!
Todos os repórteres descrevem as manifestações
como a favor das pautas da Globo:
reforma da Previdência e pacote do
Que filhos da puta!”

https://twitter.com/VIOMUNDO/status/1132755884743036944

Carlos D.

O artigo é bom e ponderado, até entrar na parte da “esquerda”, onde então o autor se deixa levar pelo regime de wishful thinking, deixando implícito que “a esquerda” como ator político não poderia outra coisa que não o PT.

Já pode ser hora de os analistas políticos que se queiram sérios começarem a se pôr como hipótese a ser testada a possibilidade de que a esquerda que pode estar se gestando agora (a que ainda não tem forma institucional) é algo que já não quer mais o PT e deliberadamente o dispensa.

Foi assim que coisas como o Podemos nasceu na Espanha. O PSOE era o retrato da esterilidade. O PT também o é. O retorno recente do PSOE já não é mais a do mesmo PSOE. A diferença é que o PSOE não era um partido de caudilho único, com no caso do PT e de Lula. Esse último só “precisa” sair da prisão porque contexto que sustenta esse imperativo é o do partido de caudilho único.

Edgar Rocha

Queria saber se o professor acha que as manifestações atuais pró-bolsonaro chamada pelos fascistas têm alguma relação com as jornadas de 2013, no que diz respeito ao método e aos grupos conclamados para a retirada da Dilma naquele período.

Zé Maria

Tal como em 2013, a Globo se apropriou das manifestações e redirecionou as Pautas para fazer campanha pela Deforma do Guedes,
que extingue a Previdência, e propaganda do Pacote Fascista do Moro.
Portanto, as Câmeras da Globo estão à disposição dos Psicopatos Fascistas do Bolsonaro e da Lava Jato em favor do Moro e do Guedes.

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