Milhares na Paulista pela Educação: “Prepare-se, Bolsonaro. Foi só o começo”, diz presidente da Adusp
Tempo de leitura: 5 minPor Lúcia Rodrigues, especial para o Viomundo
“Se escolheu os estudantes como inimigos. Escolheu o inimigo errado”, dizia um dos cartazes direcionados a Jair Bolsonaro na manifestação que reuniu uma multidão na Avenida Paulista, nessa quarta-feira, 15.
Militar de formação e político há quase três décadas, a estratégia de Bolsonaro de vilipendiar a educação diariamente conseguiu o que a oposição vinha tentando: unificou a sociedade contra seu desgoverno.
“Foi um grande ato que demonstrou a unidade e a força dos manifestantes contra os cortes na Educação e em defesa da Ciência. Está todo mundo contra Bolsonaro. O governo dele é pífio”, comemora Rodrigo Ricupero, presidente da Adusp (Associação dos Docentes da USP) e professor de História.
“Bolsonaro que se prepare. A manifestação desta quarta foi só o começo. Vai fortalecer, inclusive, a greve geral marcada para o dia 14 de junho”, afirma, confiante, Ricupero.
O ato em defesa da Educação e da Ciência na Avenida Paulista juntou de professores da Faculdade de Medicina da USP, como Heraldo Possolo de Souza e Thaís Mauad, ao morador de rua Joel José de Souza, que recicla livros.
“Não se trata de ser de esquerda ou direita. Mas de defender o bom senso. Qualquer um que defende a Educação deve estar na rua”, afirma Heraldo, que leciona a disciplina de Emergência, e foi para a rua contra o obscurantismo imposto pelo governo.
Habituado a tratar de casos graves, o médico não teve dúvida na hora de traçar o diagnóstico do governo Bolsonaro: “É um caso de psiquiatria”.
Heraldo comentava indignado com a colega Thaís Mauad, professora de Patologia, o tratamento dado por Jair Bolsonaro aos manifestantes: “Disse que somos inocentes úteis”.
A médica, que até então desconhecia a última ofensa desferida por Bolsonaro, disse que estava na rua em defesa do conhecimento. “Estamos aqui para impedir a destruição da Educação e da Ciência.”
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“O conhecimento científico avança rápido, uma ruptura nos investimentos comprometerá seriamente a pesquisa no Brasil”,explica.
“Os cortes atingem a Ciência. Vamos ficar para trás [em relação a outros países]. Isso é gravíssimo”, enfatiza Thaís.
“A gente foi para a rua pedir Diretas Já!, para eleger depois de anos isso [Bolsonaro]?!”, retoma a conversa, indignado, o doutor Heraldo, ao recordar o movimento de que participou em meados dos anos 80.
Lanoel Cruz da Silva, estudante do primeiro ano de Odontologia da USP, também foi à Avenida Paulista para impedir os cortes impostos pelo presidente da República.
Antes de entrar na USP, Lanoel era aluno de Medicina Veterinária na UFPI (Universidade Federal do Piauí), instituição com a qual ainda mantém fortes vínculos: “Nosso reitor [da UFPI] disse que não vai ter dinheiro nem para pagar água e luz”.
AMOR PELOS LIVROS
À frente da passeata dos estudantes da USP, rumo ao Masp, vinha Joel José de Souza empurrando um carrinho de supermercado repleto de livros.
Ele não é aluno de nenhuma universidade. Estudou apenas até a sexta série do ensino fundamental. Aderiu ao protesto pouco depois da Praça do Ciclista.
Mineiro de Alfenas, Joel vive na rua há algum tempo. Perdeu o teto durante a gestão do ex-prefeito João Dória (PSDB).
Despejado de uma ocupação na rua Aurora, no centro de São Paulo, em uma reintegração de posse, agora busca refúgio em marquises da avenida Paulista.
Ao ver a manifestação em defesa da Educação, não pensou duas vezes em se juntar ao protesto.
“Essa manifestação é a favor da Educação. Eu sou a favor dos estudantes e professores. Sou a favor da Educação e contra Bolsonaro, sempre”, ressalta.
Sob a administração de Dória, Joel foi atingido mais uma vez pela truculência do tucano. A carroça que usava para carregar material reciclado foi confiscada.
Sem casa e sem seu instrumento de trabalho, passou a se dedicar à coleta livros jogados fora no centro da capital paulista.
Nesta quarta, o carrinho de livros de Joel, impecavelmemte organizados, era o abre-alas do cordão humano de professores, estudantes e funcionários da USP.
Impecável também era a camiseta que ele trajava, que em nada denunciava sua condição de morador de rua.
NOVA GERAÇÃO
Os irmãos e alunos do Colégio Pentágono, em Perdizes, zona oeste da capital, Leonel Galvão e Amaral, 13 anos, e Marco Antonio Galvão e Amaral, 15 anos, foram alguns dos milhares de estudantes secundaristas que também se juntaram à manifestação na Avenida Paulista para protestar em defesa da Educação e do futuro.
Os dois meninos ainda não decidiram o que vão querer cursar na faculdade, mas já afirmam convictos, ao lado dos pais advogados formados pela Faculdade do Largo São Francisco e ex-diretores do Centro Acadêmico XI de Agosto, que lutam contra os cortes nas universidades públicas e em defesa da Ciência.
“Tudo começa pela Educação”, lembra Leonel. “Bolsonaro é péssimo. Não entende nada. Por isso, faz tanta besteira”, explica Marco Antonio.
Theo Diogo Martins Pinto, 14 anos, aluno da Escola Santi, levou o avô para a manifestação. O experiente ex-deputado petista e ex-presidente da Comissão Estadual da Verdade, Adriano Diogo, foi ao protesto convidado pelo neto.
“Meu avô é um exemplo pra mim. Mas desta vez fui eu quem trouxe ele. Sou estudante, tenho obrigação de estar na rua lutando em defesa da educação.”
AULA NA RUA
O professor da rede pública de ensino José Henrique Criscuolo saiu de casa às sete da manhã para participar do protesto contra o sucateamento do ensino à tarde na Avenida Paulista.
Normalmente, ele se desdobra entre os munícipios de Carapicuíba, Barueri e Osasco, onde leciona 42 aulas de Biologia e Ciências por semana. Nesta quarta-feira, trocou o giz e o apagador pelo asfalto.
Ele era um dos que carregava a maior faixa do ato na Paulista. No pano preto, com 50 metros de comprimento e dois de largura, segundo ele, podia-se ler em letras garrafais em branco: SOS Educação Pública. “Vale a pena lutar em defesa da educação”, garante Criscuolo.
A agente de escola Maria Aparecida de Sousa também veio de longe. Servidora em um colégio municipal em Francisco Morato, na região metropolitana de São Paulo, participou pela primeira vez de uma manifestação de rua.
“Bolsonaro tira a autoridade dos professores”, critica, ao lembrar o incentivo do presidente da República para que alunos filmem as aulas para denunciar os docentes.
Ela veio sozinha à manifestação e procurava pelos colegas de escola em meio à multidão. Timidamente cantava em voz baixa uma música ecoada pelos estudantes. Confidenciou que queria encontrar os amigos primeiro, para cantarem juntos.
As assistentes sociais Sheila Souza e Rafaela Malta, alunas de especialização em Cuidados Paliativos e Hospital Geral, respectivamente, na Faculdade de Medicina da USP, foram à Paulista protestar contra os cortes nos investimentos porque consideram que os ataques de Bolsonaro também vão rebaixar a qualidade no atendimento à população que utiliza o serviço público de saúde.
Laís Ferreira, estudante de Psicanálise, no Instituto Sedes Sapientiae, ressalta que não tinha como não comparecer: “Todas as áreas do conhecimento estão sendo massacradas por Bolsonaro”.
Marisa Luppi, funcionária da Faculdade de Medicina da USP, concorda com Laís: “Mesmo a USP não sendo federal, os cortes nas verbas do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), por exemplo, acabam atingindo a Universidade”.
“Foi um levante em defesa da Educação. Unificou todo mundo”, arremata, empolgado, Rodrigo Medina, professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e secretário-geral da associação de docentes da Universidade.
Comentários
Zé Maria
https://twitter.com/i/status/1129756024469164039
“Lula sabe muito bem quem está por trás da perseguição judicial que ele sofre
e falou disso com o jornalista @ggreenwald em entrevista ao @TheInterceptBr
que vai ser exibida na próxima semana. Prepare-se.
https://twitter.com/DeputadoFederal/status/1129756024469164039
Zé Maria
Parece que o #30M virá acompanhado de #ForaBolsonaro…
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