Procuradores que ganham R$ 70 mil mensais questionam salário congelado de professores da Unicamp
Tempo de leitura: 2 minProcuradores de faz de conta
Denuncismo imoral quer fomentar o escândalo
por Alcir Pécora e Francisco Foot Hardman, na Folha, sugerido pelo Acioli
No dia 7 de fevereiro, fomos surpreendidos pela notícia de que o Ministério Público pediu devolução imediata de salários acima do teto na USP, Unesp e Unicamp.
A reportagem requenta a ideia de supostas irregularidades nos pagamentos dos docentes das universidades públicas paulistas, desta vez denunciadas pelos procuradores de Contas Thiago Pinheiro Lima e João Paulo G. Fontes.
Raramente nos sentimos tão mergulhados em ressentimento, molecagem e má-fé contra as universidades paulistas, que, sob quaisquer critérios, reúnem a maior produção científica do país.
Nada ali corresponde a fatos, a não ser os que, a rigor, constituem-se em crimes de vazamento de informações sigilosas, de acordo com o próprio Regimento Interno do Tribunal de Contas (artigo 112).
Pena que não vazaram também o quanto ganha cada um dos citados procuradores.
Enquanto o reitor da Unicamp, que tem o maior cargo administrativo e o posto acadêmico mais alto da carreira (professor titular), tem como vencimentos líquidos R$ 15.502,08, os jovens denunciantes receberam, no mês passado, segundo o Portal da Transparência, vencimentos líquidos de R$ 72.006,46 e R$ 71.954,33!
Como é possível? Simples: sobre o salário base de mais de R$ 20 mil, que ambos recebem, foram aplicadas verbas indenizatórias que burlam o teto. Isso, sim, uma obscenidade!
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Independentemente de saber-se a quem servem, uma coisa é certa: esses jovens togados novos ricos são cúmplices ativos do obscurantismo, do anti-intelectualismo e da operação de cerco à universidade pública que tem dominado a cena nos tempos sinistros em que vivemos.
Ressaltamos que não é verdade que as universidades paguem acima do teto: os salários dos docentes paulistas estão congelados — no caso da Unicamp, desde abril de 2014.
O critério que as três reitorias utilizam para promover esse congelamento foi considerado absolutamente legal pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, em agosto de 2015.
Mas o mais incrível não é isso. O disparate é que o teto salarial das universidades paulistas é o mais baixo do país!
Alguns estados que se igualaram ao teto federal têm cerca de 70% a mais do que o teto paulista. E a maioria absoluta dos estados, que adotou o subteto previsto constitucionalmente (90,25% do teto federal), paga cerca de 54% a mais do que o teto paulista, algo equivalente a R$ 12 mil.
A decisão final sobre tal discrepância encontra-se no STF, não cabendo, portanto, nenhuma ingerência como a desses procuradores.
Estamos assim há já cinco anos: os melhores centros de pesquisa e pós-graduação do país, de reconhecimento nacional e internacional, remuneram seus docentes com o teto salarial mais baixo do Brasil.
Sendo assim, por que continuamos a tolerar que tais “procuradores de contas” continuem esses ataques escabrosos contra a educação e pesquisa da universidade pública, quando são deles os salários turbinados que vêm “reiteradamente lesando os cofres públicos”?
Esse denuncismo imoral quer fomentar somente o escândalo. Sabe-se que essa fórmula está no centro das ações contra a educação e a ciência.
Nada disso vai demover a teimosia e resistência dos que ainda acreditam na universidade como lugar decisivo para a riqueza espiritual e material do país.
Alcir Pécora
Professor titular do Instituto de Estudos da Linguagem, da Unicamp
Francisco Foot Hardman
Professor titular do Instituto de Estudos da Linguagem, da Unicamp
Comentários
Julio Cesar
Esse é o Brasil, um país bizarro. Onde gente sem atributos, morais na maior desfaçatez, tratam de assuntos inerentes a vida alheia e com poder de arruinar essas vidas. Só por conta de uma legitimidade forjada muitas vezes na covardia de uma estrutura pré concebida para manter o essas vidas refens, concedida por um estado que é dominado pela hipocrisia e desonestidade nos principios que vão dos préconceitos dos mais variados até a falta de visão do sentido da nacionalidade e cidadania. Por isso digo e repito o Brasil não está sendo forjado por esses grupos indecentes para ser nação, mas preparado para um salve-se quem puder.
PAULO erley veiga LEAL
quem são estes procuradoresinhos de M, esses cafajeste, ladrões de nosso dinheiro, por que não devolvem o que eles ganham acima do teto?
Até quando?
Sheyla
É um descalabro o salário dos professores, seja das universidades públicas ou das escolas em geral, notadamente as públicas. Fala-se muito sobre a necessidade de uma boa educação para todos mas daí ninguém resolve nada. Agora o salário destes procuradores é uma vergonha. O que querem eles? Vamos colocá-los dentro de uma escola para lecionar para as crianças pra ver o que é bom? Vamos propor que vão às universidades ter contato com a formação de nossos jovens ? Sairiam correndo logo. São eles em sua maioria saídos de uma classe social que sempre gastou a rodo o dinheirinho suado do povo. Faça-me o favor de antes de criticar, propor solução para o problema do êxodo de profissionais de gabarito das universidades públicas.
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