Marcelo Zero: Em submissão total a Trump, Brasil embarca numa cruzada suicida contra a Venezuela
Tempo de leitura: 5 minA Nau dos Insensatos
por Marcelo Zero
Até pouco tempo, o Brasil era um país sem inimigos. Mantínhamos boas relações com todos os países, independentemente das ideologias políticas de seus governos circunstanciais, como são todos os governos.
Lula se relacionava bem com Chávez e Evo Morales, mas também tinha excelentes relações com Bush, Sarkozy e com Juan Manuel Santos, o conservador colombiano.
Nosso soft power era respeitado no mundo inteiro. O Brasil era visto como um país moderador, negociador, pacificador, que contribuía de forma muito positiva para a conformação de uma ordem mundial multipolar, menos assimétrica e mais justa.
Sempre que havia um conflito, especialmente em nossa região, o Brasil era visto como o ator mundial capaz de moderar e articular soluções negociadas e pacíficas para a crise, em consonância com os princípios constitucionais que regem nossa política externa.
Desde a época do Barão do Rio Branco, que nos tornamos especialistas na dificílima e delicada arte da negociação. Consolidamos nossas fronteiras sem disparar um único tiro.
Mas tudo isso está se perdendo.
Desde o golpe de 2016 e especialmente agora, com o governo do capitão, que jogamos às favas nossa tradição diplomática e nosso prestígio mundial e estamos nos dedicando, com afinco, a fácil e destrutiva tarefa de fazer inimigos e comprar brigas.
O pior é que são brigas que não são nossas.
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São brigas a nós impostas pelo Império norte-americano.
Devido a uma opção ideológica e acrítica de adesão ao desastrado “trumpismo”, embasada em gente completamente ignorante, mais afeita à astrologia que à geopolítica, estamos criando atritos sérios com aliados e parceiros importantes.
Estamos criando fricções com a China, o principal comprador de nossos produtos, com o qual mantemos uma parceria estratégica muito densa, estabelecida desde 1993. No ano passado, exportamos mais que o dobro para a China do que para os EUA.
Estamos gerando tensões com a Rússia, nossa parceira no BRICS, país com o qual compartilhávamos o objetivo da construção de uma ordem multipolar.
Já compramos briga séria com os países árabes, vitais para nosso agronegócio, em razão da decisão oligofrênica de transferir nossa embaixada em Israel de Telavive para Jerusalém, o que contraria toda a nossa tradição diplomática de apoio à solução dos “Dois Estados” para o conflito israelo-palestino.
Não bastasse, a submissão política e ideológica a Trump, acentuada pelo messianismo do nosso folclórico chanceler pré-iluminista, nos indispôs com o ambientalismo mundial, pois passamos a questionar as mudanças climáticas.
Na visão delirante de Trump, compartilhada fervorosamente com nosso chanceler templário, o efeito-estufa é mito criado pelo “marxismo cultural”.
Afinal, como todo o mundo sabe, Marx e Engels, no Manifesto Comunista, conclamavam os proletários do mundo a se unirem contra o dióxido de carbono.
Não há dúvida, portanto, que os interesses do Brasil no cenário mundial estão sendo seriamente lesados, em virtude de uma opção ideológica provinciana e desinformada. É o que dá quando se entrega o país a “estadistas” do baixo clero e a gente formada na “loucademia” de milícias.
O dano maior, contudo, é o feito à integração regional.
Além da célere desconstrução do Mercosul, sonho antigo das nossas oligarquias internacionalizadas, o Brasil embarcou numa cruzada insensata e suicida contra a Venezuela.
Em obediência canina a Trump, estamos apoiando ativamente a intervenção política, econômica e militar contra a Venezuela, mal-disfarçada de “ajuda humanitária”.
Evidentemente, só o mais rematado dos imbecis pode acreditar que os EUA estão realmente preocupados com ajuda humanitária e democracia. Não estão, nunca estiveram e nunca estarão.
Os objetivos foram claramente expostos pelo almirante Craig Faller, chefe do Comando Sul dos EUA, ao qual o Brasil oficial e vergonhosamente se subordinou, em decisão inédita na nossa História, que sequer foi comunicada ao Congresso Nacional. Soubemos de tudo pelo Senado dos EUA.
Em sua exposição ao senado norte-americano, Faller deixou entrever que os objetivos da “ajuda humanitária” são basicamente dois:
1- Derrubar um regime “maligno” (sic), que é aliado dos grandes “inimigos” dos EUA, China e Rússia.
2- Ter acesso privilegiado à maior jazida de petróleo do mundo.
Por isso, os EUA estão seriamente empenhados na derrubada de Maduro, que foi legitimamente eleito e não é o responsável pelo bloqueio financeiro, econômico e comercial que, em grande parte, provoca a “crise humanitária” que seus perpetradores querem agora cinicamente resolver.
Acontece que o golpe planejado com a autoproclamação de Juan Guaidó como “presidente interino” fracassou. Os EUA, que erram seus cálculos políticos com alarmante frequência, esperavam que a população e as forças armadas se sublevassem contra Maduro.
As forças armadas bolivarianas cerraram fileiras, ao menos por enquanto, para defender o governo constitucional e a população se dividiu, como sempre, entre opositores e apoiadores do regime.
Guaidó, uma espécie de Temer improvisado, desconhecido por 81% dos venezuelanos, ficou com cara de fantoche ou “fantacho”.
Passa-se agora, à segunda fase do golpe, que envolveria ou poderia envolver ações militares em diversos níveis.
Craig Faller, aparentemente o novo comandante supremo das nossas Forças Armadas, por delegação inconstitucional, visitou Curaçao, Colômbia e o Brasil, de modo a assegurar um cerco militar ao regime bolivariano.
Assim, estabeleceu-se um tridente de “corredores humanitários” que cerca a Venezuela. Um vem de Curaçao, no Caribe, outro vem de Cúcuta, na Colômbia e o terceiro vem de Pacaraima, fronteira entre Roraima e Venezuela.
Ao mesmo tempo, o Comando Sul já tem importante força marítima, parte da Quarta Frota, operando no Caribe, perto da costa venezuelana.
O próximo dia 23 foi classificado como a data limite para que a “ajuda humanitária” possa entrar na Venezuela. Isso poderá ser a senha e a justificativa para ações mais contundentes.
Que ações poderiam ser essas é difícil saber de antemão.
O cenário ideal, para os EUA, seria contar com dissidências significativas dentro das forças armadas venezuelanas. É por isso que Trump está pressionando pessoalmente os militares venezuelanos a “aceitar a anistia” e derrubar Maduro. Nesse cenário, o Comando Sul, contando com ajuda de Colômbia e Brasil, teria seus objetivos muito facilitados.
Num cenário em que as forças armadas da Venezuela permaneçam fieis a Maduro, as coisas se tornam mais complicadas. Nesse cenário, contudo, as dissidências poderiam ser forçadas com provocações. Nesse sentido, a “caravanas humanitárias” jogariam papel essencial.
Seria muito fácil para os EUA, que têm pessoal especializado nesse tipo de ação, fabricar incidentes, envolvendo mortes, entre o pessoal da “ajuda humanitária”, inclusive brasileiros e colombianos, e as forças de segurança da Venezuela.
A partir daí, poderia se abrir a caixa de Pandora de um conflito armado, de consequências imprevisíveis.
Obviamente, os EUA, mesmo nesse caso, dificilmente envolveriam forças terrestres em ações abertas na Venezuela.
O mais provável, caso realmente se estabeleça um conflito armado naquele país, é que o Comando Sul coordene “intervenções cirúrgicas” contra alvos militares fiéis a Maduro. Forças terrestres, se necessárias, viriam da Colômbia, ou mesmo, quem sabe, do Brasil.
De qualquer forma, independentemente da escala do conflito, ou mesmo que não ocorra um embate militar, trata-se de uma total loucura, que transformaria a América do Sul, uma região há muito pacificada, numa espécie de novo Oriente Médio, uma região em crônica instabilidade geopolítica. O mínimo que pode acontecer é um acirramento do conflito interno venezuelano ou mesmo uma guerra civil.
Maior loucura ainda seria participação do Brasil, ainda que indireta, nessa insensatez “trumpiana”.
O Brasil, principal beneficiário da integração regional, que visa criar um entorno pacífico e próspero, só tem a perder, tudo a perder, com essa loucura.
Nosso país vinha construindo relações bilaterais extremamente construtivas com a Venezuela. Dada a complementariedade de ambas as economias, exportávamos de tudo para nosso vizinho, com amplo superávit a nosso favor.
Ademais, construímos a integração das infraestruturas fronteiriças, que tanto beneficiam o estado de Roraima e a Região Norte do Brasil, inclusive com o fornecimento de energia elétrica proveniente da Venezuela.
Todo esse esforço de décadas está agora sendo jogado fora pela nau dos insensatos da armada Bolsoleone, estrategicamente subordinada ao Comando Sul.
Pelo andar da carruagem ou pela navegação confusa e precária, sem Norte, é provável que essa nau dos insensatos se transforme, em breve, na “Balsa da Medusa”, retratada no famoso quadro de Géricault, a trágica embarcação fraticida, onde campeava o canibalismo.
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Comentários
Zé Maria
Nessa Guerra Híbrida, os United States of America
através dos Meios de Comunicação, conseguiram
estabelecer um Senso Comum, convertendo Maduro
em uma espécie de Saddan ou Kadafi Latino-Americano
contra o qual devem se voltar todos os Países ‘Democratas’
Fiéis Seguidores [Brancos] do Judaísmo-Cristão Ocidental.
Não se esqueçam que os Norte-Americanos Anglo-Saxões
consideram que existem 6 Raças no Mundo:
Brancos, Negros, Amarelos, Mouros, Vermelhos e Latinos…
Ananias
Ainda confio nos generais, sei que eles tem bastante preparo intelectual e de vida para sartar de banda dessa canoa furada.
Mas Bolsonaro e os filhos e alguns civis são bastante tontos para se deixarem usar por Washington.
Washington procura desesperadamente um exército de aluguel. Alguém que diminua o impacto negativo dessa missão numa região de paz.
É tipo a gente vai brigar aí arruma um tonto para brigar no lugar da gente. Esse tonto é o Sr. Brasil de Banania.
Na guerra do Paraguai a Inglaterra fez o mesmo. Arrumou uns trouxas para brigar no lugar deles.
Fernando Carneiro
Faltou acrescentar que essa política imperialista norte-americana vem de longe. Saliento que foi na administração Obama, como Snowden revelou, que toda sabotagem ao governo Dilma foi engendrada. Muito antes de Maduro, Chaves já era bombardeado por Bush e de pois o próprio Obama. Eles conquistaram o nosso pré-sal, derrubaram nosso governo eleito legitimamente e agora vão com tudo atrás do petróleo venezuelano. Com Trump ou qualquer um que estivesse no seu lugar.
Jardel
Se para mandar as Forças Armadas ao Rio de Janeiro para não fazerem merda nenhuma se gastou bilhões… Imagine se o Brasil se meter numa guerra com a Venezuela, que certamente será apoiada por China e Rússia.
Só podia ser ideia desse presidente débil mental, corrupto, sonegador, racista, laranjeiro e admirador de miliciano.
Jardel
Essa cambada de políticos bolsonaristas dizem que o Brasil está quebrado e preparam a cruel reforma de Previdência para apertar o cinto da população.
Ao mesmo tempo está procurando chifres em cabeça de cavalo na Venezuela. Uma guerra a essas alturas iria jogar o Brasil na miséria absoluta, sem falar nas vidas de jovens brasileiros que se perderiam nessa ridícula aventura desse imbecil eleito por 58 milhões de cretinos FDPs.
A culpa não será minha. Eu votei no Haddad.
Luiz Carlos de Alencar
O Brasil já entrou em estado de beligerância contra a Venezuela, ao lado e ao serviço de nação agressora com carta de corso, em notória e flagrante violação de suas obrigações internacionais e de sua constituição em vigor.
Terá sido soberana, força é reconhecer, a decisão de colapsar a federação e a república brasileiras, assim como a de esvaziar o sentido de nacionalidade que as inspirou e animou até então.
Para que estejamos onde estamos, contudo, essas águas já serão águas passadas. Sorte que o futuro, como o infinito, não cabe em nenhum plano.
Julio Cesar
Com esse governo que está aí, de presidente disfuncional, o Brasil entrará definitivamente no time dos que receberão seus filhos em sacos plasticos com a miséria como recompensa.
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