Marcelo Zero: Se base militar se concretizar, Brasil será o grande “capitão-do-mato” dos interesses dos EUA na América do Sul

Tempo de leitura: 5 min

Guantánamo do Sul

por Marcelo Zero, via e-mail

Os EUA têm cerca de 800 instalações militares espalhadas pelo mundo, desde grandes bases que são verdadeiras cidades até postos de radar e de telecomunicações. Gastam ao redor de US$ 100 bilhões por ano para mantê-las.

Os EUA são, de longe, o país que têm mais bases espalhadas pelo mundo.

Só para se ter uma ideia, França, Grã-Bretanha e Rússia têm, combinadas, apenas 30 bases.

Apenas na Alemanha, os EUA têm 34 bases, instaladas na época da Guerra Fria. Na América Latina, os EUA possuem 76 instalações, a maioria concentrada na América Central e no Caribe.

Na América do Sul, os EUA têm nove instalações na Colômbia e oito no Peru. Há também bases e instalações no Equador (Manta) e Argentina (Neuquén- anunciada no ano passado), além do Chile e Paraguai.

Porém, os EUA têm escassez de bases no Atlântico Sul. Deve-se lembrar que, logo após a descoberta do pré-sal, os EUA, por coincidência ou não, resolveram reativar a sua Quarta Frota, sem consultar os governos da região, a qual tem cenário de atuação no Atlântico Sul.

Pois bem, em maio de 2018, o Comando Sul dos EUA, ao qual a Quarta Frota está subordinada, divulgou a sua estratégia para a América Latina e Caribe.

Entre as “ameaças” detectadas pelo Comando Sul, estão, além das tradicionais relativas a “tráfico de drogas”, “imigração ilegal”, “crime organizado”, etc., a crescente presença da China e da Rússia em nossa região e “governos hostis” como os da Venezuela, Cuba e Bolívia.

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A grande disputa de poder entre os EUA e aliados, de um lado, e China, Rússia, BRICS e seus aliados, de outro, passou a ser o eixo estratégico da política de defesa norte-americana e substituiu o combate ao terrorismo como a principal preocupação de segurança do grande irmão do Norte.

Assim, a nossa região passou a ser um dos palcos importantes dessa luta mundial pelo poder, que inclui, obviamente, a disputa por recursos estratégicos.

Essa importância da América Latina na luta mundial pelo poder resulta do fato de que os EUA tradicionalmente vêem, desde a doutrina Monroe, a nossa região como uma espécie de “quintal”, uma zona de influência exclusiva de interesses norte-americanos.

O Almirante Kurtis Tidd, chefe do Comando Sul, afirmou ao Congresso dos EUA, em fevereiro de 2018, que, dada à “proximidade geográfica”, não havia outra região do mundo que afetasse mais a “vida cotidiana” dos norte-americanos que a América Latina e o Caribe.

Há, portanto, um ressurgimento da Doutrina Monroe e uma grande ofensiva estratégica norte-americana na América Latina, particularmente na América do Sul, a qual visa contrapor-se à influência de China e Rússia na região e desestabilizar “regimes hostis”, como o da Venezuela, de Cuba, da Bolívia, etc.

O general Joseph P. DiSalvo, segunda autoridade no Comando Sul, já fala em transformar o Plano Colômbia, que colocou aquele país na orbita estratégica do EUA, num “Plano América do Sul”, que visaria submeter toda a região aos desígnios estratégicos norte-americanos.

É justamente nesse contexto que o governo Bolsonaro fez a oferta de disponibilizar uma base militar aos EUA, prontamente aceita pelos norte-americanos.

Na realidade, não foi uma iniciativa brasileira. Só um total beócio acreditaria nisso.

O governo Bolsonaro simplesmente cedeu, de bom grado, é claro, a um desejo antigo do EUA, exacerbado pela nova necessidade estratégica de disputar o poder mundial numa região tradicionalmente sob sua influência exclusiva.

Embora tenham ocorrido reações negativas no meio militar a tal ideia, é preciso levar em consideração que, desde o golpe de 2016, ocorreu mudança significativa na política de defesa brasileira.

Tal mudança refletiu-se em iniciativas polêmicas.

O convite para que os EUA participassem de exercício conjuntos na Amazônia foi uma delas. Tratou-se de uma decisão inédita na história militar recente do Brasil, que causou muita estranheza.

Com efeito, esse convite a uma superpotência estrangeira, que não faz parte da Bacia Hidrográfica da Amazônia, representou um “ponto fora da curva”, na tradição de afirmação da soberania nacional numa região estratégica para o país.

No mesmo diapasão, o Ministério da Defesa do Brasil e o Departamento de Defesa dos EUA assinaram, em 2016, o Convênio para Intercâmbio de Informações em Pesquisa e Desenvolvimento, ou MIEA (Master Information Exchange Agreement), na sigla em inglês.

Com tal decisão, o governo do golpe investiu na cooperação com os EUA, como forma de “desenvolver” nossa indústria de defesa.

Na prática, isso significa renunciar a ter real autonomia no campo do desenvolvimento industrial e tecnológico da defesa nacional.

No mesmo sentido, a renegociação do famigerado Acordo de Alcântara com os EUA, que impediria o desenvolvimento do nosso veículo lançador, já denunciava a retomada de uma nova relação de dependência com aquele país.

Agora, porém, com o governo Bolsonaro, a submissão estratégica do Brasil será total.

A política externa e a política de defesa do Brasil serão colocadas a serviço único dos interesses estratégicos da administração Trump e de seus aliados, como Israel.

A cessão de parte do território nacional para que os EUA tenham uma base no Atlântico Sul representa a capitulação última da soberania brasileira e um marco fundamental da transformação do “Plano Colômbia” no “Plano América do Sul”.

O Brasil será o grande “capitão-do-mato” dos interesses do Império na América do Sul.

Trata-se de decisão que, se concretizada, será praticamente irreversível. Teremos uma Guantánamo do Sul, uma mácula eterna no território e na soberania do Brasil.

Observe-se que a criação de base militar com pessoal norte-americano geralmente é precedida pela celebração dos tristemente famosos Status of Forces Agreements (SOFAs).

Tais instrumentos foram criados para definir e distribuir a jurisdição sobre delitos cometidos por forças militares norte-americanas no estrangeiro.

De um modo geral, os SOFAs distribuem a jurisdição da seguinte forma: os crimes militares são julgados por tribunais militares do Estado que enviou as tropas e os crimes civis são julgados por cortes do Estado receptor.

Na prática, no entanto, isso permite total impunidade às forças norte-americanas, pois quem define a natureza dos crimes são os próprios militares norte-americanos.

Mas a criação dessa base não agrediria apenas a soberania do Brasil. Ela agrediria também a Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul (ZOPACAS), criada pela Resolução 41/11, de 27 de outubro de 1986, da Assembleia Geral das Nações Unidas.

Essa zona de paz foi criada justamente para preencher o vazio geoestratégico que havia no Atlântico do Sul.

Por iniciativa do Brasil, a Assembleia das Nações Unidas tomou a iniciativa de tornar o Atlântico do Sul, ao contrário do Atlântico Norte, uma zona de paz, a ser administrada pelos países da região.

Ora, a criação de bases norte-americanas no Atlântico Sul subverte inteiramente essa diretriz multilateral pacífica e passa a incluir a América do Sul numa disputa militarista mundial. Passaremos a ser, potencialmente, uma região geopoliticamente tão instável quanto o Oriente Médio.

Bolsonaro, que não entende de nada e parece não mandar em nada, é o presidente ideal para os interesses do Império.

Fraco e obtuso, bate continência para qualquer autoridade norte-americana ou israelense que pise no Brasil.

Com seu chanceler templário, que idolatra Trump, faz dupla imbatível no terreno da submissão geoestratégica.

Com eles, terceirizaremos aos EUA as políticas externa e de defesa.

O Brasil soberano esvanecerá e se erguerá, impávido colosso, a Guantánamo do Sul.

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Zé Maria

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Precisamos Falar Sobre Militares e Soberania

Por Gleisi Hoffmann, via Jornal GGN

Jair Bolsonaro nomeou inúmeros oficiais-generais para o governo.
A Constituição lhe garante o direito de nomear ministros e, a estes, de exercer as funções.
As Forças Armadas têm homens e mulheres preparados, competentes.
Convivi e trabalhei com muitos quando exerci a chefia da Casa Civil.
Mas, como ministros, deixam de ser chefes militares
e passam a ser cidadãos que ocupam cargos públicos importantes. É assim que é preciso ser.
Política com armas leva, inexoravelmente, à imposição, à ditadura.

Nossa Constituição cuidou de deixar claro os papéis das instituições,
afastando as Forças Armadas da política.
Por isso é muito preocupante que Bolsonaro chegue a sugerir que sua autoridade se lastreia mais nos ‘companheiros das Forças’
do que no voto popular.

Isso é perigoso para o país, a democracia e as Forças Armadas.

Também é grave que alguns generais ecoem e até pautem
o discurso do presidente contra as esquerdas e movimentos sociais,
falseando o modo como o PT se relacionou com os militares.
Alto lá!
Os governos do PT trataram as Forças Armadas com respeito e dignidade,
integrando-as ao esforço democrático de desenvolvimento nacional.
Devem se recordar que, em agosto de 2002, o Exército teve de dispensar
44 mil recrutas (quase 90% do total) porque o então presidente FHC
– filho, sobrinho e neto de generais – cortou as verbas do soldo e da alimentação.
Os recrutas que ficaram eram dispensados ao meio-dia: faltava rancho.
Cabos e sargentos não tinham dinheiro para comprar botas.
A partir de 2004 houve recuperação do soldo e aumentos reais.

O último decreto dessa nova política foi assinado por Dilma Rousseff,
em dezembro 2015: um aumento médio de 30% escalonado em 3 anos,
que se completou no dia da posse de Bolsonaro.

Graças a Lula e Dilma, o soldo de um general, que em 2004 era de R$ 4.950,
é hoje de R$ 14.031, um ganho real de 32,7% sobre a inflação do INPC.
O soldo do ex-capitão Bolsonaro, que era de R$ 2.970, agora é de R$ 9.135;
aumento real de 50%. Fora os adicionais, que variam de 13% a 28%,
quanto mais alta a patente, e outras gratificações.

Aquelas tropas desmoralizadas, mal armadas e mal treinadas,
foram usadas nos governos tucanos para reprimir o povo
em greves e movimentos sociais. Em maio de 1995,
o Exército ocupou 5 refinarias da Petrobrás para esmagar a greve dos petroleiros. Em 1996, 97 e 98, o Exército reprimiu
protestos e ocupações em Curionópolis, Eldorado dos Carajás e Sul do Pará.
Foi criada uma divisão de inteligência exclusivamente para espionar o MST,
que utilizou até imagens de satélites para mapear acampamentos.

O governo Lula convocou as Forças Armadas a defender
o Povo, o Território e a Soberania Nacional.
Estes são os valores inscritos na Estratégia Nacional de Defesa [END],
lançada em 2008, em rico diálogo com os militares, e atualizada em 2012.
A END previu o desenvolvimento da indústria bélica e o reequipamento
e instrução necessários para a defesa do espaço aéreo,
do vasto território pátrio e da chamada Amazônia Azul,
onde é explorada nossa maior riqueza: o Pré-Sal.

Para cumprir esses objetivos, o Orçamento da Defesa
(incluindo as três Forças), passou de R$ 33 bilhões
para R$ 92,3 bilhões nos governos do PT.

Segundo o respeitado Instituto Internacional de Pesquisas da Paz
de Estocolmo, o gasto militar brasileiro passou de US$ 15 bilhões em 2002
para US $ 25 bilhões em 2014 (dólar médio de 2015).
Ou seja: um país que há 150 anos não tem conflitos de fronteira
passou a ocupar a 11ª posição em investimentos militares no mundo
(em dois anos de golpe já perdemos 3 posições
e desde fevereiro o Exército voltou a reduzir o expediente
por corte de verbas).

Iniciamos a construção do submarino nuclear, submarinos convencionais,
navios-patrulha e mísseis antinavios. Renovamos a frota
de helicópteros, investimos R$ 4,5 bilhões para a Embraer
desenvolver o cargueiro KC-390, um sucesso mundial,
e contratamos os caças Grippen, escolhidos pela Aeronáutica
por critérios técnicos, com transferência de tecnologia.
Contratamos o Satélite Geoestacionário de Defesa
e Comunicação Estratégica, para garantir a Soberania nas Telecomunicações, os blindados Guarani e os fuzis IA2,
fabricados no Brasil.
Aumentamos a segurança criando empregos e desenvolvendo tecnologia.
E ao invés de servir como cossacos contra os trabalhadores,
as Forças Armadas foram convocadas nos governos petistas
para tarefas de alto prestígio – como o comando das Forças de Paz da ONU
no Haiti e no Líbano, além de ações em outros 7 países.
E para programas sociais relevantes, como o Soldado-Cidadão,
o combate à seca e a construção de obras estratégicas,
como a do rio São Francisco.

Lula adotou o critério da antiguidade e experiência na indicação dos comandantes.
Alguns dos que hoje o atacam, velada ou publicamente,
tiveram nos governos do PT as oportunidades que lhes conferiram
prestígio dentro e fora das Forças Armadas, sem que ninguém
lhes perguntasse suas opiniões políticas.
Não têm moral para acusar o PT de fazer nomeações “ideológicas”,
como diz Bolsonaro. Discordem de Lula e do PT; critiquem,
governem diferente, mas não percam o respeito à verdade
nem ao ex-comandante supremo a quem um dia juraram lealdade
e que lhes devolveu a dignidade.
E defendam a Soberania!

Os generais-ministros de Bolsonaro eram adolescentes em 1964.
Alguns talvez tenham reprimido passeatas em 1968.
Na Academia Militar, certamente ouviam falar das torturas e perseguições;
em 79, compartilhavam angústias morais e corporativas sobre a Anistia;
e devem ter se envergonhado, em 1981, com o atentado do Riocentro,
que desmoralizou toda uma geração de comandantes.
Mas viveram o pacto democrático da Constituição de 1988
e tiveram, a partir de 2003, a oportunidade de servir à pátria
num governo que lhes deu condições objetivas de promover
a Soberania Nacional.

Hoje, no conturbado governo Bolsonaro, estão associados
ao financista Paulo Guedes, que pretende aprofundar
a destruição do país: a venda da Embraer (e com ela nossa tecnologia),
a paralisação do submarino nuclear (urdida por procuradores
e juízes a serviço dos EUA); a desnacionalização da base de Alcântara;
a quebra do contrato dos caças Grippen (outro interesse dos EUA);
a entrega do Pré-Sal aos estrangeiros; a privatização dos bancos
que financiam a agricultura pequena ou grande.
Seu único projeto conhecido na área militar é a involução do GSI
para uma polícia política, cúmplice do Ministério Moro.

De resto, Bolsonaro humilha o Brasil com a subserviência
ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump,
e sua política externa irracional e prejudicial ao país.

Os generais-ministros respondem à própria consciência
pela opção política e os métodos que empregaram
na conspiração para derrubar Dilma e vetar a candidatura Lula.

Servem hoje a um governo sem rumo e sem comando,
que enfrentará muitas divergências para implantar as propostas antinacionais.
Mas os generais-ministros não serão julgados pela história
e pelas futuras gerações de militares apenas por suas opções políticas e morais.

Serão julgados principalmente pelo compromisso
com a SOBERANIA NACIONAL.

Gleisi Hoffmann (PT-PR) é Senadora, Eleita Deputada Federal
e Presidenta Nacional do Partido dos Trabalhadores.

https://t.co/nzCXvFqUQi
https://twitter.com/luisnassif/status/1082707053297238022
https://jornalggn.com.br/noticia/precisamos-falar-sobre-militares-e-soberania-por-gleisi-hoffmann

Julio Silveira

Parece que o coiso já tratou de mudar de opinião, ou os militares de tão expostos a vergonha o fizeram mudá-la. Fato é que já li que este descaramento na exposição de capachismo, que tornaria oficialmente nosso país um quintal, parece, já esta sendo colocado de lado.
Um exercito que se especializou em derrubar o estado de direito desde o advento do imperio, que substitui grupos de interesse nacionais por Oligarquias corruptas lacaias de potencias estrangeiras em qualquer tempo, ao escancarar tal façanha vinda de um integrante de seu interior, ficaria sem moral para definirem-se como garantidores da nossa auto determinação e soberania. Com esse recuo pelo menos garantem a ilusão popular de que ainda estamos independentes, e que quintal continua sendo uma crença unilateral dos yankes.

Zé Maria

Esse BolsoAsno e seus Militares Psicopatas ainda vão trazer a Guerra
para Dentro do Território Brasileiro. Quiçá para se Defender
da Invasão da Rússia via Venezuela, como disse a Janaína Paschoal.

https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/790942023549345793
https://vejasp.abril.com.br/blog/pop/no-twitter-janaina-paschoal-insinua-que-governo-russo-pode-invadir-o-brasil-e-teoria-vira-piada/

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