Urariano Motta: Nem amor nem revolução

Tempo de leitura: 3 min

por Urariano Motta, em Direto da Redação

Eu havia prometido não escrever nada sobre a telenovela “Amor e Revolução” enquanto o poeta  e ex-preso político Alípio Freire não me antecedesse. Isso porque ele foi um dos primeiros a perceber em que o folhetim do SBT ia dar. Mas não pude mais me conter, depois de ler isto na Folha de São Paulo:

“Silvio Santos reclama de ibope baixo e novela troca drama por humor

O dono do SBT, Silvio Santos, reclamou do baixo desempenho da novela ‘Amor e Revolução’ em reunião nesta terça-feira, no Complexo Anhanguera. Silvio fez a queixa diretamente ao autor da novela, Tiago Santiago, que se prontificou a efetuar várias mudanças.

A despeito da repercussão e polêmica que a novela desencadeou na internet, ‘Amor e Revolução’não passa de cinco pontos de média na Grande São Paulo. Cada ponto equivale a 58 mil domicílios assistindo à história, que se passa na ditadura militar.

Dentro de duas semanas a novela sofrerá uma guinada de 180 graus. Diálogos sobre política, personagens discursando para criar contextualização histórica, assuntos referentes a militares serão praticamente abolidos da história. Em seu lugar haverá mais cenas de humor, amor e outros relacionamentos.

Procurado pela reportagem nesta tarde, Santiago não quis comentar sobre a ‘bronca’ de Silvio Santos, mas confirmou que a novela terá algumas mudanças de rumo. ‘Nós de fato vimos várias pesquisas, e as pessoas à noite querem rir, se emocionar. Vamos acabar com o tema político mesmo’, admitiu Santiago, que acrescentou: ‘Nunca mais vou fazer novela sobre política’ “.

Comento rápido: talvez Sílvio Santos não tenha percebido, mas há muito “Amor e Revolução” faz humor involuntário. De militares que andam de farda na intimidade de suas casas, passando por presos torturados que metem bronca nos torturadores, sempre com uma língua fluente que nem toma conhecimento dos choques elétricos que levou, a novela tem mostrado na televisão uma ignorância de tempo, lugar e vidas de tal maneira, que até parece galhofa.

Escrever em folhetim de televisão sobre a história tem sido  um fiasco, desde a minissérie JK na TV Globo. Se em JK os laços que prendiam Juscelino Kubitschek à realidade eram laços de fita, de chapéus, cenários e músicas de época, em “Amor e Revolução” a realidade são guerrilheiros e militares caricatos, que falam frases de cartilha, didáticas. Como as de um personagem que explicou num capítulo, por exemplo: “Dops. Dops é o nome com que é conhecido o Departamento de Ordem Política e Social. D-O-P-S: Dópis”…

Salvava a novela até então, como uma cereja em um bolo amargo, os depoimentos. Depois das palhaçadas grosseiras do Ratinho antes, depois de penar a ver cenas, diálogos que os circos da periferia fazem com melhor arte, vinham os depoimentos reais, verdadeiros, de militantes que sobreviveram à tortura. Até então, podia-se dizer: pulem  a novela, vejam o depoimento. De fato, houve alguns deles que se aproximaram do sublime. Assim era. Mas a ressalva não durou muito.

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Todo o prometido pela produção da telenovela, de que “para dar credibilidade à história e acontecimentos narrados na novela, seria exibido no fim de cada capítulo um depoimento de um guerrilheiro, artista, familia de desaparecidos que participou desse momento tão importante para a democracia no Brasil”, veio por água abaixo com os depoimentos de torturadores, de militares criminosos ainda sem julgamento no Brasil, mais adiante.

Dizer o que mais agora?

“O autor decidiu ainda que as personagens de Luciana Vendramini e Gisele Tigre (Marcela e Mariana) terminarão juntas –talvez com direito a casamento– e que haverá mais cenas ‘lésbico-eróticas’ entre elas”, completa a notícia.

Aquela ilusão de  que “Amor e Revolução” retomasse a história que não foi conhecida, porque ao povo seria dada a oportunidade de saber o drama e valor de uma geração violentada, cai por terra.  Quem tiver dúvida, anote a última: nos bastidores do SBT, a novela ganhou o apelido de “Sessão Privê”, ou de sexo na tevê. Quem leu os próximos capítulos fala que virão cenas fortes e apelativas. Ou seja, nem amor nem revolução, ao fim.

Em Pneumotórax, Manuel Bandeira escreveu que, para um tuberculoso no começo do século vinte, o melhor a fazer era  tocar um tango argentino. Para nós, que acreditamos no poder da arte, em 2011 podemos concluir: o melhor a fazer é voltar à liberdade da literatura. Ela saberá dizer o que as telenovelas não podem, por limitação de gênero, veículo, ibope  e grana.

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Comentários

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SBT: Nem amor nem revolução | OCOMPRIMIDO.COM

[…] por Urariano Motta, em Direto da Redação. Via Viomundo. […]

Eugenio L.da Costa

"Amor e Revolução". Quero deixar meu ponto de Vista. Achei que a novela colocou muita cenas de torturas, não que seja exagetrar com os fatos, mas a novela, com aquilo se tornava muito pessada. Devia ter cenas fortes mas depois deixar subtendidas que teria o mesmo efeito. 2. O genenal Guerra (com a voz do Reinaldo muito boa indicação), mas o gal não saia de casa, nunca dava expediente no quartel. 3. O gal agora deve passar a ser menos radical, além do mais está gerando conflito com os dois filhos, a saida é ele moderar nas torturas (como queria o Felinto) e melhorar o dialogo como o José, seus dois filhos. 4. Os filhos devem salvar a mãe, pois José já sabe que o pai tem um caso com a empregada. 5. Numa novela dessas o ator e atriz principais não podem ser mortos pela ditadura, se não se torna "Tragédia"

Vinícius

A coisa mais ridícula é – era! – o didatismo. Militar de uniforme em casa (eles não eram generais de pijamas?), o pessoal repetindo informações toda hora, a puxação de saco pra cima dos guerrilheiros (uma vez, eles renderam um torturador que estava perseguindo eles… e deixaram ele algemado num carro! Num carro! Guerrilheiro com medo de matar?). Uma coisa é tratar de um tema histórico mostrando a verdade, mas precisava transformar em aula, muito menos em cartilha, como disse o Motta.

aurica_sp

Novela??? fala sério hein?!?!?!?

Val

Não sejamos injustos com os atores. Assisti as primeiras três semanas. Não há ator que seja capaz de transformar um texto péssimo em boa interpretação de forma consistente. O roteiro é ruim e os diálogos são cheios de clichés absurdos que soam como peças escolares. Outra coisa que condenou a novela foi a direção pesada nas cenas de tortura, frequentes e insuportavelmente violentas para o espectador médio. Tenho pena dos atores que embarcaram nessa, talvez com grandes expectativas. Não foi dessa vez. Por que Oliver Stone ou Michael Moore não fazem um super documentário sobre a tortura na América latina? Seria ótimo.

sandro villar

. Fiquei pasmo ao ouvir na novela expressões que ainda não tinham sido criadas nos anos sessenta. Na briga com o major José, o teatrólogo diz pro militar: "Você acha que é o rei da cocada preta." Até onde sabemos – e salvo engano -, tal expressão ainda não existia naquele tempo. No momento, não me lembro de outras frases contemporâneas ditas pelos personagens, mas garanto que isso aconteceu. Outra coisa que chama a atenção: os depoimentos, no fim dos capítulos, foram drasticamente reduzidos. Parece que tem pouca gente interessada em coisas sérias. Ao que parece, na atual conjuntura, a maioria é da geração shopping center e, a exemplo do Rick (Humphrey Bogart) no filme Casablanca, não arrisca o pescoço por nada. Na telinha e na telelona, quando se trata de ditdaura, o certo é rever os filmes do bom e velho Costa-Gavras, que, apesar de não ser sapateiro, entrava de sola no assunto. Nada de rodeios porque isso é festa de Barretos.____Sandro Villar, jornalista

Tomudjin

Amor, revolução, evolução; tudo é uma questão cronológica. Ninguém poderia imaginar que, um dia, no mundo do entretenimento, depois de personagens como Marilyn Manson, ainda pudessem surgir personagens como uma Lady Gaga.
No fundo, a "rebeldia sem causa" é o que decide se a maconha, por exemplo, pode ou não pode ser considerada como sendo uma droga.

Gustavo Pamplona

Parece que o comentário que fiz aqui ontem… ou foi pesado demais, ou não entrou mesmo…

Então… vamos tentar novamente? Se não aprovarem, não tem problema….não insistirei novamente, beleza? ;-)

Caracol

A televisão brasileira está reclamando de que? Passou anos bestializando a sociedade e agora dá com os burros n'água quando "pretende" abordar temática séria?
E a sociedade brasileira está reclamando de que? É só ela ligar a televisão e vai encontrar o nível a que pertence.
Ninguém tem que reclamar de coisa alguma.
Que consumam e continuem pastando.

Regina Braga

Que pena ,que uma novela, com um proposta tão importante…foi conduzida de forma tão absurdada…Virou amor e desilusão…A única coisa boa ,são os depoimentos verdadeiros, de quem viveu e vive as toruras.Como diria frei Tito:Prefiro morrer que perder a vida.Que pena para o sbt.

Gustavo Pamplona

Amigos.. o dia que o Sílvio falecer, e olhe que ele já está com 80 anos… o SBT vai junto… aliás, é algo que espero para ver…

Aliás.. já estava indo, primeiro foi a audiência (do Globope, diga-se de passagem), depois foi o rombo no Panamericano. E já fiquei sabendo de boatos dizendo que o Eike Batista estaria interessado no Sbt.

As filhas dele não tem muita competência para administrar o SBT, algumas estão assumindo algumas direções de certos núcleos do SBT mas estão tendo resultados pífios para não dizer medíocres.

—-
Gustavo Eduardo Paim Pamplona – Belo Horizonte – MG
Desde Jun/2007 esperando ver o SBT ir junto com o Sílvio no "Vi o Mundo"! ;-)

Nelson Menezes

O tema e bom e muito pouco explorado,mas faltou direção,atores deixando a desejar e nenhum investimento,o resultado não podia ser outro,sinto muito pelos depoimentos que eram reais e chocante ao contrario da novela, quando aparecer um autor com talento e uma emissora que invista o que for nscsessario não vai dar outra.

Anita

Acho que o que mais incomoda na novela é a falta de diálogos que passem realidade, muitas cenas são patéticas e hilárias, beirando o ridículo. Como as do treinamento em Cuba, sempre no mesmo matinho. Nem falar da mansão do general Guerra… Realmente, provoca risada.

Anita

Acho que o que mais incomoda na novela é a falta de diálogos que passem realidade, muitas cenas são patéticas e hilárias, beirando o ridículo. Como as do treinamento em Cuba, sempre no mesmo matinho. Nem falar da mansão do general Guerra… Realmente, provoca risada.
Há excelentes seriados argentinos e filmes onde o tema tem sido tratado com excelência, sutileza, realismo e também, porque não, poesia, coisas que faltam no folhetim do SBT.
Uma pena, não é culpa da temática em si, que dava muito pano para manga e sim do autor, do dono da emissora, de alguns atores também.

Antônio de Sampaio

qua qua qua qua qua qua…

Fala sério…

trombeta

A esquerdinha de butequim de faculdade ataca novamente, sempre insatisfeita, exigente e cruel com aquilo que não lhe é espelho.
Pois eu acho que a novela do SBT tem alguns problemas como atores fracos mas tem muitos pontos positivos, a opção por mostrar um período do país que foi varrido pra debaixo do tapete, a tortura como método, o teatro de resistência, relacionamentos homossexuais… são temas que não costumam frequentar a teledramaturgia brasileira, para mim já um sinal de ousadia do autor a ser saudado.
Acho que tem gente que confunde ficção (em determinado contexto histórico) com documentário, gêneros totalmente diferentes.
Uma coisa é certa, pior do que as novelinhas alienantes da globo em que a vida é totalmente glamourizada (rico casando com pobre é o maior clichê da história da ficção nacional) a novela do SBT não é.

    Paulo

    As críticas que lí reclamam de pouca verossimilhança.Bom, a trilha sonora é adequadíssima,os depoimentos ao final dos capítulos também.Acima, alguém falou que "rei da cocada preta" não era expressão dos anos 1970, é verdade, minha sogra já fazia uso dela nos anos 1950.A produção é cuidadosa, o figurino também, o cuidado com os carros,até ônibus da viação Cometa teve.Atores fracos, concordo,diálogos pobres, também estou de acordo, mas a proposta foi ousada sim,e o primeiro beijo lésbico em uma telenovela obrigou a Globo a intensificar o núcleo gay de sua novela até o ponto de kostrar dois personagens gays indo a um mote e depois um deles explicando que em sua "primeira vez" também sentiu-se desconfortável.Então,creio que a proposta da novela é boa e mesmo que tenha pouca audiência,resgata nossa história com mais verdade do que muitas produções anteriores que tinham a mesma pretensão.

Marat

Um canal que foi parido diretamente de um ditador não pode produzir nada de qualidade e de bom…

    Paulo

    Qual dos canais de TV no Brasil não foram?Globo-Time Life, 1965,Mancehte e SBT, desmembramento da extinta TUPI,Band e Record também paridas à sombra da ditadura. E no caso dos Bombeiros do RJ, o SBT e a Record foram os únicos a darem uma cbertura um pouco mais próxima da verdade..

Alexei_Alves

SBT e "realidade" ainda não se conhecem

Leonardo

Quanto o governo passou a mao na cabeça do Silvio no caso Panamericano, achou que ia ganhar uma novela de troco.

Foi isso que ficou parecendo.

A Dilma só esqueceu que o "homem do baú" sempre foi camelô e o "produto" foi entregue com aquela qualidade…

    Só pra comentar

    Legal que o sujeito mistura uma coisa com outra que não tem qualquer relação entre si… Mais um trol desvirtuando e tumultuando os comentários…

Leonardo

Até o nível dos atores tem piorado.

Quem assistia uma novela até o inicio dos anos 2000 e liga a TV hoje se assusta.

Leonardo

"Escrever em folhetim de televisão sobre a história tem sido um fiasco, desde a minissérie JK na TV Globo. Se em JK os laços que prendiam Juscelino Kubitschek à realidade eram laços de fita, de chapéus, cenários e músicas de época, em “Amor e Revolução” a realidade são guerrilheiros e militares caricatos, que falam frases de cartilha, didáticas."

Uma série que retratasse da história de forma séria, teria audiência no Brasil?

Se nao tiver sexo, traições amorosas, "pegação", sensacionalismo e bestialismo, faz sucesso na telinha nacional?

Se a TV sobrevive de anunciantes e esses querem audiência para expor suas marcas, como exigir melhor conteúdo se o telespectador faz questão uma TV de baixo nível?

Alguém acha que a TV globo "desaprendeu" fazer novelas ou percebeu que tramas mais elaboradas, que fujam do bestialismo que eu citei há pouco não dão mais audiencia?

Alguém aqui lembra das novela "Éramos Seis" ou "As pupilas do Senhor Reitor", produzidas pelo próprio SBT nos anos 90? O que ocorreu de lá para cá em termos de qualidade?

Apenas coincidência?

Já se foi o tempo em que novelas, séries etc tinha alguma qualidade.

Hoje está tudo nivelado por baixo para atender ao público que dá audiência e que perdeu completamente a sensibilidade.

Gersier

A emissora de Silvio Santos é a mesma mesmissima coisa,entra ano,sai ano. O pior é que a programação que não tem um horário definido,muda ao sabor do humor so Sílvio.Quando tem a oportunidade de veicular um programa diferenciado e angariar audiência,se essa não vem logo,pra variar,muda de novo novamente.O que dirão os tróls que "frequentam" os blogs progressistas?Não diziam eles que a novela era um favor ao Governo Federal que pra alviar a barra do Silvio, comprou parte do Panamercano?

denilson

Vão abordar outras revoluções da época (a feminina, a sexual), mas de uma maneira muito caricata! Quem quer apostar???

Sai a "ditabranda" do Otavinho e entra a ditadura que o $$ (dono do SBT) quer mostrar…

Luiz Fortaleza

O problema não é a temática, é pq o desempenho dos atores são muito fracos… sem emoção, parecem artificiais qdo encenam politicamente. Não tem know how em novelas… e além do mais, temos uma sociedade com nível de cultura erudita muito baixo… vivemos com pessoas de pouca leitura, vocabulário limitado, capacidade de compreensão dos problemas sociais muito pífio, e incluo aí muita gente da classe media e alta. O ensino escolar não ensinam as pessoas a pensar, mas a serem técnicos, robores da máquina capitalista.

    Luiz Fortaleza

    Dizia Marx, é na realidade que habita a verdade … é só conferir sem ideologizar…

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