Henrique Passos: O trabalho dos médicos cubanos nas terras indígenas
Tempo de leitura: 2 minpor Henrique Passos, médico, no Facebook
Alguns esclarecimentos, vindos daqui, de quem trabalhou e supervisionou aproximadamente 20 médicos cubanos desde 2015, no Vale do Javari (alto Solimões), no alto Rio Negro e em Roraima, atendendo aldeias indígenas (marubo, mati, kanamari, baré, baniwa, tucano, hupda, ingaricó, wapixana, yanomami, macuxi… só pra citar algumas etnias) que antes não contavam com médico:
1. Nenhum médico foi obrigado a vir. Todos estavam muito contentes em servir, numa missão internacionalista, levando saúde aos povos.
Inclusive, os médicos dos quais fui professor em Cuba (módulos de preparação antes de virem ao Brasil, sobre SUS, epidemiologia brasileira, enfim…) constantemente me procuravam no Facebook querendo saber se eu sabia quando que o governo brasileiro iria chamar a próxima leva de médicos.
Ficavam realmente ansiosos para vir. Viam como uma grande oportunidade profissional e financeira.
2. 3 mil reais por mês no contexto cubano é muito dinheiro (1 kg de arroz em Cuba custa o equivalente a 0,08 reais, sim, 8 centavos). Além disso recebiam auxílio moradia e alimentação dos municípios dos distritos indígenas.
3. O restante do dinheiro pago pelo governo brasileiro ia para Cuba, investido na formação de mais médicos que são enviados para missões no mundo todo (é o país que mais exporta médicos no mundo — alguns países exportam armas, outro nióbio, outros médicos…).
Esse dinheiro é investido em saúde e educação de qualidade, grátis.
Lembrando que a maioria dos países que recebem médicos cubanos, recebem sem custo. Quem paga é o governo cubano. Esse foi o caso no Haiti, no Congo, no Nepal, Angola e Paquistão…
4. Esses médicos ficavam 3 anos trabalhando nas aldeias. Vínculo e longitudinalidade recordes. Eu que sou um médico que curte estar no mato, dormindo em rede, sem wi-fi, não fiquei mais que um ano como médico de área indígena. Quis voltar a Floripa, pelos meus hábitos e maneiras.
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5. Esses dias agora. nas aldeias indígenas na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, vi médicos cubanos chorando pelo fim do programa. Vi equipes de saúde emocionadas por nunca antes terem trabalhado com um médico tão compromissado e humilde. Vi médicos chorando de tristeza pelo povo que atendiam.
Eu vi e vivi isso. Estava ontem em área indígena com um médico cubano, quase fronteira com Guiana, quando recebemos a noticia do rompimento de Cuba. Lamentamos, choramos juntos.
Eu estava sentado e cabisbaixo. Quando o médico cubano, Miguel, toca meu ombro, sorri, e diz: “Ei, doutor, vamos lá colega, não desanima, tem uma paciente gestante esperando, há trabalho agora. Levanta.”
Então: vontade de mandar tomar no monossílabo quem diz que eram escravos, quem vem com cinismo classista e corporativista, falar do alto da distância e da indiferença, da ignorância das realidades dos rincões desse país, desse povo e das nações indígenas.
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Comentários
Zé Maria
E o Botsonauro vai mandar a FUNAI pro Ruralista Osmar Terra (MDB) cuidar.(*)
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Bancada ruralista já emplacou sete deputados no governo Bolsonaro
Membros da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) demonstram força e disputam com os militares o domínio na Esplanada; três ruralistas entram como braços-direitos de Onyx Lorenzoni e Tereza Cristina na Casa Civil e na Agricultura.
Com a indicação do almirante Bento Costa de Albuquerque para o Ministério de Minas e Energia, já são vinte ministros anunciados por Jair Bolsonaro.
Quatro deles são filiados à Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), o que demonstra a influência que o setor terá junto ao próximo presidente.
A face institucional da bancada ruralista ainda terá um secretário-executivo do Ministério da Agricultura e dois secretários especiais na Casa Civil.
No ‘De Olho nos Ruralistas, via Amazonia.Org
Ainda no dia 2 de outubro, antes mesmo do primeiro turno da eleição, a bancada ruralista manifestou apoio à candidatura de Bolsonaro. Agora eleito, o ex-militar tratou de recompensar o suporte que recebeu e nomeou Tereza Cristina (DEM-MS), presidente da FPA e deputada federal, para ministra da Agricultura.
O deputado federal Marcos Montes (PSD-MG) será secretário-executivo do Ministério da Agricultura. Ex-presidente da FPA, ele teve uma considerável evolução patrimonial na vida política: saiu de R$ 1,7 milhão em bens em 2006 para R$ 4,9 milhões, em 2018.
Montes terá status de vice-ministro, segundo Tereza Cristina. O outro secretário com esse status será o presidente da União Democrática Ruralista, Nabhan Garcia:
“Sogro de Nabhan Garcia comprou 67 mil hectares de terras indígenas no Mato Grosso nos anos 80“. (**)
Braço direito de Bolsonaro desde a campanha, o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS) assumirá a Casa Civil. O gaúcho foi articulador do programa que refinanciou as dívidas dos ruralistas com União, beneficiando-se com um desconto de 62% em seus débitos de R$ 606,5 mil com os cofres públicos.
Lorenzoni nomeou para a linha de frente da Casa Civil outros dois deputados federais ligados ao agronegócio: Leonardo Quintão (MDB-MG) e Carlos Manato (PSL-ES). Ambos são da FPA. Eles serão os secretários especiais na relação do governo, respectivamente, com o Senado e a Câmara.
Quintão foi relator do Código da Mineração. Sua família é sócia de quatro mineradoras e cria avestruzes. Outro filiado à FPA que garantiu chefia de ministério é Osmar Terra (MDB-RS), que comandará a pasta da Cidadania. Ele é ministro do Desenvolvimento Social do governo Temer.
O ministro da Saúde será o fazendeiro e ortopedista Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS). Deputado federal, ele não concorreu à reeleição. Acusado de fraude em licitação, tráfico de influências e caixa 2, o parlamentar será mais um representante da FPA na Esplanada.
*(http://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2018-12/bolsonaro-pretende-vincular-funai-ao-ministerio-da-cidadania)
**(https://deolhonosruralistas.com.br/blog/2018/11/28/sogro-de-nabhan-garcia-comprou-67-mil-hectares-de-terras-indigenas-no-mato-grosso-nos-anos-80)
http://amazonia.org.br/2018/12/bancada-ruralista-ja-emplacou-sete-deputados-no-governo-bolsonaro/
Geraldo Domingos Turlon de Paula
Li toda a matéria,adorei o comportamento humano desse médico brasileiro e cubano,rapaz é muito gratificante saber que existem pessoa que realmente amam o que faz, deveria nossos politicos terem vergonha de mentir diante do povo, eu doutor presenciei colegas seus em hospitais com uma tarja no braço escrito fora Dilma ,pois não apoiavam o programa mais medicos, porquê queriam ver seus filhos ocupando os hospitais, em grandes centros, tenho certeza que aldeia indígena boys correm longe,estão preocupado com saúde do próximo nunca ,se pagar bem é atendido,parabéns corajoso cubanos e brasileiros.
Paulo Roberto de Araujo Carvalho
Li toda a matéria e fiquei comovido e triste realidade. Os médicos brasileiros não vão se submeter a fazer este trabalho sensacional
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