Ex-ministro Temporão: Diante das falas hostis do presidente eleito, é compreensível a saída de Cuba do Mais Médicos
Tempo de leitura: 2 minpor Conceição Lemes
Nesta quarta-feira (14/11), a declaração do governo cubano, comunicando a saída dos seus profissionais do Programa Mais Médicos, deve ter caído como uma bomba no bunker do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL):
*De uma só vez, sairão dos locais em que trabalham no Brasil mais de 8.500 médicos cubanos.
*Hoje em dia, eles atuam em 2.885 municípios, a maioria em áreas mais vulneráveis: Norte do País, semiárido nordestino, cidades com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), população indígena e periferias das grandes cidades, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
*1.575 municípios só possuem profissionais cubanos do Programa Mais Médicos; 80% dessas cidades têm menos de 20 mil habitantes e localizam-se em regiões vulneráveis
*Há 300 médicos cubanos trabalhando em aldeias indígenas. Representam 75% dos médicos que cuidam da saúde indígena do País.
* Os cubanos atuam em locais antes oferecidos a médicos brasileiros, que os rejeitaram.
”A saída dos médicos cubanos coloca em risco 24 milhões de brasileiros que vivem em regiões atendidas pelo Programa”, observa ao Blog da Saúde o o ministro da Saúde do segundo governo Lula, o médico sanitarista José Gomes Temporão.
Segue a nossa entrevista:
Blog da Saúde – Essa decisão de Cuba o surpreendeu?
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José Gomes Temporão –– De uma certa forma sim, mas considerando as declarações do presidente eleito de conteúdo depreciativo e hostil, compreende-se a decisão de Cuba.
Blog da Saúde –Qual o seu sentimento em relação à saída dos médicos cubanos?
José Gomes Temporão — De tristeza. Já se sabia que ocorreriam mudanças no programa, mas não essa ruptura brusca. Mas o fato é que com essa decisão, o que ocorrerá é que 24 milhões de pessoas ficarão sem assistência médica de uma hora para outra.
Blog da Saúde — De uma forma geral as entidades médicas brasileiras não só foram contra a vinda dos médicos cubanos como os achincalharam, os desqualificaram, instigaram a própria categoria contra eles. O que senhor acha do tratamento que elas deram aos médicos cubanos?
José Gomes Temporão — Recuso-me a acreditar que essa posição de hostilidade e de falta de ética represente o pensamento da maioria dos médicos brasileiros.
Blog da Saúde — O presidente eleito entrou no mesmo barco das corporações médicas. O que achou do que Bolsonaro disse sobre os médicos cubanos?
José Gomes Temporão — O presidente eleito, na verdade, reproduziu o que as entidades médicas vem dizendo desde o início do programa.
Mas o importante a dizer é que na semana passada, na reunião da OMS [Organização Mundial da Saúde], em Astana [capital do Cazaquistão] comemorativa dos 40 anos de Alma Ata, o Mais Médicos e seus resultados foram elogiados por seu impacto em termos de saúde pública.
Infelizmente em todo esse processo predominou uma visão estritamente corporativa.
Blog da Saúde –O que o senhor pode falar da capacitação dos médicos cubanos que agora vão embora?
José Gomes Temporão –A capacitação desses profissionais para atuar em atenção primária à saúde é reconhecida internacionalmente.
Blog da Saúde — E, agora, o que fazer?
João Gomes Temporão –Cria-se uma situação difícil que coloca em risco a segurança de parte importante da população principalmente dos mais vulneráveis.
Leia também:
Como Bolsonaro mente para enganar seus eleitores sobre os salários dos cubanos
Comentários
Jardel
Acordo internacional é assim: Mudou de presidente, o novo presidente não está contente com o acordo? Espera a época de renovação do acordo ou contrato para impor suas novas regras.
Agora, mudar as regras no meio do acordo é coisa de moleque.
O acordo foi renovado sem modificação de regras durante o governo Temer.
Bostonauro deveria ter um mínimo de responsabilidade. Mas, ao contrário do que ele vive falando a toda hora, mostrou que o “viés ideológico” é a sua praxe.
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