Balanço das pesquisas: Bolsonaro ainda está longe de vencer em primeiro turno, mas surpresas acontecem — como em 1985, em São Paulo

Tempo de leitura: 5 min
Varre, varre, vassourinha

Da Redação

Confuso com tantas pesquisas eleitorais?

Vamos ao que realmente interessa.

Bolsonaro pode vencer no domingo? Sim, esta possibilidade sempre existe. Movimentos de última hora podem não ser captados pelas pesquisas.

Um caso clássico aconteceu em 1985, quando a pesquisa de boca-de-urna do Datafolha, em São Paulo, apontou vitória de Fernando Henrique Cardoso, mas Jânio Quadros tornou-se prefeito contra a maioria das previsões.

Este caso foi narrado pelo repórter Luiz Carlos Azenha, do Viomundo, aqui, em 2010 (reprodução parcial abaixo, com revisão).

Na pesquisa mais recente do DataPoder, feita por telefone, Bolsonaro foi de 26% para 30% e Fernando Haddad passou de 22% para 25%.

O militar tem 33% dos votos válidos (precisa de 50% mais um para dispensar o segundo turno).

Como notou o Poder360, “nunca em eleições presidenciais brasileiras 1 candidato com menos de 45% em pesquisas nos dias próximos à votação conseguiu vencer no 1º turno”.

No Datafolha da noite de quinta-feira, que não captou os resultados do debate final na TV Globo, Bolsonaro manteve a ascensão.

Apoie o VIOMUNDO

Muito importante considerar a curva.

O militar subiu três pontos entre os dias 2 e 4 de outubro, portanto fora da margem de erro. Foi de 32% para 35%, atingindo 39% dos votos válidos.

Mantendo o mesmo ritmo, poderia chegar ao domingo com 38%, perto de 43% dos votos válidos.

Por ser feita em pessoa e com um grande número de entrevistados (na mais recente, 10.930), o Datafolha tem a maior possibilidade de captar as tendencias do eleitorado.

Já a pesquisa dos banqueiros XP/Ipespe mostra Bolsonaro nesta sexta-feira com 41% dos votos válidos (36% a 22% contra Haddad).

Nos cenários de segundo turno, os dois ponteiros aparecem matematicamente empatados nas três pesquisas.

No Datafolha, Bolsonaro tem 44% a 43%.

No DataPoder, 45% a 42%.

Na XP/Ipespe, 43% a 42%.

Porém, no segundo turno começa outra campanha, com tempos iguais no horário eleitoral gratuito e debates aos quais o candidato do PSL não poderá faltar, sob risco de sofrer grandes danos.

DE VOLTA A 1985

por Luiz Carlos Azenha

Eu era um jovem, porém experiente repórter.

Tinha pedido demissão da TV Globo pela primeira vez (o equivalente, naquela época, a pedir demissão da Petrobras), já que a emissora queria que eu fosse chefe do escritório de uma futura emissora, em São José do Rio Preto, mas eu queria me formar, o que exigia minha presença física em São Paulo (eu levava o curso de Jornalismo na Universidade de São Paulo aos trancos e barrancos e só colei grau em fevereiro de 1987, quando já era correspondente da TV Manchete em Nova York).

Um dia, estudante em São Paulo e desempregado, passei pela entrada do Hospital das Clínicas, onde Tancredo Neves estava moribundo, e encontrei o Heraldo Pereira, então repórter da TV Manchete, que me disse que a emissora tinha vaga para repórter (àquela altura eu já tinha quatro anos de experiência em TV, o que incluia longos meses cobrindo férias na Globo de São Paulo, com muitas reportagens em jornais de rede e algumas no Jornal Nacional).

Fui contratado.

Como aquele era ano de eleições para a Prefeitura de São Paulo, fui escalado pela Cristina Piasentini para acompanhá-las.

Foi assim que passei a periodicamente visitar a casa do candidato Jânio Quadros, na Lapa, em São Paulo. Conheci dona Eloá, a ex-primeira dama.

O ex-presidente tinha sido candidato a governador em 1982, nas primeiras eleições diretas para o cargo durante o regime militar. Perdeu para Franco Montoro.

Agora ensaiava uma nova tentativa eleitoral, com apoio da centro-direita.

Os outros candidatos importantes eram Fernando Henrique Cardoso, do PMDB de Montoro, herdeiro do MDB, o partido de oposição ao regime militar; e Eduardo Suplicy, do recém-formado Partido dos Trabalhadores.

Jânio concorria pelo PTB. Ele mesmo abria o portão da casa e nos encaminhava para um escritório anexo. Confesso que não era o candidato de minha simpatia (eu tinha votado em Montoro para governador e, se meu título fosse de São Paulo, provavelmente votaria em FHC para prefeito). Mas Jânio era um homem muito simpático.

Pedia café e conversava com o jovem repórter como se eu pudesse decidir as eleições. Nas entrevistas, atacava Fernando Henrique Cardoso como alguém que teria mais intimidade com os subúrbios de Paris do que com a periferia de São Paulo.

Jânio gostava de falar dos bairros que conhecia pessoalmente, especialmente da Vila Maria, que era sua base eleitoral. Jânio dizia abertamente que parte da mídia era inimiga dele.

Citava a TV Globo, razão pela qual, presumo, recebia tão bem as equipes da Manchete (sobre acertos de bastidores da Manchete com Jânio, eu era muito jovem para saber).

No dia da eleição, 15 de novembro de 1985, a TV Manchete instalou uma câmera daquelas grandes, de estúdio, na redação da Folha de S. Paulo, na Barão de Limeira.

Ao longo da campanha eleitoral eu havia entrevistado o Otavinho [Octávio Frias Filho, diretor da Folha, recentemente falecido], já que a Manchete tinha feito um acordo para divulgar os resultados das pesquisas do Datafolha, recém-criado.

Uma das minhas primeiras intervenções ao vivo foi para anunciar o resultado da pesquisa de boca-de-urna do Datafolha em São Paulo.

Fernando Henrique Cardoso seria eleito prefeito de São Paulo, previa o Datafolha. Já não me recordo qual era a margem prevista pelo instituto. No entanto, assim que a votação acabou e começou a apuração, os resultados do Datafolha eram distintos dos revelados pela contagem física dos votos.

Ao longo da campanha, Jânio Quadros tinha se servido de pesquisas não-científicas feitas pela rádio Jovem Pan, que colocava equipes volantes para entrevistar eleitores nas ruas de São Paulo. Pelas “pesquisas” da Pan, Jânio seria eleito.

A situação foi ficando cada vez mais tensa na redação da Folha. Havia um terrível descompasso entre a previsão e a contagem.

Por pressão da redação da TV Manchete (que conversava comigo pelo ponto e por uma linha telefônica específica), chamei o Reginaldo Prandi, que falava pelo Datafolha.

A explicação dele, ao vivo, foi a seguinte: por enquanto as urnas apuradas são de regiões onde Jânio Quadros tem a maioria dos votos; quando chegarem ao TSE as urnas de outras áreas de São Paulo, Fernando Henrique vencerá.

Segundo Conceição Lemes, que também era repórter em 1985, o governador Franco Montoro chegou a dar um entrevista à TV Record agradecendo os eleitores de São Paulo pela escolha de Fernando Henrique, aparentemente baseado no resultado da pesquisa de boca-de-urna do Datafolha. Ou não.

Não me ocorreu na época, mas uma pesquisa de boca-de-urna viciada poderia servir a interesses inconfessáveis: se a margem em favor de um candidato fosse reduzida, permitiria que uma pilantragem eleitoral mudasse o resultado.

Como diria a Folha de S. Paulo, não há provas de que isso tenha acontecido então, mas também não há provas de que não tenha acontecido.

Ao fim e ao cabo, recebi uma ligação de Pedro Jacques Kapeller, o Jaquito, o principal executivo da TV Manchete abaixo de Adolpho Bloch, que disse algo assim: “Azenha, esquece o Datafolha, pode dizer que o Jânio vai ganhar baseado na apuração”.

Foi o que fiz. Jânio, eleito, foi para a sede da TV Manchete, na rua Bruxelas, dar uma entrevista ao vivo.

Ele venceu com 39,3% dos votos válidos, contra 35,3% de Fernando Henrique e 20,7% de Eduardo Suplicy.

Ou seja, a “vitória” de FHC na boca-de-urna do Datafolha foi desmentida pela vantagem de 4% que Jânio obteve nas urnas.

Leia também:

CIA atua por Bolsonaro na reta final, suspeita Marcelo Zero

Apoie o VIOMUNDO


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

claudio

Como posso esquecer aquela eleição. Eu votava em São Caetano do Sul, porém trabalhava numa empresa na Vila Anastácio, em São Paulo, e por conta das pesquisas, alguns cariocas que não conheciam a política paulista, diziam que FHC seria eleito com tranquilidade. Aí eu que achava que conhecia o “Janismo”, tipo de eleitor mais idoso e envergonhado de assumir sua posição, resolvi apostar uma cx. de cerveja com os cariocas na vitória do Janio. Pois bem, no dia da eleição saí de São caetano, onde elegeria seu próprio prefeito e fui até São João Clímaco, bairro de SP próximo a SCS, e fiquei surpreso, tamanha era a propagando pró FHC, nada de Janio. Pensei, dessa vez me lasquei. No entanto após a contagem de votos deu Janio e ganhei a caixa de cerveja, para surpresa deles, e não minha. Me lembro de um santinho onde aparecia a caricatura dos 3 principais candidatos, Janio, FHC e Supliicy, onde Janio de longe presenciava uma conversa entre FHC e Suplicy, e dizia: “Papá-los ei”.

João

O editor de vi o mundo parece que ta louquinho para ver o bolsonaro em Brasilia.
Você não acha que estas pesquisas principalmente IBOPE E DATAFOLHA ambas de jornais conservadores, são extremamente manipuladas. acho que todo cuidado com a direita é pouco porem acreditar fielmente em pesquisas, por favor !!!!!!!!!!!!!!

Morvan

Boa tarde. Eu me lembro de exultar o gesto pouco elegante, ao vivo, de, perdoem-me se me falha a memória, Gastoni Righi, correligionário de Jânio, o famoso “Aqui, ó“, com mímica, com tudo, bem como a própria exultação. Fato. Explico: recém-chegado à capital alencarina, bem jovem, iniciando na militância estudantil, já conseguia ver no Homem da Ford aquilo em que ele se desnudara, há algum, tempo, um homem CIÁtico, um dos destruidores do meu país. Vi-lhe a acachapante humilhação; a cena da cadeira sendo desinfetada pela equipe janina também é homérica, dantesca, até. Por outro lado, sentia simpatia por Jânio, talvez pelo massacre diuturno da mídia sobre ele. Ideologicamente não.

Saudações “#HaddadPresidente, #ManuVice, #LulaLivre, Democracia, Justiça E Paz“,
Morvan, Usuário GNU-Linux #433640. Seja Legal, seja Livre. Use GNU-Linux.

Deixe seu comentário

Leia também