Neste sábado, Izaías Almada lança O Mistério da Salamandra Dourada; leia um trecho do livro

Tempo de leitura: 4 min

Da Redação

Acontece na tarde deste sábado (09/06), na livraria Martins Fontes da Avenida Paulista, o lançamento de  O Mistério da Salamandra, o mais novo livro  Izaías Almada.

É a primeira incursão literária do escritor e autor de teatro na literatura infantil.

Mas, com certeza, agradará ao público adulto não só pela narrativa, mas também pelo tema dos direitos humanos que permeia a ação.

“Se o leitor quiser me dar a honra da sua presença, será um prazer imenso recebê-lo”, convida Izaías.

Abaixo um trecho do livro: 

Duduo Eduardo Torres Neto estuda no Colégio Sandro Botticelli em São Paulo. Faz parte da geração mais nova dos Twiters, Facebooks, Whatsappes, laptops, ifones 5G, 6G, 7G e seus incontáveis aplicativos.

Fernanda Di Napoli é professora de inglês no Colégio Sandro Botticelli. Licenciada em Letras pela PUC de Campinas, acabou de completar 32 anos de idade. Cabelos castanhos claros, olhos azuis, alguma sarda espalhada pelos ombros e braços e uma pequena salamandra dourada tatuada no ombro esquerdo.

Espírito introvertido, reflexivo, bom aluno em matemática, o “inadaptado” Dudu, que até a algumas sessões com psicólogos já foi enviado, não sentiu dificuldades em ter que enfrentar o seu último ano de ensino fundamental no Colégio Sandro Botticelli.

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Contudo, na passagem do segundo para o terceiro mês na sua nova escola, Dudu surpreendeu-se ao chegar para mais um dia de aulas na segunda-feira, quando viu carros da polícia estacionados em frente à entrada principal. Um caso extremo de bullying?

Sentiu o nervosismo de professores e funcionários e, uma vez na sala de aulas, recebeu a notícia: a encantadora professora de inglês estava desaparecida desde a última sexta-feira. A família e o colégio ignoravam onde estava Fernanda.

Dudu considerou que estava na hora de fazer alguma coisa diferente na sua vida, além de estudar e acompanhar o pai em suas andanças profissionais. Resolve investigar por conta própria o que aconteceu à sua professora e descobre coisas que não sabia da história do seu país e sobre os direitos humanos.

Mas afinal, o que seriam esses tais de “direitos humanos?”.

O delegado José Adolfo explicou em poucas palavras à mãe de Dudu o que se passou na delegacia e se disse bastante surpreso ao ver a determinação do menino em querer ajudar numa investigação policial. Em quarenta anos de carreira não havia enfrentado esse tipo de situação.

“Ele sempre teve essa mania de querer ser diferente”, disse dona Joana, que também fazia a sua estreia em conversas com delegados de polícia.

“Lá no Recife, de onde voltamos há poucos meses, ele teve sessões com uma psicóloga por causa dessa mania, mas ela considerou que ele não apresentava nenhum sintoma que preocupasse… Apesar do alto QI que apresenta é um adolescente perfeitamente normal para a sua idade… foi o diagnóstico. Apenas, disse a doutora, que essa vida de mudanças de cidades e até de países acaba mexendo com o emocional dele… e dos irmãos”.

“Mudanças?” quis saber o delegado.

“Meu marido trabalha na Petrobrás e agora foi transferido para pesquisas aqui na baía de Santos… É engenheiro e supervisiona algumas das grandes obras da empresa… mudamos de cidade a cada dois ou três anos pelo menos… Não é nada fácil para os meus filhos, como deve imaginar… O senhor aceita um cafezinho, delegado?…”.

“José Adolfo, minha senhora, José Adolfo Montecchio… Não pretendo me demorar, como disse, mas um cafezinho vai muito bem… Eu aceito… E o meu auxiliar aqui também… A senhora é muito gentil…”.

Ato contínuo, o delegado tirou do bolso um cartão de visitas com o timbre da Secretaria de Segurança e o estendeu para a mãe de Dudu.

“O senhor é de família italiana?”

“Meus avós paternos eram italianos… Vieram como muitos outros nos primeiros anos do século XX e foram trabalhar para os lados de Ribeirão Preto… Deixaram uma enorme família por aí…”.

“Eu também tenho antepassados italianos…”.

Em qualquer circunstância, dona Joana não jogava fora a possibilidade de uma boa conversa:

“Sabe que o senhor tem um sobrenome famoso?”

“Famoso?!…”

“Famoso, sim… Eu diria… shakespereano”.

“Ah! Sim…” exclamou o delegado, olhando para o segurança e dando a entender que não percebera muito bem o significado do que estava ouvindo. Na verdade, já ouvira a lengalenga muitas vezes.

“Estou me referindo ao sobrenome de uma família famosa da peça Romeu e Julieta, de Shakespeare…”, insistiu dona Joana… “Os Montecchio… A outra família era a dos Capuletto… Já não me lembro a qual das duas famílias pertencia cada um dos dois jovens, que viviam em brigas e desavenças… Tudo vai desaguar numa grande tragédia de amor entre dois adolescentes… O senhor conhece a história, é claro…”.

Há um pequenino momento de silêncio. Pouco interessado no assunto, o delegado, que não queria ser deselegante, foi lacônico na sua resposta:

“Ahn”… Deixou escapar o policial, tique adquirido diante das situações constrangedoras:

“Já me lembraram sobre isso algumas vezes… Claro, claro, Romeu e Julieta, é verdade… Se a senhora estiver ocupada, posso deixar o café para outra hora…” A sutileza não era o forte do delegado.

“Não, não… o senhor e o seu amigo não saem daqui sem tomar o meu cafezinho…”.

“Está bem, então…”.

Dona Joana foi até uma das portas da sala e chamou por Albertina, sua secretária doméstica, solicitando o tal cafezinho e voltando em seguida.

“Apenas gostaria de saber se a senhora poderia me dar uma explicação…”, continuou o delegado, “… e falar do interesse do seu filho em querer ajudar nas investigações do desaparecimento da tal professora, o que – aliás – posso logo tranquilizá-la: em nenhuma hipótese isso vai acontecer…”.

“Ele está apaixonado por ela…” respondeu uma vozinha feminina infantil por detrás do delegado, antes que dona Joana respondesse.

Surpreso, o policial olhou para trás e deparou-se com uma menina de olhos azuis e cabelos anelados, que não aparentava ter mais de 12 anos de idade.

“Mayara… que bobagem é essa agora?… Desculpe delegado, essa é a minha filha mais nova…” anunciou dona Joana.

“Olá Mayara, muito prazer…”.

“Bobagem é…? A senhora está por fora, mãe… O Dudu quando vê a professora Fernanda só falta babar no uniforme…”.

O policial conteve o riso.

“Lá isso é jeito de falar do seu irmão…”, disse uma dona Joana ligeiramente sem graça, tentando desculpar a filha para o visitante.

O delegado procurou entrar no clima:

“Bom, de qualquer maneira eu espero que ele não faça nenhuma bobagem, não é mesmo Mayara?… Não tem o menor cabimento um rapaz da idade dele sair por aí sozinho como se fosse o Sherlock Holmes da Vila Madalena…”.

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Comentários

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maria nadiê rodrigues

Adoro esse tipo de romance.
A propósito, Lula Buarque de Holanda escreveu um livro intitulado O MURO. Ele diz que a ideia nasceu de suas andanças e fotos extraídas das primeiras manifestações que polarizaram o Brasil, descambando para o impeachment de Dilma, com os brasileiros à frente do Congresso, porém separados por um muro, de acordo com suas ideias.
O autor esclarece ter firmado suas teses, mais no sentido de fazer as pessoas lerem o livro e dele tirarem ensinamentos, aos se verem nas multidões, cujas fotografias deixam claras as imagens de cada um que possa ter participado das manifestações.
O Muro emblemático o levou a também citar outros muros, como o de Berlim, desfeito em 89, tendo polarizado os alemãs, e determinado muita dor e sofrimento pelas separação de famílias, amigos, etc.

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