Gaspari descobre que o conluio da mídia com a PF e a Justiça pode matar. Antes tarde do que nunca

Tempo de leitura: 3 min
Pipo Quint/Agecom/UFSC

Pipo Quint/Agecom/UFSC

O reitor Luiz Carlos Cancellier não precisa morrer de novo

PF, Justiça e imprensa meteram-se num equívoco, o melhor seria que assumissem o erro

Elio Gaspari, na Folha

Hoje completam-se sete meses da manhã em que Luiz Carlos Cancellier, reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, matou-se.

Os repórteres Mônica Weinberg, Luisa Bustamante e Fernando Molica tiveram acesso ao relatório de 800 páginas da Polícia Federal com o resultado da investigação que o levou à prisão em setembro do ano passado.

Eles informam: “É uma leitura perturbadora pelo excesso de insinuações e escassez de provas”.

Cancellier foi algemado pelas mãos e pelos pés e vestiram-no com uniforme de presidiário.

Dias depois ele foi libertado, proibido de pôr os pés na UFSC, e só voltou a ela morto, para o velório.

A chamada Operação Ouvidos Moucos começou com um erro retumbante.

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A Polícia Federal anunciou espetaculosamente que investigava o desvio de R$ 80 milhões de verbas destinadas ao ensino à distância. Errado.

Esse era o valor das verbas, não do eventual desvio. Tudo bem, mas qual era o valor da maracutaia?

O relatório da investigação não diz. Talvez tenha chegado a R$ 500 mil, mas isso é conversa de corredor.

Não havendo sequer suspeita de que Cancellier tenha desviado dinheiro, sustentou-se que ele tentou obstruir uma investigação interna avocando-a para seu gabinete.

O reitor fez isso em ato de ofício. Se ele tivesse dito que era preciso “estancar a sangria” (Romero Jucá), vá lá.

Aqui e ali pipocam breves notícias de que Cancellier fez isso ou aquilo.

Recentemente soube-se que o filho de Cancellier estava indiciado por ter recebido R$ 7.102 de um professor da UFSC.

Para uma operação que começou falando em R$ 80 milhões, era pesca de lambaris.

Em seu relatório a PF documentou a transferência desse valor para a conta do filho de Cancellier, que também leciona na UFSC. Um professor depositou dinheiro de sua conta para outro cidadão, e daí?

Diz o relatório da PF: “Comenta-se que os recursos transferidos (…) foram oriundos do projeto coordenado por Luiz Carlos Cancellier”.

Comenta-se também que Elvis está vivo, mas não é para isso que existe uma Polícia Federal.

A operação Ouvidos Moucos pode ter nascido de uma mobilização exagerada da Polícia Federal, amparada pela Justiça.

Algo semelhante aconteceu em alguns aspectos da “Carne Fraca”. O suicídio de Cancellier deu-lhe uma dimensão trágica.

A imprensa acompanhou as exposições espetaculares e acreditou no erro do desvio de R$ 80 milhões.

É possível que a própria Polícia Federal e a juíza que mandou prender o reitor acreditassem que havia uma organização criminosa e milionária na UFSC.

Isso não elimina o fato de que o desvio porventura ocorrido não tinha essa dimensão.

A investigação durou sete meses e outros sete se passaram até o relatório agora revelado pelos repórteres.

O aparato do Estado na defesa da lei e da ordem às vezes comete erros ou mesmo exageros.

É o jogo jogado, mas a intransigência transforma os equívocos em desastres. A promiscuidade da imprensa americana com o FBI durante o século passado até hoje custa-lhe arrependimentos.

Por cá, em 1974, 44 repórteres, radialistas e fotógrafos que cobriam a Secretaria de Segurança de São Paulo escolheram os melhores policiais do ano.

O delegado Sérgio Fleury tirou o quarto lugar.

PS do Viomundo: Os “repórteres investigativos” — ao menos a maioria deles — bebem na mão de suas fontes feito cãezinhos de estimação. Sem desconfiar, nem checar. Publicam os relatórios da polícia e do MP como se fossem tábuas divinas esculpidas em pedra. Dá nisso.

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Comentários

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FrancoAtirador

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Torturador Fleury: um dos Melhores Policiais de 1974.

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Adolf Hitler, homem do ano de 1938, pela Revista Time (USA)
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Eduardo

Descobriu agora? É como marido traído! O último a saber!. O Gaspari está mais para especialista em inventos que em descobrimentos! Ele já imaginava o invento , portanto não creio que houve descobrimento!

Paulo Nogueira

Sr. Gaspari; O jornal para o qual o sr. trabalha é useiro e vezeiro de agir com a mesma falta de responsabilidade. E o que fazer a partir de agora para evitar futuras tragédias como a ocorrida?

Daiana

Não acredito em coincidências, ao menos em determinadas circunstâncias. Prédio que foi antiga sede da PF, ocupado por famílias carentes, incendiado em pleno primeiro de maio, me desperta suspeitas. A PF fechou um acordo de delação premiada para incriminar lula e a esquerda – que é o espectro político que protege os mais carentes – está fazendo uma severa crítica aquela instituicao por perseguir seu principal líder. Isso está com cheiro de atentado e ameaça. A propósito, suponho que ao menos os agentes mais antigos conheçam bem aquele prédio e que os demais conheçam agentes aposentados que o conhecem. É só uma opinião. Não custa investigar.

Julio Silveira

Esse conluio vergonhoso e imoral não passa de mais um clara tentativa da clã corporativa de esconder a responsabilidade e proteger uma irma, a Delegada arrogante, que protegida pelo sistema, desconsiderou o mais basico dos direitos do humano reitor Cancelier.
Coisa comum quando se trata de proteger os desvarios dos desvariadores na irmandade dos sistemas nacionais corporativos.

Viviane

Cópia do meu comentário no Tijolaço, sobre o mesmo artigo:

“A imprensa acompanhou as exposições espetaculares e acreditou no erro do desvio de R$ 80 milhões.”
Sei, sr. Gaspari, sei… Tão inocentes, coitadinhos! Desse jeito a gente até acredita que a imprensa não combinou nada com a PF para “exposições espetaculares” das imagens…
As mãos dos seus coleguinhas também são sujas do sangue do Reitor, sr. Gaspari. Não adianta bancar o “Pilatos” agora…

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