Ruth Alexandre: Relatório alerta que SP pode reviver o inferno de 2006
Tempo de leitura: 5 minpor Ruth Alexandre, no Fala Povo
O que aconteceu entre os dias 12 e 20 de maio do ano de 2006 em São Paulo? Medo, tristeza, e muitas mortes: 493 mortos a tiros, 475 homens e 18 mulheres. 62% entre 21 e 41 anos, com média de 5,8 tiros cada um. Os tiros foram dados à curta distância em 51 vítimas, em 11 delas a arma estava encostada. Apenas 9,87% dos disparos foram feitos nos membros inferiores. Os alvos principais foram tórax, cabeça, abdome, (consideradas áreas vitais) e membros superiores. Do livro “Luto à Luta: Crimes de Maio”.
Hoje é 15 de maio. Há cinco anos centenas de pessoas foram mortas na nossa cidade, ficou por isso mesmo. Semana passada ocorreram alguns eventos para tentar impedir que uma pá de cal seja colocada sobre os cadáveres e as lágrimas de seus parentes.
O primeiro evento foi o lançamento, em 9 de maio, do relatório “São Paulo Sob Achaque: Corrupção, Crime organizado e Violência Institucional em Maio de 2006”, elaborado pela Justiça Global e pela Clínica Internacional de Direitos Humanos da Faculdade de Direito de Harvard EUA.
Em entrevista coletiva, os organizadores do documento levantam a hipótese de que os conflitos ocorridos entre a Polícia de São Paulo e a facção criminosa PCC, em 2006, têm origem no seqüestro de um enteado de “Marcola”, Marcos Willian Camacho, líder do PCC, ocorrido em março de 2005.
Na página 28 do relatório, pode ser lida a frase que, segundo o enteado de Marcola, teria sido dita pelo investigador Augusto Pena: “Não tenho nada contra você, mas a gente está a fim de ganhar dinheiro e você caiu na nossa mão”
Os policiais civis Augusto Peña e José Roberto de Araújo, envolvidos no caso, chegaram a ser presos, mas hoje estão soltos. Meses depois Augusto Penna foi transferido para o DEIC.
A informação do relatório que acende “uma luz de alerta” para São Paulo dá conta de que a paz aparente dos presídios, após os ataques de 2006, foi negociada com a facção criminosa em troca de mordomias, como cela individual e TV de plasma, para os líderes. Os demais presos são amontoados em grupos de 60 ou mais em celas com capacidade máxima para 12. O alerta é que esta “paz” pode ser quebrada no cenário de corrupção policial e superlotação vigente. E mais. São Paulo pode viver outro inferno como de maio de 2006.
“Isto pode explodir a qualquer momento em uma nova rebelião muito pior. Nos últimos anos, a população mudou muito o perfil. Por exemplo, a política habitacional do Governo de São Paulo é transferir a população pobre, dependente de crack, que mora nas ruas da capital para o CDP de Pinheiros”, declarou o advogado José de Jesus da Pastoral Carcerária, reafirmando que disciplina atual foi conquistada com acordos envolvendo diretores de presídios e lideres do PCC.
As 74 unidades prisionais que se rebelaram na época estão mais superlotadas agora –o grau de lotação, em 2006, era de 147%, e agora seria de 195%, segundo dados levantados pelo estudo. Quanto às medidas contra a corrupção policial, apontada como um dos fatores que levaram aos ataques de 2006, o relatório diz que são insuficientes. Apesar de recentes afastamentos na Polícia Civil, as investigações atingem somente o baixo escalão, aponta o estudo.
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O sequestro
Consta que em 2005, um ano antes da rebelião nos 74 presídios e dos ataques a prédios e agentes públicos, no Estado de São Paulo, Rodrigo Olivatto de Morais, enteado de Marcola foi seqüestrado por policiais civis de Suzano, na Grande São Paulo. Só foi solto depois que Marcola pagou o resgate de R$ 300 mil. O chefe do PCC ficou indignado com o achaque. No dia 12 de maio de 2006, véspera dos ataques do PCC, Marcola fez um comentário no Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic): “Não vai ficar barato”.
Fernando Ribeiro Delgado da Clinica internacional Direitos Humanos e do Conselho de Justiça Global faz uma série de perguntas: “Se o Maracola disse isso em 2006 porque só saiu em 2008 e só se teve acesso ao inquérito em 2011? A ex-esposa do investigador Augusto Pena, entregou 200 cds contendo grampos que eram usados para fazer extorsão. Segundo a ex-esposa teria cativeiro dentro da delegacia de Suzano para fazer os achaques. “Como um investigador teria conseguido montar uma central de achaque? “Ele foi transferido para o DEIC, quase uma promoção. Mesmo com as investigações, ainda não teve grande repercussão no alto escalão. Não sabemos contudo total do depoimento de Augusto Pena.“ Fernando também lembrou o Furto do Banco Central em Fortaleza em 2005 – Ladrões teriam também sofrido achaques da polícia civil de SP . “Para onde foi este dinheiro todo? Está na hora do governo feral entrar nesta historia”,
O relatório também dá conta de que o então secretário da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, declarou que quando pediu apoio à Policia Civil para investigar a motivação por trás das sucessivas rebeliões do PCC, que não tinham reivindicações aparentes. Curiosamente não recebeu muitas informações do DEIC – Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado.
No inquérito feito pela Corregedoria da Polícia Civil, o delegado assistente, Hamilton Antônio Gianfratti, depois de citar dados do sequestro, afirma que o crime ajudou a deflagrar a revolta do PCC. “Aflora dos autos sérios indicativos direcionados à possibilidade deste fato erigir-se à causa deflagradora dos históricos e tristes episódios que traumatizaram o povo de São Paulo, traduzidos nos atentados em todo o estado pelo PCC.”
Sandra Carvalho, da Justiça Global, destacou que o foco inicial foi o que aconteceu com esses homicídios. Dos 493 homicídios ocorridos no Estado de 12 a 20 de maio de 2006, há indícios da participação de policiais em 122 execuções.
“Falava-se em ataques do PCC e reação da polícia. Em legítima defesa. Nos primeiros dias 43 mortes de agentes públicos, a maior parte foram mortos quando estavam fora de serviço e emboscadas organizadas supostamente pelo PCC. Depois disso começam as mortes de civis justamente quando cessam os ataques aos agentes e prédios públicos. Em 126 as supostas resistências seguidas de morte, das quais 56,de acordo com os laudos, depoimentos tem fortes evidências de execução em ações da PM. Quando não foram registrados como resistência seguida de morte, tiveram ataque de encapuzados.”
Sandra descreve o modus operandi: “Encapuzados executavam , na sequência (três minutos depois) aparecia um falso socorro que colocava vitima na viatura, as cápsulas de balas eram recolhidas e testemunhadas intimidadas.”
Sandra também lembrou a responsabilidades dos comandos em relação ao “revide” da polícia. “Muitas declarações pareciam ser carta branca para matar. E o DHPP esclareceu pelo menos 85% dos crimes contra os agentes públicos e apenas 12% dos civis. Se antes de 2006 o índice de esclarecimento era de 90% porque em 2006 12%?”, pergunta Sandra.
O estudo pede, além da federalização da investigação de casos não esclarecidos, a instalação de uma CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) para apurar as causas da crise, a responsabilidade das autoridades, os problemas que continuam e medidas a serem tomadas.
No dia do lançamento do relatório, o governador Geraldo Alckmin, Saulo Abreu, então secretário de Segurança, e a Secretaria de Segurança Pública declararam que só iriam se pronunciar depois de conhecido o conteúdo do documento.
Marcadas para morrer
Na quinta-feira, 12 de maio, aconteceu outro evento. Foi no Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo. Houve lançamento do livro “Do Luto à Luta: Crimes de Maio”.
Estiveram também presentes mães de outros estados e a história se repete. Seus depoimentos mostraram que por lá também o filho do pobre está sendo assassinado e suas mães ameaçadas por denunciarem e exigirem justiça.
Registrei em vídeo alguns depoimentos de mães que além da perda do filho continuam sofrendo perseguição policial. Não dá para ouvir uma mulher pobre gritar chorando que está marcada para morrer porque pede justiça para o assassinato de seu filho e ficar por isso mesmo. O grito que vem do Espírito Santo está represado pelo medo, em centenas de gargantas em nossa cidade.
Comentários
Hélio Pereira
Alem dos crimes de Maio aqui citados,também tivemos o Vergonhoso caso Castelinho,onde foram tiradas 11 vidas pra que Geraldo Alckmim conseguisse melhorar seu Ibope e pudesse passar Maluf que estava disparando nas pesquisas Eleitorais.
Um MP que se articula junto com o PCC pra organizar esta chacina,não deve ter muito interesse em apurar os Crimes de Maio também.
Infelizmente o MP esta repleto de Cabos Eleitorais do PSDB,disfarçados de Promotores Públicos,só pode ser esta a explicação pra tamanha omissão.
CPI já !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Johnnie
Incrível a imparcialidade deste blog, alguém falando que servidores públicos tem que morrer…
Sei que nada justifica a violência, mas não tivessem marginais covardes atentados contra a vida de pessoas inocentes, acredito que as pseudo 122 execuções não tivessem ocorrido!!
Bandido, não entende voz branda! Bandido falando em honratez (rs), maior balela que ja ouvi na minha vida!! Depois que o filho vira bandido mãe! Melhor chorar sobre o caixão ao ter que ve-lo ceifando vidas inocentes… Porque bandido bom parceiro é bandido morto (Cap. Nascimento!)
Mariana
Você investigou para saber que eram realmente bandidos?
Você investigou para saber que realmente morreram em combate com a polícia?
Tiros à queima-roupa, para você, são combate?
A polícia é incorruptível e sem preconceitos?
Se é, por que o crime se tomou as atuais dimensões e se tornou quase incontrolável?
E quem falou que servidores públicos têm morrer foi sua interpretação deficitária e tendenciosa.
Policiais têm é que, como servidores públicos, como você bem lembrou, prestar contas de seus atos à sociedade.
Antonio
Só Geraldo Alckimin e Marcola podem dizer porque aconteceu aquela guerra que colocou os pokciais de São Paulo aquartelados, completamente foram das ruas.
Well
Viva o comando é isso aiiii tem q matar esse rebanho de porco hipocrita tao ai pra prende nao pra executaaa
só q eles sao mais bandido q os verdadeiros criminosos ………só q no crime tem ética entre os malandros esses porco é tudo safadoooooooooo
tem q mata td
Gustavo Pamplona
Não sei se voces repararam, mas a Globo não falou um "A" do protesto dos moradores de Higienopólis contra o Metrô e do churrascão da "gente diferenciada".
Deram apenas pequenas "notícias" no G1.
Outra coisa:
Agora a pouco o Fantástico repercutiu a "reporcagem" da Folha falando do Tony Palloci… Será que veremos o primeiro ministro da Dilma ser derrubado? hahahahhaha
Ahhh… pessoal… que saudades eu estava sentindo das "crises" do PIG… Era ultra-divertido!!! hahahahhaha
Leider_Lincoln
Não sei o que mais admiro dos governos tucanos em São Paulo: se é a Inducassão, A Justissa ou a Seguranssa Plúbica. Mas dá para saber por que eles precisam de trols… Sorte nossa que eles não trabalham aos domingos, então o debate acerca deste descalabro pode fluir. Eu, por meu turno, só faço uma pergunta: o que é mais vergonhoso? Isso acontecer ou haver quem se orgulhe de SP ser um ninho tucano?
assalariado.
O papel do Estado burguês e suas "instâncias democraticas" tem a função histórica de manter e organizar a exploração do capital sobre a sociedade civil,manter a ordem,a ordem capitalista.Embora o Estado burgues sempre nos é apresentado como neutro,um mediador da sociedade,na pratica este video nos mostra que o Estado tem lado e tem dono,isso se expressa através do convencimento(das "leis" feitas pelo parlamento burguês) e/ou, através da coersão(repressão policial,proteje os ricos e ataca os pobres,é claro!).Chamou a minha atenção este video acima aos 4' 53" ,a fala de Maristela/ RJ, onde ela localiza muito bem o que eu, muitas vezes,tento mostrar aqui em meus comentários.O que esta por detrás do Estado? A burguesia nunca aparece como verdadeiros comandantes deste arsenal militar e juridico ,um verdadeiro cavalo de tróia -(estão invisiveis)-, dentro do servil Estado para com o seu dono. Não adianta nós povo explorado,pelo capital, termos ilusões com o Estado democrático de direita e suas instâncias pseudos democraticas.A policia assassina os ladrões pobres, e atua em conluio com as elites ladroeiras,alguem tem duvidas?
Medo
As mães (mulheres) ameaçadas! Até quando esta ameaças de morte, intimidações irão continuar numa democracia? E todos continuam firmes no cargo e a população acuada com medo. Que momento é este?
Um documento produzido pela Justiça Global junto a especialista de Harvard, fez as investigações. Como chamar isto?
ana db
E o Ministerio Publico de São Paulo?
Thiago_Leal
Todo o ano, o ano todo, empenhado em ser o pior MP da Federação.
Adamastor
É a mais combativa e aguerrida ala tucana, meu caro.
GilTeixeira
Pra mim a polícia de São Paulo continua sendo capitães-do-mato!
Regina Braga
Enquanto a impunidade for regra para Governador e Secretário,não vai haver,justiça…Só vingança e retaliação…O PCC está cd vez mais organizado…estão contratando grupos para exterminio…Enquanto isso,a polícia não investiu no serviço de inteligência e nem em outro secretário.È o governo de São Paulo,caminhando ao lado do crime.
Daniel Alves
O que você quer?
Políicia sempre serviu para reprimir os pobres, obrigá-los a obedecer ao poder.
Agora temos em São Paulo três poderes constituidos: 1. O poder do estado, com seus políciais para manter os escravos, digo pobres, sob controle. 2 O poder dos policiáis corruptos que usam sua pouca força contra os mesmos pobres para se locupletarem e 3. O poder do PCC, que logicamente vai achacar os mesmos pobres infelizes.
Roberto Locatelli
O Brasil ainda não acertou as contas com a ditadura. Segundo um ex-oficial PM, a ditadura continua as polícias militares de todos os estados.
Marcos C.Campos
Some-se a isto a baixíssima escolaridade exigida e salários ridiculos, temos uma verdadeira tropa de capitães do mato a serviço dos grupos no poder.
Cláudio Medeiros
Acho verdadeiramente ridícula essa desculpa de "baixíssima escolaridade exigida e salários ridiculos" mas, me desculpe, não estou com paciência para explicar o porquê (ademais, julgo que é evidente).
Thiago_Leal
Eu te ajudo; ser canalha é algo que não se corrige com escola. Os próprios secretários com certeza são muito bem educados.
Lazlo Kovacs
Para acabar com o tráfico e a corrupção policial, tem que fechar o Denarc.
Felipe Guerraq
Para acabar com a corrupção policial, é só acabar com a Polícia Civil, deixando apenas os que estão dispostos a colaborar com a dedoduragem total…ah, precisa acabar com os Piores Salários do Brasil também.
Almeida Bispo
Enquanto isso, nossos antigos senhores de engenho, cafeicultores e criadores de gado falidos, todos na Justiça, brincam de fazer política de direita e extremo-direitista dando amostras que querem que o país se exploda; já que é a Justiça o último recurso antes da barbárie, do mata-mata, das rebeliões, chacinas… do bacamarte.
Ninguém me venha convencer de que o Estado é impotente diante do crime. Se isso ocorre é porque rola muita safadeza por quem deveria zelar pelo estado de direito pleno.
Mães de Maio: Marcadas para Morrer | Maria Frô
[…] mais no relato de Ruth Alexandre, do Fala Povo, publicado pelo Viomundo: Relatório alerta que SP pode reviver o inferno de […]
Bonifa
Não há palavras para descrever o problema da justiça e da polícia no Brasil. O llivre curso da incompetência e da corrupção, e a montanha de consequencias deletérias advindas disso tudo, é absolutamennte inexplicável. Deixa o país com as entranhas expostas e os cidadãos corretos sem nenhum poder de explicação a quem quer que seja.
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