Deputado do PT pede prisão de general que colocou a baioneta no pescoço do STF; comandante do Exército e generais da ativa se manifestam no twitter

Da Redação

O deputado Jorge Solla (PT-BA) manifestou-se ontem na Câmara contra o pronunciamento do general da reserva Luiz Gonzaga Lessa, que em entrevista disse que, em caso de eleição de Lula em 2018, haverá um golpe militar no Brasil.

Segundo Solla, o general deveria ser preso, por violar o Código Militar.

Leiam a transcrição:

O Supremo amanhã vai julgar… deveria julgar somente olhando a Constituição, mas vai julgar com a faca no pescoço.

Pasmem vocês, muito grave, estamos vivendo uma ameaça pública de golpe militar.

O general Luiz Gonzaga Lessa cometeu crime de conspiração.

Ele disse textualmente, “se acontecer tanta rasteira, aí não tenho dúvida que só resta o recurso à reação armada. Aí é dever da Força Armada restaurar a ordem”… e disse que vai dar um golpe de estado se o Supremo aprovar o habeas corpus do presidente Lula.

Isso é grave, muito grave, o Supremo decidir com a faca no pescoço. Quando uma Suprema Corte não tem liberdade para decidir, quando é ameaçada de golpe militar se tomar uma decisão de respeito à Constituição, em lugar nenhum do mundo isso pode ser chamado de democracia.

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Eu quero aqui cobrar do ministro da Defesa, general Luna, quero cobrar do procurador-geral da Justiça Militar, Jaime de Cássio Miranda, quero cobrar do presidente golpista Michel Temer que o general Luiz Gonzaga Lessa seja preso imediatamente, por crime de conspiração contra a Nação brasileira, é o que prevê o Código Penal Militar no artigo 152. O artigo 152 do Código Penal Militar impõe a prisão militar desse golpista, general Gonzaga Lessa.

Não se admite  numa democracia que um general emparede a Suprema Corte.

Eu confio que a maioria dos militares brasileiros não concorda com o golpismo deste coronel, que quer a volta da tortura, o fim da liberdade da expressão, ele quer que volte a ter capacidade de cometer os crimes que cometeram durante os anos da ditadura militar.

Não podemos permitir abaixo-assinado, greves de fome, manifestações públicas contra o Supremo, quanto mais ameaça de golpe militar!

As decisões do Supremo só podem ser influenciadas pelo que está escrito na Constituição.

Chega de golpe neste país, já deram golpe para tirar uma presidenta honesta e botar uma quadrilha, já deram golpe para destruir e entregar o petróleo do pré-sal às multinacionais, deram golpe para tirar o dinheiro da saúde e da educação, querem destruir a Eletrobras e querem acabar com o resto de democracia que sobrou da democracia no país.

Não iremos permitir que a Suprema Corte seja pressionada pelo fascismo, pela direita mais reacionária e empedernida neste país. Lula não é bandido, não tem prova, mostra uma prova contra o presidente Lula, o próprio imóvel que o acusam de ter recebido foi colocado a leilão porque é propriedade da OAS.

Vocês querem condenar e prender alguém sem prova, e mais, querem impedir que o Supremo cumpra a Constituição. Mas vocês não passarão. Não é ameaça de golpe militar que o povo brasileiro vai retroceder.

Não é ameaça de perder o resto de liberdade que nós vamos entregar os pontos. A direita sabe e está raivosa, amanhã o Supremo vai cumprir a Constituição e vai aprovar o habeas corpus de Lula, e vocês estão morrendo de medo, porque Lula vai voltar quer vocês queiram ou…

Mais tarde, o comandante do Exército, General Villas Boas, manifestou-se no twitter em “repúdio à impunidade”.

Ele também perguntou sobre “quem realmente está pensando no bem do País e das gerações futuras e quem está apenas preocupado com interesses pessoais?”, numa clara alusão à decisão que será tomada pelos ministros do STF.

Villas Bôas recebeu imediatamente o apoio de vários subordinados da ativa, como o General José Luiz Dias Freitas, comandante militar do Oeste, e o General Geraldo Antonio Miotto, ex-comandante militar da Amazônia.

Miotto escreveu: “Comandante! Estamos juntos na mesma trincheira! pensamos da mesma forma! Brasil acima de tudo! Aço!”

A mensagem de Villas Boas é dúbia: ele também fala em respeitar a Constituição e a Democracia.

A mensagem dele foi lida no encerramento do Jornal Nacional, o que provocou reações imediatas.

“O comandante do Exército está chantageando o STF e fazendo ameaças veladas? É isso mesmo?”, perguntou o pré-candidato do Psol ao Planalto, Guilherme Boulos.

O jornalista Kennedy Alencar acrescentou: “A manifestação do general Villas Bôas é inaceitável na democracia. É pressão indevida sobre Rosa Weber e o Supremo. Ditadura nunca mais”.

A economista Laura Carvalho acrescentou, sobre o JN: “O papel do jornalismo não é o de simplesmente dar coro à voz do general. É o de esclarecer que em uma democracia não cabe o exército opinar sobre decisões do Supremo”.

“É escandalosa a pressão da Rede Globo pra que seja negado o direito de Lula se defender em liberdade de uma condenação ilegal e injusta, sem provas, sem crime. Chegaram ao cúmulo de encerrar o Jornal Nacional associando ao julgamento um tuíte do comandante do Exército”, escreveu a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann.

“O comandante do Exército resolveu opinar sobre o momento político. Não pode, estando na ativa! Deixe a caserna, dispute eleições e comente à vontade. Com batalhões, cheira a ameaça e conspiração”, tuitou o deputado Chico Alencar (Psol-RJ).

O governador do Maranhão, Flávio Dino, opinou: “No Estado de Direito, cada um tem o seu papel institucional: ao comandante do Exército não cabe interpretar a Constituição nem dizer o que é impunidade. Para isso existem os 3 Poderes, especialmente o Supremo Tribunal Federal”.

Para Juliano Medeiros, presidente nacional do Psol, “a intimidação veio cercada pelo discurso de vigilância contra a impunidade e interesses pessoais. São as Forças Armadas em aberta trama golpista”.

Detalhe, entre o patético e o sombrio: o tweet do general Villas Bôas foi curtido pelo perfil do TRF-4, de Porto Alegre, onde o ex-presidente Lula foi condenado em segunda instância.

E, para acrescentar uma pitada de tragicomédia, um perfil monarquista respondeu ao comandante do Exército: “Conserte o erro de 1889”.

PS do Viomundo: Este post foi editado para acréscimo de informações.

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