Ariel Goldstein: “Revolução” das três refeições por dia mantém Lula no páreo
Tempo de leitura: 2 minCrise política e indefinição no Brasil
por Ariel Goldstein*
A impossibilidade de Lula, o candidato com as maiores intenções de voto, para competir no concurso eleitoral deste ano, introduz uma tensão entre a opção escolhida de forma majoritária e a sua exclusão como possibilidade viável.
Isso aumenta a incerteza num cenário político cuja situação já se caracterizava pela falta de definição.
A persistência na imaginação popular do veterano líder, apesar das acusações de corrupção e dos ataques da mídia, é explicada pela sua obra política.
As transformações que ocorreram no cotidiano de milhares de brasileiros imersos na pobreza.
Sua “revolução” de que os brasileiros possam comer três vezes ao dia.
A ação arbitrária do Poder Judicial na condenação de Lula mostra uma ausência de equanimidade e acrescenta a instabilidade em vez de atuar como fator de equilíbrio.
O princípio de que a justiça é universal e a lei é aplicada da mesma maneira para cada cidadão é questionado quando o julgamento do ex-presidente é analisado.
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Esta nova condição crítica é adicionada à desconfiança tradicional em relação à classe política, reforçada pelas irregularidades entre as grandes empresas e o Estado reveladas pela investigação do Lava Jato, bem como o impeachment de duvidosa legitimidade que os políticos do PMDB-PSDB promoveram a Dilma Rousseff — denunciado como “golpe” pela esquerda brasileira — e as acusações de corrupção sitiando o governo de Michel Temer.
A desconfiança do eleitorado em relação aos atores políticos tradicionais é o que explica que dois dos principais candidatos potenciais são pessoas de fora da classe política: o ex-militar de direita Jair Bolsonaro e o animador da Globo, Luciano Huck.
Por sua vez, o alto perfil assumido pelo empresário Joao Doria, atual prefeito de São Paulo, é também uma expressão da crise vivida pela classe política tradicional, que levou ao surgimento de novos personagens de fora dos partidos.
Isso ocorre num contexto de fragmentação partidária e alta personalização da política, que no Brasil tem avançado nos últimos anos.
Assim como nos Estados Unidos, o discurso racista e anti-elite de Washington exercido pelo Donald Trump expressou a insatisfação daqueles prejudicados pelo modelo econômico diante da sociedade multicultural e bem-pensada, no Brasil a insatisfação com uma situação econômica dolorosa desde 2015 e a desconfiança dos políticos levou ao crescimento do discurso racista e demagógico de Bolsonaro.
Poucos meses após as eleições, os principais candidatos não são definidos ou consolidados.
Isso contrasta com o recorde de eleições entre 1994 e 2014, onde se apresentaram dois candidatos fortes dos principais partidos, PSDB e PT, que então se polarizaram e competiram em um segundo turno para a presidência.
É difícil imaginar esse cenário para as eleições de outubro deste ano.
*Autor do livro Imprensa tradicional e lideranças populares no Brasil (A Contracorriente, 2017).
@Agoldok
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