Por Marco Aurélio Mello
por Marco Aurélio Mello
— Vocês não querem experimentar a cerveja local? Pergunta a garçonete.
Já de um tempo virou moda esta coisa de cerveja artesanal.
Em todo lugar tem.
Mas em certas regiões tomar uma cerveja local tem um quê a mais.
No caso de Pirenópolis, cidade destino de bichos-grilos no interior de Goiás, parecia ter algo de identidade cultural.
Só fomos experimentar a tal cerveja no último dia de viagem, como despedida.
E decidimos ir até a pequena fábrica no centro histórico.
Além da Pilsen, há também a Kölsch, a IPA e a de Hibisco.
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Pergunto o porquê do nome, Santa Dica, e a resposta surpreende.
Tratava-se de uma mulher da região.
Mas não era qualquer mulher, não.
Era a Mulher!
E eu explico.
Benedita Cipriano Gomes, a Dica, depois Dona Dica e por fim Santa Dica nasceu no início do século passado na fazenda Mozondó, onde hoje é Lagolândia, pequena cidade a menos de 40 quilômetros de “Piri”.
Com sete anos de idade, doente, foi dada como morta, mas três dias depois ressuscitou.
O notícia do “milagre” correu o sertão e atraiu hordas de romeiros à região.
Em torno de sua casa formou-se o pequeno povoado.
Dica cresceu distribuindo bençãos e graças e passou a acumular poder político.
Fez a “reforma agrária” nas suas terras, aboliu o uso do dinheiro, instituiu o descanso semanal aos domingos e socializou os bens de produção.
Tal como Antonio Conselheiro, Dica pregava o fim da propriedade rural e do pagamento de impostos.
Suas curas e milagres eram atribuídos aos espíritos de uma princesa, de um comandante e do Dr. Fritz, famoso entre os espíritas de norte a sul do Brasil.
Em torno de si passou a liderar 15 mil pessoas, quatro mil eleitores e um exército de mil e quinhentos homens dispostos a dar a vida para defendê-la.
A devoção às suas ordens era tanta que Dica passou a incomodar o Governo e os coronéis da região.
Enquanto era atacada pelos jornais goianos e mineiros, sua fama messiânica só aumentava.
Por sua causa, naquela localidade o rio do Peixe mudou de nome, virou rio Jordão.
Dica chegou até a editar e imprimir o próprio jornal.
Foi quando autoridades do entorno se declararam impotentes diante de tal poderio e o Governo do Estado decidiu intervir.
Dica foi presa, não sem antes seu exército resistir à batalha que, dizem, só teve três baixas.
Diz a lenda que seu poder espiritual era tanto que os tiros do inimigo não perfuravam seus homens.
Seis meses depois, pressionado pela população e sem provas para condená-la, o Governo decidiu libertar Dica, que ingressou na política e conquistou o título de cabo do exército brasileiro.
Se você não pode com o inimigo…
Dica passou a comandar uma tropa de 400 homens, que ficaram conhecidos como pés de palha e pés sem palha. A razão? Como eram todos analfabetos não sabiam qual era o pé esquerdo e o direito.
Com a palha amarrada a um deles conseguiam fazer a diferenciação, o que os permitia marchar.
À Dica, que viveu até 1970, foram atribuídos muitos milagres e feitos.
Quanto à cerveja de Pirenópolis, como não ganho para fazer propaganda,digo que tudo é uma questão de paladar.
Marco Aurélio Mello
Jornalista, radialista e escritor.
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