Samuel Pinheiro Guimarães: Se os EUA se instalarem em Alcântara, de lá poderão “controlar” o Brasil
Tempo de leitura: 2 minpor Samuel Pinheiro Guimarães*,via Samuel Gomes
Os Estados Unidos, além de suas frotas de porta aviões, navios e submarinos nucleares que singram todos os mares, possuem mais de 700 bases militares terrestres fora de seu território nacional nos mais diversos países, em muitas das quais instalaram armas nucleares e sistemas de escuta da National Security Agency (NSA).
Os Estados Unidos têm bases de lançamento de foguetes em seu território nacional, como em Cabo Canaveral, perfeitamente aparelhadas com os equipamentos mais sofisticados, para o lançamento de satélites.
Os Estados Unidos não necessitam, portanto, de instalações a serem construídas em Alcântara para o lançamento de seus foguetes.
O objetivo americano não é impedir que o Brasil tenha uma base competitiva de lançamento de foguetes; isto o governo brasileiro já impede que ocorra pela contenção de despesas com o programa espacial brasileiro.
O objetivo principal norte americano é ter uma base militar em território brasileiro na qual exerçam sua soberania, fora do alcance das leis e da vigilância das autoridades brasileiras, inclusive militares, onde possam desenvolver todo tipo de atividade militar.
A localização de Alcântara, no Nordeste brasileiro, em frente à África Ocidental, é ideal para os Estados Unidos do ângulo de suas operações político-militares na América do Sul e na África e de sua estratégia mundial, em confronto com a Rússia e a China.
O Governo de Michel Temer tem como objetivo central de sua política (que nada mais é do que o cumprimento dos princípios do Consenso de Washington) atender a todas as reivindicações históricas dos Estados Unidos feitas ao Brasil não só em termos de política econômica interna (abertura comercial, liberdade para investimentos e capitais, desregulamentação, fim das empresas estatais, em especial da Petrobras etc.) como em termos de política externa.
À politica externa cabe cooperar com a execução deste programa de Governo, cujo objetivo é atrair investimentos estrangeiros, além de ações de combate à Venezuela, de afastamento em relação aos vizinhos da América do Sul, de destruição do Mercosul, a partir de acordo com a União Europeia, cavalo de Troia para abrir as portas de um futuro acordo de livre comércio com os Estados Unidos, de adesão à OCDE, como forma de consolidar esta política econômica, e de afastamento e negligência em relação aos países do Sul.
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Nesta política geral do Governo Temer, o acordo com os Estados Unidos para a utilização da Base de Alcântara configura o caso mais flagrante de cessão de soberania da história do Brasil.
Os Estados Unidos se vierem a se instalar em Alcântara, de lá não sairão, pois de lá poderão “controlar” o Brasil, “alinhando” de fato e definitivamente a política externa brasileira e encerrando qualquer possibilidade de exercício de uma política externa independente.
Brasília, 20 de outubro de 2017
Samuel Pinheiro Guimarães é embaixador aposentado. Foi secretário-geral do Itamaraty (2003-2009), ministro de Assuntos Estratégicos (2009-2010) e alto representante geral do Brasil no Mercosul (2011-2012).
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Comentários
Leonardo Boff
Segundo analistas como Moniz Bandeira entre nós e Noam Chomsky nos USA afirmam que esses são os propósitos imperialistas do Pentágono: um só mundo e um só império os USA); cobrir todos os espaços (full spectrum dominance) com 700 bases militares pelo mundo afora; alinhar todos os países à política externa norte-americana; desestabilizar governos progressistas não mais via militar, mas via parlamentar,diminuir o Estado e dar primazia ao mercado; privatizar tudo que for importante, destruir lideranças carismáticas,difamar a política como o mundo do sujo e por fim, ocupar o Estado. É o que está ocorrendo à risca no Brasil.
Nelson
É o programa “Ponte para o Futuro” sendo implantado à risca. Estão transformando o Brasil em uma mera colônia dos EUA e em Estado vassalo do império estadunidense, como já o é o México.
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Este projeto está sendo aplicado também na Argentina. Macri teve uma caminhão de dinheiro injetado em sua campanha para ganhar a eleição e afastar o inconveniente Kirchnerismo. Ainda que tímida, a soberania implementada pelos Kirchner era demasiada na visão do Sistema de Poder que domina os EUA.
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Ou seja, o nosso futuro e o dos nossos e filhos e netos está sendo destruído. E os brasileiros estamos, numa passividade bovina, só a assistir a tudo, sem esboçar reação.
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Em entrevista publicada em setembro de 2016, o professor de economia da Universidade de Buenos Aires e de Córdoba, Argentina, Jorge Beinstein, já alertava:
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“Os Estados Unidos, apoiado em certos casos por outras potências ocidentais, destruiu países como o Afeganistão, Iraque, Líbia ou Síria, tenta cercar militarmente a Rússia, afundar a sua economia, está começando a fustigar militarmente a China, ENCONTRA-SE EMBARCADO NA RECOLONIZAÇÃO INTEGRAL DA AMÉRICA LATINA À QUAL RESERVA UM DESTINO MEXICANO.”
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A entrevista de Beinstein está disponível em http://resistir.info/beinstein/entrev_17set16.html.
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