Maria Izabel repudia caça da Veja aos sindicatos

Tempo de leitura: 3 min

Um ataque à democracia e à educação pública

Maria Izabel Azevedo Noronha*

As opiniões expressas pelo economista Gustavo Iochpe na revista Veja de 09/04 surpreendem pela virulência com que este articulista investe contra os sindicatos de profissionais da educação. Ele simplesmente propõe que as representações sindicais do magistério e demais profissionais seja ignoradas nas discussões sobre educação! Na prática, quer uma caça às bruxas contra os sindicatos, incompatível com o atual estágio da democracia brasileira.

Em seu artigo ele “acusa” os sindicatos de lutarem pelo bem-estar de seus associados. Extravagante seria se não o fizessem. Mas ele omite que os sindicatos de professores e demais profissionais da educação têm uma longa tradição de luta pela melhoria da educação pública e que parte expressiva de suas propostas vem se tornando realidade nos últimos anos.

Há no Brasil hoje um forte movimento de valorização do magistério, que compreende de forma clara a relação que existe entre essa valorização e a qualidade do ensino. Esta tendência já se refletiu na decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de declarar constitucional o piso salarial profissional nacional como vencimento básico da carreira do magistério, ou seja, sem acréscimos de qualquer natureza. O mesmo certamente irá ocorrer quanto à nova composição da jornada de trabalho, com 33,3% dedicados a atividades extra-classes, cujo julgamento foi suspenso com cinco votos a favor e quatro contra, devido a interpretações regimentais.

O Brasil vem formulando e implementando políticas educacionais que apontam para a melhoria da qualidade do ensino, valorização dos profissionais da educação, gestão democrática e a superação de déficits acumulados ao longo de décadas graças ao diálogo entre as autoridades educacionais e as organizações da sociedade civil, entre elas os sindicatos dos profissionais da educação. O que Gustavo Iochpe expressa é a reação a esses avanços da direita mais conservadora e de uma certa elite que autointitula “social-democrata”.

A Conferência Nacional de Educação (CONAE) representou um momento importante neste processo, envolvendo milhares de profissionais da educação, estudantes, gestores, especialistas, pais, trabalhadores dos mais diversos segmentos e centenas de organizações sociais na discussão dos rumos da educação brasileira. Foram realizadas reuniões, debates e encontros nas escolas e outros espaços, culminando em conferências municipais, intermunicipais, estaduais e, finalmente, na CONAE, em Brasília, no mês de abril de 2010.

A CONAE definiu as bases de uma nova política educacional que começa a se concretizar no projeto de lei do Plano Nacional de Educação 2011-2020, já  em tramitação no Congresso Nacional. Mas nada disso interessa a Iochpe e os que defendem os mesmos interesses que ele. Ele querem desqualificar os professores das escolas públicas e as políticas educacionais para abrirem espaços cada vez maiores para a venda de métodos, apostilas, consultorias e, se possível, tomar a gestão dessas escolas, para torná-las mais “eficientes” e “produtivas”.

Não constitui surpresa, entretanto, que este senhor escreva tais absurdos. Há  anos ele vem se dedicando à tarefa de avacalhar todos aqueles que se opõem à política privatista na educação e certamente os sindicatos estão na linha de frente dessa resistência.

Em suas colunas na revista Veja ele afirma que o Brasil investe mais que o suficiente em educação; que não há relação nenhuma entre o valor dos salários pagos aos professores e a qualidade do ensino; que só merece receber salário decente quem tiver seu “mérito” reconhecido pelas autoridades educacionais; e por aí vai.

Ora, a política de “mérito” que esse senhor defende já mostrou seus péssimos resultados no estado de São Paulo, tanto assim que o atual governo, pelo menos verbalmente, vem manifestando a intenção de abandoná-la. Uma das mais importantes mentoras do sistema de meritocracia na educação norte-americana, a ex-secretária adjunta de Educação dos Estados Unidos, Diane Ravitch, já declarou que esse sistema não funciona e vem se dispondo a realizar palestras ao redor do mundo para demonstrar isso.

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Nos últimos tempos Gustavo Iochpe vem defendendo a ideia de que o ensino infantil não tem importância nenhuma para o desenvolvimento da educação e do país. Ele, na verdade, contrapõe o combate ao analfabetismo à expansão das creches e pré-escolas. Ou seja, para ele o país só deve combater o estrago já feito; nada de investir para prevenir o futuro.

Curiosamente, todas as críticas e restrições do economista são voltadas ao ensino público. Se para os filhos dos pobres creches e pré-escolas não são importantes, nada é dito quanto às “escolinhas”  privadas que existem em cada esquina e aos bons colégios de elite que oferecem educação às crianças desde a mais tenra idade. Ou seja, o que vale para a elite não vale para o povão.

A revista Veja e o senhor Gustavo Iochpe são velhos conhecidos na tentativa de demonizar os movimentos e sindicatos de professores, estudantes e outros segmentos sociais que lutam pela melhoria da educação pública e pela valorização de seus profissionais, por meio de políticas de formação que atendam à escola real na perspectiva da escola ideal que todos almejamos, carreira, salários dignos, participação da comunidade, gestão democrática e outras medidas.

Iochpe, a revista Veja e os que os apoiam estão se movendo contra a democracia e contra o livre direito de organização e expressão. A sociedade brasileira não pode tolerar isso!

*Presidenta da APEOESP
Membro do Conselho Nacional de Educação
Membro do Fórum Nacional de Educação

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Comentários

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Edfg.

A Maria Isabel e o Vi o MUndo não vão protestar quanto à situação dos terceirizados no Governo federal não? Eles não recebem desde janeiro e vocês não deram um pio.

Mauro A. Silva

Digite o texto aqui![youtube 2ipaF7KKSMo http://www.youtube.com/watch?v=2ipaF7KKSMo youtube]

N. Konthyegki

Bem, independementemente de quantas pessoas lêem esse detrito de maré baixa, como chama o PHA, deve ser relevante sim chamar a atenção das pessoas para algumas coisas. Independentemente dessa carta ter sido escrita pela presidenta do sindicato, que sofre duras críticas há anos – eu sou professor e associado à APEOESP – não se pode deixar de responder à essas arbitrariedades lançadas a torto e a direita (assim mesmo, nas suas inclinações ideológicas), como fazem bem esse PiG.
Muito fácil também identificar as razões porque esse sujeito, sujeitado à obedecer o que o seu chefe manda, e ele como bom cordeirinho que é, reza a cartilha, joga essas verborragias sem o mínimo de noção da realidade do professor – esse vagabundo, que além de tudo é incompetente, porque não consegue ensinar 50 alunos de uma vez só!
É simples, basta ir no blog Na Maria News, lá estão arquivadas todas as jogativas dos Civitas, essa tentativa esdrúxula de ser um misto de Kane com Corleone e seus comparsas do PiG. São 4.534.401 razões para jorrar os seus detritos criticando educação pública. Esse é o número de assinaturas que o governo do estado de São Paulo fez da Veja, tudo sem licitação.

[youtube Us7hf5KYoVw&feature=player_embedded#at=44 http://www.youtube.com/watch?v=Us7hf5KYoVw&feature=player_embedded#at=44 youtube]

Ou se preferirem, aqui: http://namarianews.blogspot.com/2010/10/civita-te

Fora o fato de que há membros da FDE, como a Guiomar Namo de Mello, que é diretora executiva da Fundação Victor Civita, como mostrou no ano passado esse mesmo Vi o Mundo, aqui:
http://www.viomundo.com.br/denuncias/serra-psdb-e

No entanto, é aquilo mesmo, só vê quem quer… Porque quem lê o Azenha não lê a Veja e quem lê a Veja não lê o Azenha…
Mas, estamos de olho!

Thiago

A administração educacional brasileira esbarra, na verdade, no corporativismo de pedagogos. Tais profissionais possuem uma formação 'acadêmica' baseada em política partidária e, ao ocupar vastamente sindicatos e secretarias de educação, agem exageradamente em causa própria. Um exemplo, penso que crucial, é a enorme contratação de pedagogos em detrimento de professores de outras disciplinas. E assim ficam com as aulas de filósofos, sociólogos, historiadores e de outras disciplinas em oportunidade, perpetuando a má educação como se a disciplinas cooptadas não tivessem história e técnicas próprias.

Maria Izabel repudia caça da Veja aos sindicatos « Papagaio Rouco

[…] Extraído do blog Vi O Mundo. […]

Arthur Schieck

Para que perder tempo comentando essa revista?! Uma vez eu tive o desprazer de ler um exemplar. Eu estava na espera do médico e, devo dizer, foi uma experiência traumática.
Era uma especial de fim de ano, sei lá. Um horror!

eraklito

A revista Veja e o Estadão assim que forem entregues nas escolas, os professores deveriam queimar esse "besteirol de informações" no meio do patéo da escola.

Fazer uma fogueira com Veja e Estadão é iluminar o povão.

    Luís

    Ou então usar Veja, Estadão, Folha, O Globo na fogueira da festa junina. Que tal? :)

Marcos C.Campos

Cada coisa que acontece … O sujeito quer "contribui" com o debate sobre educação …. detonando os sindicatos … Tem segundas, terceiras e quartas intenções ai … Claramente … O público alvo da revista deve concordar com a linha de ação.

Jair

Ontem o ministro do Trabalho, o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, representantes das empreiteiras e das centrais sindicais reuniram-se para definir o que fazer com a usina de Jirau.

Resultado: vão demitir 6 mil trabalhadores.

Cadê os sindicatos?

Cadê as centrais?

Agora imaginemos essa mesma situação com o PT na oposição e um presidente tucano no Palácio.

Os sindicalizados já teriam desembarcado no canteiro de obras para apagar o incêndio jogando gasolina.

Luís

Desculpe-me pelo offtopic, pessoal, mas eu vi uma coisa tão absurda que eu não resisti.

Já que foi falado da Veja, eu queria falar de outra nojeira, a Folha.

Olha só a reporcagem recém-saída do esgoto da FSP:
http://www1.folha.uol.com.br/poder/903205-bahia-f

mello

A (in)veja só segue os ditames preconizados por um de seus gurus, fernando henrique cardoso. Se aquele elegeu como seus inimigos o povo brasileiro e o governo, a revistícula escolheu o Professor e a Educação.

Mauro A. Silva

Digite o texto aqui![youtube OBu788EWdHk http://www.youtube.com/watch?v=OBu788EWdHk youtube]

Thamyres

Acho que ele deveria entrar primeiro numa escola pública, vivenciar o cotidano escolar para falar dela.
Mas o que mais me incomoda é que quando a grande mídia quer tratar de educação, chama logo um economista, que tem sobre a escola uma visão de mercado.
Nós educamos para a vida, nao para o mercado de trabalho.

Marcelo Fraga

O máximo que esse cara pode chegar a ser rotulado é "piada". Ele não passa disso.

Luiz

Já mandei o artigo para professores e alunos que estão nos meus contatos.

Henrique Pompeu

Quem entende de educação é professor, e não filho de banqueiro.

sergio mario

Quem lê o Azenha não lê a ´Veja, quem lê a Veja não lê o Azenha. Porque gastar tempo e espaço com essa publicação mesquinha? E quantos leem a Veja? Acho que menos gente do que imaginamos !

    Leider_Lincoln

    Semana passada veio dois vendedores da Abril na escola em que trabalho. Não tiveram coragem de nos oferecer a Veja, só as outras revistas da empresa. A médio prazo a estratégia é suicida: cada professor tem, ao longo da vida, de 3 mil a 15 mil alunos. Como estamos substituindo _ao menos nas escolas particulares_ parcela da função educadora que antes era dos pais, a revista tende apenas a se lascar, com o futuro…

Elton

Quem lê a se "deslumbra" com o que o gustavo ioschpe publica são os mesmos fascistas de sempre. Eles são ANTI qualquer coisa que seja estatal e ele em específico ataca a educação pública há alguns anos.
Se ele é privatista?
Há uns dois ou três anos quando escreveu sobre ensino superior privado e a s avaliações do governo que ameaçavam fechar "faculdades de esquina" e cursos de péssima qualidade ele se "eriçou" todo ao dizer: "Melhor cursar uma faculdade ruim do que não cursar nenhuma", na defesa da "livre iniciativa' no ensino brasileiro…….

José Eduardo Camargo

Esse tal de Gustavo Ioschpe é um diletante filhinho de papai desocupado que nem sequer vive no Brasil; ele mora em Paris! É o papaizinho dele, o banqueiro Daniel Ioschpe, já falecido, que comprou os espaços na mídia (e a família continua comprando!) para escrever bobagens sobre um assunto, a educação, do qual nada sabe! Vamos ignorá-lo? Porque o melhor é não dar atenção a farsantes como esse!

    Luís

    Esse Gustavo Ioschpe não é aquele que disse que professro no Brasil ganha bem?

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