Por Marco Aurélio Mello
por Marco Aurélio Mello
Num barco à vela
Fui do Arouche à Bela
Vista
No caminho um náufrago
Barbudo
Da calçada gritou:
Terra à vista!
Seus olhos crackeados
Brilharam na escuridão.
Reluziam faróis
De carros
Daquela gente
Fina
Gente da noite, do dinheiro,
E do pó
Apoie o VIOMUNDO
Gente de óculos
De lentes coloridas
Gente de visão
Visão panorâmica
Sem visão periférica
À luz da vela arcaica
Da tele visão
De onde saem as imagens
Distorcidas
Naus à deriva
Zumbis, gente tosca,
Miope, vesga…
Que mata, queima, fere
E cega nosso irmão
Marco Aurélio Mello
Jornalista, radialista e escritor.
Comentários
Edgar Rocha
Não há como não contemplar a melancolia de suas imagens. A verdade é o mais sagrado dos sentimentos. Dolorido, mas libertador. Grato, novamente por mais esta partilha.
E o verdadeiramente belo, aterroriza. Não pelo sofrer, mas para se afastar da feiura patética dos soberbos. Talvez por isto, a proteção superior sempre nos desperte conforto e segurança através de símbolos terríveis.
Carrancas protegem embarcações; gárgulas adornam igrejas; cruzes ensanguentadas…
O baixo e o decrépito são de uma formosura fácil, que atende aos sentidos. Pura sedução.
Sentir o sagrado é recriar a Guernica dentro de si. Ajoelhar-se e chorar diante da terrível beleza da compaixão.
Marco Aurélio
Edgar, fico tocado com tão belas palavras. Obrigado, M.
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