Deputado que propõe “cura gay” elogia decisão de juiz e é contestado por Jean Wyllys; veja
Tempo de leitura: 3 minO deputado Ezequiel Teixeira, do PTN, é autor de projeto que legaliza a “cura gay”
Psicóloga que prega ‘cura gay’ se diz ‘missionária’
Líder da ação que indignou o país é dona de uma associação ligada a religião
A decisão de um juiz do Distrito Federal de conceder liminar permitindo que psicólogos possam tratar a homossexualidade e aplicar técnicas para a reversão sexual sem sofrer sanções provocou uma onda de repúdio no país ontem.
A ação acatada pelo juiz federal Waldemar Cláudio de Carvalho partiu de 27 psicólogos liderados por Rozângela Alves Justino, psicodramatista e terapeuta que se descreve como missionária.
Presbiteriana e dona de uma entidade que se define como associação de “apoio ao ser humano constituída segundo os princípios cristãos”, a principal autora da ação já havia sido punida em 2009 pelo Conselho Federal da Psicologia, que proibiu, ainda em 1999, qualquer abordagem alinhada com a chamada “cura gay”.
A reportagem conseguiu contato com a psicóloga, mas ela não respondeu ao pedido de entrevista. O psicólogo Adriano Lima, colega de grupo de Rozângela, disse o seguinte ao jornal: “Não estamos falando em nome do cristianismo, mas em nome da ciência”.
Lima diz que os psicólogos que moveram a ação não acreditam que a homossexualidade é doença. “Não pretendemos curar ninguém. O objetivo é permitir que uma pessoa em conflito com a sua sexualidade e que queira ser reorientada possa ir ao consultório”, diz.
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Adriano Lima afirma que ele e os colegas estão “insatisfeitos” com a Resolução de 01/1999 do CFP, que prevê que “os psicólogos não exercerão qualquer ação que favoreça a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas, nem adotarão ação coercitiva tendente a orientar homossexuais para tratamentos não solicitados”.
A justificativa, segundo Adriano Lima, é que a resolução vigente do CFP “cerceava a liberdade do paciente e do profissional que se sentia intimidado. Isso porque se construiu a ideia de que alguns profissionais estavam promovendo a cura”.
Para psicólogo Roberto Chateaubriand, que trabalha com DSTs na Prefeitura de Belo Horizonte, “o que se vê é um grupo de profissionais que adjetivam a psicologia como cristã”. “Não existe psicologia cristã, budista ou espírita. Além disso, a ação não tem qualquer embasamento científico, está fora de qualquer possibilidade ética da profissão. Estudos realizados ao redor do mundo mostram a ineficácia desse tipo de tratamento e a violência que significa para o sujeito”, afirma.
Há quase 30 anos, a Organização Mundial de Saúde retirou a homossexualidade da lista internacional de doenças. Antes disso, os tratamentos para a reversão sexual (ou terapia de conversão e reparativa, como também é conhecida) previam o uso de técnicas como a lobotomia (intervenção cirúrgica no cérebro) e choques.
No entanto, Lima garante que essas técnicas não são usadas pelo grupo. “O trabalho psicoterápico vai desenvolver a autonomia do paciente para que, nesse processo de autoconhecimento, ele tome as próprias decisões”, garante.
Projeto tenta emplacar ‘tratamento’
BRASÍLIA. A decisão do juiz federal Waldemar Cláudio de Carvalho que permite aos psicólogos oferecerem tratamento contra a homossexualidade não é o único caminho para a “cura gay” avançar no Brasil.
Está na Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF) da Câmara dos Deputados um projeto de lei que busca permitir tal tipo de “tratamento” por parte de psicólogos sem que esses sejam punidos.
O projeto é do deputado Ezequiel Teixeira (PTN-RJ) e propõe a aplicação de uma série de terapias com o objetivo de “auxiliar a mudança da orientação sexual, deixando o paciente de ser homossexual para ser heterossexual”.
Órgãos públicos e artistas se mobilizam
SÃO PAULO. Após a mobilização de artistas nas redes sociais contra a decisão judicial que liberou a terapia de reversão sexual – conhecida como “cura gay” – por psicólogos, órgãos federais e estaduais também se manifestaram em apoio ao público LGBT.
Os Ministérios do Turismo e do Esporte, o Departamento Estadual de Trânsito (Detran-SP), além dos governos do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, aderiram à campanha virtual que tem utilizado as hashtags #TrateSeuPreconceito e #HomofobiaêDoença em protesto.
Em post publicado ontem, o Ministério do Turismo escreveu: “Em um país diverso e plural como o nosso, respeito e tolerância são imprescindíveis para que possamos evoluir como sociedade. O Ministério do Turismo acredita que todo turista merece e precisa ser bem tratado em cada cantinho do país”.
Já o Ministério do Esporte publicou a frase “Esporte sem preconceito”, também com as letras coloridas, e utilizou a hashtag #TrateSeuPreconceito.
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Comentários
SARA
QUANTO EXAGERO DESSA CAMBADA DE ABERRAÇOES DOS GAYS! É MENTIRA QUE O PAÍS SE IDIGNOU COM TAL DECISAO! QUEM NA VERDADE SE FERIRAM FORAM A MINORIA DOS GAYS! NAO EXISTE CURA PRA GAY! A CURA É JESUS SE ESSES DOENTES DE ALMA E ESPIRITO SE ARREPENDEREM E DEIXAR TAL ABOMINACAO! TENHAM VERGONHA GAYS! DEUS FEZ HOMEM E MULHER E NAO HUMANOS EM FIGURAD DE ANIMAIS!
Alves
Ninguém, absolutamente ninguém falou de cura, até porque nem todas as pessoas que procuram psicólogos estão doentes. É preciso dar liberdade irrestrita para que uma pessoa procure um psicólogo. Ora, por que motivo a “esgotosfera”, que é tão massacrada por aqui, nunca dá oportunidade a um psicólogo que concorda com a mudança proposta na liminar concedida?
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