por Izaías Almada*, no blog da Boitempo , via Escrevinhador
Desde os primórdios da humanidade, daquilo que nos é dado a conhecer, pelo menos, o sentimento do medo é inerente a ação e ao comportamento humano. O confronto com a natureza, a proteção mística contra o desconhecido, a luta pela sobrevivência, o inevitável desejo de posse, a tentativa de suplantar a dor física e o sofrimento, para ficarmos com alguns exemplos, são atitudes que caracterizam o relacionamento entre o homem e a sensação de medo.
Muito já terão os pensadores e cientistas sociais discorrido sobre o tema, em particular historiadores, sociólogos e psicólogos. O atual estágio de desenvolvimento humano, contudo, que para o bem e para o mal se confunde com o atual estágio do capitalismo, agregou a essa relação um componente perverso: transformou o medo numa mercadoria.
Que o digam a indústria farmacêutica, a indústria armamentista, os bancos e o capital financeiro especulativo, as grandes seguradoras, os grandes conglomerados midiáticos ao redor do mundo.
Apoiado numa monumental e cínica campanha de marketing, a mercantilização do medo está presente nas páginas dos jornais diários, dos grandes telejornais, nas histórias em quadrinhos, nos filmes de catástrofe e terror, nas novelas de televisão, nos programas de rádio, quando uma sucessão de tragédias, sejam elas individuais ou coletivas, ganharam e ganham destaque em nível nacional ou internacional.
A história da guerra no Iraque é paradigmática. A invasão desse país pelos EUA, sob premissas falsas de procurar armas de destruição em massa, e o criminoso silêncio do mundo, terceirizou o uso de força, com a contratação de tropas e serviços mercenários. Milhões e milhões de dólares foram gastos com roupas, alimentos, remédios, combustível, armas e munições, colocando nos dois pratos da balança os polpudos cheques públicos nas mãos da empresa privada de um lado e o medo, simplesmente o medo, de outro. Os genocidas do governo Bush, entre eles o vice presidente Dick Cheney e a empresa Halliburton sabem exatamente o que significa essa mercantilização do medo.
O medo ao terrorismo, o medo aos muçulmanos selvagens, o medo aos inimigos internos, o medo a culturas diferentes e à diversidade. O medo, enfim, a tudo que não seja branco e de olhos azuis. E que não fale o inglês do Texas ou da Câmara dos Lordes. Ou ainda, de forma mais prosaica, o medo ao desemprego, o medo ao assalto, o medo à infidelidade, o medo ao bullying, o medo à periferia, o medo aos juros bancários, o medo às enchentes, o medo aos terremotos, o medo, o medo, o medo…
Quanto vale o nosso medo do dia a dia nas bolsas de Nova York, Xangai ou mesmo na Bovespa?
Izaías Almada é escritor, dramaturgo, autor – entre outros – do livro “Teatro de Arena: uma estética de resistência” (Boitempo) e “Venezuela povo e Forças Armadas” (Caros Amigos).
Comentários
José Manoel
E tome "Panem et Circensis"!!! Nós merecemos essa m…….. midiática, mesmo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Eudes
Desde de Maquivel e depois Thomas Hobbes o medo sempre foi a forma mais eficiente de controle social. Hoje , na pós-modernidade capitalista, onde os Estados cedem seu lugar de deuses modernos ao mercados ou seja, a busca do lucro financeiro, seria de causar medo se o medo não virasse um produto. Não apenas nas na guerra antiterror, nas justificativas de armas químicas no Iraque..etc e tal , mas o medo revela-se como forma de controle social dos mercados na busca de provocar o consumo quando vestir-se de forma diferente diante da turminha no colégi pode isolar uma criança, o medo de ficar fora de círculo de amizades e ficar só se não vestir-se, não gotar do mesmo tipo musical, cortes de cabelos…etc entre dos jovens.
É a mercantilização do medo em proporções foucaltianas dentro da perpectiva dita por Marx que numa sociedade capitalista tudo vira produto do capital. Que mundo deixamos para o nosso porvir quando assistimos a tudo com medo de reagir.
Adverso
Fora de pauta, mas nem tanto.
No JB online: Governo americano critica Brasil em relatório sobre direitos humanos.
A manchete correta deveria ser: Governo genocida americano…
É um típico caso de um SUJO falando de um BEM lavado.
José Manoel
Os que pregam a paz vivem sempre em guerra!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Socorro!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
carmen
Que civilização é essa que cultua o medo?desde as coisas mais básicas até as mais complexas me parece que tudo atualmente passa pelo medo.Medo de comer carne,chocolate,macarrão,arroz, sal,açucar,só pra citar alguns,medo de tomar sol(e não falo aqui do sol na praia ou piscina), medo de não tomar sol porque alguém em algum lugar disse que so o sol possui uma tal vitamina,medo de não tomar água suficiente,medo de sair a pé,de sair de carro,de andar de ônibus,medo uns dos outros porque o outro sempre pode ser alguém muito perigoso,um ladrão,um sequestrador,um estrupador,um assassino.Poderia passar a noite falando dos medos que todos os dias tem um marketing de graça em todas as mídias.Definitivamente isso não pode estar correto,porque se olharmos a coleção de medo que amealhamos ao longo de nossas vidas,para cada um deles tem um monte de antidótos,que tem um custo,claro,senão estariamos vivendo fora desse sistema e dessa civilização.
Mário SF Alves
E não é à-toa que eles (e seus "sub-sócios" dignatários da Casa Grande") estão doidinhos por implacar uma lei ante-terror no Brasil. Aliás, tem PIG cuidando de preparar o terreno, com areia e tudo.
E haja geopolítica para dar conta disso!
Thiago Machado
Publiquei o mesmo texto no meu blog fazendo referência à exploração midiática da tragédia de Realengo. É a mesma indústria do medo que explorou os ataques ao Rio ano passado.
http://espacobanal.blogspot.com/2011/04/mercantil…
Florival Scheroki
A mercadoria mais cara que os USA negociam é a segurança.Para isto,precisam forjar situações de insegurança, intriga, medo. USA e seus comparsas projetam um mundo em que este serviço de "proteção" será imprescindível para a maior parte dos países. Cobram pedágio para nos permitir ficar vivos. Nada muito diferente dos procedimentos da máfia, das milícias nos morros do RJ e outros. A fragilidade da maioria dos paises permite manter alto valor da "proteção", enquanto os impede de construir tecnologias para lhes garantir a segurança de viver sem as ameaças forjadas para rolar a grana nas bolsas. Radical!!!
FrancoAtirador
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A própria palavra "terror" foi escolhida meticulosamente
pela assessoria de comunicação de George W Bush
para formular a doutrina da "Guerra ao Terror"
e espalhá-la pelo mundo, após o 11 de setembro,
sob a forma de intimidação pela ameaça de um "mal diabólico".
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Guerra ao Terror ou Guerra ao Terrorismo é uma iniciativa militar desencadeada pelos Estados Unidos a partir dos ataques de 11 de setembro.
O então Presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, declarou a "Guerra ao Terror" como parte de uma estratégia global de combate ao terrorismo.
Inicialmente com forte apelo religioso neoconservador,
George Bush chegou a declarar uma "Cruzada contra o Terror" e contra o "Eixo do Mal",
no que ficou conhecido como Doutrina Bush. Isto gerou forte reação entre os aliados europeus acabaram exigindo a moderação no uso de conceitos histórico-religiosos como parte da terminologia do discurso antiterror.
Como parte das operações militares da "Guerra do Terror", os Estados Unidos invadiram e ocuparam países como o Afeganistão e o Iraque.
Foram mobilizados diferentes esforços simultâneos na Guerra ao Terror, no plano político-diplomático, econômico, militar e de inteligência ou contra-inteligência.
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Adverso
Estamos falando de medo e terror, certo? Pois dêem uma olhadinha na capa da veja desta semana.
As páginas internas aquela revista mostra que o Brasil estaria abrigando a nata do terrorismo internacional. Além disso, a PF saberia de tudo e não toma nenhuma providência.
A revista escreveu a matéria com base em informações fornecidas pelos Estados Unidos, inclusive pelo serviço secreto daquele país.
Bacanninha, né? E vejam a coincidência: a matéria saiu logo depois do massacre que aconteceu no Rio de Janeiro.
Quem estará disposto a queimar o próximo exemplar do Alcorão? Espero que não seja nenhum pastor brasileiro, mas se for algum "jornalista" da veja, a gente denuncia.
Pois é… Os "jornalistas" da veja continua apostando na burrice do leitor brasileiro. Que imbecilidade!
José Manoel
Aquele papel podre…………………………………….
José Manoel
Eita Pig de m……… esse aí!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Sempre jogando contra o país!!!!!!!!!!!!!! Querem ver o circo pegar fogo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Pedro Luiz Paredes
Não precisamos ir muito longe para objetivar isso.
Um exemplo bom seria o das seguradoras.
Quem ganha com nosso e vosso medo de ter um carro ou uma casa roubada?
Quanto as seguradoras movimenta por ano?
O mesmo tanto que elas tiram da econômica real, afastando o estado de dignidade dos seres humanos para especular e por traz de pessoas jurídicas, que essas sim, não sentem medo.
Agora essas, educam as pessoas físicas, passíveis de sentirem medo para não mais sentir e levar essa cultura ao patamar que vemos todos os dias.
…pessoas defendendo a concentração de renda sem perceberem, apoiando líderes por esses serem avessos aos alvos do próprio preconceito, justificando o endeusamento não só de deus, que apoia todos os seus atos, mas dos líderes que pregam qualquer moral. … e são avessos aos alvos de seu próprio preconceito.
Ao estado cabe a única tarefa de organizar a sociedade, sua demanda e seus anseios.
Ao criar a especulação, principalmente em setores que são essenciais não somente para a manutenção regular dessa organização, como para setores essenciais inclusive para a sobrevivência, estão levando a sociedade a viver uma inverdade desnecessária.
Trata-se não só de especulação financeira, mas também de especulação social.
Essa especulação explora o medo como nenhuma outra, pois legitima justamente o caminho para a dominação do mais forte, para que fique mais forte e cada vez mais restrinja as liberdades humanas em detrimento da liberdade das pessoas jurídicas, para o nosso próprio bem. Escravizai-me.
A culpa é de todos, desde quem aponta o dedo, até aquele que baseia suas ações na não aceitação das diferenças.
A não aceitação das diferenças fazem os seres humanos serem mais volúveis a essa "evolução", já no sentido antropológico, infelizmente.
A aceitação e a busca pela aceitação das diferenças, nos fazem perceber o quanto somos iguais e o quanto todos devemos merecer os mesmos benesses da vida. Seja dignidade, liberdade, igualdade, na plenitude ou na busca incessante por isso, e isso sim é evolução.
Essa evolução não se trata de mero posicionamento ideológico e de nada se compara à ideia dos moralistas que controlam o mundo e adequam sua moral ao que lhe convém se apoiando em justificativas que não se apoiam nem nelas próprias. Se baseia sim, e justamente, no próprio conceito de liberdade, de respeitar o espaço alheio e isso é um conceito da física, portanto da natureza e auto explicativo.
Os moralistas são a praga da humanidade.
cesar
Medo dos assaltos faz com que empresas de segurança, vendas de seguros, alarmes, serviços em geral lucrem espantosamente. Quando um cidadáo infeliz é assaltado ou morto, quando crianças morrem alardea se o fato. Secretarios da segurança e demais autoridades exibem incopetencia e subliminarmente sugerem a contrataçao de empresas de segurança. Erros policiais sao expostos nao so como jornalismo, mas como propaganda de guerra. Alguns "apresentadores" da linhagem dos gritadores, promovem o panico e assim participam do negocio. O legislador ja deu sua força concedendo beneficios e a incrivel mordomia de permitir que presos condenados deem a famosa saidinha. Viva o mundo Neoliberal.
Kelvin
O medo e a preguiça é o que difere os homens "comuns" dos homens bem sucedidos!
Marcelo Fraga
Os bem-sucedidos que você chama são os donos da Halliburton? Os donos do Citibank? Os McCarthy da vida?
Se forem, eu tenho outro apelido para eles.
Almeida Bispo
Eu também: LADRÃO!
José Manoel
Apoiado!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Mário SF Alves
Kelvin,
Medo, eis a senha; só faltou acrescentar que a estratégia do espalhamento do medo reduziria ainda mais as chances dos homens "comuns".
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