Álvaro dos Santos: Esquerda e forças populares estão reféns da visão de curtíssimo prazo; temos de sair dessa armadilha

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REFÉNS DE UMA VISÃO DE CURTÍSSIMO PRAZO, TEMOS QUE SAIR DESSA ARMADILHA

por Álvaro Rodrigues dos Santos*, especial para o Viomundo

Lamentavelmente a esquerda e as forças populares brasileiras se fizeram reféns de objetivos de curtíssimo prazo, que respondem a uma justa ânsia de vingar as traições e o golpe que levaram à deposição da Dilma, a insidiosa perseguição ao Lula e ao PT e a ampla campanha político-jurídico-midiática de comprometimento da imagem pública dos movimentos populares progressistas e suas lideranças.

Em termos práticos, a esquerda vive hoje um cotidiano de expectativas em denúncias que abalem Temer e seus comparsas, em uma improbabilíssima decretação de eleições diretas e em uma reeleição do Lula em 2018.

Essa exclusiva visão de curtíssimo prazo, por mais que se possa emocionalmente compreendê-la, e que se deva necessariamente vivê-la, tem impedido à esquerda brasileira dirigir uma maior atenção ao esforço de entendimento das causas básicas que a revelaram tão frágil politicamente na resistência ao golpe e ao seu alijamento das instâncias de poder político alcançadas no contexto dos pleitos eleitorais que se iniciaram em 2002 com a primeira eleição do Lula.

Por qualquer ângulo de análise há que se concordar que as enormes derrotas políticas que a esquerda e as forças progressistas vêm sofrendo explicam-se, de um lado, no enorme empenho e determinação da reação neoliberal que se processa organizada e elaboradamente em todo o planeta, e de outro, na impotência e fragilidade dos movimentos sociais para a vital sustentação política do governo progressista e das conquistas sociais do período.

Essa a carta decisiva que está faltando à esquerda e a todas as forças progressistas nesse momento político: a população nas ruas resistindo ao golpe e impedindo a implementação das reformas neoliberais acionadas pelo novo governo.

Nunca uma verdade histórica nos soa tão veemente: a única e sólida base de inspiração e sustentação política de um governo popular está nos movimentos sociais.

Livres, fortes e independentes.

Nada substitui o papel de sustentação política cumprido pelos movimentos sociais.

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Está se mostrando trágico o erro cometido ao desmerecer-se o papel central dos movimentos sociais, trocados pela enganosa ilusão de garantir-se a governabilidade por meio de acordos de cúpula e da formação de uma base político-parlamentar de apoio apalavrada com benesses de cargos e recursos públicos.

Essa constatação escancara com absoluta clareza para a esquerda brasileira a evidente prioridade com que devam hoje ser assumidas as ações de organização social e conscientização política e ideológica.

E isso requer uma visão estratégica de longo prazo, que aponte na perspectiva de um futuro quadro histórico marcado pela conscientização político-ideológica da população e por sua capacidade e disposição de intervenção na cena política.

Ou conseguimos com ações dessa natureza ao menos equilibrar o alcance das pregações reacionárias, mentirosas e imbecilizantes promovidas pela grande mídia e pelas grandes igrejas pentecostais, ou será humanamente impossível avançar nas conquistas civilizatórias tão essenciais ao país e ao seu povo.

Em conclusão, recobrar essa indispensável visão de longo prazo nos remete ao desafio central para as forças progressistas hoje: aumentar o nível de conscientização e organização da população brasileira, em particular dos trabalhadores.

Isso não significa nos alhearmos das questões que nos são colocadas pelos eventos de curto prazo, mas sim que nos cuidemos para deles não nos tornarmos reféns históricos.

Para tanto, ter a sabedoria de perceber nas batalhas do curto prazo oportunidades primorosas para darmos largos passos na realização dos grandes objetivos de longo prazo.

Trocar opiniões e experiências sobre como melhor promover e multiplicar essas ações de conscientização e organização social, que permitirão à sociedade brasileira colher os bons frutos em um tempo mais distante, esse o bom debate que está faltando.

Álvaro Rodrigues dos Santos é geólogo.

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Edson

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