Por Marco Aurélio Mello
por Marco Aurélio Mello
O sujeito é assalariado de classe média, tem uma pequena reserva que serve apenas para dez dias de férias, ou para uma emergência, como um carro quebrado, um exame que o plano de saúde não cobre…
Aí ele entra numa agência bancária e com sua conta “master plus diferenciada” é levado a acreditar que é um investidor, como aqueles aposentados lindos que jogam golfe nos cartazes, ou brindam com senhoras igualmente lindas em restaurantes de luxo.
Só que a classe média, por mais que almeje um futuro assim, vive tendo que se equilibrar entre as aparências e as contas a pagar.
Com a recente piora da situação econômica do país e com o aumento do desemprego, a insegurança aumenta.
Sinal disso – interpretação que a mídia omite – é que os depósitos em caderneta de poupança têm superado os saques nos últimos dois meses.
Aliás, num volume sem paralelo em quase 15 anos.
As pessoas deixam de gastar e quando sobra algum passam a escolher investimentos mais conservadores, como a caderneta de poupança, por exemplo.
Quem tem aplicações de mais risco também busca refúgio na poupança, o investimento mais seguro do mercado.
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Só que menos risco para banco é sinônimo de menos lucro.
Uma amiga consultou a gerente dia desses para tirar seu dinheirinho da renda fixa e se refugiar na caderneta de poupança.
Foi desestimulada porque a aplicação que ela tem (fundo DI) paga cem por cento do depósito interbancário, uma modalidade que, segundo a gerente, nem existe mais.
É claro que o investidor pensa: se ela está dizendo que eu vou perder, quem sou eu para dizer o contrário?
É sempre bom lembrar: poupança não paga imposto e é a única aplicação garantida 100% pelo Governo.
Quem dá duro na vida tem um sonho: um dia viver de renda.
Desejar isto não é ilegítimo.
No entanto, pode parecer estúpido para muita gente, mas fugir do mercado financeiro é ganhar.
O rentismo é a maior praga do capitalismo.
O rentismo destrói empregos, salários e, pasme, renda.
O rentismo é aquele dinheiro que fica parado para os bancos acumularem emprestando aos governos e aos indivíduos desesperados ou que se desorganizaram.
Se a gente quer mesmo mudar o mundo que tal começar a negar esta lógica?
Associar-se a bancos e obrigar seu país a pagar os juros mais extorsivos do planeta, em detrimento a políticas sociais de combate à pobreza e distribuição de renda, é uma maneira de legitimar tudo aquilo que mais criticamos.
Esta nossa omissão enche o bolso de 5 das 15 famílias que controlam sozinhas 5% do PIB do país: os Safra, os Moreira Salles, os Villela, os Aguiar e os Setúbal.
Famílias que controlam os bancos Itaú, Bradesco e Safra.
Bancos que anunciam grandes volumes na sua porta-voz preferencial, a Rede Globo, da famiglia Marinho, uma das mais ricas do globo terrestre!
Nossa vontade de mudar o mundo é sincera e juntos temos meios para isso.
E não é necessária nenhuma ação de guerra.
É uma mudança de comportamento, sem que seja preciso esquecer o sentimento mais nobre do mundo: o amor.
Neste caso, amor ao próximo, amor ao que não tem o que investir, aliás muitas vezes não tem nem o que comer todos os dias.
Pense nisso.
Marco Aurélio Mello
Jornalista, radialista e escritor.
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