O medo nosso de cada dia

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Por Marco Aurélio Mello

por Marco Aurélio Mello

Outro dia ouvi assim: quando estou caminhando arrumada à noite nas ruas do centro os táxis param para perguntar se eu estou precisando de um?

Os taxistas leem códigos e compreendem aquela cena como não usual, por isso a abordagem.

É como se aquele cidadão, ou melhor, cidadã não tivesse direito à sua cidade.

Como se à noite só fosse permitido andar nas ruas usuários de crack, moradores em situação de rua, prostitutas e travestis.

E é assim porque nos acostumamos a repetir: é perigoso andar à noite na cidade.

Será?

Trabalhadores e estudantes caminham, eles fazem isso todo dia.

Quantas ocorrências violentas acontecem com eles?

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Poucas, muito poucas, posso garantir.

Andar à noite pelas ruas da cidade é mais do que um direito, é uma obrigação e um gesto de resistência.

De quem não aceita a lógica “carrocêntrica”.

De quem acha que é se apropriando do espaço público que ele ganha vida.

Em certa medida, as ciclovias no centro de São Paulo permitiram isso.

As pessoas foram encorajadas e pedalar à noite, a frequentar praças e parques e os mais jovens foram os primeiros a assumir esta condição e encorajar os mais velhos.

Eles descem dos prédios para jogar bola na praça agora iluminada.

Todos ganhamos porque espaços de convivência tendem a ser mais seguros.

E depois tem outra: para reduzir índices de criminalidade e violência é preciso combater a exclusão, a pobreza e a desigualdade.

Isto já está provado e comprovado.

Só que uma parte enorme da nossa sociedade está convencida de que contra o crime o caminho é arma, polícia e cadeia.

Mesmo porque nas TVs é esse o mantra que a gente ouve a tarde inteira.

As pessoas ficam tão apavoradas que começam a ver suspeitos por todo o lado.

E vão se trancando em carros, casas e apartamentos.

E diante da TV veem um mundo que não é o mundo real.

Viram prisioneiras de uma rotina que traz tristeza e solidão.

Deixam de conhecer pessoas novas, conversar sobre assuntos novos, cultivar afetos, abraçar, beijar…

E assim seus corações vão se apagando aos poucos diante do óbvio, do conhecido e do monótono.

É o medo nosso de cada dia….

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Marco Aurélio Mello

Jornalista, radialista e escritor.


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