Legislação brasileira protege a paródia, diz STJ ao liberar Falha de S.Paulo
Por Pedro Canário, no Consultor Jurídico
A 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça autorizou o funcionamento do site Falha de S.Paulo, paródia do jornal Folha de S.Paulo.
Por quatro votos a um, o colegiado entendeu que a legislação de direito autoral autoriza a paródia e protege o direito à irreverência do direito ao entretenimento.
A corte também rejeitou a tese da violação de marca, já que elas podem ser reproduzidas se destinadas a fins diferentes, como era o caso da Falha com a Folha.
Prevaleceu o voto do ministro Luís Felipe Salomão, primeiro a divergir do relator, ministro Marco Buzzi.
O julgamento estava parado desde o dia 21 de fevereiro, por pedido de vista do ministro Raul Araújo.
Nesta quarta, ele levou seu voto-vista, acompanhando Salomão, que também foi seguido pelos ministros Antônio Carlos Ferreira e Isabel Gallotti.
A principal tese do jornal era que o Falha de S.Paulo violava sua marca por usar tipologia semelhante, o que poderia confundir seus leitores.
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Salomão rejeitou a tese. Segundo ele, os dois produtos são destinados a “consumidores bem específicos”.
De acordo com o ministro, não há como defender a “confusão” entre os leitores do jornal e os consumidores do site por causa do “grau de especialização dos adquirentes dos serviços prestados por aquelas empresas”.
Salomão pondera que, embora decisões judiciais devam levar em conta o grau de informação, inteligência e perspicácia do “homem médio”, “não é difícil concluir pelo elevado grau de discernimento e de intelecção que um leitor de jornal possui”.
A Folha ainda havia alegado que a Lei de Direitos Autorais proíbe, no artigo 47, paródias que “sejam verdadeiras reproduções da obra originária” e que lhes causem “descrédito”.
O ministro Salomão rejeitou a tese. Especialmente pela “considerável carga subjetiva” do termo “descrédito”, diante da proteção à paródia pela liberdade de expressão.
“A ironia e a crítica são a essência da paródia e quando a lei prevê e protege esse tipo de manifestação e expressão está protegendo a irreverência do conteúdo apresentado”, escreveu o ministro, no voto.
Ele lembrou que paródia é tradição brasileira, prevista no primeiro Código Civil do Brasil, de 1916 — o código não fazia qualquer menção a descrédito, apenas proibia a reprodução integral da obra original.
Concorrência desleal
O relator, ministro Marco Buzzi, havia concordado com a tese de que a Folha fora prejudicada pela tipografia do Falha.
Como o blog vendia publicidade para se sustentar, afirmou o ministro, perdeu o caráter de mera paródia e passou a competir com o jornal.
“Não se trata de diminuir o escopo do direito à liberdade de expressão. É que, diante do caso concreto, precisamos nos atentar para os dispositivos de tutela da marca, reconhecendo que nos moldes em que a paródia foi realizada, além do tom crítico e jocoso, houve violação do direito de proteção à marca”, escreveu o ministro, em seu voto.
O site está fora do ar desde que o processo começou, em 2010.
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Comentários
Jotage
A Folha tem toda a razão quando diz que não se pode utilizar paródias que “sejam verdadeiras reproduções da obra originária”.
Afinal de contas, fica muito difícil ler a Folha e achar que aquilo é sério, morremos de rir.
A Falha só fazia copiar as piadas da Folha.
Segundo a Folha, a falha proposital ou não é patente da Folha, por isto a Falha não poderia falhar também.
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