Por Marco Aurélio Mello
por Marco Aurélio Mello
Você é surpreendido por uma onda grande, daquelas que te arrastam.
Você rodopia dentro dela, engole água, tem medo de se afogar.
Quando a cabeça encontra o ar, você toma fôlego rapidamente até que outra onda te alcança e te pega de volta.
A humanidade parece ter entrado numa ressaca de maré como esta que acabamos de descrever.
É um sufoco, uma sucessão de acontecimentos assustadores.
Temos a impressão de que o mar revolto virou a regra, não é mais a exceção.
A história coleciona momentos de transformações profundas, como os de agora.
No entanto, como nosso tempo é o presente, é a nossa vez de engolir água e tomar fôlego.
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Por isso, por mais sábia que seja, a experiência alheia do passado não nos acolhe, não nos serve de guia.
Em momentos assim, como pedir calma e tranquilidade?
Pedir compaixão… empatia?
Fica parecendo piada, não é mesmo?
Ante a iminência de um afogamento o que vale é a máxima “salve-se quem puder”.
Calma, é difícil dizer isso para quem está tomado de pânico.
Pânico é aquele medo irracional, que vem das entranhas.
Em pânico não há protocolo, não há pudor, nem vergonha.
É em pânico que fazemos o tal papel ridículo, do qual chegamos a rir de nós mesmos depois.
O Amor Nos Tempos de Cólera é uma coluna modesta, aqui num cantinho do Viomundo.
O propósito é sugerir um caminho alternativo, oferecer uma reflexão.
É difícil acreditar neste novo jeito de olhar, eu sei.
Somos movidos por impulsos: de fúria e ódio.
Nossos instintos são primitivos, muitas vezes indomáveis.
Ninguém aqui é Jesus Cristo para amar o inimigo, não é este o propósito.
Mas se continuarmos a alimentar a onda de ódio que se levanta, podemos estar certos de que os canhões estarão apontados para nós quando a guerra começar.
Estamos do lado mais fraco, seremos as vítimas, contaremos mortos, feridos e refugiados.
Por isso, não podemos abandonar os sentimentos que nos fazem tão fortes, entre eles, a solidariedade.
Ódio e vingança não nos interessam.
Nossa arma mais forte ainda é o diálogo.
Precisamos conversar com aqueles que ainda prezam por nossa opinião, que nos respeitam e que podem nos ouvir.
Temos que procurar “ex-amigos”, parentes que bloqueamos ou com os quais deixamos de conversar…
Temos a obrigação de estender a mão aos que estão caminhando em direção à onda.
Porque ela atingirá a todos igualmente.
A palavra está gasta, mas não tem outra melhor, nós precisamos urgentemente de amor.
Marco Aurélio Mello
Jornalista, radialista e escritor.
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