Relendo Dilma, depois da delação de Joesley — que comprou a eleição de Eduardo Cunha
Tempo de leitura: 3 minDilma Rousseff, em entrevista a Maria Cristina Fernandes, no Valor
Agora, o que eu tenho certeza que o meu governo jamais fez foi compactuar com a corrupção.
Entro num tema que acho sério, que é o sincericídio do ministro por um mês, do Planejamento, o senador [Romero] Jucá, quando disse que tinha que estancar a sangria e usou palavras, assim, pornográficas para descrever as relações políticas no Brasil.
Se não achasse importante o combate à corrupção, não teria sancionado a lei da delação premiada, não teria respeitado a Polícia Federal, não teria respeitado o Ministério Público, nem nomeado ministros [do Supremo Tribunal Federal] que tivessem uma inequívoca biografia.
Tinha gente que dizia pra mim: ‘Tem que fazer aliança com Eduardo Cunha’, mas o rompimento, olhando de hoje, era inexorável.
Não existe acordo com Eduardo Cunha. Existe submissão.
As 19, ou 15 ou 38 perguntas ao Temer, o pacote de [José] Yunes, o que você acha que é, querida?
Você está falando de um gângster inteligente. Devia ajoelhar e aceitar as condições?
O Senado resguarda mais esse centrão democrático, construído pós-Constituinte de 1988. Mas na Câmara este centro foi engolido pela direita conservadora.
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O centro democrático explodiu. É muito grave.
E isso começou no meu impeachment, quando o centro passou a ser liderado por uma figura como Eduardo Cunha
Olha, minha filha, não sabíamos que o nível de cumplicidade dele [Michel Temer] com o Eduardo Cunha era tão grande.
Nenhum de nós sabia, nem o Lula. Depois é que descobrimos. Ele sempre negou essa cumplicidade que agora todo mundo já sabe.
Saber quem eles são, nós sabemos.
Não tenho a menor dúvida de quem é Padilha e Geddel [Vieira Lima, ex-ministro da Secretaria de Governo]. Convivi sabendo quem eram.
Não tenho esse ‘caiadismo’ [de Ronaldo Caiado] de falar que eu não sabia quem eram. Sabia direitinho.
Inclusive uma parte do que sou e da minha intolerância é porque eu sabia demais quem eles eram.
Saber demais não significa que você é capaz de impedir algumas coisas.
Por exemplo, o gato angorá [Moreira Franco] tem uma bronca danada de mim porque eu não o deixei roubar, querida.
É literal isso: eu não deixei o gato angorá roubar na Secretaria de Aviação Civil. Chamei o Temer e disse: ‘Ele não fica. Não fica!’.
Porque algumas coisas são absurdas, outras não consegui impedir.
Porque para isso eu tinha de ter um nível de ruptura mais aberto, e eu não tinha prova, não tinha certeza, entendeu?
Não acho que é relevante fazer fofoca, conversinha. Posso contar mil coisas do Padilha e do Temer, então? Porque o Temer é isso que está aí, querida.
Não adianta toda a mídia falar que ele é habilidoso. Temer é um cara frágil. Extremamente frágil. Fraco. Medroso.
Completamente medroso. Padilha não é. A hora em que ele [Temer] começa assim [em pé, mostra as mãos em sentido contrário, com os dedos apertados em forma de gancho].
É um cara que não enfrenta nada!.
Quando li a primeira vez, lá sabia quem era José Yunes [ex-assessor da Presidência]?
Mas lá está Eduardo Cunha dizendo que quem roubava na Caixa Econômica Federal, no FGTS, é o Temer.
Leia, minha filha. Não tenho acesso às delações, mas sei o que é um roteiro. E lá está explícito roteiro da delação de Eduardo Cunha. Explícito.
Alguém não sabe que o Cunha está dizendo que não foi o Yunes, mas o Temer?
Comentários
Viviane
O tempo é o senhor da razão.
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