Valor Econômico – 09/04/2010
por Diego Viana, para o Valor, de Paris
Para o historiador e cientista político Luiz Felipe de Alencastro, os cenários políticos que podem emergir das urnas, em outubro, contêm elementos preocupantes, seja quem for o vencedor. Michel Temer, como eventual vice-presidente de Dilma Rousseff, tenderia a comandar um PMDB fortalecido demais, a ponto de comprometer o poder da presidente.
Quanto a José Serra, Alencastro entende que o ex-governador de São Paulo, embora tenha “muita experiência” e seja “um grande líder”, tem “um problema sério”, derivado da dificuldade de formular uma proposta que se diferencie de políticas que se mostraram bem-sucedidas no governo Lula. Essa situação pode trazer certo conforto para a candidata do PT, mas está aí outro motivo de inquietação”, pois “não é sadio para país nenhum a ausência de alternância política”.
Tendo acompanhado de perto a formação dos novos partidos, nos anos 1980, Alencastro conhece a dinâmica interna das principais legendas. No PT, vê o risco de transformação do lulismo no varguismo que o partido combateu em sua origem. Já o PSDB pode ficar circunscrito a São Paulo, enquanto a direita passa por um processo de radicalização semelhante ao dos republicanos nos Estados Unidos.
Exilado em 1968, Alencastro, então estudante da Universidade de Brasília, foi recebido na França pelo economista Celso Furtado e Raul Ryff, secretário de Imprensa do governo João Goulart. Na Europa, completou a graduação, o mestrado e o doutorado, antes de voltar ao Brasil para lecionar na Unicamp.
Titular da cadeira de História do Brasil na Sorbonne desde 2001, o autor de “O Trato dos Viventes” [Companhia das Letras, 2000] conversou com o Valor num café próximo de sua residência parisiense.
A seguir, trechos da entrevista.
Valor: A revista “The Economist” fez uma matéria de capa sobre o Brasil, dizendo que o futuro chegou para o país do futuro. O sr. compartilha desse otimismo?
Luiz Felipe de Alencastro: Até a oposição compartilha desse otimismo. Dentro e fora do país há um consenso favorável sobre a economia brasileira, sobretudo com a entrada da China no mercado mundial, com uma forte demanda por matérias-primas. O lado negativo é que o comércio externo fica parecido com o que era no século XIX. Há um risco nessa divisão internacional do trabalho que vai se criando, em que o Brasil vira exportador de matérias-primas novamente.
Valor: E a perspectiva política?
Alencastro: O que me assusta é a ideia de ter Michel Temer como vice-presidente. Ele é deputado há décadas e foi presidente da Câmara duas vezes. Controla a máquina do PMDB e o Congresso à perfeição. Vai compor chapa com uma candidata que nunca teve mandato e é novata no PT. O presidencialismo pressupõe um vice discreto, porque ele é eleito de carona, para trazer alianças e palanques. Aos trancos e barrancos, instaurou-se um sistema presidencialista que tem dado certo no Brasil. O fato de haver dois turnos, associado à integração do vice na chapa do presidente, deu estabilidade ao sistema. Foi assim com Fernando Henrique e Marco Maciel. Foi assim com Lula e José de Alencar. Dilma e Temer formam uma combinação inédita: uma candidata até então sem mandato associada a um político cheio de mandatos e dono do PMDB, que é o maior partido do Brasil, mas nunca elegeu um presidente e vai com sede ao pote. O PMDB pode estabelecer um vice-presidencialismo, com um papel de protagonista que seria descabido.
Valor: Dilma é considerada uma administradora eficiente, mas não tem uma carreira política como a de Lula. Isso pode comprometer seu governo?
Alencastro: Ela assumiu a Casa Civil num momento difícil. O governo e o país estavam em crise e, por muito tempo, não se falou nela, o que é um indício de grande eficácia. Num cargo exposto como esse, não ser notícia é um grande feito. Isso prova que não é ficção sua fama de boa administradora. Mas acho problemático ela não ter a experiência de um mandato eletivo.
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Valor: Lula, quando eleito, só tinha passado pela Assembleia Constituinte.
Alencastro: Mas era o fundador de um importante partido político e um grande líder sindical. O lado conciliador de Lula vem daí, da experiência de conversar no botequim com os companheiros, negociar com o patronato, avaliar relações de força na fábrica e na política. Se ele errasse, dirigindo uma greve furada, a sanção não seria perder um mandato, mas ter no dia seguinte dezenas de trabalhadores no olho da rua. Sem contar as campanhas, as três que perdeu para presidente e uma para governador de São Paulo, em 1982. Dilma foi secretária estadual no Rio Grande do Sul, um Estado muito politizado, mas isso não equivale a um cargo eletivo.
Valor: Serra, o sr. conhece melhor.
Alencastro: Serra tem muita experiência e é um grande líder. Mas tem um problema sério. Vou formulá-lo de maneira abrupta: e se Serra for um blefe? Explico: ele é apresentado desde 1982, quando foi secretário de Planejamento em São Paulo, como o reformador do Brasil, o homem que vai racionalizar a economia e dar jeito no país. Quando Fernando Henrique ganhou, ele foi ministro do Planejamento, mas ficou fora da política econômica. Como se dizia, Serra era o candidato da Fiesp, da indústria, e Fernando Henrique, da Febraban, dos banqueiros. Serra foi parar na Saúde e até hoje não quer ser associado àquela política econômica, de que era crítico acerbo.
Valor: Já em 2002 ele tentava se apresentar como ruptura.
Alencastro: As pesquisas mostravam uma rejeição ao candidato indicado por Fernando Henrique. Isso continua. É curioso esse excesso de impopularidade. Chega a ser injusto. Não tem um vereador do PSDB que faça santinho dizendo ser candidato do partido de Fernando Henrique. Pergunto às pessoas, quando vou ao Brasil, o que as incomoda em Fernando Henrique. Fala-se das privatizações: “Vendeu tudo e não se viu o dinheiro”. Ou nos bilhões de dólares queimados na gestão temerária da paridade cambial. Ou coisas mais subjetivas, misteriosas: “O jeito como ele ri”…
Valor: Voltando a Serra, e se ele for um blefe, como o sr. diz?
Alencastro: O problema dele é esse: com a expectativa em torno de seu nome, ele vai fazer o quê no governo? A própria Fiesp, que mais ela quer, senão seguir com a política de Lula? E os banqueiros, que se entopem de dinheiro? Sem contar os 26 milhões de pessoas que subiram na escala social. Não dá para saber o que Serra vai fazer. Não pode entrar com o discurso de acabar com a corrupção, porque isso não dá muito refresco e depende mais da Justiça, dos tribunais de contas.
Valor: Essa situação parece confortável para Dilma.
Alencastro: Esse pode ser outro motivo de inquietação. Não é sadio para país nenhum a ausência de alternância política. A transição de Fernando Henrique para Lula foi a primeira alternância que houve no Brasil dentro da legalidade democrática. Era a última hipoteca que pesava sobre a democracia brasileira. Uma democracia não é só ter partido político e eleição. É preciso que a oposição também possa ganhar. Isto posto, no Chile a “Concertación” ficou 20 anos no poder, só perdeu agora. Se o Lula voltar em 2014, e ficar 8 anos, aí vamos ter 20 anos de PT na Presidência. Penso que será mais complicado que o ocorrido no Chile.
Valor: De todo modo, é uma projeção.
Alencastro: É uma projeção, mas está no horizonte de gente como Aécio Neves, que deve estar inquieto. E não é uma perspectiva nova. Em 2006, a candidatura de Fernando Henrique estava na pauta. Na época, Serra teria dito: “Se for para perder, o candidato sou eu. Se for para ganhar, é Fernando Henrique.” Essa projeção não é irracional. Os dois mandatos de Lula criaram algo novo. O cientista político André Singer mostra [em artigo para a revista “Novos Estudos”] que Lula foi eleito no primeiro mandato pelos operários sindicalizados e pela classe média. No segundo, perdeu uma parte da classe média e ganhou entre trabalhadores não organizados e subempregados, graças aos programas sociais. Isso resultou num novo populismo. Segundo Singer, esse eleitorado é conservador, não quer mudanças, quer que o governo tome conta dele. Acho essa interpretação um pouco estática, porque pressupõe que a ascensão social desse subproletariado não incomoda ninguém, e que a ameaça de perder o que ganhou não o levará a uma politização ativa.
Valor: A classe média também pode gerar instabilidade, ao sentir que perde privilégios?
Alencastro: Isso já está acontecendo. É o que alimenta a agressividade anti-Lula de certos jornais e revistas, que retratam a perplexidade de uma camada social insegura: os pobres estão satisfeitos e os ricaços também, mas a velha classe média não acha graça nenhuma. Ter doméstica com direito trabalhista, pobres e remediados comprando carro e atrapalhando o trânsito, não ter faculdade pública garantida para os filhos matriculados em escola particular. Tudo isso é resultado da mobilidade social, que provoca incompreensão e ressentimento numa parte da classe média. Daí o furor contra o ProUni, as cotas na universidade, o Bolsa Família. Leio a imprensa brasileira pela internet e às vezes fico pasmo com os comentários dos leitores, a agressividade e o preconceito social explícitos. O discurso de gente como o senador Demóstenes Torres no DEM [contra o sistema de cotas raciais nas universidades públicas] indica uma guinada à direita da direita parecida com a dos republicanos nos Estados Unidos. Lá, esse extremismo empolgou o partido inteiro e pode desestabilizar o país. A falta de perspectiva da oposição cria um vácuo para o radicalismo.
Valor: A oposição está desarticulada?
Alencastro: Desarticulada e sem discurso político coerente, e isso é ruim para o Brasil. Como ela vai se reorganizar? E vamos extrapolar: se perder São Paulo e o Rio Grande do Sul, acaba como força política nacional. Um desequilíbrio tamanho entre os partidos é problemático. Novamente, o exemplo americano: fico impressionado não só com o radicalismo, mas com a histeria. Obama é chamado de Anticristo… O Brasil pode enveredar por aí. Brasil e Estados Unidos são países conservadores e precisam ter um partido conservador à altura. A desarticulação da direita não é bom sinal. É preciso uma alternativa conservadora que mantenha a insatisfação no jogo eleitoral. Foi isso que o PT fez na esquerda. Ainda no tempo da ditadura, recolheu o sindicalismo apartidário, a franja próxima da luta armada, que tinha sido desmantelada, e a militância cristã, que não tinha onde se expressar eleitoralmente. Isso fez a força do PT.
Valor: Depois de 2003, muitos desses foram embora, como os fundadores do PSOL.
Alencastro: Foram, mas não saíram do quadro institucional. No México ainda tem gente fazendo política com capuz e arma na mão, como o subcomandante Marcos [porta-voz do comando militar do grupo indígena chamado Exército Zapatista de Libertação Nacional]. Na Argentina, não houve alternância completa: não conseguiram se livrar do peronismo até hoje. A China é uma ditadura que explora brutalmente sua classe operária. A Índia tem atentados a bomba. A Rússia está envolvida numa guerra colonial na Tchetchênia. O Brasil é o único dos Bric [grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e China] sem bomba atômica, sem encrencas com os vizinhos e com uma prática democrática bem enraizada.
Valor: A tendência, então, é Serra liderar uma direita radicalizada?
Alencastro: O problema é que, a princípio, Serra não é o candidato que a direita gostaria de ter. Ele é um democrata com trânsito numa parte da esquerda. Também é meio estatizante, adepto de uma política tarifária protecionista e por aí vai. Não é a mesma direita de Demóstenes Torres, Ronaldo Caiado ou mesmo Geraldo Alckmin. Por quê? Porque Serra teve a experiência da perseguição política, da ditadura, do exílio. Companheiros dele foram mortos, outros torturados. Isso até o aproxima de Dilma: os dois principais candidatos à presidência correram o risco de ser assassinados pela direita mais radical. Serra ainda escapou de Pinochet quando estava no Chile. De Paris, acompanhei com atenção sua volta ao Brasil em 1977, antes da anistia. Eduardo Kugelmas [sociólogo e cientista político, morto em 2006], quando soube que Serra tinha voltado sem ser preso, me disse: “Todo mundo pode voltar agora. Serra é um elefante de piranha. Se ele passou, todo mundo pode voltar”. Hoje, o que torna sua candidatura difícil é não ter um discurso mais abrangente, além do anti-PT, para atrair outros setores.
Valor: A aliança possível para Serra seria talvez a direita radical, com que não se identifica. E sua adversária é uma esquerda que se aproximou das ideias que ele defendia…
Alencastro: Serra está confrontado a um impasse. Não pode elogiar Fernando Henrique e não pode atacar Lula. Que candidato ele pode ser? Qual é seu terreno? Ele pode ser um blefe nesse sentido. Na campanha, vai ter de prometer continuidade para os programas do PT. Quando Sérgio Guerra disse que o PSDB faria tudo diferente, foi um desastre. Disse que ia mexer no câmbio e nos juros. Falou disparates e levou um cala-boca do partido.
Valor: Isso pode fazer com que a campanha se torne virulenta?
Alencastro: Na blogosfera, já começou. É terrível, a começar pelo episódio da ficha policial falsa de Dilma. É um sinal do que está por vir. Vai ser um vale-tudo monumental. Embora o impacto disso seja limitado no grande eleitorado, é forte entre os chamados “formadores de opinião”. Sobretudo, cria um clima de tensão e de irresponsabilidade na campanha presidencial.
Valor: A presidente da Associação Nacionais de Jornais, Judith Brito, disse que a fraqueza da oposição leva a imprensa a agir como partido. O que significa a imprensa se comportar como partido político?
Alencastro: Normalmente, a imprensa defende a Constituição, reformas políticas, ideias. Não há nada errado, por exemplo, em apoiar candidatos. O “New York Times” apoiou Obama, mas tem um trabalho jornalístico sério e equilibrado. Esse é o papel da imprensa, o que é diferente de querer substituir partidos políticos. Fiquei perplexo com o texto de uma coluna regular num grande jornal carioca que continha uma proposta partidária para o PSDB. O papel do jornalista não é redigir programas partidários.
Valor: Aécio Neves fala de um voto antipaulista que poderia prejudicar Serra.
Alencastro: Aécio vem falando nisso desde 2002. A política nacional sempre foi perturbada pela política paulista. São Paulo não consegue se arrumar internamente por razões objetivas: é o maior Estado industrial, mas também o maior Estado agrário. Tem alta tecnologia, mas grandes favelas. Pesa economicamente do Oiapoque ao Chuí, no Paraguai e na Bolívia. Tudo isso cria rivalidades fortes na esfera estadual e a influência do Estado no país faz com que essa desordem repercuta nacionalmente.
Valor: O PSDB é cada vez mais dependente desse Estado. Ele pode se tornar uma versão moderna dos partidos paulistas de antigamente?
Alencastro: É uma possibilidade. No Rio Grande do Sul, por exemplo, Tarso Genro já empatou com José Fogaça. Se o PT toma o Rio Grande, sobra pouco para o PSDB fora de São Paulo. Fernando Henrique disse numa entrevista quando percebeu que a eleição de 1994 estava ganha: na Bahia, foi mais ovacionado que Antonio Carlos Magalhães. As pessoas agitavam notas de um real. Qual é o real do Serra? O real da Dilma são o Bolsa-Família, o PAC, o ProUni. Serra vai vender o quê? A grande mudança trazida pela ditadura eram os partidos nacionais, tanto na direita quanto na esquerda. Mas isso está acabando. O último partido nacional é o PT, os outros são fragmentos de costuras locais. Com isso, o que acontece? O desabamento do PFL, hoje DEM, à direita. Um PDMB que virou essa massa informe, que permeia tudo com clientelismo e é o maior partido do país. O PSDB pode se tornar um partido ilhado.
Valor: Como fica o PT nessa configuração?
Alencastro: Como partido no poder, o PT se aguenta, porque tem financiamento também do patronato, empreiteiras, grupos que antes não o financiavam. O PT tem ainda uma máquina partidária bem operacional, tempo de televisão e, claro, a disciplina partidária. Mal ou bem, eleições para a direção do PT têm atraído dezenas de milhares de militantes. Que outro partido brasileiro tem essa participação? Todo mundo se lembra da “convenção do Massimo”, que reuniu Serra, Aécio, Fernando Henrique e Tasso Jereissati, em fevereiro de 2006, num dos restaurantes mais caros do Brasil, em São Paulo, para discutir a candidatura do PSDB às eleições presidenciais daquele ano.
Valor: O PT sofreu mutações desde que Lula foi eleito.
Alencastro: O aparelho, que se mexia sozinho, foi decapitado com a derrocada de [Luiz] Gushiken, [Antonio] Palocci e [José] Dirceu. Lula tomou conta e o partido perdeu sua independência. Tarso Genro disse que a candidatura Dilma cresceu no vazio que se criou dentro PT, e tem razão. O próprio Tarso, em 1997, foi pré-candidato contra Lula. Imagine se hoje isso seria possível! Existe um problema de sobrevivência para o PT pós-Lula. O movimento mais forte do Brasil no século XX, o varguismo, esgotou-se quando Lula foi para o segundo turno em 1989, batendo Brizola e puxando o eleitorado trabalhista. O PT também pode se desarticular porque perdeu o debate interno. Em 2005, com o escândalo do mensalão, Raul Pont propôs uma refundação do partido e enfrentou [Ricardo] Berzoini nas eleições internas. Perdeu, depois sumiu. Ninguém mais ouve falar nele, nem se sabe o que ele pensa. A ausência de debate interno pode transformar o PT num partido amorfo, corroído pelo empreguismo e o clientelismo político.
Valor: A política brasileira caminha para a fragmentação?
Alencastro: O que está acontecendo é a fagocitose das estratégias partidárias nacionais pela política estadual. É um efeito das reeleições nos Estados e nos municípios. Isso também coloca outros problemas. Seria necessário que os tribunais de contas estaduais e municipais fossem mais fortes, mais independentes – como o Tribunal de Contas da União – para escapar ao sobrepeso de um governador ou prefeito que é reeleito. As contas do Maluf, por exemplo, sempre foram aprovadas, e hoje ele está na lista vermelha da Interpol. Isso deveria levar a um questionamento maior no Brasil. Primeiro, nos partidos. Eles têm comissões de ética, mas abrigam eleitos acusados de diversos crimes. Depois, na imprensa, que deveria questionar tribunais de contas que aprovam o exercício de governadores e prefeitos delinquentes. Os editores deveriam pautar repórteres para recuperar os documentos, interrogar os membros desses tribunais. Como pode alguém ser perseguido pela Interpol, podendo ser preso em 181 países por causa disso, mas passar pelas regras da gestão pública brasileira?
Valor: A política externa brasileira tem recebido elogios no exterior, mas críticas pesadas no país. A que o sr. atribuiria essa disparidade?
Alencastro: Pela primeira vez, desde 1850, quando a marinha de guerra inglesa bloqueava a baía de Guanabara por causa do tráfico negreiro, a diplomacia brasileira entrou na agenda da campanha eleitoral nacional. Acho uma coisa muito boa. Durante a ditadura, política externa era um assunto secundário. Depois, com a internet, os jornais desistiram de ter sucursais e correspondentes no exterior. Ora, a política externa virou um assunto complexo, mas o Brasil não tem especialistas suficientes nos jornais ou nas universidades. A imprensa não segue política internacional de maneira adequada. Exige-se mais conhecimento específico dos jornalistas esportivos que de quem cobre o setor internacional. Há um quarteto de embaixadores aposentados que estão sempre na televisão, batendo em Celso Amorim e Lula. Repetem que a política externa é um desastre. Desastre? Os jornais americanos e europeus discordam. Nunca vi o Brasil com tanto prestígio. É até desproporcionado, dado o peso ínfimo do país no comércio internacional. Ao contrário da Índia e da China, potências atômicas com peso comercial enorme. Em maio, Lula vai ao Irã e está sendo criticado no Brasil. Já a “Economist” diz que é bom, porque abre novos canais de comunicação entre Estados Unidos e Irã. Nos últimos dias, a diplomacia brasileira usou com habilidade as regras da OMC e as manobras políticas para rebater o protecionismo americano na questão do comércio do algodão. Tenho certeza de que esse assunto, que começou em 2002 e ainda não terminou, ficará como um marco na história diplomática.
Comentários
M. Fernanda Antunes
Prof. Alencastro admiro seu trabalho expondo a violência histórica da escravidão, fundamentando historicamente a defesa das cotas raciais e etc… Mas, quanto ao Serra, reflita melhor… favorece-lo é uma maldade com o país
é em São Paulo que a saúde, a educação, a situação prisional, os transportes etc… provam o que é o PSDB NO PODER, e pode-se inferir o que seria Serra na presidência
O expresidente da UNE, o ex exilado, hoje não representa alternância democrática, representa a continuidade dos 500 anos de dominação total das elites contra o povão – veja quem dos deputados votaram em Brasilia pela diluição do 13º salário … esse é o projeto de destruição de direitos trabalhistas que nos aguarda com a direita. Procuremos soluções reais DILMA para presidente e bancadas progressistas no Congresso…
Liduina
Uma verdade indiscutível: Nenhum governo, federal, estadual ou municipal, gera renda. Portanto, só a geração de empregos pode gerar impostos e fazer um país sair do lugar. O Lula fez . Agora a oposição só sabe dizer que "as uvas estavam verdes".
A alternância do poder é importante, mas quem , da oposição, tem esta consciência. Como disse uma internauta acima, já são 500anos x 8 anos. Nã dá mais prá ficar sociologando e filosofando. Contra US$ 59 bi de reservas cambiais, às custas do FMi,em 2002, temosUS$ 244 BI de reservas produtivas. A imprensa golpista fala sobre o assunto?
maria thereza
Acho melhor o Prof. Dr. Alencastro analisar o Sarko, já que está lá há tanto tempo e tão bem adpatado. Deixa que a gente se resolve por aqui.
Mah
Infelizmente muitas pessoas pensam como você, Maria. Só porque ele mora na França não significa que ele não enxergue o BRasil e nossos problemas com exatidão. Se tivéssemos mais intelectuais pensando em política, com certeza estaríamos melhor. Agora…elegemos o Lula e quem sabe a dona Dilma. O que pensa a dona Dilma para o Brasil? Quero dizer, o que ela pensa em termos de desenvolvimento econômico e social? Se esperamos pessoas que pensam como você "se resolver por aqui", estamos todos fritos.
Cantor
Ouvir a voz do servidor público? A mesma pessoa que acusa o PT de APARELHAR o estado a cada concurso público que aparece ou cada aumento que alguma categoria consegue? A mesma pessoa que se pode gastar com QUALQUER coisa, menos com GENTE? O mesmo grupo que deixou todos os servidores em nenhuma espécie de correção salárial enquanto governaram o pais e que não apenas privatizaram as empresas estatais como criaram excrecências público-privadas como as organizações sociais (que não sabem o que são e por isso mesmo estão sob mira do STF) para absorver pessoal sem lhes garantir os direitos e proteções constitucionais do funcionalismo?
sergio
em resumo, serra é direita e pronto.
FabioT
o ze arrochão não é só um blefe, mas uma grande farsa…
@marisps
Acredito que há uma imensa confusão nessa história de "alternância do poder". Para caracterização da democracia basta que a possibilidade da alternância esteja presente e não que esta necessariamente tenha que ocorrer. Vejam o caso do meu estado (SP): tô com overdose de PSDB e tucanato a ponto de delirius tremulus, náuseas, mas tenho que aguentar, porque afinal faz parte da democracia.
José Luiz Rossi
Uma injustiça a impopularidade do FHC,tenha dó(!).Viajou demais este cientista político,nos dois sentidos.Nem pessedebistas sentem-se à vontade com sua proximidade.
francisco.latorre
não sabe quem é serra… ou finge que não sabe.
e a patacoada de alternância é dose.
mas quanto ao temer… e a relação de dilma com o congresso… seria mesmo um osso.
tem que eleger uma bancada forte.
por outro lado lula nunca vai faltar. estará presente.
quem pensa o contrário se ilude.
…
laura
Esse cara é porta do meio, faz média. Em verdade, é Serra enrustido. Grande lider? Um democrata?tenha dó. Tem coisa aí que dá sono, é aquela lenga-lenga. Essa papagaiada de alternancia de poder – para o serra -é conversa para boi dormir, ou melhor, para babacas. essa estória da _ oposição_ "precisar se organizar"- ah, a direita, vamos dar nome aos bois, ah. não tenho paciência. Fora isso fica naquela de "aconselhar o Serra". Que de "esquerda" e estatizante não tem nada. pode "ter tido", hoje privatiza TUDO. Ah, tenha dó.Nem o Alkmin chegou no que o Serra fez em São Paulo. Acho Serra a direita de Alkcmin. No concreto. Ele é Opus Dei, mas não fez o que o Serra faz. O Serra é facista.Não aguento mais. Ah, essa do PT varguista, ah, pelo amor de Deus! Não tenho ilusões sobre problemas no PT, mas esse cara fala de seus preconceitos, não sabe do que realmente se passa.
Há algo que interessa em sua fala: o papel da classe média e algo das classes sociais, de resto:
Não dá, benhê.
André
Concordo contigo Laura. Serra democrata?? É uma piada de mau gosto. Grande líder?? Chame o ex-secretário da educação Gabriel Chalita para comentar isso…
Júlia Silveira
Nossa, Laura, que má vontade! O homem é mais PT que qualquer outro. O que ele propóe é a contradição de forças hegemônicas históricas para que haja suspensão de camadas, entende?! Dialética, pura! Sem o plasmado das maiorias que não ferecem nenhuma possibilidade de combate pela identificação da contradição dialética. Faz assim, dá uma lidinha em Marx, aí você passa para Lênin e uma pequena obserbada em Trotsky quando fala da acomodação de velhor camaradas na máquina do Partido. Aí você que é solerte busca empreguismo nas administrações do PT no interior de Minas. Você vai ver que tem nego dentro do próprio partido saindo no tapa para conseguir emprego. Tudo que a moral de um partido como o PT deveria negar.
Júlia Silveira
Chato, mas é preciso ter um código de valores e militantes à altura do PT e de um presidente como Lula que rompeu com a insignificância dos interesses pessoais e de grupo para construir uma nação que dê espaço a todos. Viva a Democracia! Mesmo que a gente tenha que aturar Alckmin e Serra, Temer e outros. O heróir histórico está morto, o que precisamos agora é que todos participem deste momento de construção de uma nova ordem mundial com trabalho e condições dignas de vida para todos. E não para algumas pessoas que se escondem em legendas, seja qual for, e querem impor as suas vontades só para garantir o vidão no final do mês com direito a shopping, carros, celulares e viagens.
luiz claudio
Esse cara bebe,falar que Serra é um bom candidato,tenha dó,o cara tem o apoio da mídia retrógrada do país,só isso já é um sinal de que ele não vale nada,não passa de um pau mandado,e outra vez esse papo de formadores de opinião,nossa classe média,hahahaha,é para rir,gente entenda uma coisa, quem forma opinião somos nós, o povão ,que representa mais de 80% da população,o brasil precisa da DILMA,e fim de papo.
Elias São Paulo SP
PONTUANDO: “Serra não é o candidato que a direita gostaria de ter”. Quem, além dele, a direita gostaria de ter? Cesar Maia (PFL/DEM)? O ex-prefeito do Rio é cabo eleitoral de Serra. Aliás, pefelistas e grande mídia bajulam Serra desde 2002.
“Ele é um democrata com trânsito numa parte da esquerda”. O magistério paulista sabe o quanto ele é democrata. Quanto a “trânsito numa parte da esquerda”, só se for à pista esquerda da Av. Paulista.
“Também é meio estatizante, adepto de uma política tarifária protecionista e por aí vai”.
Peço perdão ao professor Alencastro (dono de notória cultura e sapiência), mas aqui é de morrer rir. Serra é “meio estatizante”? Aonde!? Na Juventude Católica dos anos 1960? A Nossa Caixa quase foi vendida a preço de banana. Não fosse o Banco do Brasil, seria mais um Banespa mandado para o beleléu. Para terminar, a política tarifária protecionista de Serra é a mesma de seu partido que achou um horror Lula encarar os algodoeiros estadunidenses.
Márcio B.
Muito boa a entrevista mesmo….parabéns!!
Alexandro
Perfeita a análise do Prof. Alencastro.
Lúcida, imparcial, crítica e provocadora!
Vou reler!
Heitor
Percebo uma contradição na análise do Sr Alencastro: 1) aponta o fortalecimento do PMDB ; 2) alerta para o perigo da não alternância do poder. Ora, se há, ou haverá esse fortalecimento, significa já uma alternância. Na verdade, em termos de classe social nunca houve essa alternância…
@delrhuass
Aqui se aponta para alguns detalhes interessantes da campanha 2010: Se de fato, os partidos de oposição perderam força, a mídia impressa e televisiva irá ocupar esse vácuo. É preciso trazer a baila a questão que muita gente repete por aí, "voto na pessoa…" Não há como descolar o projeto político, nem a que grupos representam tais partidos.
Por enquanto, deixa devolver pelos menos, a mobilidade, a quem durante 500 anos neste país nunca teve. O que são oito, doze, vinte anos, para aqueles que SEMPRE foram explorados?
Paulo – Floripa SC
Primeiramente, os oito anos do Governo do PT foram muito benéficos para o país. Em todos os sentidos. A ascensão das classes D, E e F foi um marco gigantesco. Quanto à insatisfação da classe média e a felicidade dos ricaços são coisas para uma próxima etapa. Acho que uma alternância agora seria muito prejudicial para o país. Seria uma perda total das conquistas. Inclusive no plano externo. A direita não tem projetos nenhum, a oposição não tem bandeiras. São Paulo e Rio Grande do Sul estão contaminados pela corrupção tucana e desgoverno. José Serra é um blefe. O "escândalo do mensalão" foi uma construção da mídia opositora (PIG) e do político, réu confesso, Roberto Jefferson, que o iniciou na tentativa de se safar das falcatruas. Tanto que foi cassado por quebra de decôro parlamentar por ter mentido quanto a esse "mensalão", que não foi comprovado. Mas parece que esquecem disto. Principalmente esta "grande imprensa". Porém com isso desarticulou um tanto o PT (vide Luiz Gushiken, Antonio Palocci e José Dirceu). O Projeto inovador do PT para o Brasil é excelente, porém para executá-lo tem as dificuldades totais criadas por essa oposição rancorosa, que só pensa em si própria. E também dessas nossas instituições corruptas, como falou o entrevistado. Delegado de Polícia Federal perseguido (Protógenes), Juiz perseguido (De Sanctis), Supremo do Supremo, e por aí vai… Mas estamos começando uma nova era. Dificuldades fazem parte do crescimento. Quanto à mídia tomar partido por um candidato não acho problema nenhum, mas tem que dizer isto e não se fazer "imparcial", como a nossa. Com exceções, é claro. No mais, achei a entrevista um pouco fraca. Falar que a eleição da Dilma seria uma "não alternância" de poder é demais. Os primeiros anos de Lula foram só para consertar a cagada do fhc, depois inventaram os escândalos (e continuam inventando), o último ano dos mandatos (primeiro e segundo) é muito voltado para a eleição. Sobrou o quê? 2008 e 2009. Com crise mundial. E olha o monte de coisas que foram feitas para o bem do povo brasileiro. Dilma 2010 e 2014, depois podemos conversar sobre isto (um pouco).
José Malaquias
Sem ter muito tempo para refletir sobre o que disse o Alencastro, vejo algumas falhas enormes em sua fala, por falta de conhecimento, talvez. Falar que é possível a imprensa tender para um candidato aqui no Brasil, no mínimo enseja desconhecimento, pois toda a imprensa, principalmente a de São Paulo está nas mãos da direita brasileira e essa direita usou da imprensa para eleger presidentes. Hoje isso já não cola. O povo amadureceu e não mais acredita tanto na imprensa.
Outra coisa, falar que o Serra é um democrata com trânsito em setores da esquerda é uma piada. O PSDB é um partido de direita travestido de neoliberal. Serra é um sujeito de direita e corrupto. Já foi pego com a mão na cumbuca no caso das Ambulâncias. Temos também a construção do metrô de São Paulo no sistema de porteira fechada, o assombroso preço do metro quadrado do Rodoanel Inacabado, as praças de pedágio em São Paulo e por aí vai.
Elias São Paulo SP
“Alencastro: O problema é que, a princípio, Serra não é o candidato que a direita gostaria de ter. Ele é um democrata com trânsito numa parte da esquerda. Também é meio estatizante, adepto de uma política tarifária protecionista e por aí vai.”
O professor Alencastro descreve um José Serra que já não existe há muito tempo. Talvez, em 1977, quando Serra contava 35 anos de idade, esse perfil se encaixasse em sua figura de social democrata e olhe lá.
Lidio Tozze
A décima resposta, sobre a classe média resume tudo e define que a vitória de Dilma será melhor para o país.
Jonas
A entrevista mantém a tática do PIG: quer aproximar Dilma ao Serra, quer o PT deixe o poder em nome da alternância, alardeia que o país vai explodir se os demotucanos não conseguirem mais poder. Ora o governo Lula durou apenas 8 anos. Fez muito, mas ainda há muito por fazer. Não me venham querer convencer que eu devo mudar agora que tudo está dando certo pela estratégia adotada pelos partidos que estão no governo. É clara a idéia de querer vender o Serra subliminarmente. Fora demotucanos malditos. Eu amo meu país. Dilma 2010.
Elias São Paulo SP
Jonas, parabéns! Em 5 linhas você deu o recado certo. Mostrou que entrevistado e entrevistador são dois ardilosos a manipular idéias e ideais. Meu comentário de 25 linhas, recebeu esta mensagem do blog: "Seu comentário é um pouco grande demais. Tente separá-lo em múltiplos comentários." Ao atender, vi uma parte publicada em tal hora e a outra 3 horas depois. Oswald de Andrade também foi dono de capacidade de síntese. E também amou este país.
maria thereza
Jonas,
é isso mesmo. Tática travestida de "imparcialidade", pra ver se agente se desmobliza e vai atrás da tal aternãncia de poder. Demorou muito para que tivéssemos alguma, agora é manter. Dilma 2010. PT por muito tempo.
Lks
“Tem muita experiência, é um grande líder, mas, com a expectativa em torno de seu nome, vai fazer o quê no governo?”
Eu gostaria de saber o que e/ou quem o “Grande Líder” lidera para comentar o o que diz O Grande ” historiador e cientista político Luiz Felipe de Alencastro”, sem saber isso prefiro cantar…Vocês vão me matar de rir, fazendo cocégas, fazendo cocégas
Matheus Nahkur
Um das melhores entrevistas sobre política interna dos últimos anos! Não é de surpreender por parte do Alencastro, pela posição que ocupa na mais prestigiada universidade do planeta. Mas ficam os méritos e o reconhecimento ao excelente trabalho do jornalista Diego Viana. Grande trabalho!
francisco.latorre
"e se Serra for um blefe?"…
serra é um blefe. um enorme blefe.
alguém precisa contar pro luis felipe quem é serra.
…
e a alternância de poder já ocorreu…
foram quinhentos anos de colônia.
agora serão quinhentos anos de brasil independente. e popular.
…
Renilton Cruz
Sabe tudo o Prof. Alencastro! Muito bao essa entrevista.
Leider_Lincoln
"Há um quarteto de embaixadores aposentados que estão sempre na televisão, batendo em Celso Amorim e Lula. Repetem que a política externa é um desastre." Isso é por que ele ignora os papagaios que repetem os mesmos argumentos à exaustão, não é mesmo, Ubaldo?
Ubaldo
Há espaço para os velhinhos embaixadores na mídia por falta de gente que entende de política externa.
A política externa brasileira é direcionada para os anti-americanos. Assim Cuba, Irã, Coréia do Norte, Venezuela e por ai vai estão alinhados com o Brasil. É uma visão míope.
Enquanto isso os americanos estão aplicando suas economias e seus investimentos aqui, levando quando querem juros exorbitantes e a China recebendo nosso minério e nos enviando tranqueiras.
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