Nassif: A maneira fácil de ganhar com o dólar

Tempo de leitura: 2 min

A maneira fácil de ganhar com o dólar

Enviado por luisnassif, qui, 03/03/2011 – 09:04

Coluna Econômica, no blog do Nassif

Ontem, antes mesmo de sair a decisão do COPOM (Comitê de Política Monetária do Banco Central) em relação à taxa Selic, o dólar caiu para a menor cotação em dois meses: R$ 1,660 na venda.

Já há algumas semanas, as instituições financeiras vinham apostando fortemente na apreciação do dólar. Segundo dados do Banco Central, tinham US$ 13,29 bilhões aplicados em posições vendidas – situação em que se aposta na queda da moeda.

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A razão é simples: desde o início do mês o mercado apostava na alta da taxa Selic. E, aí, bastava uma aposta sem risco no dólar: mais juros, maior o diferencial em relação às taxas internacionais, maior fluxo de dólares entrando e, consequentemente, o valor do dólar caindo.

Esse movimento acompanha o mercado há pelo menos 18 anos. Em todo mercado, a especulação é uma ferramenta de risco. A ponta mais aventureira aposta em determinada cotação, podendo perder ou ganhar; a ponta mais conservadora aposta em outra, que lhe garante um ganho limitado, porém seguro.

Na dobradinha juros-câmbio do país, o único risco decorre de fenômenos externos, não controláveis.

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Foi assim com a crise da Rússia, que pegou no contrapé instituições que apostavam na elevação do valor dos títulos brasileiros – depois do Banco Central ter planejado na surdina a recompra de títulos no exterior.

Depois, na crise de 2002 onde aos fatores políticos internos se somaram fatores internacionais, como a crise da dívida das montadoras norte-americanas.

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Finalmente, em 2008, com a quebra do Lehman Brothers.

Mas a dinâmica posterior é a mesma. Na virada, alguns perdem, outros ganham. Depois, retoma-se o processo normal de juros altos e câmbio baixo, proporcionando o duplo ganho aos especuladores sem risco.

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No governo Lula, a dissintonia entre Fazenda e Banco Central produziu uma falsa solução. Sem condições de impedir o BC de promover a apreciação da moeda, a Fazenda insistiu para que pelo menos comprasse dólares no mercado e acumulasse reservas cambiais.

O grande problema das crises cambiais é quando todo mundo sai correndo atrás de dólar e o mercado não consegue atender à oferta. A consequência é a disparada das cotações.

Com reservas cambiais, teve-se a segurança de que, em caso de crise, a procura seria atendida, impedindo uma maxidesvalorização.

Esse acúmulo de reservas resultou em um custo fiscal expressivo: o BC vende títulos públicos que pagam mais de 11% ao ano, recolhe reais, compra dólares e aplica a taxas pouco maiores que zero. A diferença é custo fiscal, dinheiro que sai do orçamento ou necessidade de emitir mais títulos para rolar a dívida.

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Um dos fatores que coibia a queda do dólar era justamente o receio da maxidesvalorização. A partir de certo nível de apreciação, o risco de perder dinheiro era diretamente proporcional ao tamanho da maxidesvalorização, quando sobreviesse a corrida.

Com as reservas, o risco foi minimizado. Isso levou os investidores a se sentirem mais seguros ainda para apostar na desvalorização do dólar.

É por isso que, apesar de todas as ameaças da Fazenda, o mercado está pouco se lixando.

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Comentários

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Leonardo Câmara

A saída chega a ser irritante de tão obvia: tem que baixar os juros, aumentar o compulsório dos bancos e diminuir o prazo para compras a juros. Isso, de uma tacada só, diminuiria o déficit público, apreciaria o dolar, aumentaria os recurso do governo para investimento e manteria a inflação sobre controle (dentro daquilo que o governo pode interferir, pois há fatores externos).

O que eu gostaria de entender é que diabo de guerra é essa que o governo Lula travou e o governo Dilma vem travando contra a racionalidade que não abaixa logo essa porcaria de selic de forma drástica de uma vez. É isso que está emperrando as nossas vidas.

Isso chega a beirar a irresponsabilidade, tem um monte de gente morrendo nas ruas, nos hospitais, criança sem escola, tudo por falta de recurso para investimento público, enquanto jogamos fortunas pelo ralo enriquecendo a agiotagem internacional. E pasmem, sem nenhum motivo razoável para isso.

Se amanhã saísse uma ordem para diminuir esses juros pela metade, não aconteceria nenhuma revolução no mercado. O que iria embora é dinheiro de especulação, que já iria embora tarde. Quem aplica na produção e quem investe a médio e longo prazo não está nem aí pra isso, pois ainda seriam juros altíssimos.

Florival Scheroki

Sou apenas um apreciador de comentários econômicos, um diletante. Depois de ler o que alguns de vocês escrevem imagino que sejam economistas ou estejam num prejuizo imediato com a política cambial.
Acho pouco razoável que uma crítica, ainda que bem recebida, seja descolada da confiança na história pessoal de quem a planeja e na ausência de uma explicação mais substancial dos propósitos de médio e longo prazos, nem sempre possíveis de ser dada.

Nem tudo é tão fácil e possível como o é construir uma crítica com base nas curvas de um gráfico de estatística descritiva. O difícil, e importante, é conseguir ver no que aparenta não estar bem, ou não esteja bem, de fato, no momento, uma passagem necessária para uma melhora sustentável. E tendo a crer quer que esta disposição depende da confiança na história de um grupo de pessoas, não burras, que, embora possa se equivocar, tem propósitos claros em sua história.

Resumo: confio na atual política brasileira, em sua capacidade de corrigir ações e metas, de acordo com propósitos que devem favorecer a distribuição de renda e o crescimento sustentável.

Heber

Ao invés de aplicar em títulos americanos, pague-se a dívida interna com esses dólares. Quando qq um puder guardar em dólar, as cotações do real sobem.

    Klaus

    Por que ninguém pensou nisto ainda? Provavelmente porque está errado.

    Daniel

    Ou porque está certo…

Fabio_Passos

O legal do Nassif é que ele mostra em detalhes como as oligarquias financeiras fazem o butim… contando com uma passividade (incapacidade?) exasperadora do Estado.

Não dá mais prá conceber sujeitos escolarizados fingindo não entender que os ganhos pornográficos dos rentistas não são um mero acidente ou efeito colateral da política macroeconômica.

Estes ganhos pornográficos são a razão desta política macroeconômica.

Klaus

No Brasil não se baixa o juro porque não se quer, não é mesmo?

    Fabio_Passos

    Você quer ser levado a sério?

    Não faz sentido você continuar bancando o menino da bolha, como se fosse um completo alienado… um bobo fingindo que não entende jogo de interesses.

    As pessoas percebem.
    Isto é muito ruim p/ você mesmo.

    Klaus

    Bolha vivem vocês que ainda não compreenderam que o PT nunca vai adotar políticas econômicas que fujam do que chamam erroneamente de neoliberalismo. Por absoluto instinto de sobrevivência. Mas, Fábio, lhe cai bem esta imagem de combatente contra o capitalismo, tem seu charme 1968. Assista "La Chinoise", de Jean Luc Godard, você vai se identificar.

    marcio gaúcho

    Meu apoio a você, Klaus! No Brasil, o juro da dívida sustenta muita gente bacana neste país. No final, as burras dos magnatas só faz aumentar e a dívida interna, também. Não é para ser paga e, sim, rolada para todo o sempre.

    marcio gaúcho

    Ainda: a dívida interna e externa brasileira atual é administrável – cerca de 30% do PIB. E a dívida dos americanos, na qual investimos em títulos do tesouro do Tio Sam nossas reservas em dólares, que também nunca será paga: 98% do PIB. Esse será o maior calote da história mundial. Já nos aplicaram essa em 1929 e 2008. Logo, veremos outra rasteira dos ianques. E o prejuízo será dos investidores. Dentre eles, nós mesmos!

José Maia

Apenas uma perguntinha: como fica esse jogo quando todos os participantes sabem o que está acontecendo? O cara perde porque quer, é isso? Ou volta tudo a depender de quem quer arriscar?

waleria

Não sei se essa politica cambial – ou despolitica ou descontrole cambial – fará muito por engordar uns ou outros.

Mas sei que essa politica – ou falta de politica – irá quebrar o Brasil – sua industria, sua inovação e seu futuro.

Seremos fornecedores de commodities de uma subsidiaria que aqui produz, para uma outra subsidiaria que de lá compra – o lá sejam os USA, a Europa, a China, a India ou a Russia, ou mesmo a Australia.

Venderemos também jogadores de futebol, pelo menos por enquanto.

Venderemos – subsidiando as subsidiarias deles por aqui – o ferro, os minérios, o petróleo, as carnes, a soja, o alcool, o açucar, a laranja, os porcos, as madeiras…. e compraremos deles os espelhinhos, os balangandans, os radinhos de pilha, os ipads, as TVs, os chips, os caças, os trens bala, as armas, os vagões, os trilhos, as carretas, os caminhões, e logo os sapatos, os pijamas, os hamburgueres, os helicopteros…

Somos decididamente – INDIOS.

E assim somos porque ninguém quer fazer como hoje faz a Turquia. Baixar os juros.
Diminuir o serviço da divida interna.

Insisto, mais importante que comprar caça na França , nos USA ou na China, é importar da Turquia um presidente do Banco Central.

    daniel

    Olha amigo, não vou comentar o que você escreveu, não descordo de boa parte da sugestão, mas por favor PARA de generalizar, PARA de se auto denegrir (aliás o que tem de errado em ser índio?). O Brasil não é nenhuma anomalia, todos os países tem problemas. Li hoje uma matéria hoje, sobre um pastor tarado homofóbico que estava se masturbando numa van olhando crianças brincarem. Onde foi isso? Nos EUA! E sabe o que houve? O cara foi preso… Mas foi SOLTO por que a cadeia estava LOTADA! Coisa de 3.o mundo que acontece no 1.o. Então, faça um favor a si mesmo e dê mais valor a você e seus compatriotas.

    Duvida?
    Link pra matéria: http://www.huffingtonpost.com/2011/03/01/grant-st

    waleria

    Daniel

    As criticas que eu faço não são para denegrir, mas para alertar.

    Precisamos mudar de postura para com os juros, com a divida interna, com o cambio.

    Precisamos de um NOVO BANCO CENTRAL.

    No Brasil, infelizmente, devido a nosso passado colonial, depois imperial, e depois ditatorial, as nossos instituições não são estruturadas para o cidadão – mas contra o cidadão – para proteger oligarquias.

    Essa oligarquia pode ser o Estado, ou no caso do BC o sistema bancario.

    O BC do Brasil não trabalha para proteger o tesouro, o cidadão, a moeda que existe em função do cidadão. O BC no Brasil trabalha para proteger o sistema bancario. E sistema bancario aqui, é sustentado pela divida interna do Estado com instituições privadas.

    Ou seja, o BC do Brasil funciona para proteger banqueiros – e explorar o cidadão.

    Antes os portugueses exploravam os indios.
    Depois também os negros.
    Depois a mestiçagem toda.
    Depois o imperador portugues abrasileirou-se e continuou explorando.
    E depois um grupo de militares e fazendeiros
    Depois chegamos a ser explorados diretamente pelos USA via ditadura militar
    Hoje podemos nos livrar disso.

    Começamos a nos livrar com Lula – e nos livramos da divida externa com ele.

    Chegou a hora de nos livrarmos dos excessos da divida interna.

    E para isso precisamos remodelar o BC.

    Renato

    Nosl ivrou da dívida externa, mas triplicou a divida interna.

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