Aragão a Dallagnol: Seus pronunciamentos são a prova mais cabal do seu “complexo de vira-lata”; Tio Sam agradece

Tempo de leitura: 6 min

aragão dallagnol

De Aragão a Dallagnol: “baixe a bola”

Eugênio Aragão, no blog do Marcelo Auler,  via Jornal do Nassif

“Denn nichts ist schwerer und nichts erfordert mehr Charakter, als sich in offenem Gegensatz zu seiner Zeit zu befinden und laut zu sagen: Nein.” (Kurt Tucholsky)  – (Porque nada é mais difícil e nada exige mais caráter que se encontrar em aberta oposição a seu tempo e dizer em alto e bom som: Não!)

Meu caro colega Deltan Dallagnol

Acabo de ler por blogs de gente séria que você estaria a chamar atenção, no seu perfil de Facebook, de quem “veste a camisa do complexo de vira-lata”, de que seria “possível um Brasil diferente” e de que a hora seria agora.

Achei oportuno escrever-lhe está carta pública, para que nossa sociedade saiba que, no ministério público, há quem não bata palmas para suas exibições de falta de modéstia. Vamos falar primeiro do complexo de vira-lata.

Acredito que você e sua turma são talvez os que têm menos autoridade para falar disso, pois seus pronunciamentos têm sido a prova mais cabal de SEU complexo de vira-lata. Ainda me lembro daquela pitoresca comparação entre a colonização americana e a lusitana em nossas terras, atribuindo à última todos os males da baixa cultura de governação brasileira, enquanto o puritanismo lá no norte seria a razão de seu progresso.

Talvez você devesse estudar um pouco mais de história, para depreciar menos este País.

E olha que quem cresceu nas “Oropas” e lá foi educado desde menino fui eu, hein… talvez por isso não falo essa barbaridade, porque tenho consciência de que aquele pedaço de terra, assim como a de seu querido irmão do norte, foram os mais banhados por sangue humano ao longo da passagem de nossa espécie por este planeta.

Não somos, os brasileiros, tão maus assim, na pior das hipóteses somos iguais, alguns somos descendentes dos algozes e a maioria somos descendentes das vítimas. Mas essa sua teorização de baixo calão não diz tudo sobre SEU complexo.

Apoie o VIOMUNDO

Você à frente de sua turma vão entrar na história como quem contribuiu decisivamente para o atraso econômico e político que fatalmente se abaterão sobre nós. E sabem por quê?

Porque são ignorantes e não conseguem enxergar que o princípio fiat iustitia et pereat mundus nunca foi aceita por sociedade sadia qualquer neste mundão de Deus. Summum jus, summa iniuria, já diziam os romanos: querer impor sua concepção pessoal de justiça a ferro e fogo leva fatalmente à destruição, à comoção e à própria injustiça.

E o que vocês conseguiram de útil neste País para acharem que podem inaugurar um “outro Brasil”, que seja, quiçá, melhor do que o em que vivíamos?

Vocês conseguiram agradar ao irmão do norte que faturará bilhões de nossa combalida economia e conseguiram tirar do mercado global altamente competitivo da construção civil de grandes obras de infraestrutura as empresas nacionais.

Tio Sam agradece. E vocês, Narcisos, se acham lindinhos por causa disso, né?

Vangloriam-se de terem trazido de volta míseros dois bilhões em recursos supostamente desviados por práticas empresariais e políticas corruptas.

E qual o estrago que provocaram para lograr essa casquinha? Por baixo, um prejuízo de 100 bilhões e mais de um milhão de empregos riscados do mapa.

Afundaram nosso esforço de propiciar conteúdo tecnológico nacional na extração petrolífera, derreteram a recém reconstruída indústria naval brasileira.

Claro, não são seus empregos que correm riscos.

Nós ganhamos muito bem no ministério público, temos auxílio-alimentação de quase mil reais, auxilio-creche com valor perto disso, um ilegal auxílio-moradia tolerado pela morosidade do judiciário que vocês tanto criticam.

Temos um fantástico plano de saúde e nossos filhos podem frequentar a liga das melhores escolas do País. Não precisamos de SUS, não precisamos de Pronatec, não precisamos de cota nas universidades, não precisamos de bolsa-família e não precisamos de Minha Casa Minha Vida.

Vivemos numa redoma de bem estar. Por isso, talvez, à falta de consciência histórica, a ideologia de classe devora sua autocrítica.

E você e sua turma não acham nada de mais milhões de famílias não conseguirem mais pagar suas contas no fim do mês, porque suas mães e seus pais ficaram desempregados e perderam a perspectiva de se reinserirem no mercado num futuro próximo.

Mas você achou fantástico o acordo com os governos dos EEUU e da Suíça, que permitiu-lhes, na contramão da prática diplomática brasileira, se beneficiarem indiretamente com um asset sharing sobre produto de corrupção de funcionários brasileiros e estrangeiros. Fecharam esse acordo sem qualquer participação da União, que é quem, em última análise, paga a conta de seu pretenso heroísmo global e repassaram recursos nacionais sem autorização do Senado. Bonito, hein?

Mas, claro, na visão umbilical corporativista de vocês, o ministério público pode tudo e não precisa se preocupar com esses detalhes burocráticos que só atrasam nosso salamaleque para o irmão do norte! E depois fala de complexo de vira-lata dos outros!

O problema da soberba, colega, é que ela cega e torna o soberbo incapaz de empatia, mas, como neste mundo vale a lei do retorno, o soberbo também não recebe empatia, pois seu semblante fica opaco, incapaz de se conectar com o outro.

A operação de entrega de ativos nacionais ao estrangeiro, além de beirar alta traição, esculhambou o Brasil como nação de respeito entre seus pares.

Ficamos a anos-luz de distância da admiração que tínhamos mundo afora. E vocês o fizeram atropelando a constituição, que prevê que compete à Presidenta da República manter relações com estados estrangeiros e não ao musculoso ministério público.

Daqui a pouco vocês vão querer até ter representação diplomática nas capitais do circuito Elizabeth Arden, não é?

Ainda quanto a um Brasil diferente, devo-lhes lembrar que “diferente” nem sempre é melhor e que esse servicinho de vocês foi responsável por derrubar uma Presidenta constitucional honesta e colocar em seu lugar uma turba envolvida nas negociatas que vocês apregoam mídia afora.

Esse é o Brasil diferente? De fato é: um Brasil que passou a desrespeitar as escolhas políticas de seus vizinhos e a cultivar uma diplomacia da nulidade, pois não goza de qualquer respeito no mundo.

Vocês ajudaram a sujar o nome do País. Vocês ajudaram a deteriorar a qualidade da governação, a destruição das políticas inclusivas e o desenvolvimento sustentável pela expansão de nossa infraestrutura com tecnologia própria.

E isso tudo em nome de um “combate” obsessivo à corrupção. Assunto do qual vocês parecem não entender bulhufas! Criaram, isto sim, uma cortina de fumaça sobre o verdadeiro problema deste Pais, que é a profunda desigualdade social e econômica.

Não é a corrupção. Esta é mero corolário da desigualdade, que produz gente que nem vocês, cheios de “selfrighteousness” (justiça própria), de pretensão de serem justos e infalíveis, donos da verdade e do bem estar. Gente que pode se dar ao luxo de atropelar as leis sem consequência nenhuma. Pelo contrário, ainda são aplaudidos como justiceiros.

Com essa agenda menor da corrupção vocês ajudaram a dividir o País, entre os homens de bem e os safados, porque vocês não se limitam a julgar condutas como lhes compete, mas a julgar pessoas, quando estão longe de serem melhores do que elas.

Vocês não têm capacidade de ver o quanto seu corporativismo é parte dessa corrupção, porque funciona sob a mesma gramática do patrimonialismo: vocês querem um naco do estado só para chamar de seu.

Ninguém os controla de verdade e vocês acham que não devem satisfação a ninguém. E tudo isso lhes propicia um ganho material incrível, a capacidade de estarem no topo da cadeia alimentar do serviço público. Vamos falar de nós, os procuradores da república, antes de querer olhar para a cauda alheia.

Por fim, só quero pontuar que a corrupção não se elimina. Ela é da natureza perversa de uma sociedade em que a competição se faz pelo fator custo-benefício, no sentindo mais xucro.

A corrupção se controla. Controla-se para não tornar o estado e a economia disfuncionais. Mas esse controle não se faz com expiação de pecados. Não se faz com discursinho falso-moralista. Não se faz com homilias em igrejas. Se faz com reforma administrativa e reforma política, para atacar a causa do fenômeno e não sua periferia aparente.

Vocês estão fazendo populismo, ao disseminarem a ideia de que há o “nós, o povo” de honestos brasileiros, dispostos a enfrentar o monstro da corrupção feito São Jorge que enfrentou o dragão.

Você e eu sabemos que não existe isso e que não existe com sua artificial iniciativa popular das “10 medidas” solução viável para o problema. Esta passa pela revisão dos processos decisórios e de controle na cadeia de comando administrativa e pela reestruturação de nosso sistema político calcado em partidos que não merecem esse nome. Mas isso tudo talvez seja muito complicado para você e sua turma compreenderem.

Só um conselho, colega: baixe a bola. Pare de perseguir o Lula e fazer teatro com PowerPoint.

Faça seu trabalho em silêncio, investigue quem tiver que investigar sem alarde, respeite a presunção de inocência, cumpra seu papel de fiscal da lei e não mexa nesse vespeiro da demagogia, pois você vai acabar ferroado. Aos poucos, como sempre, as máscaras caem e, ao final, se saberá que são os que gostam do Brasil e os que apenas dele se servem para ficarem bonitos na fita! Esses, sim, costumam padecer do complexo de vira-lata!

Um forte abraço de seu colega mais velho e com cabeça dura, que não se deixa levar por essa onda de “combate” à corrupção sem regras de engajamento e sem respeito aos costumes da guerra.

Eugenio Aragão

Leia também:

Plinio de Arruda Sampaio Jr: Temer é a metástase do governo Dilma

Apoie o VIOMUNDO


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Nelson

Minha cara Elaine Jantsch.
Vocês estão invertendo a lógica. Apoiando empresas corruyptas. Essas empresas tem que ser fechada. Aragão, não chore, ok. o Dallagnol vai virar o seu chefe como Procurador Geral da República. Traidores são vocês, maquiavélicos.

O objetivo principal dos blogs e sítios alternativos que, felizmente, ainda temos – viomundo, carta maior, correio da cidadania, tijolaço e outros – é propiciar o aprofundamento do debate sobre as questões que a mídia hegemônica, deliberadamente, somente tangencia.

Então, eu te digo que os que visitam sítios como este Viomundo devem estar dispostos a isso, a aprofundar o debate. Para tanto, é necessário ter disposição de ler as matérias, entrevistas e artigos em sua íntegra e de refletir sobre as informações e opiniões que o sítio repassa.

Infelizmente, este parece não ser o teu caso. Você dá mostras de que ou não leu o texto claro e perfeitamente inteligível do Aragão ou não quis entendê-lo.

Então, creio que tu deverias comentar apenas nos sítios da Veja, Exame, Época, Folha, Estadão, do PIG em geral. Neles, quanto mais besteiras e coisas sem sentido você escrever, mais espaço terá; serás reconhecida e, possivelmente, aplaudida por repetir tudo o que eles dizem.

Carlos J. R. Araújo

O lamento de Sepúlveda Pertence esclarece tudo: “ajudei a criar um monstro”. Há exceções? Há, sim, e o Eugênio Aragão é, hoje, uma delas e com a possibilidade de dizer a verdade no universo da informação. Os membros do Ministério Público (os da Procuradoria da República, então…) são, hoje, os atuais Procuradores do Rei da época de Luís XIV. Na época do Absolutismo, eles prestavam contas apenas ao Rei Sol; hoje, à ninguém e, quando muito, à própria vaidade.

Pior e o que é ridículo e lamentável: o Dallagnol é apenas o piorado reflexo de uma constatação histórico-sociológica da atual identidade do MP. Não só e o que dói mais: o Dallagnol nada mais é que um “coxinha” vaidoso e de evidente ignorância cultural, cujas atitudes traduzem a sua identidade de um verdadeiro Satanás do mundo jurídico e incapaz de entender – creio que ele entende, mas o Deus dele é o Tio Sam – que está provocando, com um outro Satanás de toga (o Moro, evidentemente) a destruição econômica e social do Brasil.

Bacellar

Não posso deixar de me questionar o quanto esses cherifetes do mp de curitiba realmente acreditam nas asneiras que dizem ou o quanto são meros carreiristas…

paulo arruda

É foda!
tenha certeza que se fosse para mim esta carta, eu pediria desculpas ao Brasil….Aragão atirou de 2000 metros e acertou na mosca ( do power point ) dos traidores da pátria.

João Luiz Pereira Tavares

Mas sério mesmo para o ano de 2017, é o seguinte:

O problema é a SUAVE & disfarçada truculência do PeTê… Repare.

É evidente que o Petismo se utiliza de técnicas das mais brilhantes de publicidade, brilhantes, mas ENGANA-TROUXA…

Petista apenas & só se preocupa com PSDB e outras ASNEIRAS. Que amor enrustido! Só fala a toda hora e minuto sobre PSDB etc.

Mas petista nem se lembra do PeTê mesmo… Vejam um único exemplo bem simples:

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::
A Semiótica do Coração Valente
::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

Mas quanto a tudo isso o que importa é a publicidade & a propaganda, somada com a baranguice de VELHA — tal qual Dilma. Eis:

Grave mesmo é isso aqui:

GOLPE e «CORAÇÃO VALENTE»:

São clichês publicitários elaborados por 1 publicitário! Tal qual o preso do petismo milionário JOÃO SANTANA (o “Feira”…). São tais quais a frase publicitária de iogurte da DANONE, assim, veja:
«DANONINHO VALE POR 1 BIFINHO». [ou: “CVC pensando em você”].

Nunca jamais houve GOLPE; assim como DANONINHO jamais VALE POR 1 BIFINHO… E o slogan petista “Coração Valente” é uma frase feliz em termos publicitários (fazer a cabeça, via mitologia), mas de um vigarismo extraordinário.

[e reparem.., tudo isso tem a ver com Educação grosseira do Governo Petista. A pior da América inteira].

Genivaldo

Eugenio… Parabéns pela lucidez…e coragem.
Mas esses “dalagnois” não conseguem entender um texto com mais do que duas orações… Como você já sabe ,coxinha só tem dois neurônios. Está na hora dos “Bastardos Inglórios”.

Deixe seu comentário

Leia também