Igor Felippe: Salário mínimo, o que os tucanos realmente querem

Tempo de leitura: 3 min

por Igor Felippe Santos, em O Escrevinhador

O debate sobre o novo valor do salário mínimo, que envolve o governo federal, os partidos derrotados na eleição presidencial, as centrais sindicais e os movimentos populares é a primeira batalha política sob o comando da presidenta Dilma Rousseff, que terá continuidade na disputa em torno da redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais.

O governo federal insiste na proposta de R$ 545, com base no acordo prévio feito com as centrais sindicais (e com o setor industrial, implicitamente) de aumentar o salário mínimo com base no crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) e da inflação. O PSDB propõe o aumento para R$ 600, retomando a proposta do candidato a presidente da coalizão conservadora, José Serra.

Já as centrais sindicais defendem o aumento para R$ 580, com base em compromisso assumido por Dilma no 2º turno das eleições. O Brasil não teve crescimento econômico em 2009 (ano utilizado como referência), no entanto, governo federal fez aportes financeiros em grandes empresas, que sustentaram a lucratividade do capital no quadro de crise estrutural do capitalismo a nível internacional. Os trabalhadores cobram do governo o mesmo tratamento dispensado aos empresários, que receberam apoio para enfrentar a crise econômica.

As três propostas têm base nos interesses concretos dos diferentes setores sociais, uma vez que estamos longe de um debate profundo sobre as necessidades da classe trabalhadora, e têm impacto direto sobre a principal pauta do mercado financeiro atualmente, que é a demanda por um ajuste fiscal, no quadro das disputas dos rumos da política econômica no próximo período.

O governo Dilma quer preservar a sua capacidade de fazer investimentos nas áreas consideradas prioritárias pelos diversos setores que estão na ampla aliança que elegeu a presidenta da República. Essa aliança, que articula frações do grande capital e da classe trabalhadora, se sustenta na manutenção de um patamar mínimo de crescimento econômico, que garanta a acumulação dos capitalistas, e de distribuição de renda, que possibilite melhorias na vida da população mais pobre.

Um aumento maior do salário mínimo, da perspectiva do governo federal, seria um sinal de aumento dos gastos públicos, que o governo prometeu brecar, e uma quebra do acordo em torno do salário mínimo com a burguesia de limitar o aumento ao crescimento do PIB e à inflação. Com isso, o governo cede às pressões do mercado financeiro.

Os partidos derrotados nas eleições querem impor um constrangimento a Dilma, ao colocar o governo contra uma proposta mais avançada para o salário mínimo, e tentar afastá-lo da sua base social conquistada nos últimos oito anos. Não podemos esquecer que esses partidos, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, impuseram durante oito anos arrocho do salário mínimo.

Um aumento maior do salário mínimo sem mudanças na política econômica forçaria o governo a fazer um maior ajuste fiscal (além de reformas da Previdência e legislação trabalhista) para pagar juros da dívida, que diminuirá o papel do Estado na economia, os investimentos na área de infra-estrutura e na área social. Ou seja, por trás da posição dos tucanos está o interesse em diminuir a margem de investimentos do governo.

As centrais sindicais, que demonstram uma posição firme, saudável e recomendável de autonomia dos trabalhadores em relação ao governo Dilma, fazem pressão por um aumento de R$ 580, inclusive com a perspectiva da realização de lutas que dêem unidade ao movimento sindical, popular e estudantil.

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A pressão das centrais, em vez de forçar para um maior ajuste fiscal, tem como horizonte a mudança da política econômica, com o fim do superávit primário e a queda drástica dos juros, que drenam o orçamento da União para o pagamento de juros dos títulos da dívida pública, beneficiando apenas os bancos, a especulação do mercado financeiro e os setores rentistas. Em 2010, por exemplo, a despesa com juros do setor público foi de R$ 195,369 bilhões, que são desviados da área da educação, saúde, moradia e pequena agricultura/reformar agrária.

O avanço dos setores progressistas, que se articularam em torno da eleição de Dilma Rousseff, depende do apoio às demandas das centrais sindicais, além de denunciar os interesses escondidos por trás do debate do salário mínimo e pressionar de fora para dentro do governo, fazendo o enfrentamento com os setores conservadores que não aceitam qualquer mudança na política econômica que ameace o poder dos bancos e do mercado financeiro.

* Igor Felippe Santos é jornalista, editor da Página do MST, integrante da Rede de Comunicadores pela Reforma Agrária e do Centro de Estudos Barão de Itararé.

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Comentários

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Felipe

É ultrajante ver uma disputa tão acirrada por salários de fome. O salário mínimo ideal é de mais de dois mil reais e governo e sindicatos estão discutindo 545 e 580 reais, respectivamente, como se 35 reais fossem de fato fazer alguma diferença para o trabalhador. Briga-se por trocados. E só um ingênuo não vê que a polêmica do salário mínimo é reflexo da distribuição dos cargos no Governo, em que os partidos e grupos que se sentiram prejudicados querem retaliar o governo por não terem sua ganância contemplada.

Paulo

Uma das poucas vezes vi o PIG falando mal do PSDB deu vontade até de ver o Zorra Total pra comemorar heheheheh

Ana Maria

Os deputados e Senadores do PSDBDEMPPS só querem fazer palanque,(o Cerra aqui em SP mandou a policia em cima de quem ousava discordar ou reivindicar. Não tinha conversa, muito pelo contrário foi um ditador), agora esse politicos como Aécio ,Itamar , Aloisio 300 Paulo Preto o ACM Neto entre outros vão passar todo mandato sem construir nada para seus estados e muito menos para o Brasil . Eles representam o atraso politico social e economico do país, vão seguir os urubólogos de plantão, ou seja dessas bocas de cloacas nada se aproveita. Nós blogueiros progressistas estamos ajudando na construção de um país melhor, enquanto esses demagogos estão ai para desconstruír .

Messias Macedo

E por falar em salário mínimo, vale a pena recorrer a alguns ‘recalls’ da [fatídica] era FHC/(S)erra – e da auspiciosa era Lula/Dilma:

Salário Mínimo [na fatídica] era FHC/(S)erra
O salário mínimo passou, em oito anos, de 70 para 200 reais (*aumento de 186%)
… No seu governo [FHC/(S)erra], a dívida pública do Brasil, que era de US$ 60 bilhões em julho de 1994, saltou para US$ 245 bilhões em novembro de 2002…

FONTE: http://pt.wikipedia.org/wiki/Governo_Fernando_Hen

*Importante: o Salário Mínimo atual [da auspiciosa era Lula-Dilma] tem o maior valor nominal em Reais dos últimos 50 anos!
Muito importante: O governo Lula deu ao salário mínimo um aumento real (acima da inflação) de 74%. Quanto a sua equivalência em dólar, o aumento do salário mínimo foi mais de 400%. Passou de US$-56,5 , valor do salário mínimo no dia em que Lula tomou posse, para quase US$-300,00.

Messias Franca de Macedo
Feira de Santana, Bahia, Transição República de ‘Nois’ Bananas/Brasil Nação

    Lucio Dias

    Caro Messias,

    Corrigindo. A divida pública interna na era FHC saltou em 1994 de 60 bilhoes para cerca de 650 bilhoes no ano de 2002. (IPEA e FGV). Isso mesmo. Cerca de 10 vezes mais.

Antonio Alves

O salário mínimo foi ao longo da nossa história exatamente o que cada governo quiz que ele fosse. Assim sendo, o salário mínimo nos tempos dos TUCANOS chegou a valer $63,00 (sessenta e três dólares), é isso mesmo!!!! Agora que o mínimo vale 5 vezes mais, vem essas criaturas que já "governaram" esse país, e com todo esse cinismo dizem "lutar" por um salário mínimo de $360,00.
Esses tucanos, SUBSERVIENTES, agentes dos interesses internacionais, estão por aí, e com ajuda da mídia, ainda enganam muita gente.

Heitor Rodrigues

Tudo se resume ao objetivo que se persegue: lutar pelo próximo mês, pelo próximo ano, ou pelo futuro. O horizonte da centrais sindicais é o horizonte próximo, tendo como alvo, dividendos políticos de curto prazo. O da oposição, é o horizonte ontem (já deveríamos ter quebrado tudo).O horizonte futuro é o governo federal, que pensa o país, e não conveniências que sirvam para manchetes de jornais. A luta é combater cegos e oportunistas, para preservar o acordo do governo Lula com os sindicalistas, a propósito do aumento do salário mínimo sustentável. O resto é blá, blá, blá…

Alex_SRT

Parabéns, Igor, pelo artigo, Vi o Mundo, pela postagem! Raras são as análises que conseguem amalgamar com destreza e habilidade um conjunto complexo e contraditório de informações/dados/interesses! Gostei da finalização:
abre aspas
O avanço dos setores progressistas, que se articularam em torno da eleição de Dilma Rousseff, depende do apoio às demandas das centrais sindicais, além de denunciar os interesses escondidos por trás do debate do salário mínimo e pressionar de fora para dentro do governo, fazendo o enfrentamento com os setores conservadores que não aceitam qualquer mudança na política econômica que ameace o poder dos bancos e do mercado financeiro.
fecha aspas.

Paulo Amaral

E o salarinho mínimo da Dilma herdeira da herança maldita de Lula….. ÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓ…

Caraca meu…. não foram vocês que passaram a vida inteira lutando por um maior salário mínimo??? estão renegando de novo tudo o que pregaram na vida????

Ou será que que eu cheguei hoje ao Brasil…??

Vocês não enganam ninguém rapaz… a não ser a peble ignara bolsista e pelegos encalcrados no poder…

Não enganam ninguém rapaz….

    Pedro

    "peble ignara".

    Descobri quem é o Paulo. É o próprio Professor Hariovaldo, o sumo magister! Que honra!

    M. C. Campos

    Tem uns caras que vem lá do estadão com a mesma retórica e sem pensar muito coloca algumas fezes aqui, quis dizer teses, e acha que vai conseguir debater no nível dele. Rapazinho, acorda pro mundo. Estamos falando de coisa séria. As micro-empresas no Brasil tem condição de pagar um salario minimo de por exemplo 700 ou mais 800 ? Você está sabendo que os produtos chineses estão por aí em todo esquina, né ?

SILOÉ

Na atual conjuntura, nada que a oposição faça para minar a Dilma dará resultado, com ela é preto no branco e transparência total. Até o "pig"e o Jabour estão dando a mão à palmatória…

    assalariado.

    SILOÉ, acorda meu!! O PIG (Partido da Imprensa Golpista),não mudou de lado,é a presidenta que afaga os interesses das elites do capital(Estado minimo) e,esta "mão a palmatória", dos moleques de recados da burguesia nada mais é do que dizerem para dona Dilma, "…vai mais fundo que te apoiamos…", e voce ainda embarca nesta canoa furada.A conjuntura do deus mercado globalizado,nos mostra na europa em meios a abundância de mercadorias, as contradições da sociedade capitalista e,quem paga por isto? No Brasil ,e no BRICs, estamos também a caminho da estagnação e, é como dizia Karl Marx: "Na economia capitalista acontece algo surpreendente,um absurdo:crises provocadas por excesso de produção(super produção),quer dizer,quando há abundância de mercadorias/produtos,a economia entra em crise…"

    A sociedade de luta de classes e suas crises baseiam-se nestas duas causas principais e complementares entre si,uma que se baseia na contradição (capital x trabalho) e outra que,se baseia na (anarquia da produção) da economia capitalista.Aqui tem mais: http://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_do_valor

    Lucio Dias

    Segundo se vê no sítio de Paulo Henrique Amorim, a Rede Bobo está fazendo brilhar a imagem da Dilma e na contramão vilipendiar a imagem do Lula, por que se a Dilma escorregar e não fizer um bom governo, Lula estará com a imagem apagada aí eles poderão recuperar o poder. É a jogada deles para 2014.

assalariado.

Não sei quem é pior na rapinagem com os assalariados.Ambos são oportunistas na medida em que os dois priorizam como todos os traidores da classe operária,os interesses do capital.Ano passado estes governos(federal/estadualSP,social democratas),encheram os bolsos dos capitalistas financeiros. Estes governantes/gerentes do capital,antes de mais nada,estão à serviço dos seus patrões,e fazer ao gosto das elites,os desejos insaciáveis de ganhos destes parasitas e seu Estado burguês.A nivel federal pagou-se só de juros da divida interna(R$195 bi).Vamos sonhar um pouco,e se a presidenta chamasse a burguesia e, em vez de pagar este ano(2011),outros R$190bi,pagasse só(!?) R$100bi,em vez de cortar os R$50bi anunciado pelo Ministro Mantega,o que aconteceria? Opa! deixa eu cair na real,o Estado do capital só tem benevolência com os seus donos e, esta casa (Estado) não é,uma casa de caridades,a não ser para os seus próprios criadores,os capitalistas.A hipocrisia existe,seja da social democracia do século 19 ou 21… Rumo ao socialismo,para isto teremos que mexer nas estruturas do Estado,aí o bicho vai pegar…

    Marco A Rodrigues

    Sua proposta é muito interessante

Marco A Rodrigues

Este maldito zé cerra não é de confiança, mas vamos dar + uma oportunidade a este entreguista.
Ele fica perturbando por causa do salário de R$ 600.
Então vamos combinar, ele impõe a partir de hoje o salário de R$ 600 em todos os estados que os tucanos/demos elegeram o governador. Só daí ele pode ficar brigando pelos R$ 600…

O_Brasileiro

Profundo!!!
Mas os mais velhos como eu tem mais medo da inflação do que de um crescimento menor!!!
Já não ganhamos muito. Agora, se o que ganhamos começar a valer nada…

    Alex_SRT

    Calma, camarada! Inflação e estabilidade são duas faces da mesma moeda, se na mão dos capitalistas. lembra que na segunda metade da década de 90 não tínhamos inflação? Pra quê? pra arrochar salários, não haver investimentos públicos, carrear nossas riquezas pro exterior…há de se ter cuidado, é verdade, mas sem prejudicar a geração de empregos, a distribuição de renda, a inclusão social…e o problema fiscal do estado brasileiro? Ora, vamos tomar coragem e auditar o endividamento do setor público pra ver qualé que é…

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