Urariano Mota: Espertos e otários no mundo da ciência

Tempo de leitura: 3 min

por Urariano Mota, em Direto da Redação

A repercussão do artigo anterior foi tão surpreendente, que não posso me furtar, essa palavra própria, a mais um caso. Entre os comentários recebidos, destaco dois:

Um, de Luciana Witovisk:

“O que mais me perturba é a aprovação de alunos que deveriam ser reprovados, apenas para que o programa de Pós-graduação não caia no conceito CAPES, e a conduta amoral que, infelizmente, alguns pesquisadores “ilibados” apresentam no “latifúndio de sua sala”. As universidades (passei por três publicas e vi isso nas 3!) se transformaram em cenário para crimes como plágio, roubo e venda de relatórios, monografias, etc, assédio moral, assédio sexual, e não só por parte de pesquisadores homens. E quem fala é coagido, vira sim o delinquente…”

Outro, de Nathália de Tarso:

“Só não vou dizer que a história foi comigo porque sou historiadora e não bióloga, mas é tin-tin por tin-tin o que já vivi participando de bancas por aí afora. E também sou chamada de preciosista, imagine!”

Por isso, passo à palavra ao cientista K pela última vez, porque imensa vai a sua angústia e desespero, porque poderia receber uma punição pelo espanto que não perdeu ante a indecência:

Um colega foi para Portugal fazer um pós-doutorado. Quando voltou, me perguntou por um trabalho que iria ser publicado com o nome de um orientando, com o meu nome, orientador, e no dele, pois ele … Olha, vamos falar sério: a gente não pode ter excesso de escrúpulos. Entenda. O rolo compressor, a onda, o oceano, a atmosfera biológica, social, o diabo, é de tal forma que ninguém escapa ileso, entende? Em pequenas coisas concedemos. Ou caso contrário, cairemos no pecado do suicídio.

Entende? Concedemos um milésimo, um milionésimo, ou seremos obrigados a mendigar auxílio a quem já deu o traseiro, alma e complementos. Pois bem. O colega havia tomado por empréstimo… assim, a fundo perdido, vale dizer, sem reposição, uns três mil reais, que ele havia tirado de um outro projeto que tinha dinheiro em excesso. É assim: tira-se do que tem muito para o que tem nada. Até aí, creia, nada de mais. Eu me comprometi que o trabalho seria publicado em nome dos três: em nome do orientando, do meu (orientador) e no do colega doutor. Ele me disse que tinha pressa na publicação, pois, aqui repito as suas palavras:

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‘Vai ocorrer um congresso de Bioquímica em Lisboa, e eu quero voltar a Portugal nessa ocasião. Quem vai apresentar o trabalho sou eu, pois eu consigo o dinheiro das despesas para essa viagem com facilidade’. Bom. Então eu avisei a ele que, diante dessa responsabilidade na Europa, eu já havia enviado o trabalho para uma revista especializada em bioquímica. O resultado é que um dos revisores tinha notado que as análises químicas não eram confiáveis.

Pra quê eu disse isso? O doutor colega então me respondeu que “esses caras (os revisores) são cheios de frescura. Eles é que têm muita inveja de quem publica trabalhos de qualidade” (como o dele – melhor dizendo, como o “nosso”)… Então eu lhe respondi que esse não era o caso, pois a argumentação do revisor estava correta e que deveríamos mesmo refazer as análises químicas antes, para só depois tentar publicar o trabalho na revista ou nos anais de um congresso, como o que estava previsto para Lisboa.

Ele me disse então: “Envia logo para o Congresso de Portugal do jeito que está, pois não temos tempo para agendar os laboratórios da USP antes do Congresso em Portugal”. Eu respondi “Não”, porque as advertências do revisor estavam corretas, e mesmo que os revisores do Congresso de Lisboa não notassem os erros de análise química, eu estaria sendo desonesto, pois eu já havia sido informado sobre esses erros. Resposta do meu nobre colega:

“Você está agindo como um otário, como um idiota. Agindo assim, você nunca mais nunca mais receberá qualquer dinheiro para futuras pesquisas…’

Outras coisas ainda mais sensatas ele me disse. Mas chega. Eu já fui insensato além da conta em lhe contar. Chega. Isso pode acabar com uma carreira. A minha”.

Assim falou o mestre K. Se bem entendi, ignorante que sou do mundo das academias e dos congressos de ciência biológica, posso concluir que a tradicional divisão do mundo aqui fora, de todos os dias, também invadiu o austero e rigoroso mundo da ciência. No mundo acadêmico, científico, também os homens podem se dividir em espertos e otários. É claro que o progresso da humanidade depende dos otários. Mas a boa vida pertence aos vivos e espertos. Escrever sobre isso é a única vingança dos idiotas.

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Comentários

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Roberto Locatelli

Cada vez mais me convenço de que capitalismo e desonestidade fizeram uma aliança definitiva. Seja na ciência, nos negócios ou nos governos, a "esperteza" capitalista passou a significar desonestidade. Vide os balanços falsificados nos EUA, por exemplo.

Yes we créu !!!

Olha, eu ja li muitas criticas contra o produtivismo, entendido aqui como a avaliacao de pesquisadores com base em numeros (numero de artigos, citacoes, teses orientadas, etc). Argumenta-se, com certa procedencia, mas nao muita, que pesquisadores sem recursos nao podem ser avaliados com a mesma medida que pesquisadores de grandes centros. Acontece que pesquisadores de grandes centros tendem a ter melhor CV que os outros ja no inicio da carreira, mesmo porque eles tendem a ser formados nos grandes centros . Eu disse que eles tendem a ter melhor CV, mas sabemos que nem todos sao bons. O fato eh: se eu posso contratar um pesquisador com experiencia em pesquisa de ponta, por que eu iria contratar um sem experiencia em ciencia de alta tecnologia, ainda que cientificamente bem preparado? Mas cuidado: nao confundam ciencia de ponta com ciencia de qualidade. Nem sempre as duas andam juntas. De todo modo, eu ainda prefiro pesquisadores que produzem algo de impacto na sociedade. Ora, o valor de uma pesquisa pode ser medido pelo impacto que ela causa na comunidade de seus pares. E sao rarissimos aqueles casos em que o valor da pesquisa nao eh percebido pela comunidade, e os mesmos nao podem ser utilizados como argumento contra o uso das citacoes pelos pares como instrumento de avaliacao. Passados cinco anos sem um artigo ser citado, pra mim este artigo nunca existiu. Estranhamente a comunidade se pauta mais pelas excecao do que pela regra. E a regra eh que artigos nao citados geralmente sao de baixa qualidade. As poucas excecoes nao podem servir de argumento contra o uso da citacao como medida do valor de uma pesquisa. O produtivismo eh, sim, o que temos para avaliar pesquisadores. Ainda nao vi nenhum critico desse sistema apresentar uma proposta que exclua a possibilidade de contemplar pesquisadores improdutivos, embora o atual sistema nao exclua isso, mas pelo menos atenua.

Eu detesto quando o Brasil copia coisas de fora, mas uma das poucas que merecem ser copiadas eh o sistema meritocratico americano, cujo similar eu conheco bem aqui no Canada. Boa parte da produtividade da ciencia nos EUA se deve a um sistema que premia os produtivos – avaliados sim por meio de numero de artigos, citacoes, etc. Se devemos ou nao copia-los, basta olhar quem produz boa parte da ciencia no mundo.

Wanderson Brum

Hum!!! Essa bola ja foi cantada a muito tempo, só não vê quem não quer! O mundo científico não é tão "científico" assim, desde sempre, pois antes de C. Lombroso – sabe aquele do baixo volume cranimometrico – já era assim! A ciência e os cientistas server a propositos menos nobres do que o da ciência e do comprometimento com a construção de saberes para humanidade, isso é só um discursso fragíl como guarda-napo na chuva…Mas vamos lá se há uns tantos impios a outros pra salvarem a colheita, pode ser ingenuidade minha mais ainda creio ética e na razão…

O_Brasileiro

É como ele também falou, um dos problemas é a tal nota da CAPES. É igual ao congresso, só faz regras que beneficiam quem está no poder!
Devia existir, isso sim, é um limite menor de pesquisas por pesquisador. E com maior qualidade.
Nos EUA as coisas são diferentes e as pesquisas são mais objetivas.

    Luciana Witovisk

    Na verdade, a culpa não é da Capes. A intenção das regras foi boa… mas já viu.. sempre tem gente que se aproveita "das brechas". O problema é bastante complexo, mesmo. Só com muita discussão…

Samyra

Eu acho uma grande bobagem essa coisa de atribuir os "grandes saltos da humanidade" a pessoas comprometidas com o caráter, a ética e tudo mais que julgamos bom e adequado aos "grandes homens e mulheres da história".

Grandes avanços, descobertas ou seja lá o que for, são feitas por pessoas que estão sujeitas as mais variadas e amplas tendências. Não vejo porque um exímio biólogo não possa ser uma pessoa violenta ou porque uma ilustre historiadora seja uma mulher de arrogância e prepotências perigosas. Não vejo qualquer razão para nenhum(a) cientista não roubar, matar, assaltar, estuprar… enfim, estar em contato com o mais baixo e sombrio que um ser humano possa estar. Não vejo sentido nenhum nesse tipo de questionamento.

Entretanto, o fato da maior parte das pessoas ser tanto suas qualidades e defeitos (altenuados ou acentuados pelo contexto social), não justifica esse comportamento grosseiro absurdo. É preciso um real comprometimento com o bem comum. Trata-se de realmente fazer aquilo que se propõem. E se o trabalho acadêmico, da maneira como é teoricamente concebido, perpassa por aspectos éticos e do bem comum, eles devem ser sim respeitados. E não cabe ressalvas aí.

Admiro o depoimento do Mestre K. Espero sinceramente que ele não seja prejudicado por sua fala.

    Luciana Witovisk

    Samyra,
    Gostei da sua posição, pq abre um outro leque. "não vejo nenhuma razão para nenhum(a) cientista não roubar, matar, assaltar, estuprar… enfim, estar em contato com o mais baixo e sombrio que um ser humano possa estar", sabe-se hoje que esse lado sombrio do ser humano está relacionado a uma diferença real na fisiologia cerebral. Existem pessoas, as psicopatas leves, moderadas e severas(serial killers por ex.) que são puro raciocínio lógico. Existem cientistas psicopatas leves e moderados que passam impunemente pela vida? claro. Mas, sendo assim, eles acumulam outras características: manipuladores, egocêntricos, individualistas, mentirosos, calculistas.. são aqueles que manipulam dados para conseguir A MANCHETE, que agem exclusivamente em interesse próprio e não do coletivo. Eles têm a vantagem do raciocínio lógico aguçadissimo, por isso chegam a ter muito status com facilidade. Mas para realizar boa pesquisa é necessária excelente comunicação entre lado esquerdo e direito do cerebro, coisa que essas pessoas não conseguem. E mais, os grandes saltos são conseguidos com pesquisa basica, que não traz dinheiro na maioria das vezes e nunca se sabe onde ela poderá nos levar, poderá nos guiar para um grande salto ou apenas para mais um modesto tijolo da construção do conhecimento. Portanto, para ser verdadeiramente grande em ciência, é necessário sim: altruísmo, preocupação com o coletivo e vaidade controlada. Esses que manipulam dados, que conseguem os holofotes durante algum tempo, sempre são pegos.. mas ai, só os pesquisadores de suas áreas é que ficam sabendo dos podres: dos dados inventados, da fragilidade de seu embasamento teórico, etc… essas coisas dificilmente chegam a publico leigo.
    Achei este site, se pesquisar mais nele, encontrará boas informações: http://www.medicinadocomportamento.com.br/dra_ana

    ainda, vale a pena ver, que o "profissional do futuro" para empresas não será mais o extremamente competitivo, o racional puro, o que acabará dificultando a vida dessas pessoas que são puro racional que hoje são valorizadas, mesmo sem ética alguma e isso acabará "contaminando a Academia" também. http://www.superempreendedores.com/empreendedoris

    Existem pessoas não psicopatas que cometem crimes e são cientistas? claro. Mas se arrependem e mudam de postura cedo ou tarde.
    Uma informação: a quantidade de psicopatas leves e moderados no mundo hj, que cometem delitos no limite do permitido, não sendo possivel prende-los são 280 milhões de pessoas e sabe-se que o numero é subestimado.

tiago

Estudo na UEL, em Londrina e encontrei um ou outro professor picareta no curso de ciências sociais. Mas a esmagadora maioria preza pelo trabalho sério, são dedicados, desprovidos da vaidade acadêmica. Os melhores professores que encontrei foram os que saíam beber cerveja com os alunos no bar, que brincavam, mas que na hora da cobrança intelectual, nas aulas e orientações, tacavam o terror na gente. Tive sorte por encontrar mestres em inteligência e sensibilidade. Posso dizer depois de ler certos comentários, que tive sorte na minha graduação e a terei no meu futuro mestrado.

    Luciana Witovisk

    OXALÁ!! Boa sorte, mas se prepare, pois o mestrado é a parte mais dificil, porque:
    TEMPO: 2 anos é pouco para fazer corretamente as disciplinas e realizar toda a pesquisa. É traumatizante este período porque o cérebro amadurece na marra e na pressão, pois geralmente vc consegue os resultados mais para o final desses 2 anos e precisa discuti-los tomando por base toda a literatura.. por mais que tenha lido tudo previamente, não dá tempo para a "digestão" dos dados como deve ser, por isso a gente sofre muito.
    Mas persevere, ter um bom orientador é o melhor caminho, esse amadurecimento do cérebro acontece dolorosamente, mas em compensação o doutorado depois é mais light, pq vc já terá interiorizado o método e o cerebro já estará acostumado a fazer links entre as ideias e a produzir novas.
    Vá em frente, fuja dos picaretas e seja feliz! Cultive a leveza e tudo flui!

nilton

Fui professor de graduação e pós-graduação em uma universade privada durante mais de 10 anos, além de ter participado de inúmeras bancas, em universidades públicas e privadas.
A prática de aceitar trabalhos de pós-graduação (para não falar nas nas ditas monografias de graduação) sem as mínimas condições de aprovação é comum em todas as universidades que frequentei (tenho a convicção de que não é muito diferente nas outras universidades brasileiras, pelo convivio acadêmico que tive durante esse período).
Nilton

Marcia Costa

Sou uma pessoa comum: sou graduada em Administração e não tenho nem um MBA. Mas, amo pesquisa e admiro quem faz. Nunca andei neste ambiente de CAPES, academia, etc, mas sei que existem pesquisadores sérios e agora, com a coragem do K. descobri que até neste ramo há o que chamo de "crocodilagem". Também o que se pode esperar? Nas universidades somente vejo alunos querendo um diploma. Em diversas empresas (inclusive na que trabalho), de acordo com relato de amigos, vê-se que os mais "espertos" é que são incensados pelo chefe. Eu mesma (pasme) fiz uma ata de reunião (!) que foi solenemente apropriada por uma colega que mal sabe escrever… Diante de tão pequenas situações diárias, a gente pode dizer que o depoimento do K. tem credibilidade. É uma crise ética que passamos. Ser ético é ser um otário nos dias de hoje. Quem entrega dinheiro achado na rua é considerado herói e vira manchete no PIG! Valeu K. Boa sorte e que Deus lhe proteja!

Otavio Carpinteiro

Azenha, por que voce nao da' uma olhada no Portal Democracia e Transparencia em C&T (http://democracia-e-transparencia-em-ct.blogspot.com/), mais especificamente, no Segundo Manifesto Nacional aos Orgaos de C&T. Ja' enviei este Manifesto a voce para publicacao em seu portal. Ele informa muito sobre as politicas e praticas das agencias de C&T. Prof. Otavio Carpinteiro.

Alexandre

Se encontra de tudo e em todo lugar, bom, ruim, corrupto, honesto, trabalhador, preguiçoso, etc. No entanto, não podemos é generalizar.

    Mário SF Alves

    Esquecestes de enfatizar, Antônio: especialmente, ou melhor, exponencialmente no estágio atual do capitalismo, onde o processo de corrupção das consciências (engendrado e devidamente blindado pelas cortinas das mega-corporações) começa na infância. Ou não?

    Mário SF Alves

    As coorporções, suas regras, suas defesas já foram, inclusive, identificadas como típicas de personalidade psicopata. Veja a definição a seguir:
    Psicopata é o indivíduo que apresenta um Transtorno de Personalidade, que se caracteriza por total ausência de sentimento de culpa, arrependimento ou remorso pelo que faz de errado; falta de empatia com outro e emoções de forma geral (amor, tristeza, medo, compaixão etc.). Os psicopatas são frios e calculistas, mentirosos contumazes, egocêntricos, megalômanos, parasitas, manipuladores, impulsivos, inescrupulosos, irresponsáveis, transgressores de regras sociais, muitos são violentos e só visam o interesse próprio. Eles estão infiltrados em todos os meios sociais, credo, sexo, cultura e são capazes de passar por cima de qualquer pessoa apenas para satisfazer seus sórdidos interesses. Podemos dizer que são verdadeiros “predadores sociais”, almejam somente o poder, status e diversão e usam as pessoas apenas como troféus ou peças do seu jogo cruel.

    Luciana Witovisk

    E o pior é que já se reconhece a sociedade hj como aquela que valoriza como um todo "atitudes psicopáticas". Mas acredito na reação à esta postura.

ratusnatus

Parece que a aprovação automática tem reflexos, rsrsrs.

Antonia Vic

Devagar com o andor, que o santo pode ser de barro, Azenha. Sou pesquisadora 2 do CNPq, nunca usei, nem utilzei nenhum trabalho de orientandos ou de colegas. Fazemos parceria sim, mas cada um dando o seu quinhão. Academia não é santuário, tampouco é prostibulo. Portanto, o nobre colega K faria um grande serviço indentificando-se e dizendo quem fez o que.
Sou contra o produtivismo que impera na Academia, a Capes tem que rever isso. Mas daí a inferir que os pesquisadores são prostitutos de plantão há uma grande diferença. Cuidado, escute mais, pesquise mais.
Completando, sou pesquisadora de um programa 7, da CAPES, tirei 15 dias de férias em fevereiro. Adivinha o que tenho feito? Colocar minha vida acadêmica em dia: 4 pareceres sobre projetos de doutorado do programa, agora concluindo um artigo para um livro (artigo meu, suadamente feito) e me preparando para na próxima semana ler uma tese e uma dissertação. Participarei de duas bancas assim que terminar minhas férias.
Sinceramente, não acredito nesse tipo de depoimento, não é esse o meu dia da dia.

    Janes Rodriguez

    Você pode não fazer parte desses esquemas, mas que eles existem, existe… E a lógica produtivista, privatista e concorrencial da universidade brasileira, tem resultado nisso. Fora alunos do mestrado que não fazem as leitura, não entregam os trabalhos, fazem seminários ridículos, mas se envolvem sexualmente com docentes e são aprovados. Nunca ouviu falar disso? E de alunos que veem absurdos acontecerem e se calam pois senão não conseguem concluir o curso, pois são punidos com reprovações infindáveis. Não são todos que fazem isso, claro. Mas não deveria ser nenhum!

    Marcia Costa

    Concordo com vc. Excelente comentário.

    Yes we créu !!!

    Antonia,

    Acho que vc deveria, alem de terminar seus 4 pareceres e concluir seu artigo, se ajoelhar e agradecer por viver num ambiente academico sem pilantragens. Minha cara, o depoimento do artigo procede, e a pratica denunciada pulula em varias universidades. Outra coisa: nao entendo como alguem que produz pode ser contra o "produtivismo". Me incomoda muito saber que quem nao produz ganha o mesmo tanto que eu, que produzo.

    Antonia Vic

    Produtividade não é o mesmo que produtivismo. Lei o livro do prof. João dos Reis que entenderá isso, se tiver interesse, indico a referênia completa.
    Abraços

Marcos

Na minha curtíssima experiência num curso de mestrado, o panorama realmente era aterrador; isso faz mais de 15 anos, curso de Letras da FFLCH-USP – as bolsas de mestrado eram invariavelmente concedidas aos orientandos… dos selecionadores! Já havia uma reserva nos departamentos. No departamento de linguística, a coisa era escancarada para quem entrava no programa de mestrado. E seguiu assim, provavelmente para pior. Eu saí em menos de um ano, o sistema CAPES é sequestrado por professores, há uma máfia no controle que paga pelos favores dos outros professores em benesses (bolsas, viagens etc.) Trabalhei no parlamento, assembléia do estado de SP, juro que o ambiente muitas vezes era mais ameno.

ZePovinho

A verdade vai aparecendo.Quem leva a academia nas costas não é quem aparece.É aquele professor dedicado,que não falta às aulas,que prepara aulas,que se dedica à pesquisa e quase nunca aparece nos cargos de direção das universidades.São os chamados "idiotas","preciosistas","dinossauros","acadêmicos demais",etc.
Uma vez eu fui em um daqueles conselhos de pós-graduação que toda universidade tem.Falei,falei e quando olhei para o lado tinha um professor da física analisando dados de pesquisas dos seus alunos.Ele quase não falou naquele conselho.Nesse dia compreendi que tem algo errado,nesse aspecto de pouca valorização dos professores śerios,rígidos.O que houve???Vemos,cada vez mais,professores como esses serem atacados por cumprirem bem suas funções.
Uma vez um indiano,professor meu,disse em sala de aula que nós lembraríamos para sempre dos professores mais rígidos e esqueceríamos daqueles que fazem o jogo que se faz nas universidades brasileiras de hoje.E ele tinha razão.Eu me lembro dos meus "piores" professores justamente porque tive de aprender de verdade para ser aprovado por eles.
O indiano era um sickh.Tinha um enorme turbante para esconder a enorme cabeleira e uma barba enorme.Dizia que nós,brasileiros,não valorizávamos a universidade pública.Na terra dele,dizia,não existia universidade pública.Ele só estudou porque era de família rica.
Enfim,temos o maior patrimônio que nossos antepassados nos deram:universidades públicas.Temos de protegê-las.Elas são a espinha dorsal do desenvolvimento do Brasil.

NELSON NISENBAUM

Onde quer que seja que o ser humano seja parte do processo, haverá a função cerebral e também a função intestinal. Apenas com muita sabedoria, experiência e bom senso nos será permitido discriminar qual foi a predominante.

Mariano S. Silva

Existe ainda outra categoria : a dos "idiotas defenestrados" ; composta por aqueles "idiotas" que resolveram enfrentar a iniquidade lutando contra. Nestes casos, nem mesmo um concurso público tem serventia…Sempre há um jeito de burlar leis que protegem os mais fracos…

    Janes Rodriguez

    Recebemos denuncias sobre professores do curso de direito da UFPR que ditavam provas para a funcionária digitar, por telefone. Que nunca cumprem horário, que estão 40 horas nos seus escritórios e tem 40 horas na universidade, com DE. E quem tem coragem de denunciar? A funcionária falou foi remanejada e quase perdeu o emprego. Relatórios de sindicãncias do curso de medicina na federal do Pará, concluia recomendando com urgencia que os professores conhecessem o projeto pedagógico da universidade e sugerindo que eles deveriam… cumprir horário. Medicos tem 20, 40 horas na universidade e estão nos seus consultórios o tempo quase todo. Aparecem para dar uma aula por semana e somem. Esses sobrecarregam os que levam o trabalho de professor de universdade pública a sério. Por isso uns se matam de trabalhar e outros se dão bem na vida… Obrigada ao Sr. K por colcoar ao sol estas infâmias. Alguém já disse que o sol é o melhor desinfetante…

    Marcia Costa

    Isso também acontece aqui na UnB. Os professores – que na maioria pertencem aos tribunais em Brasília ou são grandes advogados – mandam funcionários aplicar as provas.

    ZePovinho

    Eu fui um desses,Mariano.E como apanhei….

Pedro Luiz Paredes

Se todo o mal do mundo fosse esse!
Eu já vi coisa pior.
Quando você coloca um trabalho ruim em evidência ele corre o risco de ser apedrejado por meia dúzia de idiotas vamos dizer assim, e será, ok.
Você faz uma média e pronto, passou. Logo será esquecido.
O dia que você tiver com o c' cheio da grana todo mundo esquece e se publicar algo bom, todos aplaudem.
Cade a gravação que qualquer MP3 faz para você ter a chance de levar 1/2 duzia de boa vidas com você.
(O ser humano pode ser medido pela coragem ou falta dela)
Isso não é ser honesto é ser burro.
Eu não fui para o lado acadêmico e não me arrependo nem um pouco. Sou covarde, só que descobri que em outras coisas sou muito corajoso e caminho.
Os idiotas também são vaidosos.
Se você se considera um deles para de sonhar somente e corra atrás sem pudor.
Se a consciência vai pesar, abandone tudo pois essa não é sua praia e essas suas atitudes vão te e te fazer um ser miserável e te destruir aos poucos.
Isso quem disse foi Maquiavel.
Se ficar nesse impasse é realmente idiota.
Ou caga ou sai da moita.

Luciana Witovisk

Infelizmente, é isso mesmo. O que me deixa feliz é que pelas Universidades onde passei e na qual estou, a quantidade de "idiotas" que trabalham duro, dedicados, honestos é grande. Aí está a salvação, pois a maioria de pesquisadores e estudantes ainda sonham e fazem um trabalho de formiguinha, sem os holofotes e os arroubos megalomaníacos destes "gênios", que ocupam cadeiras sem merecimento real.
O que vejo é que os "gênios" tendem à solidão acadêmica, alta rotatividade de orientados (pois para aguenta-los é preciso compactuar com sua postura e servi-los, sempre), com isso só lhes resta a auto-promoção de sua genialidade e os projetos audaciosos e tentadores para atrair jovens escravos desavisados e iludidos com o brilho falso do "sucesso acadêmico".
É claro que a corda sempre arrebenta do lado de quem denuncia… Mas são poucos os desonestos, o efeito que causam é devastador, talvez por isso pensemos muitas vezes que "tudo está perdido, que é melhor mudar de carreira". Mas não é assim, o sistema previlegia a má conduta, pois está baseado nos alicerces errados.
Sonho com o dia em que haverá uma limpeza nas Universidades, mas isso só com uma revisão profunda de valores. Talvez a semente da mudança esteja aqui, em artigos como este que servem não só para desabafo, mas para a reunião dos "idiotas" que cansaram de se calar.
Vamos "idiotas", vamos na luta. Nada está perdido.

Márcio Carneiro

Me desculpe pegar pesado.
Mas otário é quem achava que o ambiente acadêmico era feita de pessoas ilibadas. E que todo o avanço cientifico foi feito por pessoas honestas e apenas interessados no conhecimento.

O que vc disse no outro texto, e que os comentários falaram não são a exceção, mas infelizmente, são a regra.

    Luciana Witovisk

    Caro Marcio,
    Para trabalhar em pesquisa e produzir resultados relevantes para a humanidade são necessários alguns quesitos primordiais:
    1) ser humilde: pois é a humildade que faz com que vc tenha a certeza que não "sabe tudo", é ela quem permite o diálogo que traz novas idéIas. É ela quem lhe faz estudar sem cessar.
    2) ter paciência: o trabalho é duro, precisa ser feito e re-re-feito com calma, o imediatismo não é compatível com as grandes contribuições.
    3) não ter pré-conceitos: você não pode iniciar um trabalho já sabendo onde os resultados o levarão. Deve ser aberto às idéias, estudá-las e ai sim ver como sera seu posicionamento
    4) ser sensível: não há boa pesquisa onde não há sensibilidade. É preciso sentir sim o ânimo de seus colaboradores.
    5) precisa ter boa imaginação: para vislumbrar novas alternativas, quando seus dados lhe "revelam o impossível"
    6)a hierarquia não deve ser seu norte: a noção de hierarquia deve existir apenas para fins burocráticos numa instituição. Um pesquisador precisa manter uma conversa aberta e trocar experiências com os estudantes. Só assim há aprendizado. O púlpito não traz benefícios.

    Ao meu ver, os grandes saltos para a humanidade, em sua maioria, foram sim dados por pessoas que tinham ideais.
    Os "oportunistas" da Academia, geralmente são egocêntricos, megalômanos, têm ânsia de poder, são "gênios".
    A ausência dos fatores citados acima faz comum que sejam repletos de "verdades inabaláveis", param de estudar a fundo, pois já fizeram muito isso, são imediatistas e não sobra nenhum resquício de uma relação construtiva com seus colaboradores.

    Mas repito: estes são poucos sim, senão não haveria progresso nas pesquisas.

    Pense nisso.

    joe

    Olha Luciana, desculpa mas não é assim não, infelizmente( mesmo ). A história mostra exatamente o contrário. Edson era um crápula, chegou a fazer anúncios pejorativos de seu maior concorrente, Tesla, dizendo que seu sistema de eletricidade era extremamente inseguro, usado em cadeiras elétricas. Tem tb a história do Apple x Microsoft…..
    A academia não é diferente, tem suas estrelas. Aqueles que falam no jornal, no programa das peruas, que "popularizam a ciência" desses que levam bastante aluno, sabe. ….
    "Humildade"? Onde? "Não ter pré-conceito"????
    Queria que vc tivesse certa e que competência fosse sinônimo de sucesso, ou pelo menos de reconhecimento…. Mas infelizmente não é não

    Luciana Witovisk

    Joe,
    Quando falo em humildade, me refiro aos que não tratavam com interesses industriais, bélicos… me refiro aos grandes e célebres visionários que sofreram com sua ousadia e que só foram reconhecidos no fim de suas vidas ou postumamente.
    Me lembro de Galileu que morreu por suas ideias, de Darwin que passou o diabo ate ter coragem de assumir sua postura, de Mendel que vivia para decifrar os misterios da genetica na simplicidade de sua vida, de Diana Mussa que fez muito e sem alarmes, da viva e não famosa Nanuza de Menezes lá da USP que é vista como excentrica, mas que é espetacular e amada por seus alunos… de vários vivos e não famosos que vivem sim estes valores. Acreditem, é possível e são muitos.

    joe

    Haá… são poucos esses……
    Semana passada estava revendo aquele aquele documentário do Michael Moore( Capitalismo…), não seu grande fã, mas ele tem razão em uma coisa. A sociedade está direcionando suas melhores mentes para produzir dinheiro…… Triste….
    Dr. Salk….
    http://www.youtube.com/watch?v=QHGKLbDt_2Q

    Luciana Witovisk

    Joe,
    Na pesquisa de base de muitas áreas, Biologia, Matemática, Geologia, Geografia, Física, História por ex. os idealistas "otarios" são a maioria, pois é mais dificil algo que dê $$ (tem, mas é mais raro), que seja de interesse imediato para o capitalismo.
    Já em outras áreas é só $$ mesmo. Enfim… por enquanto é isso que se tem. Continuamos na luta.

    Mário SF Alves

    Ô, Luciana! É bom ler seu arrazoado. É digno! Porém… cadê o contexto? O Joe lembrou o embate entre Tesla e Edson. Pois é… e o contexto ainda era bem outro. Mas, o que dizer da situação hoje, com o capitalismo devorando mentes, éticas e tudo o mais, desde criancinhas?
    Ou, não sendo assim, o que dizer dos ditos "alimentos" transgênicos? Seriam obra de alguma ética ou de alguma humildade? Ou, sim, da lei de patentes sobre a produção acadêmica?

    Luciana Witovisk

    Mario, eu não entrei no mérito da questão do capitalismo, embora acredite que ele influencie tudo… porque são vários os pontos e acho que é bom ir aos poucos.
    Para dissecar um pouco a sua colocação:
    1) Talvez eu seja ingênua, talvez eu esteja errada, mas só um psiquiatra ou psicólogo para me ajudar com isso: eu pessoalmente creio que não há sistema que corrompa uma mente forjada desde a infancia nos valores de honestidade, retidão, senso comunitário, etc, a menos que haja sim um transtorno de personalidade. São vários os casos históricos de pessoas que se prejudicaram muito e até morreram lutando por causas do saber e do bem comum. Exemplos não nos faltam: Mandela, Copérnico, Che, Darwin, etc…

    2) Sobre os trangenicos: as pesquisas de base eram feitas por pessoas bem intencionadas, tanto é verdade que lembro muito bem da palestra que assisti de uma geneticista séria que lutava bravamente em Brasilia contra a aprovação das ditas sementes de soja no Brasil. Os pesquisadores reuniram uma documentação sem fim, demonstrando os ainda infinitos contras da utilização desses alimentos, pois na época não haviam estudos suficientes do efeito no organismo humano, mas imaginavam-se os danos possíveis e os concretos ao meio ambiente. Infelizmente o lobby da Monsanto foi maior… Assim foi tb, com a triste revelação que tive de uma quimica das antigas que trabalhou arduamente com os edulcorantes. Ela me disse que lutou muito para alertar sobre o mal à saude dos adoçantes e que não a escutaram por causa do $$.

    E aí? Quando uma pesquisa de base é publicada, sabe-se lá quem e porque irá desenvolvê-la até os produtos finais…

    ZePovinho

    Penso assim também,Luciana.Obrigado!!

    Márcio Carneiro

    A minha década de estadia em uma universidade publica me mostrou justamente o oposto.

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