Ao lado da mulher, Samantha, David Cameron chega para pronunciamento nesta sexta-feira 24, em Londres: sua jogada para permanecer no poder levou à saída do Reino Unido da UE
O Reino Unido dá um salto no escuro
Uma banal jogada política de David Cameron tornou-se uma questão existencial para a Europa
por Antonio Luiz M. C. Costa — publicado 24/06/2016 09h28, última modificação 24/06/2016 10h39
O resultado do referendo britânico sobre a permanência (Brestay) ou saída (Brexit) do Reino Unido da União Europeia provocou choque no mundo com a vitória da campanha pela saída, que amealhou 52% dos votos (17,4 milhões contra 16,1 milhões).
Entre as vítimas iniciais do Brexit estão a libra esterlina, derrubada a seu valor mais baixo desde 1986, e o primeiro-ministro David Cameron, que anunciou sua renúncia após seis anos no poder.
A jogada não parecia tão arriscada em janeiro de 2013, quando Cameron, para contentar os eurocéticos no próprio partido, prometeu conquistar melhores condições para o país na organização e submeter a permanência a consulta até o fim de 2017, caso fosse reeleito em maio de 2015.
Cameron superestimara, porém, sua influência. Para Angela Merkel e a maioria dos líderes europeus, rever o Tratado de Lisboa estava fora de cogitação, ainda mais neste período conturbado. As votações e referendos necessários para alterá-lo teriam resultados imprevisíveis e desencadeariam crises políticas capazes de pôr a pique todo o projeto europeu.
A União Europeia podia ceder apenas medidas possíveis dentro das estruturas atuais. Mesmo para isso foi preciso pressionar a França, avessa a privilégios para Londres, e os países da Europa Oriental, contrários a restrições a imigração e remessas de seus cidadãos em território britânico.
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Em fevereiro, Cameron voltou de Bruxelas com ganhos modestos, cuja aprovação depende em boa parte do Europarlamento. Mesmo assim, marcou o plebiscito para 23 de junho, por receio de a deterioração da situação da Grécia ou dos refugiados piorar o quadro.
Ganhou força a campanha pela Brexit, apoiada por partidos nacionalistas e xenófobos como o UKIP de Nigel Farage e Neil Hamilton, por conservadores como o ex-prefeito de Londres Boris Johnson e o ministro da Justiça Michael Gove e por correntes da esquerda radical, inclusive o Partido Comunista, o SWP (trotskista) e organizações operárias indianas e bengalis.
As últimas pesquisas antes da quinta-feira 16 mostravam uma vantagem de 5% a 10%, acima da margem de erro, para a saída. Nessa data, a parlamentar Jo Cox, contrária à Brexit e conhecida pelo apoio a refugiados e imigrantes muçulmanos, foi assassinada por Tommy Mair, um xenófobo ligado a movimentos neofascistas e racistas britânicos, estadunidenses e sul-africanos.
As pesquisas voltaram a registrar empate técnico e o campo do Brexit sofreu uma baixa importante. A baronesa e ex-ministra conservadora Sayeeda Hussain Warsi, muçulmana de origem paquistanesa, rompeu com a campanha antieuropeia pelo viés xenófobo e racista.
Como ela, muitos imigrantes de ex-colônias britânicas da Ásia, África e Caribe antipatizam com a União Europeia por privilegiar os imigrantes europeus, frequentemente mais racistas que a maioria dos britânicos. A propaganda xenófoba de Farage e Johnson e o crime de Mair lhes mostra que nada podem esperar de bom do eventual rompimento.
Por outro lado, a campanha do Brestay recebeu um apoio, digamos, embaraçoso. Sam Bowman, diretor-executivo do Adam Smith Institute, lobby libertarian que arquitetou as privatizações de Margaret Thatcher e desde então assessora as reformas neoliberais britânicas, posicionou-se.
“Respeito muitos partidários do Brexit, mas nunca compartilhei de seu entusiasmo pela democracia. Quero liberdade e prosperidade e não abrirei mão disso para dar a meus estúpidos vizinhos mais poder sobre a minha vida. Na medida em que a UE restringe a democracia, é frequentemente para o bem, ao impedir governos de fazer coisas antiliberais. Há uma pequena chance de um Jeremy Corbyn (o líder trabalhista) ser eleito e sob o sistema britânico, ele teria poder basicamente. A UE limita esse poder, e isso é bom”.
Muito se escreveu sobre as peculiaridades britânicas que teriam tornado possível o Brexit, entre eles a nostalgia do Império Britânico. Thatcher e seu projeto teriam provavelmente naufragado em 1982 se a Guerra das Malvinas não lhes proporcionasse sobrevida ao reviver brevemente a fantasia imperial, ainda viva em Cameron ao se supor capaz de ditar um novo tratado a seus 27 sócios.
Entretanto, por mais que esse passado pese na memória dos idosos, na arrogância dos tabloides e na linguagem da campanha, as razões básicas do descontentamento com a UE são as mesmas de outros países. Na Grécia, Itália, França, Espanha e Suécia, a rejeição popular às políticas de Bruxelas é maior que no Reino Unido.
Algumas razões são reacionárias: sonho de retornar a um passado idealizado de grandeza nacional, racismo, egoísmo nacional ante problemas alheios e rejeição dos conceitos europeus de direitos humanos em nome da moral tradicional e de penas mais duras contra o crime.
Outras são de esquerda: em nome da “austeridade”, a UE impõe a vontade de tecnocratas não eleitos, esvazia a democracia e bloqueia reformas progressistas para atender ao interesse das finanças e da grande indústria, principalmente a alemã. Enquanto algumas correntes da esquerda ainda julgam possível reformar a organização, outras a consideram irrecuperável ou creem ser necessário um choque como a Brexit para abrir caminho a mudanças reais.
São questões pertinentes. Só os europeístas mais doutrinários negam o déficit democrático da União Europeia, o afastamento dos eleitores das decisões sobre seu destino e a camisa de força imposta às políticas sociais e econômicas por Bruxelas e pelo Banco Central Europeu. E só os liberais mais dogmáticos, como aqueles do Adam Smith Institute, não dão valor à democracia.
A proposta de romper com a UE apela tanto à direita quanto à esquerda e não é facilmente combatida com advertências sobre a possível queda do PIB ou da cotação da libra. Além de a credibilidade dos economistas ser muito duvidosa desde a crise de 2008, muitos pagariam o preço para recuperar o controle sobre o próprio destino, assim como aceitariam certa redução no padrão de vida para deixar um casamento ou um emprego tóxicos.
Entretanto, muitos se iludem quanto às consequências. À direita, a ilusão é que a ruptura eliminaria os custos e obrigações de integrar a UE sem afetar os negócios.
Isso é falso: países fora da organização, como a Noruega, precisam acatar a maioria de suas normas e contribuir financeiramente para seus programas, sem ter voto para influenciá-los. E o Reino Unido tem mais a perder que a maioria dos seus sócios, inclusive o papel central da City nas finanças europeias.
E talvez a Escócia e a Irlanda do Norte prefiram Bruxelas a Londres, como indicam os resultados: na Escócia, 62% votaram para permanecer na UE, enquanto 55,8% dos norte-irlandeses também preferiam ficar.
Imediatamente após o anúncio do resultado, o vice-primeiro ministro da Irlanda do Norte, Martin McGuinness, solicitou a realização de um referendo para reunificação com a Irlanda. Ao mesmo tempo, a primeira-ministra da Escócia, Nicola Sturgeon, anunciou que seu governo já está realizando os preparativos para realizar um novo referendo de independência – em 2014, a permanência no Reino Unido ganhou a disputa por 55,3% dos votos. “[O Brexit] é uma mudança material significativa nas circunstâncias”, disse Sturgeon.
À esquerda, a ilusão é de que a saída abriria caminho à social-democracia. No Reino Unido, que não pertence à Zona do Euro, o desmantelamento do bem-estar social é obra mais da política nacional do que das exigências de Bruxelas.
O Brexit seria uma vitória da ala mais regressista e chauvinista do Partido Conservador, unida aos xenófobos do UKIP. O resultado mais provável seria a expulsão de imigrantes, a privatização do sistema de saúde, salários ainda mais baixos e mudança das fábricas inglesas para a Malásia, em vez da Eslováquia ou Polônia.
Mais uma vez, a direita populista se apropriaria da revolta das massas para direcioná-la em favor de um setor da elite. Por outro lado, o Brestay seria interpretado como um voto de confiança nas políticas neoliberais e antidemocráticas de Bruxelas e prolongaria a sensação de paralisia e falta de alternativas.
Tratava-se de uma escolha entre a imobilidade e o imponderável, pois a ruptura pode deflagrar o crescimento incontrolável de movimentos antieuropeus como a Frente Nacional francesa, a Alternativa para a Alemanha e o italiano Movimento Cinco Estrelas, a exigência de novos referendos e a desintegração do euro e da União Europeia, com consequências imprevisíveis para a economia e o equilíbrio geopolítico de todo o mundo.
Leia também:
“A vitória do Brexit é o resultado de projetos de crise permanente, de retirada de direitos”
Comentários
FrancoAtirador
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Nesse Inevitável Processo de Desintegração da Europa,
Provocado pelo Desmantelamento da Democracia Social,
As Maiores Vítimas Foram, São e Serão os Seres Humanos.
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FrancoAtirador
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“Na preparação para o futuro, o Reino Unido não sabe para onde vai, mas rejeita continuar numa União que não vai para lado nenhum”
Francisco Louçã
Ativista do Bloco de Esquerda
Professor Universitário em Portugal
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http://www.viomundo.com.br/politica/francisco-louca-o-sonho-acabou-a-uniao-europeia-e-um-projeto-fracassado.html
http://www.viomundo.com.br/politica/a-vitoria-do-brexit-e-o-resultado-de-projetos-de-crise-permanente-de-retirada-de-direitos-das-pessoas.html
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FrancoAtirador
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É o Início do Fim
Do Que Nunca Foi
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Ou a Alemanha Cai na Real
Ou é o Fascismo no Poder.
E, após, a 3ª Guerra Mundial.
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FrancoAtirador
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http://pt.euronews.com/2016/06/24/brexit-donald-trump-acha-que-e-otimo
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FrancoAtirador
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https://twitter.com/WalidKaram/status/746270337596170240?ref_src=twsrc%5Etfw
O Brutal Assassinato da Parlamentar Inglesa do British Labour Party [1]
– que foi em Realidade um Atentado Terrorista Praticado por um Fanático
da Extrema-Direita, Ligado a Organizações Internacionais Neo-Nazistas [2] –
deu o Mote de Alerta ao que será o Futuro da Europa, Condenada, que está,
à Revogação dos Direitos Humanos Universais que é Promovida, há Décadas,
por um Cartel de Corporações Financeiras Predadoras dos Estados Europeus,
com Sede em Bruxelas, na Bélgica, porém Coordenado de Berlim e Frankfurt,
na Alemanha, e de Washington e Wall Street Manhattan-NYC, nos United States.
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[1] O Partido Trabalhista Britânico é uma Espécie de PT, à Inglesa,
que, depois de haver aderido incondicionalmente ao Neoliberalismo
implementado originalmente nos Anos 1980 por Margareth Tatcher,
tenta agora, mesmo tardiamente, se reencontrar com o Trabalhismo.
https://www.publico.pt/mundo/noticia/brexit-alimentouse-do-desencanto-nos-antigos-bastioes-labour-1736205
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[2] Agências Internacionais de Notícias reportaram que a ONG SPLC (*),
Entidade Sediada no Estado do Alabama, nos Estados Unidos da América,
informou que há Registros da Relação do Terrorista Escocês, Thomas Mair,
com o Grupo Neonazista Norte-Americano ‘National Alliance’ desde 1999.
De acordo com o Levantamento da SPLC, Mair gastou à época US$ 620,00
em Livros Encomendados da Organização Racista, incluindo Publicações
sobre como fazer Bombas e Pistolas, além de Títulos Supremacia Branca.
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Além da ONG Norte-Americana, o Jornal Inglês ‘The Telegraph’ noticiou
que o Fanático Mair, Assassino da Deputada Trabalhista Britânica Jo Cox,
era Assinante da Revista ‘SA Patriot’, Editada pelo Grupo da África do Sul,
‘White Rhino Club’, Pró-Apartheid Étnico, que descreve a Linha Editorial
como Contra o ‘Expansionismo Islâmico’ e as ‘Sociedades Multi-Culturais’.
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Parte Desse Material foi Encontrado pela Polícia na Casa Dele, em Birstall.
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(*) Southern Poverty Law Center (SPLC) é uma Organização Não Governamental (ONG)
de Advocacia Legal Sem Fins Lucrativos, com Sede nos Estados Unidos da América (EUA),
Especializada em Litígios de Interesse Público, Conhecida pela Defesa dos Direitos Civis, Individuais e Coletivos, sobretudo por Vitórias Judiciais como Representante das Vítimas
nos Processos Contra Grupos de Extrema-Direita que pregam a ‘Supremacia Branca’.
A SPLC Possui uma Base de Dados com Registro e Classificação Desses Grupos de Ódio.
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http://www.telegraph.co.uk/news/2016/06/16/jo-cox-mp-everything-we-know-so-far-about-thomas-mair
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2016/06/1782818-policia-investiga-ligacao-de-suspeito-de-matar-deputada-com-extrema-direita.shtml
http://brasil.elpais.com/brasil/2016/06/18/internacional/1466234814_707146.html
http://pt.euronews.com/2016/06/18/thomas-mair-o-acusado-do-homicidio-de-jo-cox-responde-em-tribunal-o-meu-nome-e
http://www.jb.com.br/internacional/noticias/2016/06/23/assassino-de-jo-cox-respondera-por-terrorismo
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