Janio de Freitas: A democracia não é para qualquer um, e o Brasil não tem aptidão para vivê-la

Tempo de leitura: 2 min

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17/04/2016 02h00

por Janio de Freitas, na Folha de S. Paulo

Chegamos a mais uma encruzilhada. Vem de longe a motivação mais profunda que aí nos põe: democracia não é para qualquer um, e o Brasil não tem aptidão para vivê-la. É historicamente inapto, como provam suas poucas e vãs tentativas.

A democracia exige certo refinamento. Sua difícil construção exige, para os passos iniciais que jamais completamos, algum desenvolvimento mental da minoritária camada da sociedade que detém os instrumentos de direção do todo; e, para levá-lo a resultados razoáveis, alguma qualidade moral, a que podemos até chamar de caráter, dessa camada.

A ridícula industrialização do Brasil só se iniciou de fato mais de 450 anos depois da chegada dos mal denominados colonizadores. Assim espelha bem a combinação de avareza e preguiça, mental e física, da classe que sempre preferiu, e prefere ainda, amontoar patrimônio a ter de trabalhar no possível investimento em produção, em crescimento, em inovação.

Daí os monstros de concreto que são nossas cidades, destino imobiliário dos resultados com a fácil exploração de mão de obra na lerdeza da agricultura e da pecuária, na mineração, no açúcar e no café. Depois, o máximo da modernidade, nas ações de uma Bolsa cujo número insignificante de empresas figurantes atesta a outra insignificância, a do próprio empresariado brasileiro.

Estamos na décima situação de golpe, consumado ou não, só no tempo de minha vida (e não sou o recordista nem entre os que escrevem na Folha). Apenas uma teve raízes fora da minoritária camada que dirige o todo. Foi a de 1935, quando Prestes precipitou uma quartelada desastrosa, que levou ao retorno absoluto do velho poder. Na décima, já seria para ter me acostumado. Nem de longe.

É no mínimo indecente que um processo de impeachment seja conduzido por quem e como é conduzido, já desde o seu primeiro ato como chantagem e vingança.

É no mínimo indecente o conluio, com a indecência anterior, do partido que representa a cúpula social e econômica do país e, sobretudo, de São Paulo.

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É no mínimo indecente que, “ao se propor o impeachment sem cumprir os requisitos constitucionais de mérito” – palavras “em defesa da democracia” dos reitores das universidades federais–, se falsifique como crime uma prática contábil também de presidentes anteriores. E nunca reprovada. Por isso mesmo posta, desta vez, sob o apelido pejorativo de “pedaladas”, para ninguém entender.

É tão legítima a operação do pretendido impeachment que têm sido de madrugada as reuniões em que o presidente da Câmara, na sua casa, articula tanto para derrubar a presidente como para salvá-lo no Conselho de Ética.

A votação da Câmara logo mais ainda não é decisiva, se vitorioso o impeachment. Mas, até onde se percebe, deverá ser suficiente para dar início a preliminares de fermentação social que o governo seguinte, com o que pretende, só fará agravar. Até onde é a nova incógnita brasileira. O que, aliás, nem está questionado pela minoritária camada que dirige o todo. O que busca é esse domínio livre de divisão e contestação, exercido com os seus políticos de mãos falsamente limpas.

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Comentários

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Carioca de Santa Catarina

Caro Jânio
Já tenho 45 anos e apesar da idade, por vezes ainda acho que preciso de palavras de conforto, principalmente em situações como essa, palavras essas vindas de quem tem mais vivência e com mais informação sobre as estruturas (podres ou não) do poder. Talvez este papel de liderança deveria ser feito pela própria Dilma, a quem confiei meu voto, mas bem sabemos que não é do estilo dela.
Neste momento enxergo você como uma dessas pessoas que poderia me consolar com algumas palavras, mas se nem você o faz, e eu ao contrário de achar que tudo está perdido, fico com uma frase de Lula que disse certa vez: “Quando a mudança vem pelo voto, ela é mais lenta.” Quero em minha velhice, poder ser mais otimista do que você, mas otimista sobre conquistas e não apenas sobre sonhos.
Abraço!

FrancoAtirador

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“Democracia não é para qualquer um,
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e o [Empresariado do] Brasil
[aí incluídos os Empresários de Mídia]
não tem aptidão para vivê-la.
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É historicamente inapto”
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É Verdade, Prezado Jornalista
da Folha Paulista dos Frias.
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