O cargueiro e as hidrelétricas
Por Mauro Santayana, 08.04.2016
O céu era “de brigadeiro”.
Mas, para a maior parte da mídia passou em brancas nuvens a apresentação do novo cargueiro militar KC-390 da EMBRAER à Presidente da República, ao Ministro da Defesa, Aldo Rebelo, e ao Ministro da Aeronaútica, Nivaldo Luiz Rossato, após viagem de Gavião Peixoto à Capital Federal, nesta semana, na Base Aérea de Brasília.
E, no entanto, tratava-se apenas da maior aeronave já construída no Brasil, com capacidade de transporte de blindados, de brigadas de paraquedistas, de operar como avião-tanque para reabastecimento aéreo de caças, ou como unidade de salvamento, em um projeto que custou 7 bilhões de reais, em grande parte financiado pelo Governo Federal, que teve também participação minoritária de outros países, como Portugal, Argentina e a República Tcheca, destinada a substituir, no mercado internacional, nada menos que o Hércules C-130 norte-americano.
A mesma indiferença, para não dizer, desprezo, ou deliberada desinformação, ocorreu com o início do processo de geração da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, a terceira maior do mundo, com capacidade de 11.000 megawatts, na semana passada.
Ou com a hidrelétrica de Santo Antônio, situada no Rio Madeira, em Rondônia, a quarta maior do país, que colocou em operação sua 39ª turbina geradora há alguns dias.
Como sempre se dá com os grandes projetos erguidos nos últimos 13 anos neste país – e põe obra nisso – escolheu-se dar atenção, prioridade e divulgação preferencial a aspectos negativos, discutíveis e polêmicos como eventuais “estouros” de orçamento, atrasos ou suspeita de corrupção, do que às próprias obras.
Projetos que, depois de prontos, passarão a pertencer, inexoravelmente, ao patrimônio nacional e ao domínio do concreto, da realidade – e que, querendo ou não seus detratores – continuarão, agora e no futuro, beneficiando o país com mais empregos, mais energia, melhora no nível tecnológico de nossa indústria bélica e aeroespacial e da capacidade de defesa da Nação.
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Bom mesmo, para essa gente, deve ter sido o governo do Sr. Fernando Henrique Cardoso, que, segundo o Banco Mundial, conseguiu encolher o PIB e a renda per capita do Brasil em dólares nos oito anos em que permaneceu à frente do Palácio do Planalto, aumentou a carga tributária em vários pontos percentuais e duplicou a relação dívida líquida-PIB, além de deixar uma dívida de dezenas de bilhões de dólares o FMI, sendo obrigado a racionar energia por falta de investimentos na geração de eletricidade — além de deixar que desaparecessem empresas como a ENGESA, sem forjar um simples parafuso para as forças armadas.
Naquele tempo não se discutia a suspeita de irregularidades na construção de usinas, refinarias, plataformas de petróleo, gigantescos sistemas de irrigação e saneamento, ferrovias, tanques, submarinos – até mesmo atômicos – usinas nucleares, estádios, aviões, mísseis, porque não se fazia quase nada disso em nosso país, e, quando havia encomendas, poucas, eram para o exterior, e não para aqui dentro.
Aludia-se, sim – muito timidamente com relação ao que se faz hoje – à possibilidade da existência de irregularidades na compra da emenda da reeleição no Congresso; e na sabotagem, esquartejamento, destruição, por exemplo, de grandes empresas nacionais, algumas delas centenárias, a maioria estratégicas, para sua entrega, a preço de banana, para estrangeiros, com financiamento farto, subsidiado, do BNDES.
Lembrando George Orwell — em seu inesquecível e cada vez mais atual “1984” — o Ministério da Verdade, ou Miniver, em “novilíngua” — formado pela parte mais seletiva, parcial, ideologicamente engajada e entreguista da mídia brasileira — pode fazer o que quiser -– um diário chegou a trocar a foto de Dilma na cabine do KC-390, por outra, menos “favorável”, em pleno processo de impressão da tiragem do dia seguinte ao fato — que não se conseguirá derrubar obras como Belo Monte, Telles Pires, Santo Antônio, ou Jirau, ou o novo trecho da ferrovia norte-sul, que já leva soja de Anápolis ao Porto de Itaqui, no Maranhão, ou paralisar – com a desculpa de que vão dar ou deram prejuízo (prejuízo contábil, virtual, não interessa, afinal, dinheiro se necessário, como fazem os EUA, se fabrica), como se não bastassem o 1 trilhão e 500 bilhões de reais em reservas internacionais que o Brasil possui – a construção da Transposição do São Francisco ou a expansão da refinaria Abreu e Lima, que já está processando, em sua primeira fase, cerca de 100.000 barris de petróleo por dia.
As obras e as armas construídas, para o Brasil, como os fuzis de assalto IA-2, ou os radares SABER, ou o Sistema Astros 2020 – até mesmo porque as Forças Armadas não vão permitir que esses programas venham a ser destruídos e sucateados — vão ficar, por mais que muitos queiram que elas desapareçam em pleno ar, em uma nuvem de fumaça ou nunca venham a ser vistos em um livro de história.
Et latrare canes caravanis transit – ouviu, certa vez um romano, em um ponto qualquer da rota da seda, entre as dunas do deserto do Saara.
O calendário da pátria não se mede com o ponteiro fugaz das vaidades humanas.
O que importa para o Brasil é o que fica.
No futuro, o povo saberá datar essas conquistas — separando o joio do trigo — no tempo e nas circunstâncias.
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Comentários
Carlos Hornstein
O governo pedalou R$1,4 bilhões do projeto que está com 18 meses de atraso. A Embraer bancou de seu próprio o investimento da FAB. Agora querem ganhar pontos em cima do avião.
Sergio L
Ignorância de doer…
Sem os Governos do PT este projeto nem existiria, pois foram eles que deram o OK…
E a Embraer nem teria desenvolvido este avião, um projeto das Forças Armadas que, como já disse, teve a aprovação e liberação de verbas através de Lula e Dilma…
Quem se beneficiou deste belo projeto foi a Embraer
O Governo Federal colhe os frutos de sua própria ousadia, coxinha!
A propósito, me cite apenas uma única coisa que fhc construiu em seus 8 anos de desgoverno! Estou esperando…..
O Mar da Silva
Esperar que a Globo faça propaganda do Brasil que dá certo é o mesmo que esperar a volta do Messias ou esperar o saci pererê.
Dilma deveria entrar em rede nacional sempre que fatos relevantes como os apontados pelo Mauro acontecesse. tivesse feito isso não haveria tanta mentira em pé no brasil.
Mas não, Dilma tem preferido… fazer propaganda do Banco do Brasil, da CEF, do BNDES, dos Correios na Globo, por exemplo.
Não fossem os blogs e seus colaboradores, eu jamis saberia um quinto do que seu hoje sobre Brasil e o mundo.
Por isso agradeço ao Vi o mundo, o tijolaço, O Cafezinho, o DCM, O Conversa Afiada e tantos outros.
Sérgio
Por que a mídia oficial não divulga essas notícias, como a do KC-390, por exemplo? Para essa pergunta não precisamos da resposta. A outra pergunta é: Por que o governo não as divulga? Para essa, não sei a resposta.
Urbano
No estatuto dos bandidos da oposição ao Brasil, esquecer o Brasil em termos de qualquer benefício é o artigo capital a ser levado em conta corrente.
Urbano
A propósito… Os bandidos da oposição ao Brasil vão melar as Olimpíadas muito mais do que a Copa; e de novo com a massa marrom de suas cabeças. É bom lembrar que o placar de sete a zero foi encomenda dos mesmos ao seu departamento para o assunto. Tanto que se apresentaram em massa para festejar logo no início… Para engalanar o evento é que não foi, até porque não são talhados moralmente para isso.
FrancoAtirador
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“Você não póde compreender a Crise no Brasil
sem o Entendimento do Papel da Mídia Dominante,
de Propriedade de 2-3 Famílias Plutocráticas,
Todas Unidas na Propaganda”
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Glenn Greenwald
Jornalista Britânico
The Guardian
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(https://twitter.com/ggreenwald/status/719148257969074176)
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