Adriano Diogo e Joana Monteleone: Globo faz no Golpe contra Dilma o papel que foi do Ipês em 64
Tempo de leitura: 3 minPela segunda vez na vida, Dilma Rousseff enfrenta a sanha dos golpistas. A primeira foi na ditadura militar, quando ficou presa por três anos
A história e o ensaio geral do golpe
Adriano Diogo e Joana Monteleone
Nos anos que antecederam o golpe militar, foi criado um instituto para coordenar a relação entre civis e militares. Chamava-se Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais — Ipês. Dentre os seus diversos atributos estava a coordenação da mídia, que ficava a cargo do escritor Rubem Fonseca.
Fonseca ainda não era um autor publicado (viria a ser pelas edições GRD, que recebia polpudas verbas de um programa da inteligência norte-americano). Não passava de um executivo da Light destacado para atuar no Ipês.
O Ipês fazia filmes de propaganda anticomunista e peças publicitárias, que eram espalhados pelo país e exibidos nos cinemas. Também pagava anúncios em jornais e rádios. Espalhava panfletos de mão em mão, também, dizendo que o diabo era vermelho e que Jango era seu profeta brasileiro.
Mas não era só isso. O instituto contratava agências de publicidade para pautar jornais, revistas, programas de televisão e rádio, que martelavam dia e noite notícias contra o governo legitimamente eleito.
O Ipês era financiado por industriais da Fiesp, mas também por agências norte-americanas, mais ou menos sigilosamente. Ou seja, todo mundo sabia, mas nunca era fácil de provar.
Uma agência de publicidade contratada pelo grupo, e isso é menos conhecido, chamava-se CommonWealth, e tinha a sede na Park Avenue, em Nova York.
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Todo mês a pauta contra o governo mudava – uma hora era contra as reformas de base, outra pedindo mudanças trabalhistas para facilitar a vida dos patrões, depois atacavam as ligas camponesas, e quando não tinha outro assunto, apelava para denúncias, muitas inventadas, de “corrupção”, mas só dos governo do Jango. O que a direita fazia, no Rio, com Carlos Lacerda, ou em São Paulo, com Ademar de Barros, por exemplo, não era nunca considerado grave.
Como era uma agência de publicidade que pautava os jornalistas, todo mês o instituto recebia um relatório de mídia, com informações sobre quantas matérias tinham saído, quantas entrevistas haviam sido dadas, como estava o clima “contra o governo”, como haviam sido as conversas com os proprietários de jornal. E, para dar molho à história, os acontecimentos de março de 1964 foram apelidados de “Projeto B”. O golpe no Brasil de 1964 tinha até apelido.
O Ipês e outro instituto chamado Ibad montaram uma enorme bancada no Congresso, financiando candidaturas de políticos conservadores para a eleição de 1962. A CPI do Ibad, ainda antes de 1964, investigou o caso e incomodou muita gente. Nela se destacou o deputado federal paulista Rubens Paiva, que seria preso e morto (seu corpo até hoje está desaparecido) pela ditadura militar.
O objetivo do Ipês-Ibad era claro: desarticular a sustentação político-parlamentar de Jango. Trabalhava como emissário ipesiano um poderoso banqueiro carioca, Jorge Oscar de Mello Flores, diretor da Sul-América Seguros, responsável por operacionalizar no coração do Poder Legislativo o pesado lobby do instituto, cujo financiamento era sustentado por doações de grandes empresas brasileiras e multinacionais aqui instaladas.
A principal função de Mello Flores era coordenar uma rede suprapartidária de parlamentares arregimentados pelo Ipês, para barrar os projetos do governo no Congresso e por em xeque, permanentemente, a capacidade de Jango de governar. Dessa forma, Jango se veria cada vez mais isolado na cena política nacional, criando um clima de instabilidade que o levaria a radicalizar o discurso e a ação.
A preocupação com a mídia era uma constante nas reuniões dos diretores do instituto. Tanto para saber como iam os deputados “aliados”, como para medir o nível de pressão política exercida em Jango e como a sociedade se comportava. A agência de publicidade também marcava reuniões para arrecadação de fundos para se pagar o golpe – era preciso pagar viagens, telefonemas, deputados, filmes, peças de publicidade.
Há alguns institutos parecidos com o Ipês atuando por aí. Organizam eventos, promovem debates, reúnem barões do empresariado e da mídia. Mas eles não são nada perto do que foi o Ipês.
E por que não há um grande Ipês? Por que não é preciso mais pagar um instituto autônomo para fazer a coordenação de mídia do golpe. Existe um grande grupo de mídia, que envolve TV aberta, TV a cabo, rede de rádio, internet, editoras de livros, de revistas, sociedades explícitas e sociedades secretas, etc. etc. etc.
Hoje, o Ipês é a Globo.
Ouça e veja também:
Tico Santa Cruz e Flávio Renegado contra o golpe: “Se a senzala descer, ninguém vai segurar…”
Com Chico César e vários outros artistas, a Música pela Democracia pra todo mundo cantar junto
Comentários
Urbano
A índole da leva de atistas só permite fazer papel sujo…
Luiza
Pois é……e com todo esse passado de golpe e sua logística nacional e internacional, como pode o PT negligenciar tudo isso e não ter detectado que o que estava acontecendo no país seguia exatamente o mesmo programa do passado??
As forças foram se arregimentando com um engajamento explícito envolvendo todos os principais orgãos de comunicação, institutos como Millenium, Universidade Independente online e outros afins, além da a pf, mpf, judiciário federal[por que não o próprio stf?] e uma operação messiânica sob o mesmo pretexto/slogan do passado – o “combate à corrupção” – e inclusive, utilizando-se do mesmo modus operandi – a seletividade e objetivos claros em relação aos seus alvos.
Passado pouco tempo desde a reeleição nós da internet já havíamos identificado que tratava-se de um escalada de golpe, mas o autismo e o republicanismo tosco do governo, do PT e da própria Dilma acabou contribuindo para o sucesso de toda a operação.
O cargo de Presidente da República é cargo político e, devido à essa natureza, exige necessariamente a qualidade do “perfil político” do seu ocupante. Não basta ser uma exímia e honesta executiva ou gerentona, é muito mais que isso. Esta aí a diferença entre o Gestor e o Chefe de Estado ou o estadista propriamente dito – o ambiente do gestor desenvolve-se no âmbito empresarial, já o do estadista da-se no ambiente político.
Dilma nunca teve o perfil político que o cargo de presidente exigia. Foi Por falta de opção e para dar continuidade nas políticas públicas voltadas aos programas sociais é que votamos nela. Infelizmente pressões geopolíticas, empresariais internas e, principalmente externas, se aproveitaram das fraquezas do momento econômico global desfavorável e das fraquezas da Dilma para promover um golpecontra o seu governo e contra os interesses brasileiros.
Triste é que sem a colaboração e o apoio dos próprios brasileiros essas forças jamais conseguiriam exito.
País rico com tamanhas fragilidades políticas e sociais é presa fácil para vitimar por golpe, basta sair comprando geral a consciência dos maus brasileiros em vários segmentos e utilizar a massa despolitizada da população em seu favor.
O Brasil não vai acabar depois do golpe, claro que não. Mas vai voltar a ser um país de miseráveis com muitos voltando para a condição de extrema pobreza, e, somado à isso, a falta de perspectivas e piora significativa de direitos sociais e qualidade de vida da maioria do povo, o que inclui essa classe média que está aí gritando “pega ladrão”, fará com que muitos caiam num completo desânimo em relação ao futuro e vejam no aeroporto internacional uma saída viável para a sua desilusão.
É difícil crer, mas temo que dessa vez a situação ficará pior do que nos tempos do FHC. Quem não viveu aqueles tempos terríveis terá a chance de saber como é viver sob um governo sem identidade nacional.
Pobre Brasil..
Densus
Foi exatamente tudo isso o que aconteceu e tudo isso o que acontecerá. O PT acabou, negligenciando a história deste País; não construiu uma educação libertadora para o povo nem desconstruindo os instrumentos de propaganda que trabalham, há décadas, no sentido de destruir a soberania do povo. Um povo “educado” secularmente para ser passivo contra os estupros da casa grande contra si e só querendo ser feliz na senzala em que nasceu.
Dilbert
Olá Luiza, deixando de lado o governo Dilma – como se isso fosse possível, o que mais me dói é ver que aqueles que estão a favor do golpe não possuem argumentos, eles normalmente são violentos, seja em palavras, seja fisicamente.
Não vi registro de que Cunha, Temer e seus aliados tenham sido importunados em hospitais, restaurantes, aeroportos, em sua casas, etc. Seus filhos não foram importunados, nem seus pais.
Do lado de lá vejo Frota, Lobão, Suzana Vieira e similares.
Do lado de cá vejo Veríssimo, Chico Buarque, Beth Carvalho e similares.
A lei está do nosso lado, ainda que questionável, não se ouve argumentos sólidos e técnicos, ouvimos uma mistura que fatalmente termina em … contra tudo isso que está aí.
A justiça importuna e investiga Lula desde 88, e até hoje não encontrou nada.
Panamá Papers, HSBC, Suíca, nada contra Lula ou Dilma.
Do lado de lá a grande maioria está envolvida.
E por tudo isso que digo, nós do lado de cá fomos enormemente incompetentes em não conseguir convencer o outro lado com tantos argumentos.
Sei que o capital está do lado de lá e isso é uma força imensa.
Mas ainda assim me considero fracassado e reparto esse fracasso com todos do lado de cá.
Independente do resultado de domingo, precisamos achar uma forma de lutar contra isso de forma produtiva.
Eu não encontrei, se alguém tiver sugestões, por favor, vamos conversar.
Saudações democráticas a todos.
Sidnei Brito
Livro que estava até pelo menos poucos dias atrás esgotado, encontrável só em sebos a preço altíssimo, e que é muito bom para entender essa história é “1964, a conquista do Estado – ação política, poder e golpe de classe”, de René Armand Dreifuss. Vale muito a pena.
FrancoAtirador
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DEP CAETANO MATA A COBRA
E MOSTRA O PAU PRO CUNHA
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(https://youtu.be/pkb8sa0azw8?t=507)
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FrancoAtirador
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No pronunciamento do resultado do julgamento,
o ministro Ricardo Lewandowski ressaltou
que “constará na ata do julgamento que o STF
entendeu que o plenário da Câmara dos Deputados,
ao analisar a denúncia contra a presidente,
deverá apreciar apenas os dois pontos da denúncia original
que foram admitidos pelo presidente da Câmara”
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O Resto é Balela do BBB no Reality Show Montado pela Globo
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em Parceria com Cunha, Temer, Gilmar, Serra, Aécio, Alckmin,
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FHC, Maluf, Paulinho da Força e demais Corruptos Demoníacos.
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Sidnei Brito
Caro Franco, não sei se você conhece o filme “Anatomia de um crime”?
No filme, há daquelas cenas de tribunal. O advogado faz uma pergunta para a testemunha e o promotor protesta. O juiz acolhe o protesto e manda o júri, em sua decisão, desconsiderar o que foi perguntado.
O réu pergunta para o advogado: “como que o júri pode desconsiderar algo que ele ouviu?”. Ao que responde, matreiramente, o advogado: “não pode”!
Dilbert
Bom dia.
Parabéns pelos seus comentários e informações.
Gostaria que vc respondesse o que na prática isso significa?
Entendo que essa recomendação não é gratuita, mas não consegui alcançar o que pode gerar de benefício para o governo.
Saudações democráticas.
FrancoAtirador
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Futuramente o Processo póde ser Anulado no STF.
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