Maria Inês Nassif: Corte da OEA fez o que o STF deixou de fazer

Tempo de leitura: 3 min

16/12/2010

por Maria Inês Nassif, em Valor Econômico

Fatalmente isso iria acontecer: a Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) condenou o Brasil pelo desaparecimento de 62 militantes do PCdoB, durante a repressão à Guerrilha do Araguaia, entre 1972 e 1974. A decisão da Corte faz o que o Supremo Tribunal Federal (STF) não fez, em abril, quando teve oportunidade: reconheceu que os crimes dos agentes de Estado não são políticos, mas contra a humanidade.

A Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que questionava a anistia a representantes do Estado acusados de torturar e matar opositores políticos durante o regime militar (1964-1985), foi derrubada, no final de abril, por sete votos a dois.

Prevaleceu a opinião do relator da matéria, ministro Eros Grau, de que não cabia ao Judiciário rever um “acordo político” que teria resultado no perdão para “crimes políticos” e “conexos”. Os fatos históricos não convalidam a tese de “acordo político”, e sequer a de “crime político”.

Da mesma forma, é possível contestar os argumentos do presidente do Supremo, Cezar Peluso, que falou em “generosidade”, no “princípio da igualdade” e da “legitimidade” das partes que fizeram o suposto acordo. O princípio da igualdade é altamente duvidoso: a própria OAB apresentou ao STF o caso de 495 integrantes da FAB que não foram beneficiados pela anistia. Da “legitimidade” mais ainda, pois quem impôs a lei foi o último governo militar, que tinha o poder das armas e uma bancada governista manietada. Aliás, aprovou a lei com os votos de uma maioria obtida artificialmente nas urnas, graças a mudanças na legislação eleitoral e partidária impostas seguidamente pelo regime, à medida em que a oposição ameaçava sua hegemonia no Legislativo.

Com sua decisão, o STF legitimou a anistia à tortura, considerada crime hediondo pela Constituição de 1988 – portanto imprescritível e inafiançável – , mesmo sabendo que os familiares dos desaparecidos na Guerrilha do Araguaia demandavam a condenação do país por esses crimes na Corte Interamericana de Direitos Humanos. Anteriormente, a Corte havia anulado as auto-anistias dos regimes autoritários do Peru, da Argentina e do Chile. Era inevitável que fizesse o mesmo com o Brasil, na primeira ação relativa à ditadura militar no país julgada no âmbito da OEA. O risco de que uma decisão dessas do STF resultasse num constrangimento diplomático era evidente. O Brasil, afinal, é signatário da Convenção Americana de Direitos Humanos.

Judiciário faz parte do Estado que deve cumprir Convenção

O presidente do Supremo, ministro Cezar Peluso, disse ontem que a decisão da Corte não obriga o Supremo a rever o seu julgamento. Se não havia a intenção do Estado de cumprir um acordo internacional — e o Judiciário faz parte do Estado –, não existiriam razões para que assinasse a Convenção. Peluso jogou a responsabilidade para outras instâncias: nada impede ao Executivo indenizar ex-presos políticos e familiares de mortos e desaparecidos, como tem feito; também é possível resgatar o passado. De resto, a decisão da Corte é só “sinalização”. Não interfere na decisão do STF.

O resgate histórico desse período negro, que é a bandeira de instituições comprometidas com os direitos humanos e familiares de mortos e desaparecidos do regime militar, não é uma questão pessoal. Essa reivindicação tem sido tratada como uma vingança dos opositores da ditadura, contrária à “generosidade” expressa por uma lei de anistia ampla. Não foi por falta de generosidade que países vizinhos abandonaram leis que anistiavam agentes de Estado que torturaram e mataram. Foi pela convicção —  expressa pela Corte Interamericana — de que a democracia no continente apenas se consolidará se houver um acerto com o passado. É preciso, no mínimo, consolidar a cultura de que o passado não é um exemplo a ser seguido.

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O aparelho policial e militar foi altamente prejudicado pela presença de agentes que se acostumaram a viver à sombra e acima da lei. Quando se fala em abuso policial e do poder das milícias nas favelas do Rio, por exemplo, ninguém se lembra que a origem dessa autonomia policial diante das leis e perante o resto da sociedade remonta ao período em que o aparelho de repressão tinha licença para sequestrar, matar e torturar sem se obrigar sequer a um registro policial. E que a manutenção da tortura como instrumento de investigação policial existe, atinge barbaramente os setores mais vulneráveis da população e continua não sendo punido. A anistia a agentes do Estado tem se estendido, sem parcimônia, até os dias de hoje.

Maria Inês Nassif é repórter especial de Política. Escreve às quintas-feiras

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Comentários

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richard pereira

Este BLA BLA BLÁ vai terminar , a asneira que o STF fez , a arrogância do ministro JOBIN , e de todo o PIG tem seus dias contados, a partir da escolha da PRESIDENTA DILMA ROUSSEFF , de por na secretaria dos DIREITOS HUMANOS a ex deputada MARIA DO ROSARIO , oriunda do PC do B do estado do RIO GRANDE DO SUl e a conhecendo bem , posso assegurar os torturadores que viagem , desapareçam pois se ficarem no BRASIL terminarão seus podres dias na cadeia queE onde deveriam estar desde os anos 70

O STF com excessão de raros minsitros, é disparadamente o pior de todos e está completamente desmoralizado desde que a república .brasilera foi instaurada.o sr, JOBIN é oriundo de família tradicional de DIREITA para não dizer que neste caso de extrema direita. e por certo quando sua opinião desastrada protegendo os assassinos torturadores, espero terá a dignidade de demitir-se do ministério da PRES. DILMA., QUANDO ESTA IMPUNIDADE ACABAR.

richard pereira

Moacir

Azenha e amigos:

Já dei minha opinião – neste caso, divergente da dos demais comentaristas – à respeito da decisão do STF quando estava em julgamento. Penso ser acertada a decisão de não rever a Lei da Anistia. O passado já passou. Quem deu a vida pela liberdade de todos nós ocupa hoje o justo papel de herói – não obstante tenha gente "contra" a luta armada hoje – enquanto que os torturadores vivem no mais profundo e escuro ostracismo, escondidos, com uma mancha na própria história tão profunda que não se acabará nunca. A história já os puniu com o esquecimento. Os que estavam do lado certo daquela luta estão hoje no poder, enquanto os torturadores estão Logo, punir a estes fantasmas nesta altura do campeonato somente os trará de volta à luz, lugar que não lhes pertence.

Jbmartins

Uma vergonha nosso STF não conhece as leis, vão ter que engolir OEA, é por isto que aquela moça fica de olhos vendados o tempo todo, para não ver as merdas que estes Ministros da Justiça fazem.

rocmatos

A OEA é um instrumento de coerção do EUA e atende somente o que é de interesse do império. Assim, julgar os militares, nesse momento, poderia desestabilizar o governo. A nossa democracia ainda é frágil e devemos ficar atentos para que não ocorra nenhum retrocesso.

    Julio Silveira

    Quero crer que as FAs não sejam repositório de tiranos e assassinos. Quero acreditar também que apenas alguns não mereceram representar as fardas que usaram em nome da patria, ou que as honraram numa visão que nada mais foi que desvio de conduta.
    A Patria ai citada não como é apenas território, é muito maior, somos nós cidadãos.
    Se acreditarmos que as FAs, não espelham nossos interesses, que se compõem num grupo com visão particular de Patria e interesses, sem espaço para a resignação e a fé democratica, isto poderá significar que sempre estaremos refens de qualquer ato de insanidade inconstitucional e viveremos sob eterna chantagem e sem a capacidade de maturidade democratica. Por isso sempre, em qualquer situação, em qualquer tempo, a lei tem que atingir a todos que infringirem-na, sem acobertamentos, sob pena de nunca sermos um País justo.

SérgioFerraz

Os STF demonstrou fraqueza ao não exercer seu papel e responsabilizar os torturadores.
O Brasil não precisava passar por este vexame internacional.
Reforma do Judiciário, já!

Evaristo

Não há juiz em Brasília? Os militares brasileiros precisam prestar contas à sociedade brasileira sobre o que fizeram durante a ditadura. Do contrário eles o farão novamente, a turma desse ano da Academia Militar das Agulhas Negras teve como paraninfo Médici, justamente o general que governou no período mais sangrento da história brasileira.

    Cesar Ferreira

    Só os militares?
    E a parte da sociedade que promoveu o regime (políticos, industriais, donos de midia, etc) ficam impunes nessa?
    Justiça é para todos ou só para os bodes???

João

Será que a OEA pode colocar o Daniel Dantas de novo na cadeia?
http://www1.folha.uol.com.br/poder/846843-apos-um

Claudio Ribeiro

"Há elementos em curso para que o Brasil produza um resultado que assegure no plano de Direitos Humanos o direito à verdade e memória…" Maria do Rosário
http://palavras-diversas.blogspot.com/2010/12/dif

A dificil missão de Rosário.

Armando do Prado

Lamentável que continuemos na época das trevas em termos de direitos humanos. Os fascistas e canalhas mais uma vez venceram. Uma vergonha.

Julio Silveira

Os Juizes do supremo tem um fraco por fardas, O johnbien na primeira oportunidade depois que deixou a corte vestiu uma.
Alias supremo que tem juiz que altera a constituição, colocando algo lá por conta própria, na calada, e depois lança aos quatro ventos o feito por vaidade, o que dizer?
A constituição para essa gente não é a lei mater e apenas instrumento de trabalho, por isso tudo bem reescrevê-la, rasga-la, reinventá-la, nada de demais.

dukrai

O STF não legitimou a anistia à tortura, apenas legalizou a impunidade de crimes hediondos cometidos pela ditadura militar de 64.
Quando a autora fala "É preciso, no mínimo, consolidar a cultura de que o passado não é um exemplo a ser seguido.", isto significa mudar a cultura militar e a sua formação colonizada feita nos moldes do combate à "subversão" herdada da guerra fria e que levou a turma de aspirantes de 2010 da Academia Militar das Agulhas Negras a escolher o general carrasco azul médici como patrono.
Belo exemplo dos soldadinhos.

Luci

A anistia a torturadores e a impunidade aos ricos demonstra que chegará o dia que o Brasil será redescoberto, com justiça igual para todos e o fim da impunidade e uma Côrte especial para ricos, que não ouve as ruas. Ministros ouçam as vozes da rua. Uma Côrte de Justiça tem que ser forte, soberana, eficiente respeitada e tudos isto quem confere é o soberano povo. A Côrte é da própria Côrte porque o povo em sua maioria não sabe sequer o que é o STF. Salve o povo brasileiro. Justiça para quem precisa de Justiça.

    El Cid

    A situação da corte suprema brasileira deixou uma severa mácula nos seus anais e principalmente um péssimo exemplo a OEA.

    Luci

    El Cid concordo com voce. Uma Côrte que ficou parada no tempo e não está globalizada, e não é exemplo para o mundo.

Rafael

Impressionante, daqui um tempo políticos vão ganhar mais que jogador de futebol.

Rafael

O stf tem essa postura conservadora porque é composto por "amigos" do ditadores daquela época. Pelo que vejo folha e outros meios de comunicação tem claramente a intenção de mudar a história da ditadura, como a reportagem na qual a folha diz que no período da ditadura que houve redução da pobreza e no caso da ditabranda. Temos que ter muita atenção senão as próximas gerações não vão ter idéia do que foi ditadura.

F.Silva

DEPUTADOS E SENADORES SÃO DIFERENTES PERANTE A LEI?
A votação que aprovou o aumento de salário para a nobreza politica brasileira confirma que deputados e senadores fazem parte de uma casta acima de qualquer suspeita e que são diferentes perante a Constituição.

O dinheiro que aumenta seus proventos a um nível elevadíssimo de 61,8% de onde virá?do Pré-Sal?Não provocará um rombo nos cofres do Tesouro Nacional como é o caso da desculpa quando do aumento dos APOSENTADOS e do funcionalismo em geral?

As entidades de classe como a CUT,FORÇA SINDICAL,CGT,APEOESP,a imprensa golpista e o povo brasileiro deveriam ir para as ruas e promover uma grande manifestação de protesto contra esse abuso no uso do dinheiro do povo.

Tudo acontece,a imprensa noticia e ninguém faz nada contra os "diferentes perante a lei".

NÓS CONTINUAMOS COM CARA DE PALHAÇOS!

A Farra é deles e a conta é nossa!

Que país é este?

Luci

E o salário deles um tantão assim. A arrogância um tantão assim. A capacidade de fazer justiça um tiquinho assim. Quem esta Côrte representa o povo pelas suas decisões entendemos que não é.
Sem Justiça não há democracia. Salve o povo brasileiro. Justiça para quem precisa de Justiça.

Ronaldo Luiz

Não se deve permitir que nenhum estrangeiro sugira ou interfira no que nós brasileiros temos que fazer. Isso é um caminho sem volta. No ínicio é ajuda, conselho, depois vira obrigação, dependência.
O Tenente Mena Barreto, encarregado pelo comando farroupilha de organizar as tropas farrapas nos pampas, recebeu uma delegação de argentinos para oferecer-lhe tropas 'hermanas' contra a coroa brasileira. Resposta de Mena Barreto: "Digam ao seu chefe que o primeiro argetino que cruzar a fronteira, irá fornecer seu sangue para que os farrapos assinem sua rendição à coroa". Assim que deve ser: O problema é nosso; NÓS é que temos que resolver.

    P Pereira

    “O Brasil aceita a jurisdição internacional do TPI. Portanto, está sujeito à sua jurisdição. O mesmo acontece com a Corte Interamericana de Direitos Humanos.

    E a jurisdição internacional, ocorrida a aceitação pelo estado, prevalece sobre a nacional. É hierarquicamente superior. (…)

    No caso de conflito entre a decisão nacional e a de Corte internacional competente, prevalecerá a internacional: o STF recentemente entendeu legítima a Lei de Anistia de 1979 (uma autoanistia preparada e imposta pelo ilegítimo governo militar). A Corte Interamericana, com relação ao Araguaia, entende diversamente. Assim, prevalece a decisão da Corte Interamericana.” (Walter Fanganiello Maierovitch, em 16 de dezembro de 2010)

Nelson Menezes

Os Juizes da suprema corte podiam muito bem não terem passado por este carão,estão sendo reprendido pela sociedade igual crianças por não terem feito a lição de casa.

    El Cid

    O duro foi esta pronúncia da corte internacional sobre os arranjos na lei que favoreceu os torturadores do Brasil. Ainda acredito que este jogo de fraudes jurídicas não terminou.

José Luiz

Algumas cortes, ditas mundias, não tem um código de processo civil prá seguir. Ou acham que não precisam seguir nenhum códice, apenas o que ditar o tribunal de cada consciência. E prá esses juízes internacionais não há prescrição para punições, suas penalidades são eternas, remissões e anistias são proibidas. Em geral falta-lhes nacionalidade. Costumam condenar exemplarmente os réus que não são seus conterrâneos.
É prá dar exemplo!

edv

Se o Brasil é membro e signatário da OEA e de Legislação Internacional, o que os ínfimos membros da ínfima suprema corte brasileira fizeram, inclusive antecipandose à este último julgamento?
Até quando a lei vai ficar subordinada à decisões políticas nesta corte?
Ate quando ela nos envergonhará e será mero palco de interesses que não o da interpretação final e do cumprimento da Carta?

Paulo Villas

Democracia no STF já. Voto popular , chega de ministros indicados , que não se sentem comprometidos com o país, que utilizam-se de verborragia pseudo jurídica , a chamada cultura em compotas , para atender ao caldo de cultura em que foram cozidinhos ao longo de suas vidas. Medíocres , todos medíocres , um dos tentáculos decadentes de uma elite decadente. Mudanças já.

Lucio Dias

Tenho acompanhado decisões importantes nos Tribunais Superiores através da TV Justiça e não se precisa ser formado em Direito para perceber o quão são vacilantes em suas decisões e, muitas vezes, mostram como são valentes com as partes mais fracas dos processos e como são dóceis e até benevolentes quando as partes são os ricos e poderosos. Alguns membros, ao justificar seu voto em que a parte é um rico/poderoso, demonstram até que estão mais para advogados deles do que juizes. Para ser um bom e grande juiz não basta ser inteligente e ter profundos conhecimentos juridicos, o bom senso é imprescindível. Quem não se lembra do "salto triplo carpado da hermeneutica" para justificar um voto? Lamentável.

Flavio Marcio

Não, não chore não.
Juizes humanos de seres humanos viraram as costas para crimes praticados por seres humanos contra seres humanos.
Não, mulher, não chore não.
Tergiversaram, adulteraram, macularam suas togas.
Não, não chore não.
Legitimaram a barbárie travestida de defesa dos valores democráticos e cristãos da nação brasileira.
Não, mulher, não chore não.
Barbárie praticada por uma turba (com b mesmo) de ogros que foram (foram?) o retrato do mal em si.
Não, não chore não.
Magistrados (salvo o honrado duo): durmam o sono dos injustos, o pesadelo de suas consciências corrompidas, banhadas pelo sangue das vítimas que os carrascos por vós mantidos em eterna anistia derramaram!

Rafael Patto

A anistia a torturadores é uma vergonha!!!!!!

Paulo

Os juizes são uma verdadeira súcia e da pior espéce, pois perpertuam esse crime contra a humanidade, sabendo de sua total impunnidade.

NADA MAIS SÃO QUE TORTURADORES TOGADOS.

LUCAS PEREIRA

TIRIRICA NEWS http://desatualidadescronicas.blogspot.com/2010/1

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