Álvaro dos Santos: Inaceitável a Samarco já não ter desocupado áreas urbanas logo abaixo das barragens nem possuir plano de contingência

Tempo de leitura: 3 min

Mariana Azenha

ROMPIMENTO DA BARRAGEM DE REJEITOS DA SAMARCO EM MARIANA: ALÉM DE TUDO, UM CASO CLÁSSICO DE IRRESPONSABILIDADE NA GESTÃO DE RISCOS

por Álvaro Rodrigues dos Santos

Não resta dúvida da determinante participação de inaceitáveis descuidos com fatores de ordem hidráulica e geotécnica entre as causas essenciais do rompimento de duas barragens de rejeito da SAMARCO (Vale + BHP Billiton) no município de Mariana – MG, e que vai tragicamente se consagrando como uma dos mais graves e letais desastres em obras da engenharia brasileira.

No entanto, há um fator importantíssimo que não vem sendo considerado, que se refere à inadmissível ausência no âmbito da empresa de procedimentos inerentes a um Plano de Gestão de Riscos. Ao menos, algo consistente e funcional.

Uma barragem, por maiores e mais confiáveis que sejam os cuidados com sua segurança, será sempre uma bomba armada. Pelo que, a áreas do vale a jusante das barragens que teoricamente pudessem ser atingidas pelas águas e detritos liberados por uma eventual ruptura devem ser sempre consideradas, na classificação internacional de riscos, como de Muito Alto Risco (risco 4, o mais elevado).

Esse nível de preocupação com as áreas a jusante de barragens foi especialmente aguçado após a catástrofe de Banquiau. Em agosto de 1975, na província de Henan, na China, ocorreu um dos mais graves e espetaculares acidentes em obras e engenharia da história humana. O rompimento das barragens de regularização de cheias de Banquiao, no rio Ru, e Shimatan, no rio Hong, provocou a morte de mais de 230.000 pessoas, 145.000 diretamente e 85.000 em conseqüência de uma série de desgraças que se seguiram (fome, falta de atendimentos de emergência, doenças…).

Isso posto, salta aos olhos o absurdo da inexistência de um Plano de Gestão de Riscos que levasse em consideração as atividades humanas e os fatores ambientais no vale atingido, com especial atenção para a ocupação urbana representada pelo o distrito de Bento Rodrigues.

Houvesse atenção para esses cuidados e de há muito a empresa SAMARCO deveria ter providenciado a desocupação das áreas potencialmente mais vulneráveis, com o deslocamento de seus ocupantes para áreas próximas garantidamente seguras. Essas áreas então desocupadas, e que coincidem hoje com a mancha de lama que pode ser vista em imagens aéreas pós-rompimento, seriam então utilizadas para funções de baixa presença humana, como bosques florestados e parques. Ou seja, inaceitável que nessas áreas de extremo risco tenha-se convivido todo esse tempo com a instalação urbana de residências, escolas, comércio, etc.

Da mesma forma chama a atenção a ausência de um Plano de Contingência que envolvesse, devidamente para tanto treinada, a população do referido distrito. Um Plano de Contingência pelo qual cada cidadão saberia de antemão o que fazer de imediato e urgente na eventualidade de um sinal combinado que indicasse qualquer evidência de acidente com a barragem.

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De imediato, talvez essa a maior lição que situações similares que se espalham por todo o território brasileiro possam tirar do doloroso desastre de Mariana: com a maior urgência possível estruturar Planos de Gestão de Riscos que, por determinações de caráter preventivo de relativamente fácil implementação, possam ao menos evitar que vidas humanas sejam tão gratuita e estupidamente ceifadas.

Geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos ([email protected]) é ex-Diretor de Planejamento e Gestão do IPT  – Instituto de Pesquisas Tecnológicas. Autor dos livros “Geologia de Engenharia: Conceitos, Método e Prática”, “A Grande Barreira da Serra do Mar”, “Diálogos Geológicos”, “Cubatão”, “Enchentes e Deslizamentos: Causas e Soluções”, “Manual Básico para elaboração e uso da Carta Geotécnica”. Consultor em Geologia de Engenharia e Geotecnia

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Comentários

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Al Coast

O que veio primeiro, a ocupação humana ou a barragem? Quem deveria realmente ter se deslocado? O texto é incompleto ao não considerar este fator. Ou seja, se construírem uma barragem no Mangabeiras, no alto da cidade de BH, a população é que vai ter que mudar?
Outra coisa: mais importante que um plano de contingência seria um plano de contenção, ou seja, instalações de barreiras físicas no caminho provável do material proveniente de um possível rompimento da barragem, barreiras essas que, no mínimo, atrasariam o fluxo de material até o povoado.

Marcos Pinto Basto

O Brasil está necessitando urgente dum banho de honestidade moral. O que aconteceu em Mariana não se resume na destruição do povoado, no mar de lama tóxica espalhada pelo vale do rio e nas mortes verificadas. O prejuízo ao meio ambiente foi muito grande e vai continuar por muitas décadas! Quem vai pagar danos monumentais ao meio ambiente? Podem começar pesada cobrança da Samarco que afinal é da Vale e BHP.

Urbano

O único plano de contingência é o lucro escroque e de qualquer forma. E quem colocou esse trem nessa rota foram os bandidos fascistas da oposição ao Brasil.

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