por Creomar Lima Carvalho de Souza e Leandro Freitas Couto
As eleições desse ano apontam elementos importantes para a reflexão quanto ao arranjo nacional de forças dos partidos políticos para os próximos anos. Esse artigo pretende ser uma reflexão acerca das composições políticas que irão afligir a base de sustentação do governo, com destaque aos chamados partidos de esquerda.
O resultado das eleições deu ao Partido dos Trabalhadores maior força na sua presença já hegemônica no campo político da esquerda nacional. Todavia, também se pode afirmar que, pelas alianças construídas e consolidadas durante o governo Lula e no processo eleitoral que acaba se encerrar, caminha para o centro, tomando parte da bandeira social-democrata que era hasteada pelo PSDB.
Ao fazer a maior bancada da Câmara e a segunda maior bancada no Senado, revezando-se com o PMDB, que fez a segunda maior bancada na Câmara e manteve a primeira no Senado, o Partido dos Trabalhadores consolida uma posição vantajosa em termos políticos nas casas do congresso. Porém, devido à própria estrutura do sistema político-partidário torna-se importante pontuar que a parceria petismo-pemedebismo tem limites de ação, a saber: a) o fato de que aliados históricos do PT podem sentir-se preteridos e assim buscarem novos espaços e b) o fato de que o PMDB é muito mais uma federação partidária do que um partido nacional.
Neste aspecto especificamente, é importante fazer a seguinte pergunta: Por quanto tempo o vice-presidente conseguirá manter seu partido unido à sua volta? Na resposta a este questionamento é importante considerar a capacidade da nova presidência de manter bons níveis de popularidade – ferramenta fundamental para ter menos resistência no congresso – e a distribuição de cargos de destaque em termos eleitorais para elementos chave do governo.
Conseguindo manter a unidade é natural que o partido do vice-presidente Michel Temer queira manter sob seu comando pastas importantes no executivo federal, e ainda que pressione para aumentar o seu quinhão na distribuição governista. Somam-se a isso os acenos que lança a setores menos radicais do DEM, que saiu enfraquecido dessa eleição, como ao prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, além da aproximação que até recentemente tentara com o ex-governador e senador eleito de Minas Gerais, Aécio Neves, e percebe-se também como natural a reação dos partidos aliados tradicionais do PT que ainda se mantêm à esquerda no espectro político partidário brasileiro, e que não cederão facilmente espaço ao PMDB.
Dentre esses, destaca-se o PSB, que, com 34 deputados, consolida-se como a segunda maior força da esquerda. Além disso, o partido elegeu seis governadores, um a mais que PT e PMDB. Destacam-se Pernambuco, Ceará e Espírito Santo, que se somam a Piauí, Amapá e Paraíba. Além disso, o partido reúne quadros de expressão nacional, como Ciro Gomes e Eduardo Campos, herdeiro político de Miguel Arraes, políticos também próximos a Aécio Neves, o que o torna também uma casa possível de receber o presidenciável, caso este realmente decida deixar as fileiras tucanas. No Senado, o PSB também aumentou sua bancada, de um para três senadores. O desafio dos socialistas, portanto, é a transição de uma postura passiva para um apoio responsável ao governo. Isto quer dizer que, naturalmente o PSB pode assumir-se como um projeto complementar e não submisso aquele construído pelo partido dos trabalhadores.
O PDT, outro partido médio de esquerda, não conseguiu eleger nenhum governador em 2010, depois de ter elegido dois, quatro anos antes. No senado, elegeu um parceiro do partido do reeleito Senador Cristovam Buarque, ficando com duas cadeiras. Aumentou em quatro o número de cadeiras na Câmara, elegendo 28 deputados federais. Apresenta um quadro estático, sem renovação de lideranças, cenário que se afirma com a não eleição do ativo deputado Brizola Neto, do Rio de Janeiro.
Da mesma forma, o PCdoB ganhou mais uma cadeira no Senado com Vanessa Grazziotin, do Amazonas, que se junta a Inácio Arruda, Senador eleito em 2006 pelo Ceará. Na Câmara, passou de 12 para 15 deputados, ficando, como o PDT, sem governos estaduais.
O PRB, ligado aos bispos evangélicos, reelegou o Senador Crivella no Rio de Janeiro, além de oito deputados federais. Por sua vez, a esquerda mais radical definha, com o PSOL tendo recebido menos de 1% dos votos na corrida presidencial, embora tenha elegido dois senadores e mantido a bancada de três deputados federais.
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A um avanço do PMDB na estrutura do governo Dilma, mesmo pelo espaço já diminuto que ocupam os partidos aliados da esquerda (PSB com MCT e Secretaria de Portos, PDT com a pasta do trabalho e PCdoB com a pasta do Esporte), poderia acarretar uma retração da participação do partido da Presidenta. Duas questões passam a ser fundamentais: até onde conseguirá gerenciar as pressões de seus companheiros de partido para fazer frente a essa perda de espaço e a quantidade de mágoas a serem engolidas ou esquecidas e o preço a ser pago que será suportado para manter a parceria para 2014.
À espreita estará Aécio Neves. Caso a relação PT-PMDB caminhe para o conflito, poderá engrossar as fileiras do PMDB e sair candidato pelo partido em 2014. Caso a parceria e o governo Dilma-Temer andem bem, sua opção seria desembarcar junto aos socialistas, em busca da conformação uma terceira via, abandonando o peso da oposição mais radical tucana-demista. Por fim, se o governo caminhar para um desastre, o que me parece a alternativa menos possível, poderia disputar a candidatura no próprio PSDB.
Sua espera, no entanto, não deve se alongar. Na perspectiva de uma reforma política, a possibilidade de aglutinação de alguns desses partidos médios, PSB, PRB, PDT e PCdoB pode se viabilizar. À esquerda não deve interessar ficar nas mãos de apenas um partido, ou um líder, ainda mais quando estes estão a levando mais ao centro e torna-se o foco principal da resistência midiática. No médio prazo, é importante para esquerda construir uma opção ao PT, mas precisaria ainda buscar um nome renovado de projeção nacional. Ciro Gomes carrega a antipatia da mídia, e Eduardo Campos não têm essa projeção. Sem esse novo nome, esses partidos estarão destinados a orbitar em torno do PT, limitando as perspectivas da esquerda de defender o lulismo apenas com as armas marcadas do petismo.
* Creomar Lima Carvalho de Souza é analista político do IBMEC/DF e Leandro Freitas Couto é analista de Planejamento e orçamento e doutorando Relações Internacionais Universidade de Brasília.
Comentários
alcione
O PV, de Gabeira e Marina Silva, onde se colocam? Eu, pessoalemente, entendia que ela, Marina Silva, logo após fazer aquela quantidade de votos, vendo incompatibilidade programática entre ela e o PV (o PV defende em seu Programa a libera~ção do aborto, ela diz que não ou propõe consulta popular; o PV defende a liberação da maconha, ela (acho) que não, então, a saida é sai do PV e, se tivesse saido logo, poderia voltar ao PT, apoair a Dilma e hoje estari garantida uma janela na mídia que lhe daria a Perefeitura de Rio Branco, logo em 2012, com o apoio do Lula. Assim, em cima do muro, já devm ter esquecido dela e logoa será apenas alguns que lembrarão dela. Como dizia o preisidente gaúcho: deixou o cavalo encilhado passar na porta, perdeu a oportunidade. foi-se a chance.
Arthur
Concordo em parte com o Jairo Bernardo, chamar PT, PSB, PCdoB, PTdoB do partidos de esquerda é um engano, mas eu incluo o PSOL e o PCB junto com o PSTU e PCO como os unicos representantes da esquerda socialista e ñ da "esquerda" fundamente capitalista "keynesiana" do atual governo.
E aglutinação desses partidos é pura especulação em um cenario que até as co-ligações não são feitas em muitos lugares
francisco.latorre
balão de ensaio.
especulação pura. sobre dados insuficientes.
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notável a pressa. pra desconstruir a coalizão vitoriosa.
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Baixada Carioca
Gostei mais da avaliação do Gunter Zibell no Luis Nassif on line [ http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/5-releva… ]. Não por ser otimista, mas por abordar tecnicamente a posição de cada partido no cenário nacional.
Uma pena que PSTU (militei entre alguns deles quando na Convergência Socialista, corrente no PT) e o Psol se perdem em discursos tão desconectados da nossa realidade. E talvez, se não justifica, pelo menos explica a má performance deles nas eleições. Zé Maria e Plínio passaram pelo processo eleitoral como cabos eleitorais do tucano e discursos tão inacreditáveis que beiram ao absurdo.
Lamento por alguns amigos que tive por lá. Fiz campanha pro Ciro Garcia quando candidato a Federal numa dobradinha com meu amigo Ivan Calais, então candidato a deputado estadual. Â época disse-lhes que o discurso deveria ser mais perceptível aos brasileiros e brasileiras. Não me deram a menor atenção.
Alguns partidos como PRB e PR que tiveram crescimento significativo não são suficientemente fortes em seus programas, mas se fundamentam em personalidades (como foi o caso do PDT, de Leonel Brizola. Na ausência deste, cadê o PDT?) como Garotinho e Crivella. Tirem o Crivella do PRB e me digam quem sobrou? Tirem o Garotinho do PR e me digam se tem alguém de importância política?
Gunter faz uma boa análise. Recomendo a leitura.
Rogério Madureira
O mais importante, em minha opinião, é descobrir como "esquerda" brasileira dará combate à direita DEMo-PSDBista, que, nas últimas eleições revelou-se afinal, em toda sua pustulenta capacidade maquiavélica em conluio com o jornalismo coliforme do PIG.
Baixada Carioca
O Plínio de Arruda Sampaio é de esquerda? Se for, ele já disse e redisse que é tucano desde criancinha. Esquerdalha maluca essa!…
LUCAS PEREIRA
Marcelo Adnet, em quadro do programa Comédia MTV, ironiza os eleitores "elitistas".
Impossível não lembrar de gentes como Reinaldo Azevedo e Diogo Mainardi.
Simplesmente imperdível! http://desatualidadescronicas.blogspot.com/2010/1…
pedro – bahia
Pois é, no PMDB tem o Jarbas Vasconcelos que declarou apoio a Serra, além de Ibsen Pinheiro e outros deputados do RS. Aqui na Bahia, Geddel Vieira Lima, mesmo declarando apoio a Dilma, ele votou e recomendou o voto no Serra.
Agora sobre Lula veja a notícia da Folha.
http://www1.folha.uol.com.br/poder/830582-apos-8-…
O_Brasileiro
Mal acabou uma eleição, a nova presidente ainda nem tomou posse, e já tem gente pensando em quem vai se eleger daqui a quatro anos…
Que tal trabalhar um pouco, pelo menos antes das eleições municipais de 2012???
Étore
Choveram no molhado.
mariazinha
Acredito que esses pequenos partidos, nem sabem o que são, na realidade. Farão qqer. pacto para sobreviverem, ninguém sabe se à esquerda ou direita. Um bom exemplo é o PV que é a cara do PSOL; ninguém pode confiar.
Raphael Tsavkko
Como tratr de perspectivas de esquerda citando apenas a esquerda parlamentar ou, menos ainda, sem citar o PSOL? A esquerda não está toda com o PT e com Dilma, mesmo muitos tendo votado criticamente.
José Manoel
Azenha: vai crescer mais e mais!!!!! Todos estão se dando conta que esse capitalismo neo liberal ultrapassado somente liquida com o mundo!!!!!!
Gerson Carneiro
Eu, que entendo pouco de política, na verdade entendo pouco de nada, acho que qualquer avaliação nesse momento é prematura. Acho que seria tolo, quem quer que seja, remar contra os avanços conseguidos nesses oito anos de Lula. Pode até alguém pretender fazer mas o povo saberá identificar e separar o joio do trigo. Acredito na Dilma e acho que Dilma não vai vacilar. E Lulão não vai cochilar nos próximos oito anos. Na pior das hipóteses, se preciso for, ele voltará em 2014. Por enquanto é hora de comemorar. E torcer para vermos o bom velhinho José Alencar, com aquele sorrisão de menino, descer a rampa abraçado ao Lulão no dia 01 de janeiro de 2010. Que Deus os abençôe, Dilma, Lula, José Alencar… e é claro: nóis.
Shiko
Um pequeno cochilo, Gerson: 01 de janeiro de 2011.
Tô também nesse nóis, uái, sô!
Gerson Carneiro
rsrsrs… foi mesmo.
e é assim que se escreve Chico em japonês?
José Manoel
Gerson: como é o nome daquela música do Djavan que vc postou no dia do segundo turno???? Aquela do limpador de pára-brisa???? Nota 10!!!
Gerson Carneiro
Alívio – do CD, "Coisa de Acender".
Aliás esse CD é todo bom. Tem uma música, nesse mesmo CD, chamada "Boa Noite" que é um delírio. Tem uma linha de baixo incrível, coisa do nosso Arthurzinho Maia, o melhor baixista do mundo.
José Manoel
Thank you!!!!!
francisco.latorre
dilminha não vai decepcionar.
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Carlos Cruz
A esquerda só tem um caminho: estreitar suas relações com o "povão", militantes. Não pode cair no canto da sereia dos arranjos políticos. Os "políticos" estão ao lado do poder, sempre! Quando o poder muda de mão, vão com ele alianças e apoios. Os sindicatos, ONGS, movimentos populares, serão sempre a única via verdadeira para se preparar contra calunias, difamações, racismo, ódio religioso.
Laura
Chamar o PSB e o PDT de esquerda é realmente não analisar bem. O PSb e o PDT são uma espécie de salada com um verniz- bota verniz nisso- centro- democrata, he, he! mas com muitos interesses de direita dentro.
O PSb é base para algumas oligarquias de centro -esquerda( com muita generosidade, …. aliam-se com Aécio neves, Paulo Skaf… que de esquerda não tem NADA) regionais e interessadas em um projeto próprio. È mais um PMDB do B, hehe, um PMDB específico.
O PDT é uma federação de interesses. A base é mais ao sul e é relacionada a "desdobramento" e clientelas brisolistas. Tem o Brisola neto que é excpcional e sim, de esquerda. tem o Paulinho, da Força, que começou como apoio e clientela do Joaquinzão, antigo pelegoe antigo presidente do Sindicato dos metalurgicos de São Paulo. Foi a base para o salto para a politica de parte da pós-pelegada .
análise política hoje não tem . essas daí, ou de Marcos Coimbra, ah, não dá.Há que se ler, mas ….é tudo muito raso com a prioris.O primeiro é da "pertinencia da oposição". Há a lata de lixo da história. essa analise acima pelo menos lida com algo que tem a ver com isso.
A história, ou melhor o processo histórico e o movimento humano ds pessoas também modificam o mundo.
francisco.latorre
lata de lixo da história.
isso ou isso.
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direita carcomida.. adeus.
vai tarde. foi.
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Jairo_Beraldo
Partidos de esquerda realmente no Brasil hoje, temos somente o PSTU e o PCO. Dizer que PiSOL, PSB, PCdoB, PTdoB, etc são de esquerda, é um erro. São em sua maioroa de centro mais a esquerda e outros fisiologicos. A esquerda não tem nais espaço no mundo de hoje. E Lula provou isso. O que tem sentido são partidos com ligação social forte, sem oposição as classes sociais diversas, mas unidas.
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