Emir Sader: O Cunha Shopping troca cidadão por consumidor

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Eduardo Cunha

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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O ‘Cunha Shopping’ é um acinte

O shopping-center é a utopia neoliberal, o resumo de como eles gostariam que fosse a sociedade: só consumidores, nenhum cidadão.

por Emir Sader em 25/05/2015 às 10:26, em seu blog

Depois de fazer aprovar uma série de iniciativas na Câmara, Eduardo Cunha se sente dono da Casa e capaz de passar qualquer proposta. Já há algum tempo, antes que estivesse envolvido na Lava-Jato, ele tinha decretado a concessão de passagens de avião para as esposas dos deputados. Diante da reação negativa generalizada a mais esse privilegio dos parlamentares, Eduardo Cunha teve que recuar e a suspendeu.

Agora ele volta à carta com uma medida ainda mais despropositada: a construção, por um valor calculado de um bilhão de reais, de um shopping center na Câmara de Deputados. A aprovação foi rápida, com a oposição apenas do PT, do PC do B, do Psol e do PDT.

Nada mais simbólico do que instalar um shopping-center em um Congresso eleito pelo poder do dinheiro, controlado pelos lobbies dos grandes negócios. O shopping-center é a utopia neoliberal, o resumo de como eles gostariam que fosse a sociedade: só consumidores comprando mercadorias das grandes marcar globalizadas. Um mundo em que tudo é mercadoria, tudo tem preço, tudo se vende, tudo se compra.

O shopping-center da Câmara – se chegar a ser instalado, com todas as dúvidas que pairam sobre que se tolere que exista – representa a continuidade, sob a forma de lojas, de grifes, – do toma-cá-dá-lá que impera no Congresso e de que Eduardo Cunho é o grande gerente. Se decide, se vota, de aprova, como quem entra em uma loja de uma grande marca globalizada e se arrematam mercadorias. Se paga com cartões de crédito, se pechincha os preços, se aproveitam liquidações. Eduardo Cunha pretende instaurar uma continuidade linear entre o plenário sob sua presidência e o desfile de marcas e suas ofertas.

O Cunha-shopping é um acinte. É a demonstração de que o presidente da Câmara pretende fazer o que pretenda dessa Casa, rebaixando-a a níveis como nunca haviam sido atingidos, fazendo com que chegue a um nível tal de degradação, de que o próximo passo seria instaurar um cassino, com roleta e tudo. No Shopping desaparece tudo o que é local, substituído pelas marcas globalizadas. No Shopping não se encontram pobres, cidadãos, apenas consumidores com grande poder aquisitivo.

Os Shopping não costumam ter janelas, para fechar-se sobre si mesmos, fazendo abstração da sociedade real que fica do lado de fora. O Shopping é todo feito em função da compra e da venda, a circulação por seus espaços é adaptada a isso.

O Congresso parece espelhar nos Shopping-Centers o seu funcionamento atual.  Atende os grandes interesses econômicos, privilegia o anti-nacional, faz abstração da sociedade real, se fecha sobre si mesmo, sem janelas para o mundo real. Só pretende responder às grandes marcas, às grandes empresas, aos interesses globalizados.

Mas entre tantas incertezas sobre o que passará no Congresso, esta é a maior delas. Apesar de aprovada na Câmara, a construção do Shopping-Center ainda vai ter que passar por várias provas. A primeira, a rejeição da opinião pública. Isso aconteceu com as passagens para as esposas dos deputados, sobre o que Eduardo Cunha teve que retroceder.

Caso passe por esse primeiro obstáculo, virão os outros: construção, inauguração e aí, caso chegue até esse momento, o maios obstáculo: o funcionamento. Vai ser objeto do repúdio da cidadania, do boicote, dos rolezinhos, das ocupações, das manifestações, até torná-lo inviável.

O Cunha-Shopping seria mais um passo no processo de mercantilização do Congresso, de gastos indevidos e acintosos em relação ao momento que vive o pais. Não passará.

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Comentários

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Julio Silveira

Como sou daqueles que pretendem uma revisão na compreensão dos valores, dos hábitos e da cultura do país, tenho que repetir o que já venho dizendo. Um Cunha, qualquer, era uma consequência previsível para uma mudança tão radical de paradigmas na busca pelo poder. E ainda que possam negar essa ligação, esse Cunha é o resultado da decisão inconsequente e imediatista tomada pelo grupo dominador do partido chave, nessa coalizão do poder, que não soube esperar nem entender, o ritmo de crescimento que vinham alcançando em sua consistente conquista do eleitorado com base no convencimento da verdadeira e necessária mudança cultural. Preferiram sofismar e firmar um sucesso com poucos riscos. Mesmo que isso implicasse na onda de perda de credibilidade que atingiu a todos aqueles que defendem ideias e ideais que se caracterizam como de esquerda. Esse preço, o Cunha, representa o custo dos que não entenderam seu papel de mudança na construção da historia da cultura brasileira. E sua responsabilidade diante de todos aqueles que dependem da politica, mesmo sem serem afeitos a ela. Abdicar da luta pela transformação cultural, optando pela negociata na base na troca de princípios que deveriam nortear a cidadania consolidando mudanças culturais necessárias, tem custos, tipo o Cunha, devido as más culturas impregnadas, e tudo isso, e outros que certamente ainda estão por vir, pelo efêmero gosto do poder, fruto da urgência imediatista, outras das más culturas já firmadas como característica deste país.

Astrogildo Leal

Mas como pode construir uma obra privada, dentro de um espaço público ? E a questão arquitetônica, que ficará prejudicada, sendo Brasília um Patrimônio Mundial. Quem é Eduardo Cunha, essa aberração de deputado, que a ele tudo é permitido ?

Maria

O Brasil está cheio de comandantes porcos, que perderam a noção de sua missão de representar o povo! Foram eleitos para sucatear a democracia e Constituição!

Caracol

Amigos, eu vivi.
Eu vivi numa “sociedade” que se transformou num “mercado”.
Eu vivi tempos de mutirão, fenômeno insistentemente ainda existente – mas, ao que parece – em extinção gradativa até nos rincões marginais da pequena cidade onde vivo: nas tardes de sábado ou no domingo, grupos de moradores se reúnem para bater laje na casa do vizinho, enquanto suas mulheres cozinham o feijão de todos. Hoje essa mentalidade é substituída pelo pensar “big brother” onde o sucesso não depende das qualidades do sujeito, mas sim de sua capacidade de “vencer” pisando no pescoço do próximo.
Esse sujeito, o eduardo cunha (em minúsculas mesmo), é um fascista mercantilista capaz de vender a própria alma em troca de dinheiros. Olhem pra cara dele, deve sofrer de hemorróidas, cirrose, escamação dérmica e sei mais lá o quê. Vai morrer podre com a boca cheia de formigas igualzinho a mim, só que uma conta polpuda no bradesco que não vai usar pra coisa alguma, pois afinal de contas, dinheiro não cura hemorróidas da alma.
Esse shopingue, na casa dos representantes do legislativo brasileiro, é um acinte sim. É um tapa na cara de qualquer cidadão brasileiro que tem e que preza a dignidade humana.
Que pena que perdemos doze anos incentivando o consumo pelo consumo, sem cuidar da conscientização político-social dos cidadãos. Agora, o “mercado” que era “sociedade” virou um bando de zumbis, comprando a crédito as merdas das quais não se precisa pra coisa alguma.
Que bom que estou começando a me despedir.
Felizmente ainda me sobra indignação pra chamar um porco de porco.

    Mário SF Alves

    Além do mais, o que diriam Oscar Niemeyer e Lúcio Costa sobre esse estupro do partido arquitetônico de um dos edifícios cívicos de Brasília?
    Está comprovado: a direita brasileira é provinciana e colonizada; com ou sem autoritários como esse EduCu.

    MARIA GORETTI AMF13BH

    Caracol,
    E ELE AINDA DIZ SER “EVANGÉLICO”…MAS COMO NÃO TRAZ A “BOA NOVA”,ENSINADA POR JESUS CRISTO,DEVE SER LÁ DUS CONFUDÓS DUSINFERNOS>

    Rita

    Aplaudo você de pé, mas não diga que já está se despedindo. São de pessoas assim que o Brasil precisa. O Brasil precisa de você.

    Leonardo Leão

    Bravo!
    Bravíssimo!

Marco André

Shopping sem produtos para serem comercializados; à venda, apenas serviços.

FrancoAtirador

.
.
“Viviane Forrester”, em “O Horror Econômico”:
.
“Paira no ar algo de totalitário, de terrificante.
E os únicos comentários são os do Sr. Homais (*), mais eterno, mais oficial,
mais solene
e mais plural do que nunca… Seus monólogos… O veneno que ele detém.”
.
“Nossos sistemas … pretendem ser, em grande parte, baseados nesse amor irreprimível
daqueles que tomam decisões pelos seus supostos próximos, na falta de…
semelhantes!
.
Assim, eles conjuram a empresa a chamar-se ‘cidadã’, e a ‘empresa cidadã’,
uma vez proclamada como tal, a mostrar-se efetivamente ‘cívica’.
.
Eles não obrigam, eles convidam, certos de suas felizes tendências.
.
Assim solicitada, e uma vez esclarecida sobre o que é o bem e o que é o mal,
como imaginar um só instante que ela não opte pelo bem?
.
Saudemos de passagem o Sistema:
‘Empresa Cidadã’ – nenhum surrealista teria ousado inventá-la!”
.
“Resta ao grande número um último papel a cumprir, eminente:
o de ‘Consumidores’.
.
Ele convém a cada um: até os mais desfavorecidos, por exemplo,
não comem eles, às vezes, massas de nomes célebres, mais honrados que seus próprios nomes?
Massas cotadas na Bolsa?
Não somos todos atores potenciais, aparentemente muito solicitados,
desse ‘cresci­mento’ que supostamente contém em si todas as soluções?
.
Consumir, nosso último recurso. Nossa última utilidade.
.
Ainda somos bons para esse papel de ‘clientes necessários’ a esse ‘crescimento’,
tantas vezes posto nas nuvens, tão desejado, tão prometido
como o fim de todos os males, esperado com tanto fervor.
.
Isso é muito tranquilizador!
.
Só que, para manter esse papel e essa posição, seria preciso ter os meios.
.
Mas eis algo mais tranquilizador ainda: o que não serão capazes de fazer
para nos dar esses meios ou para preservar os que já temos?
.
‘O cliente é soberano’, princípio sagrado: quem ousaria infringi-lo?
.
Mas, então, por que essa pauperização metódica, organizada, que chamam racional,
e até necessária, até mesmo promissora, e que vai se agravando?
.
Por que cortar, quase com raiva, das fileiras dos consumidores potenciais dezenas de milhares
que, por sua vez, parecem representar as ‘galinhas dos ovos de ouro’ das ‘forças vivas da nação’,
essas campeãs no jogo das ‘criações de riquezas’, mas criadoras de tanta pobreza?
.
A Economia de Mercado teima em serrar o galho sobre o qual pretende estar apoiada?
.
Ela sabota a si mesma a golpes de ‘planos sociais’, ‘reestruturações’, flexibilização de salários,
deflação competitiva e outros projetos frenéticos visando abolir as medidas
que ainda permitem aos mais desfavorecidos consumir um pouco que seja?
.
Será por masoquismo?
.
“Será que se entende que, nesse caso, não se trata mais de categorias burladas,
de simples peripécias políticas, mas de um Sistema que se estabelece,
se é que já não existe, e que nos exclui?”
.
(*) Personagem de Madame Bovary, de Gustave Flaubert.
Farmacêutico, detentor do veneno que Emma Bovary usa para suicidar-se,
Homais é igualmente detentor de um pretensioso discurso pseudocientífico.
[Atualmente no braZil, pode ser também analogicamente aplicado ao Premiê Ed Cunha]
.
(http://marcoalexandredelimasilva.blogspot.com.br/2011/10/horror-economico-de-viviane-forrester.html)
.
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    FrancoAtirador

    .
    .
    A LÓGICA DO PENSAMENTO ÚNICO DA ECONOMIA DE MERCADO
    .
    “Assim – e esse é o maior exemplo –, os textos, os discursos que analisam esses problemas,
    do trabalho e do desemprego, só tratam, na verdade, do Lucro
    que é sua Base, que é sua Matriz, mas que jamais mencionam.
    .
    Permanecendo nessas zonas calcinadas como o Grande Ordenador,
    o Lucro, entretanto, é mantido em segredo.
    .
    Ele continua pairando, como um pressuposto tão evidente que nem sequer é mencionado.
    .
    Tudo é organizado, previsto, proibido e suscitado em razão dele,
    que dessa maneira parece inevitável, como que fundido à própria semente da vida,
    a ponto de não se distinguir dela.
    .
    Ele opera à vista de todos, mas despercebido.
    .
    Ativo, propaga-se por toda parte, mas jamais é citado,
    a não ser sob a forma daquelas pudicas ‘criações de riquezas’ que pretendem
    beneficiar toda a espécie humana e ocultar tesouros de empregos.
    .
    Tocar nessas ‘riquezas’ seria então criminoso…
    .
    É preciso preservá-las a qualquer preço, não discuti-las, esquecer (ou fingir esquecer)
    que elas beneficiam sempre o mesmo Pequeno Número, cada vez Mais Poderoso,
    mais Capaz de impor esse Lucro (que lhe toca) como a Única Lógica,
    como a Própria Substância da Existência, o Pilar da Civilização,
    a Garantia de toda Democracia, o Móvel (fixo) de toda Mobilidade,
    o Centro Nervoso de toda Circulação, o Motor Invisível e Inaudível, Intocável, de nossas Animações.
    .
    A Prioridade vai então para o Lucro, considerado Original, uma Espécie de ‘Big-Bang’.
    .
    Só depois de garantida e deduzida a parte dos Negócios – a da Economia de Mercado –
    é que são (cada vez menos) levados em conta os outros Setores, entre os quais os da Cidade.
    .
    Em Primeiro lugar, o Lucro, em razão do qual tudo é instituído…
    .
    Só depois é que as pessoas se arranjam com as migalhas dessas famosas ‘criações de riquezas’,
    sem as quais, dizem, não haveria nada, nem mesmo essas migalhas, que por sinal estão diminuindo
    – nenhuma ou quase nenhuma outra reserva de trabalho, de recursos.
    .
    –Deus me livre de matar a galinha dos ovos de ouro!,
    dizia a velha ama falando da necessidade de existirem ricos e pobres:
    –Os ricos serão sempre necessários. Sem eles, pode me dizer como é que os pobres iam fazer?.
    .
    Essa ama Beppa (*) é uma ‘verdadeira política’, uma ‘grande filósofa’! Ela compreendeu tudo.
    .
    A prova: surdos às suas tramóias, ficamos aqui ainda ouvindo
    as gracinhas mentirosas desses poderes que a ama venerava.
    .
    Poderes que, por sinal, gracejam e mentem cada vez menos, de tanto ter aplicado
    seus postulados e inculcado seu credo nas massas planetárias assim anestesiadas.
    .
    Para que gastar energia para persuadir aqueles que uma longa Propaganda,
    se ainda não convenceu, pelo menos desarmou?
    .
    Propaganda eficaz e que soube recuperar (o que não é desprezível)
    muitos termos positivos, sedutores, que ela judiciosamente monopolizou, desviou, dominou.
    .
    Vejam esse Mercado ‘livre’ para produzir Lucro”…
    .
    *(http://www.citador.pt/poemas/a-piedosa-beppa-friedrich-wilhelm-nietzsche)
    [… ]
    “Já nem ouvimos mais o Anúncio da Morte de Certos Termos.
    Se ‘trabalho’ e, por conseguinte, ‘desemprego’ resistem, esvaziados do sentido que parecem veicular,
    é porque, pelo seu ‘caráter sagrado’, intimidante, eles servem para preservar
    um resto de organização certamente caduca, mas suscetível de salvaguardar,
    por algum tempo, a ‘coesão social’, apesar da ‘fratura’ do mesmo nome –
    vê-se que a língua, de qualquer modo, se enriquece!
    .
    Quantos outros termos, em compensação, flutuam nos encantos do desuso: ‘Lucro’, certamente, mas também, por exemplo, ‘Proletariado’, ‘Capitalismo’,
    ‘Exploração”, ou ainda essas ‘Classes’ agora impermeáveis a qualquer ‘Luta’!
    .
    Empregar esses arcaísmos seria dar provas de heroísmo.
    .
    Quem aceitaria entrar resolutamente no Papel do ‘Retrógrado Iluminado’,
    do ‘Ingênuo Desinformado’, do ‘Roceiro’ cujos dados remontam à Caça ao Bisão Selvagem?
    .
    Quem apreciaria ter direito não ao cenho franzido pelo furor,
    mas erguido por uma Estupefação Incrédula, mesclada de Doce Compaixão?
    .
    –Mas você não quer dizer que… –Você ainda não… –O Muro de Berlim caiu, sabia?
    –Então a URSS, você realmente apreciou? –Stalin? –Mas a ‘Liberdade’, o Livre Mercado não?…
    .
    E, diante desse ‘Retardado’, ‘kitsch’ a ponto de comover, um sorriso desarmado…
    .
    Entretanto, o seu conteúdo reclama essas palavras que foram postas no Índex
    e sem as quais, não expresso, jamais contestado, aquilo que elas recobrem retorna sem cessar.
    .
    Mutilada desses vocábulos, de que modo a Linguagem pode dar conta da História
    que, por sua vez, está repleta deles e continua a carregá-los, mudos?
    .
    Só porque uma operação totalitária monstruosa fazia uso deles e até os promovia,
    eles nos são proibidos, perderam o sentido?
    .
    Estamos tão Influenciados a ponto de recusar de Maneira Autoritária, mecanicamente,
    o que outros absorviam de Maneira Autoritária, também mecanicamente?
    .
    A Autoridade, a Mecânica, só elas então retornam?
    .
    O Stalinismo teria assim erradicado tudo, mesmo a partir de sua ausência,
    continuando pelo absurdo de autorizar apenas o silêncio dos intercessores,
    dos árbitros, dos intérpretes, mas também dos interlocutores esperados?
    .
    Vamos deixá-lo determinar esses mutismos, essas ablações que, dentro da língua, mutilam o pensamento?
    .
    É evidente que a Autoridade do Discurso Lacunar, organizado em torno de suas lacunas,
    impede qualquer análise, qualquer reflexão séria – com maior razão ainda
    qualquer refutação daquilo que não é dito, mas que atua.
    .
    Se os vocábulos, instrumentos do pensamento capazes de exprimir o evento,
    são não só gravemente suspeitos, mas também decretados vazios de sentido,
    e se, contra eles, atua a mais eficaz das ameaças, a do ridículo,
    que armas e que aliados ainda restam para aqueles que só uma constatação
    muito estrita da situação salvaria, não tanto da miséria ou da vida ultrajada,
    mas da vergonha e do esquecimento em vida?
    .
    Como é que nós chegamos a essas amnésias, a essa memória lacônica,
    a esse esquecimento do presente?
    .
    O que aconteceu para que hoje grassassem tanta impotência de uns, tanta dominação de outros?
    .
    Tanta aquiescência de todos para uma como para a outra? Tanto hiato?
    .
    Nenhuma luta, a não ser aquela que reivindica sempre mais espaço
    para uma Economia de Mercado, se não triunfante, pelo menos Onipotente,
    que certamente tem sua lógica, mas à qual não se confronta nenhuma outra lógica.
    .
    Todos parecem participar do mesmo campo, considerar o estado atual das coisas
    seu estado natural, como o ponto exato onde a história nos esperaria.”
    .
    (http://marcoalexandredelimasilva.blogspot.com.br/2011/10/horror-economico-de-viviane-forrester.html)
    .
    .

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