A MÁSCARA SELVAGEM DO ESTADÃO
por Arthur Meucci, via Conversa Afiada
Senti uma imensa tristeza ao receber o jornal O Estado de S. Paulo em pleno dia do trabalho. O jornal publicou um editorial, “Lições de Selvageria” (A3, 01/05/2015), classificando os professores como “partidários” e “selvagens”, chamando-os implicitamente de vagabundos, justificando assim o massacre da Polícia Militar contra a nossa categoria no Paraná com argumentos baseados em distorções: “não se poderia esperar outra reação da força de segurança destacada”. Fez-me adoecer tamanha insensatez e ignorância.
Alguns colegas me disseram: “Este jornal é de direita, já era de se esperar”. Não concordo. A verdadeira direita, liberal e republicana, jamais teria justificado o uso da força nem trataria os professores como “inimigos da democracia”.
Pelo contrário, uma das bandeiras da direita é a educação pública de qualidade para garantir as condições de igualdade do livre mercado e o exercício da democracia. Os verdadeiros liberais flertam com os professores, os defendem mesmo quando discordam de suas opiniões.
Por esse motivo os países liberais pagam excelente salários no campo da educação enquanto as ditaduras comunistas fizeram suas “revoluções culturais” aos moldes truculentos do PSDB. A “confusão de valores, a desinformação e a desmoralização das instituições” não advém dos professores como escreveram, mas da imprensa servil aos obscuros interesses políticos.
Os fundadores deste jornal, Francisco Rangel Pestana (1839-1903), Julio Mesquita (1862-1927) e Julio de Mesquita Filho (1892-1969), liberais autênticos, lutaram ao lado dos professores e intelectuais por escolas e universidades públicas de qualidade – ao contrário do que faz a atual geração, representada pelo sr. Francisco Mesquita Neto.
A direita no Brasil é um fenômeno raro e não tem um partido de verdade. UDN, Arena, PFL/DEM, PSDB, PSC e outros partidos considerados de “direita” estão em um leque entre “reacionários” e “fascistas”, defensores de uma sociedade de casta. Para disfarçar seus reais interesses autoritários, mão de obra barata e subserviente, distinção de espaços entre os senhores e seus servos, eles utilizam o discurso liberal como bem lhes convém e se autoproclamam como “direita”.
Thomas Jefferson, Ludwig von Mises e Milton Friedman servem somente como figura retórica – os seus textos e ideias são recortados e descontextualizados para que os ideólogos ligados à elite possam mascarar suas políticas de exploração social. Como alguns religiosos fazem para ludibriar seus fiéis.
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Afinal, não convém escrever nos editoriais que os negros, pobres e nordestinos são inferiores e não merecem as benesses do Estado brasileiro. A sociedade defendida hoje pelas elites representadas por este editorial não é a sociedade ideal da verdadeira direita, defendida pelos pais fundadores do jornal que militavam pelos ideais abolicionistas, republicanos e liberais da igualdade entre os cidadãos, bem comum e de progresso social.
Para ter uma sociedade capitalista bem-sucedida é preciso uma boa educação e, pasmem, para que haja uma boa educação é preciso ter professores motivados e bem pagos. Os Mesquitas sabem, pois seus ancestrais ensinaram. Mas quem disse que nossa elite quer uma sociedade capitalista bem-sucedida? O pensamento crítico, a participação democrática da população e a igualdade social são tudo o que as novas gerações de empresários não querem – acham que a ralé não precisa de boa educação, mas de trabalho braçal para se ocupar e da violência policial para acabar com as subversões.
É de se questionar que tipo de jornalismo estão fazendo.
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Comentários
Andre
Enquanto acusa alguns de recortarem textos ele recorta fatos históricos: nem uma palavra sobre o apoio de Milton Friedman e FRederich Hayek a ditadura de Pinochet que derrubou um governo eleito dentro das regras da democracia liberal. Nem uma palavra sobre o fato de que nos EUA ‘liberal’ da década de 1950, os negros não tinham direito a voto; será que os liberais americanos se confundiam com os escravistas? Nem uma palavra sobre o fato de que STALIN MORREU EM 1953, A URSS ACABOU EM 1991 (desculpe, preciso gritar porque enquanto a esquerda está a mais de 50 anos se desculpando pelo stalinismo, os ditos liberais não terem se dado conta disso ainda…será?)
O liberalismo que ele tem em mente também morreu ha muito tempo, no ínicio do século XX. O neoliberalismo tem um sentido meramente econômico. O liberalismo político só é validado por todos os autores neoliberais enquanto der sustentação ao liberalismo econômico. O exemplo de Pinochet ‘falseia’ – para usar um termo do ‘liberal’ Karl Popper – qualquer defesa absoluta do liberalismo politico que se possa ‘recortar’ dos textos de qualquer neoliberal…
Isso não elimina o fato de que ainda existem pessoas que defendam o liberalismo político. A maioria dos que eu conheço defendem algum grau de intervenção do Estado na economia justamente por causa do seu liberalismo politico. Se baseiam em princípios como igualdade, justiça, etc. Os neoliberais defendem que o Estado seja somente um estado policial e nada mais. Se o autor quer defender o liberalismo melhor seria dissociar o liberalismo economico do politico pois hoje tem sentidos diferentes e muitas vezes opostos.
O comunismo, esse do Stalin, também morreu (essa verdade precisa ser repetida mil vezes, pois parece que a mentira de que o stalinismo está vivo e é uma ameaça a ‘cilvização liberal’ está sendo repetida um milhão de vezes!). A defesa da democracia substantiva, da democracia econômica(não confundir com reino absoluto das elites do mercado) e dos direitos civis passou paulatinamente para a mão da Esquerda ao longo do século vinte. A década de 1960, ou o simbólico 1968 é o marco dessa transformação. Enquanto a esquerda liderava a reivindicação por democracia ‘ampla, geral e irrestrita’ em todas as sociedades – inclusive nas autodenominadas comunistas – os governos autodenoinados liberais só fizeram descer a porrada.
Esquerda e direita ainda fazem todo sentido para entender o mundo, pelo menos eu acho.
Mas recortar trechos da história tratando a direta como se ainda correspondesse às ideias do Iluminismo, do liberalismo do século XVIII e a esquerda como se fosse o stalinismo do século XX só tem serventia retórica e como autojustificativa.
Além do mais não tem o que recortar em textos de alguem como Von Mises para dizer que ele é um liberal apenas no que se refere ao mercado. Basta ler todos os livros dele – e sinto anunciar ao colega, tem muita gente de esquerda trabalhando nisso – para se chegar a essa conclusão. Alias ele é absolutamente literal: o liberalismo, segundo ele, não é a defesa da democracia, mas do mercado. A defesa da democracia politica está subordinada a defesa do mercado. A verdadeira democracia estaria no mercado (onde estranhamente o ‘voto’ é qualificado pela quantidade de dinheiro que se têm…) e ao Estado cabe apenas a função de policia. Isso é absolutamente literal e repetido em TODOS os textos dele, é só ler.
Bacellar
Também tive o desprazer de ler esse editorial ao acaso.
De cair o @$ da *&%#@…O autor tem razão, ideologicamente pende mais pro fascismo do que pro suposto liberalismo do Estadão.
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