Maria Inês Nassif: Moro rasga a Constituição para dar golpe contra o PT
Tempo de leitura: 6 minMoro e dois de seus “patrocinadores” na mídia
20/04/2015 – Copyleft
O golpe de mão do juiz Sérgio Moro contra o PT
O juiz Sérgio Moro é apenas um numa conspiração de classe destinada a criar uma onda de pânico e um clima de histeria contra o PT.
por Maria Inês Nassif, na Carta Maior
Não é banal o movimento que fazem a Justiça e o Ministério Público paranaense para inviabilizar um partido político nacional, o PT, ou qualquer outro que venham a botar no mesmo pacote – de preferência pequenos e ligados ao governo – para fingir que essa decisão não é uma perseguição ao partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que venceu as eleições dos tucanos Geraldo Alckmin e José Serra, e da presidenta Dilma Rousseff, que ganhou dois pleitos dos tucanos José Serra e Aécio Neves, o último deles o ano passado.
Isso faz parte de uma estratégia de intimidação tão assustadora que transfere para o aparelho judicial de um Estado que sequer tem relevância na política nacional as decisões sobre o futuro da política nacional e sobre a legitimidade do voto do eleitor brasileiro; e que dá a uma decisão judicial de primeira instância o direito de proscrever partidos políticos.
Nem nas ditaduras brasileiras isso aconteceu.
Os partidos foram proscritos por atos federais. O PCB, por exemplo, foi colocado na ilegalidade em 1927, durante o estado de sítio decretado pelo presidente Epitácio Pessoa. Em 1966, todos os partidos brasileiros foram extintos por um ato institucional da ditadura militar iniciada em março de 1964.
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Somente em 1946 a Justiça tomou a decisão de tirar uma legenda do quadro partidário, o mesmo PCB, sob o argumento de que ela não professava a democracia. Ainda assim, a decisão partiu de uma instância máxima de Justiça, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O absurdo jurídico de colocar um partido na ilegalidade pode ocorrer se o Ministério Público do Paraná pedir o indiciamento do PT, a pretexto de participação na Operação Lava Jato, e o juiz Sérgio Moro condenar o partido.
Segundo matéria publicada pela Folha de S. Paulo, procuradores preparam a originalíssima peça, que respaldaria uma decisão judicial destinada a proscrever o PT. O instrumento da inviabilização do partido seria a aplicação de uma multa próxima dos R$ 200 milhões que um dos delatores da Operação diz que o partido recebeu de propina – e que, sem provas, nas mãos de qualquer procurador ou juiz minimamente neutros, seria apenas uma palavra, a do delator, contra a outra, a do delatado que nega o crime.
Um golpe de mão aplicado pela Justiça no quadro partidário brasileiro é, de fato, a inovação que a pouco neutra justiça paranaense pode legar para o país inteiro. Moro adora inovações, e segue os passos do inovador Joaquim Barbosa que, à frente do chamado Caso Mensalão, no Supremo Tribunal Federal, deixou de ser juiz e agiu como promotor, rasgou a Constituição, negou provas que inocentariam alguns réus e pediu a condenação de outros tantos sem provas, com o beneplácito do plenário da mais alta corte judiciária do país, com o aplauso da imprensa e as loas da oposição.
Todas as licenças poéticas do aparelho judicial paranaense, inclusive esta, vêm sendo amparadas pelos partidos de oposição, acalentada pela mídia conservadora, tolerada pelas instâncias superiores da Justiça e pelos órgãos de controle do Judiciário e do Ministério Público, a exemplo do que aconteceu no Mensalão.
A estratégia é a mesma: cria-se um clima político para legitimar desmandos judiciários, e os desmandos do Ministério Público ou da Polícia Federal são sistematicamente legitimados porque vêm respaldados em decisões judiciais.
É uma roda-viva onde quem perde é sempre o futuro. Porque, no futuro, sabe-se lá quem vai ser atingido por já legitimados desmandos judiciais que hoje vitimam o PT.
A articulação política entre PF, Ministério Público e a Justiça já é um dado, e pode atingir no futuro outros inimigos políticos que forem escolhidos por eles.
O pensador Antonio Gramsci, ligado ao Partido Comunista Italiano, descreveu nos Cadernos do Cárcere as observações sobre o que ocorria naquela Itália convulsionada por uma cega adesão à liderança de Benito Mussolini.
Lá pelas tantas, ele tenta entender como se formam as explosões de pânico, a contaminação coletiva por uma ideologia por meio do medo e da formação de sensos comuns – ideias-força sem necessariamente nenhuma racionalidade, mas de fácil aceitação, capazes de comover, envolver ou amedrontar.
Os meios de comunicação são fundamentais na criação dessas mudanças culturais muito rápidas.
A teoria gramsciana merece também ser lembrada nesses turvos dias pelo papel que atribui a instituições do Estado, inclusive à Justiça.
O Judiciário, segundo ele, é um aparelho ideológico de vocação conservadora, resistente a mudanças – inclusive as definidas pelo jogo democrático. Como esse artigo não é acadêmico, só tomo a liberdade de citar o pensador rapidamente, na tentativa de entender o momento em que vivo eu, assustada, como outros tantos; e todos nós – alguns com medo, uns irados, outros tantos odientos, numa composição digna de uma arena romana.
Nessa trama, é difícil diferenciar os cristãos dos leões.
Desde o Mensalão, Gramsci vai e volta em qualquer tertúlia política pela simples razão de que vivemos no meio de uma onda de comoção, pacientemente criada nos últimos anos, destinada a relativizar uma realidade em que as forças envolvidas em campanhas difamatórias, ações espetaculares, uso da máquina judicial, não conseguiram alterar uma realidade eleitoral, e ocupam os demais aparelhos ideológicos de Estado para consolidar uma hegemonia que se imponha sobre o voto.
Tudo o mais – a formação de sensos comuns estapafúrdios, mas simples e claros; o papel da Justiça; o uso dos meios de comunicação na formação de um clima tão denso, tão áspero, tão inóspito, que pode ser apenas cortado com faca afiada – já é passado. Já foi, já produziu efeitos. O clima está criado.
Resta aos democratas tentarem separar o que é espuma, o que é avanço indevido sobre direitos democráticos, do que é efetivamente justo.
Essa é uma tarefa que fica muito difícil, porque o clima e o senso comum agem intencionalmente contra.
O Brasil tem caminhado por sofismas, e Moro usa deles à perfeição.
O clima de histeria criado contra o PT desestimula as pessoas comuns de defenderem governos por elas eleitos, com base no sofisma fincado num senso comum cevado pacientemente nos últimos anos, de que o partido é corrupto, e quem o defende está defendendo a corrupção; de que a Petrobras é de uso do petismo, e o petismo é corrupto, e por isso a Petrobras tem que ser inviabilizada economicamente; de que os corruptos delatores se tornam heróis se delatam o PT, mesmo não tendo credibilidade pessoal nem provas; que a Justiça, para eliminar um partido político, pode usar de que instrumento for, mesmo ao arrepio da lei, para prender e intimidar.
É tão irracional a “sofismação” da realidade e a consolidação de sensos comuns que é difícil entender por que, de repente, as pessoas tenham escolhido se destituir do direito à inteligência.
Cair na armadilha dos sensos comuns criados pelo ódio impede a visão do óbvio.
O tesoureiro do PT, João Vaccari, foi preso pelo juiz Moro porque arrecadou dinheiro legal para o PT, vindo de empresas implicadas na Operação Lava Jato.
As empreiteiras que encheram os cofres do partido de dinheiro doaram igualmente para partidos de oposição, na mesma proporção.
O raciocínio do juiz – segundo o qual dinheiro vindo de empresas fornecedoras da Petrobras, mesmo legal, transforma-se em crime porque foram conspurcados pela ação dessas empresas nas operações com a estatal – não vale para os outros.
Não existe a mínima neutralidade nessa decisão.
A insanidade dos argumentos destinados a inibir a defesa do PT é outra coisa própria desse clima, a prova de que o país surfa na crista da onda de comoção.
Por dois anos, desde a condenação de petistas no processo do Mensalão, criou-se um clima coletivo de ridicularização ou de raiva daqueles que ponderaram contra a ilegalidade de várias das decisões e condenações feitas pelo Supremo.
O julgamento do Mensalão é uma mácula que a Suprema Corte brasileira demorará a se livrar. E a defesa que pessoas fizeram dos juízes que julgaram para atender o público e a mídia é uma mácula que a democracia brasileira terá de lidar daqui para a frente.
O juiz Moro, aquele do Paraná, ganhou um lugar na história do grupo político a que serve. Para a história do futuro, não terá deixado nenhuma contribuição jurídica, pelo simples fato de que rasgou a Constituição.
A mídia tradicional, que ajudou a construir o clima duro que pesa sobre as nossas cabeças, deixará para o futuro a história de reconstrução do udenismo – um futuro em que poucos de seus veículos terão sobrevivido à hecatombe dos tempos modernos.
A oposição partidária, pouquíssimo orgânica, será história, dificilmente futuro. E provavelmente isso também ocorrerá com as forças políticas levadas por essa onda de insanidade. Isso, sim, será uma crise política com efeitos semelhantes ao de um tsunami.
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Comentários
Marat
Juiz Moro, de um país tropical,
Abençoado pela direita,
De janeiro a dezembro (no judi$$$iário) tem carnavalllll
Tem carnaval,
Pra quem é do PSDB…
Alexandre
O que estou achando MUITO estranho é que em todos os comentários acima não existenenhum erro de portugues. Coisa muito difícil de acontecer com a maioria que escreve na internet. Pareceque todos esses comentários foram “encomendados ” e escritos por pessoas com alto índice de escolaridade.
Romanelli
Tudo levra a crer que o PT, por seu esforço, conjunto da obra, e mérito, será o DEM da esquerda, amanhã
Almir
Veja o “futurão” que os neoliberais reservam pra você e seus descendentes: a terceirização (escravatura rediviva). Quem mandou votar na direita? Ah, foi a rede globo… Então prepare o lombo.
marialibia
As pessoas deste blog que estão indignadas com a omissao do STF, com as aberracoes de juízes que se consideram deuses, entrem no blog da cidadania e apoiem o movimento do eduardo Guimarães. SEJAM CIDADÃOS, APOIEM O EDU.
Cleusa
O PT PT PT é isso aquilo e merece isso aquilo e blá blá blá!!!! Eu crelo no PT com todas suas falhas, que são infinitamente menores que suas qualidades – pq fez muito bem pelo Brasil! Além do mais ninguém é perfeito somente Deus e fim.
Jorge Alan Miranda
Parabéns pelo texto Sidnei Brito!
Sérgio Novaes
Seria tão melhor se os petistas honestos reconhecessem os erros dos petistas desonestos e apoiassem as investigações…
Mas o q se vê é a defesa cega dos petistas envolvidos em toda sorte de falcatruas!
Ainda bem q a maioria do povo brasileiro não acha q o Mensalão foi uma “mácula” na história do STF…
Ainda bem q a maioria do povo brasileiro apoia a operação Lava Jato…
Ainda há esperança!!
paulo
E você certamente acredita em cegonha, papai noel e coelhinho da Páscoa, não é mesmo?
Ricardo Lopes
Até que fim apareceu uma pessoa lucida, gostei do seu texto!!!
Jorge Alan Miranda
Até onde se sabe, infelizmente a maioria é mal informada! Os petistas honestos onde me incluo, quer sim que as investigações avancem e alcancem a todos; mas não é o que se tem visto. Descaradamente o juiz Moro vem desde o princípio tentando blindar políticos do Dem e o PSDB. Em relação ao mensalão essa história ainda não acabou, podem ter certeza disso! A verdade vai aparecer! Sabemos que o judiciário julgou sob pressão “política” e popular. Ainda há esperança sim Sérgio Novaes, de que pessoas como você e muitas, parem de ser manipulados pela imprensa.
Lukas
Por tudo que vejo, me parece que hoje em dia o “PIG” está querendo tomar o lugar da oposição no combate ao governo e a “blogosfera progressista” está querendo ditar como o governo e o PT devem se comportar nesta crise. Em ambos os casos, a imprensa acha que os partidos estão muito suaves no combate ao inimigo.
Sidnei Brito
Quanto à primeira parte, a Sra. Judith Brito já disse tudo, há alguns anos. Lembra-se?
marcioicram
e como fica a postura “suave”, “ingênua” e mesmo “leviana” com que a(s) direção(ões) do partido dos trabalhadores vem tratando a sigla há (pelo menos) uma década? ?
Deixaram este clima ser construído paulatinamente por “medo” de se impor e defender seus ideais.. . talvez mesmo abandonados já algum tempo pelo distanciamento que causaram à militância? Esta sim a verdadeira derrotada, mais que a sigla!
A exagerada “justificativa” do discurso republicano, pra não dizer medo, apenas permitia que nos bastidores as estratégias reacionárias conservadoras se contruíssem.. . que de ingÊnuas nada tem nem nunca tiveram!
A história simplesmente está a se repetir! As Esquerdas.. . sobretudo a Esquerda Tupiniquim, na hora do “vamovê”, pedala.. . e a Direita volta pelas sombras ao lugar de onde parece nunca ter saído.. . :o
abolicionista
A questão é saber de onde veio o poder econômico e político para comprar um juiz. Com certeza não saiu barato. Foi pago com dinheiro ou moeda política? É preciso investigar esse angu com muito apuro para saber que caroço sai daí… Com certeza é uma peça chave na estratégia dos golpistas.
Everton
Outro ponto é: se há um golpe em curso, cadê a militância e o povo na rua que o PT tanto diz representar? Cade esse pessoal? A defesa vai ficar só na retórica da internet e dos poucos políticos do partido que dão entrevista e o defendem?
Sidnei Brito
O texto responde, Everton:
“O clima de histeria criado contra o PT desestimula as pessoas comuns de defenderem governos por elas eleitos, com base no sofisma fincado num senso comum cevado pacientemente nos últimos anos, de que o partido é corrupto, e quem o defende está defendendo a corrupção (…)”.
Você já tentou usar um pouco de racionalidade contra aquele seu amigo de trabalho que vem de casa ouvindo a CBN ou a Jovem Pan no rádio?
Você acha que era fácil para um americano simples, até despolitizado se fosse o caso, se opor ao McCarthismo nos anos 1950, por exemplo?
E olha que eu nem vou falar de eventuais “levyandades” do governo que desanimam até seus mais abnegados defensores. Mesmo que Dilma estivesse fazendo um governo verdadeiramente de esquerda, ultradesenvolvimentista, ainda assim – e talvez principalmente por isso, pois seria ainda maior o bombardeio – dificilmente haveria gente com coragem – ou paciência – de defender o governo.
Everton
Sidnei Brito. O ponto é que sucessivas denúncias de corrupção tem atingido o PT desde 2005. É mensalão, ministro que desvia verba, mal uso de jatos da FAB, André Vargas, Petrolão, etc, etc, etc. Que a mídia exagera, é uma verdade. Mas o que o PT quer? Que a mídia não dê notícia de corrupção? Isso vende e é assim no mundo inteiro. A verdade que ninguém fala, é que teve corrupção no governo nestes 12 anos. Não estou aqui para apontar o quê e culpados, mas de fato existiu e ainda tem. Chega uma hora que o povo cansa disso. Se o que você comentou de que o pessoal não tem coragem de defender o governo prejudicado por um suposto sofisma que a mídia cravou no senso comum da sociedade em geral, então eu te digo que o PT está com os dias contados. Se não tem quem defenda o partido, pode ter certeza que ele vai começar a definhar a partir das próximas eleições. Sem apoio da sociedade, o partido não fica no poder. Não tem jeito.
Sidnei Brito
Everton, a grande verdade é que os governos do PT foram o que mais combateram a corrupção em nossa história, sem sombra de dúvida.
Foi, também, o nosso período de trato mais republicando com as instituições – um republicanismo até ingênuo, segundo alguns.
E não adianta a gente achar que os desvios do PT, que são normais em quaisquer partidos, dão razão à imprensa ou à maioria por ela contaminada. Ela, inclusive, jamais deveria deixar de noticiar eventuais casos de desvio. Mas não pode ser de um lado só, pô!
Aqueles dados oficiais do TSE acerca de cassação por corrupção eleitoral trazem DEM e PSDB, juntos, com cerca de 130 nomes, contra 10 do PT, ou seja, 13 vezes mais! Ok, ok, o PT tem 10 nomes lá. Pau no PT, então. Mas o que não dá é viver num País em que se vocÊ sair por aí perguntando, as pessoas, sem saber, iriam dizer que o PT encabeça tal lista, o que está longe de ser verdade.
Não dá para simplesmente aceitar que o PSDB tenha sido campeão dos fichas sujas em 2012, com três vezes mais candidatos barrados do que o PT, e as pessoas continuem achando que o PT é o maior problema ético da face da terra.
Não é razoável que as pessoas saiam aos milhares nas ruas para bradar contra a corrupção (do PT), enquanto pesquisas indicam que as mesmas votaram em Aécio Neves, sem que ninguém veja uma contradição nisso.
Eu estou aqui falando isso com você. Confesso, respondendo sua primeira pergunta, que, conversando com qualquer pessoa de meu círculo, eu não conseguiria terminar a primeira frase.
Mas, é claro, há que se tentar. Sempre.
Jaulês
Não existe injustiça mais nefasta do que esta. Ela é causada pelo órgão que deveria ser curador da justiça nacional. Pior ainda o giro discursivo, que engana grande parte da população com uma máscara de legalidade.
É justamente como fala o Jurista Jacinto Nelson de Miranda Coutinho, quando afirma que tais pessoas “parecem pavões, com belas plumas multicoloridas, mas os pés cheios de craca”
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