Carlos Bandeira: Decepção com o discurso de Lula a militantes

Tempo de leitura: 3 min

PLENARIA5

Lula puxa freio de mão no começo da subida da ladeira

por Carlos Bandeira

Frustração. Foi essa sensação que tomou conta dos militantes dos sindicatos, movimentos populares e organizações de juventude combativos que participaram da plenária dos movimentos sociais na quadra dos bancários.

A proposta original da plenária era animar a militância para as batalhas, discutir uma plataforma e organizar as lutas do próximo período, para enfrentar a ofensiva dos setores conservadores.

Ou seja, o momento era de organizar a tropa para encarar a guerra declarada no dia 15 de março.

O discurso do ex-presidente Lula, no entanto, foi um banho de água fria, com a defesa intransigente do governo Dilma, sem apresentar nenhuma contrapartida para as forças progressistas. Em resumo, ele disse que as pautas dos movimentos popular não serão atendidas, mas mesmo assim devem sustentar o governo.

O economia brasileira passa por um momento bastante complicado, em um quadro de crise econômica mundial. No entanto, o governo tem apresentado como remédio medidas que representam perdas para os trabalhadores.

Qual a contribuição o capital financeiro, os especuladores, as grandes indústrias e redes do setor de serviços, enfim, os milionários darão para enfrentar a crise?

Lula não de uma palavra sobre essa questão. Pelo contrário. Afirmou que o governo quer melhorar a vida dos mais pobres sem mexer no patrimônio dos mais ricos. Até mesmo a bandeira da reforma política, a dita prioridade do PT, não apareceu no discurso do ex-presidente.

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Para sustentar esse discurso, Lula leu manchetes de grandes jornais que, em 2003 e 2007, anunciavam o fracasso do seu governo. Ou seja, quem apostar contra Dilma agora errará como fizeram aqueles que agiram dessa forma antes…

Depois de 12 anos, os governos liderados pelo PT não fizeram reformas que mudassem a correlação de forças na sociedade, como a reforma política, mudanças no Poder Judiciário, a reforma tributária e a democratização dos meios de comunicação.

O problema é que nessa década os inimigos das mudanças sociais se organizaram, ganharam músculos e colocam suas artilharias contra o governo, promovendo protestos de massa, em um quadro de crise econômica sem perspectiva de retomada.

A jornada de lutas das forças progressistas no dia 13 de março demonstrou o potencial do movimento sindical, popular e organizações de juventude de crescer em um cenário de enfrentamento.

Era o início de um processo de lutas, com uma perspectiva multiplicadora a nível nacional, que poderia mudar a correlação de forças, ganhar corpo e colocar a esquerda na ofensiva no médio prazo.

No entanto, Lula puxou o freio de mão no começo da subida da ladeira, minando o entusiasmo daqueles que desejam ir além da defesa do governo e querem ir pra cima dos inimigos do povo brasileiro.

Foi no sentido contrário, inclusive, do presidente da CUT Vagner Freitas, que afirmou que não se deve admitir corte de direitos, criticou os ajustes do governo e o papel do ministro Joaquim Levy, cobrou taxação sobre fortunas e limites às remessas de lucro para o
exterior.

O ex-presidente crê que será possível passar por essa violenta tempestade sem fazer enfrentamentos e anuncia de antemão que, nesses quatro anos de governo Dilma, nada será feito nesse sentido.

Os governos Lula/Dilma resistiram até agora porque a direita evitou levar a guerra até as últimas consequências, à espreita para o melhor momento do bote. Agora, ela quer.

E não se vence uma guerra sem luta. Bandeiras brancas não derrotam tanques, canhões e mísseis. Nem o George Soros, as 7 Irmãs do Petróleo, a Globo, o Gilmar Mendes e o Sérgio Moro.

Leia também:

Luciana Genro: Burguesia não quer golpe, nem impeachment de Dilma

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Comentários

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Romanelli

Jesus cristo ..guerra, luta, inimigos do povo ..momento do bote ..tanques, canhões, mísseis..que drama !!!
.
Alô_ou ?! Tem alguém aí disposto a propor, conversar, trabalhar, criar, dialogar, inovar ? ..ou será que ainda a maioria é movida por gritos de guerra vazios de idéias e de pragmatismo ?
,
LULA puxou o freio na subida, é mesmo ?
.
Tomara que ele tenha sucesso na tentativa ..pois a persistir este clima de conflito, de falta de auto critica, de ausência de propostas e de visão de conjunto pelos erros cometidos fartamente por Dilma (a nossa presid’anta “querida”) ..aí vai ser morro abaixo mesmo
.
Comecemos a conversar assim, responda pra mim:
.
O que você faria, se, ou com ?
.
https://www.youtube.com/watch?v=Zb4eqZqCZFo

Adriano Medeiros Costa

Concordo com o autor Carlos Bandeira. É exatamente assim!

JC

Aos companheiros do Viomundo,

Uma mensagem de Amor, Paz e Esperança: a Música na Libertação dos Povos…
http://www.aporrea.org/tiburon/n268117.html

Feliz Páscoa!

JC

Adriano Medeiros Costa

Grande texto!!!

Fabio Silva

Mas, será que ao participar de um ato com lideranças se manifestando contra o ajuste fiscal debitado dos trabalhadores e contra opções como as que levaram Levy ao governo, não seria um “recado controlado” por parte de Lula?

Se ele, pessoalmente, faz um discurso mais radicalizado (que foi feito pela boca de outros, como o presidente da CUT), a leitura sobre o evento pode ser completamente outra, e acaba enfraquecendo o governo a ponto de inviabilizá-lo.

Mesmo sem explicitar verbalmente, estar ali já era o recado para o governo.

O me deixa em dúvida é: Lula “manda recado” para que o governo ao menos “sinalize” uma atenção maior com os movimentos sociais e “demonstre” ao mesmo tempo que não vai descuidar do controle macroeconômico – isso não é uma supervalorização da comunicação como potência para agenciar objetivos políticos?

Sei que os discursos são ação. Uma fala de um presidente pode colocar seu país em conflito com outro. Mas qual é o alcance e o limite desse poder? Fico pensando nos movimentos das Diretas, que redundou em mobilização de massas e ao acordo que levou, efetivamente, às eleições presidenciais. Depois, na Constituinte, que mobilizou a militância das áreas da saúde, do sindicatos, dos movimentos indígenas e indigenistas, ambientais, da comunicação etc, etc, etc, e culminou com a Carta Magna de 1988. Fico pensando nos movimentos que levaram às profundas transformações nas Constituições da Venezuela e da Bolívia, e nos grandes avanços alcançados no Uruguai. Foram mobilizações populares (onde a comunicação com as massas teve seu papel) que resultaram em transformações efetivas.

Aqui no Brasil, foi graças à mobilização pela internet (comunicação) que Dilma conseguiu virar e vencer uma eleição para lá de complicada. Mas, por que essa mesma massa de comunicadores não consegue fazer o governo avançar nas questões que os movimentos sociais defendem?

Luciene

Pois achei de uma serenidade tamanha, uma grandeza de espírito e uma sensatez fenomenal diante de toda essa histeria, falta de senso, boa educação e elegância que andam em falta nas lideranças atuais e nas redes sociais. Grande Lula!

Francisco

Muito branco, muito sulista, muito pequeno burguês e muito cargo em comissão no governo Dilma.

Pouco sindicalista, pouco preto, pouco nordestino e pouca transformação institucional.

O PT, como o PCB no seu tempo, foi um partido honrado e batalhador: isso é inquestionável.

Vai chegando o tempo da nova fase, de novos desafios e de nova visão.

Fato comum da vida, quase banal: sempre foi assim e – felizmente – sempre será.

Julio Silveira

Nem quero falar o que eu acho para não magoar muita gente boa e dedicada.

FrancoAtirador

.
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Hora de Cortar o Umbigo.
.
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    Edgar Rocha

    Também acho, colega. O que sugere? PSOL?
    Fiz este questionamento no texto da Luciana Genro e não é que sequer foi publicado! Também questionei se o Viomundo ou os militantes que opinam aqui acham que seria a solução. Também não tive resposta. Queria muito saber o que pensam.

Lafaiete de Souza Spínola

Para transformar o Brasil necessitamos de mudanças profundas:

https://www.facebook.com/LafaieteDeSouzaSpinola/posts/376383689185712

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