Antônio David: Vladimir Safatle e o difícil exercício da (auto)crítica

Tempo de leitura: 8 min

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por Antônio David, especial para o Viomundo

Vladimir Safatle é um dos mais renomados intelectuais brasileiros da nova geração. Filiado ao PSOL desde 2013, ele é hoje uma das vozes da esquerda socialista no Brasil, sobre a qual tem inegável influência.

Safatle concedeu entrevista à Rede Brasil Atual, na qual abordou os mais recentes acontecimentos da conjuntura política brasileira. Uma entrevista curta, porém rica em pontos de natureza estratégica. Vale a pena tomar suas declarações como ponto de referência para tratar dos impasses da esquerda no Brasil.

Neste artigo, pretendo tratar de um impasse, em particular: a ausência de autocrítica.

Safatle sustenta ser necessária uma transformação radical. Para tanto, propõe “uma nova Assembleia Constituinte”, que deve ser “autônoma”, “extra-parlamentar”, “com alta presença popular”, tudo com vistas a “voltar ao grau zero da representação”. Safatle tem em mente nada menos que “reconstruir uma experiência democrática”. Em suma, para Safatle, precisamos de “um sistema completamente diferente” do que temos.

A situação deveria ser de tal forma outra que, segundo Safatle, aqueles que foram para as ruas defender a volta da ditadura “deveriam estar na cadeia”. Segundo Safatle, para estes “não tem discussão, tem lei”. (Como sabemos, a realidade é bem diferente).

Quais são as condições para tal transformação radical?

Safatle não diz textualmente, mas supõe-se que as condições são criadas pela mobilização do campo da esquerda. Ao menos, é o que Safatle sugere quando critica a estratégia dos governos Lula e Dilma pela “desmobilização do campo de esquerda”. Infere-se que as condições poderiam ter sido (ou ainda podem ser) criadas pela esquerda. Esse ponto é central no argumento.

Se as condições podem ser criadas pela esquerda, por que a esquerda optou por não criá-las? O que deu errado?

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Antes de examinarmos a questão, sigamos o raciocínio de Safatle.

Ele vai mais longe na crítica: diz ele que a “Nova República foi um fracasso do ponto de vista político” e que “a experiência democrática não deu certo”. Tais assertivas baseiam-se no fato de que “todo e qualquer governo deveria compor com agentes da ditadura e gerir uma massa fisiológica”. Note-se: “todo e qualquer governo”. De fato, foi o que ocorreu. Safatle conclui essa parte do raciocínio dizendo que se “criou um sistema que torna impossível governar um processo de transformação”.

(Se, ao dizer isso, Safatle nega a existência de um processo de transformação em curso, ou se para ele a transformação em curso é tímida demais, pouco importa. O que importa no argumento é que a estratégia esgotou-se. Voltarei a esse ponto mais adiante, pois aqui reside parte importante do impasse).

Assim, “desmobilização do campo de esquerda” e fracasso da Nova República são como irmãos gêmeos.

O raciocínio de Safatle esconde aquela que é a polêmica fundamental que dividiu e ainda divide a esquerda brasileira. É necessário examiná-la.

A polêmica nasce de uma questão que pode ser expressa nos seguintes termos: se o sistema é blindado, tal como Safatle sustenta, como enfrentar tal blindagem?

Há muitas opiniões. Entretanto, correndo o risco de eliminar detalhes, penso ser possível reduzi-las a duas grandes correntes de pensamento.

Para alguns, cabe à esquerda adotar uma estratégia de enfrentamento. Safatle situa-se nesse campo. Para essa corrente de pensamento, a conciliação apenas produziria o que produziu: “fracasso”. É certo que “todo e qualquer governo” teria de lidar com um Estado blindado, mas um governo de enfrentamento ao menos produziria a “mobilização do campo da esquerda”. Eis ai a possibilidade da transformação. Claro que essa corrente de pensamento supõe que, com mobilização, a esquerda teria tido (tem) chances de triunfar em face da reação da direita.

Para outros, cabe à esquerda adotar uma estratégia de conciliação. Segundo essa corrente de pensamento, o enfrentamento invariavelmente levaria à derrota, e a esquerda sairia do processo pior do que entrou. Melhor é fazer mudanças lentamente, minimizando ao máximo os riscos. Trata-se da estratégia que foi implementada.

(Não é preciso lembrar que, no interior de cada uma dessas duas correntes, há grupos diferentes com pontos de vista diferentes).

Essa estratégia de fato esgotou-se? E caso tenha se esgotado, devemos dar razão à primeira corrente de pensamento?

Ao invés de dar razão a uma ou outra dentre as duas correntes, penso ser mais proveitoso procurar entender as razões de cada uma. Não só porque, de fato, cada uma tem suas razões, mas, sobretudo, porque os impasses vividos pela esquerda na atual conjuntura exigem uma síntese.

Quais são as razões da primeira corrente de pensamento, aquela que advoga pelo enfrentamento?

Em uma palavra: o enfrentamento é inevitável. Mesmo que façamos todo o esforço para evitá-lo, fazendo todas as concessões, o outro lado nunca aceitará a mudança, mesmo que a mudança seja lenta. A direita não admite mudança alguma e aproveitará todas as oportunidades para reagir, inclusive de maneira violenta. Já vemos no horizonte.

E quais são as razões da segunda corrente de pensamento, que defende a conciliação como estratégia?

O próprio Safatle evoca os argumentos que dão razão para a segunda corrente de pensamento quando reconhece que haveria no Brasil “uma direita extremada que se aproveita de um descontentamento popular real”. Não escolhi essa frase aleatoriamente. Note-se: o fato de haver, tal como Safatle enuncia, “um processo de caça à esquerda formado há muito tempo”, não dá razão à segunda corrente de pensamento, mas o fato de haver descontentamento popular, sim.

Deveríamos no mínimo refletir se uma estratégia de enfrentamento pode suportar uma reação da direita se considerarmos que o enfrentamento produz instabilidade econômica e que, num cenário de instabilidade econômica, não é razoável esperar apoio popular. O povo não apoia um governo de esquerda pelo simples fato de o governo ser de esquerda. O povo apoia o governo quando sua vida melhora.

Aqui, afasto-me de Safatle quando ele afirma que “o Brasil sempre foi um país dividido entre direita e esquerda”. Trata-se de uma má leitura do Brasil. Na verdade, o Brasil sempre foi dividido entre ricos e pobres e entre brancos e negros, mas a divisão política entre direita e esquerda só raras vezes veio à tona. Na verdade o povo não é por natureza nem de esquerda, nem de direita, mas vulnerável à mobilização da esquerda e da direita de acordo com a situação.

Dito isso, se as duas correntes de pensamento possuem as suas razões, penso ser o caso de perguntar se existe espaço para uma síntese entre ambas.

A síntese, assim penso, pode ser formulada nestes termos: se por um lado o enfrentamento é inevitável (de sorte que negá-lo é como cometer suicídio), por outro lado a esquerda tem de preparar as condições – ou seja, a si mesma e ao povo – para o enfrentamento (pois enfrentamento sem apoio popular é igualmente suicídio).

Ora, o apoio popular não se conquista com propaganda; por melhor que seja a propaganda, se a mesa e o bolso estão vazios, a propaganda da direita sempre será melhor. Apoio popular conquista-se com a melhora real e concreta das condições de vida material e cultural do povo.

Penso ser inegável ter havido nos últimos doze anos melhora nas condições de vida material do povo. Então por que o povo parece agora afastar-se do governo? Onde foi que o governo errou?

O equívoco da estratégia do lulismo não consiste em ter levado a cabo um governo de conciliação; consiste em ter acreditado na conciliação. Ao acreditar naquilo que deveria ser visto como instrumental, o lulismo não preparou sua base militante nem o povo para o enfrentamento. Acreditou que o processo iniciado em 2002 seguiria adiante de maneira linear.

Ao mesmo tempo, o equívoco daqueles que advogam pelo enfrentamento é não ter visto o potencial transformador da estratégia de conciliação. Foi exatamente um governo de conciliação que propiciou a melhora das condições de vida material do povo e que, paradoxalmente, alimentou o conflito, mesmo quando sua intenção era evitá-lo. Se hoje o povo quer mais, é porque foi empurrado (pelo governo) a querer mais.

A origem e a persistência dos equívocos remonta a um período anterior à eleição de Lula em 2002.

Ao invés de enfrentar o desafio teórico e prático de buscar uma síntese quando da crise aberta pela derrota de Lula em 1989, os dois lados foram aos poucos transformando suas leituras em dogmas, num processo em que as convicções e identidades dos dois grupos forjaram-se mutuamente, no embate, na base mesmo da polarização. Uns empurraram os outros para o pólo oposto. Quanto mais uns negavam a conciliação, mais os outros apegavam-se a ela, tomando-a como princípio. O mesmo vale para o enfrentamento.

Não é por acaso que, hoje, enquanto uns tomam a conciliação como se esta fosse um princípio sagrado e descartam todo e qualquer enfrentamento, outros consideram a conciliação impensável em quaisquer circunstâncias e não cogitam agir de outra maneira que não através do enfrentamento. A luta interna nos anos 80 e 90 forjou duas correntes de pensamento num processo centrífugo que jogou os dois grupos para pólos extremos, incapazes de dialogar e cooperar.

O que essa divisão produziu? De um lado, uma esquerda forte eleitoralmente, mas, salvo exceções, incapaz de cumprir as tarefas de mobilização exigidas pela atual conjuntura; de outro lado, uma esquerda vocacionada para a mobilização, mas, salvo exceções, incapaz de mobilizar o povo, pois manteve-se distante dos processos reais de melhora das condições de vida dos trabalhadores (especialmente dos mais pobres) levados à cabo na última década.

Negando-se uma à outra, as duas correntes de pensamento não se prepararam para os embates de agora e que estão por vir. Não se prepararam cada uma a si porque não tiveram a generosidade de preparar uma à outra.

Mas o mundo dá voltas, e os acontecimentos das últimas semanas abriram (mais uma vez) a oportunidade de uma síntese entre os dois campos. No entanto, só haverá síntese se houver autocrítica, e esta, ao contrário dos embates com a direita, não parece estar no horizonte. A derrota política parece causar menos medo do que a crise de identidade virtualmente aberta pelo exercício da autocrítica.

No lugar da autocrítica, insiste-se nos esquemas cristalizados: uns partem do pressuposto de que  a conciliação promove a mudança, não reconhecendo o papel do enfrentamento; outros partem do pressuposto de que  o enfrentamento promove a mudança, ignorando o papel da conciliação.

Os primeiros ignoram que só uma sociedade na qual a cultura democrática é predominante admite mudança sem enfrentamentos e que, cada vez mais, conciliar significará colocar a perder o que foi conquistado nos últimos anos. Os segundos ignoram que só faz sentido cogitar em enfrentamento se houver na sociedade uma força social expressiva, grande e massiva disposta a fazer enfrentamento, e que a parte da sociedade brasileira que tem interesse nas mudanças foi (e ainda é) beneficiada pelos governos Lula e Dilma.

Conciliação e enfrentamento não são palavras necessariamente antagônicas e excludentes. É a estratégia que as torna divergentes ou convergentes. A superação dos impasses históricos do Brasil, herdados do passado colonial, exigem convergência entre conciliação e enfrentamento.

Todos criam uma narrativa do passado com vistas a justificar suas escolhas no presente. Ao abstrair o governo e o PT da história da esquerda no Brasil, a narrativa segundo a qual a estratégia do governo teria levado a uma “desmobilização do campo da esquerda” esconde o fato de que tal desmobilização deu-se não apenas ou simplesmente pela ação deste ou daquele ator, mas, sobretudo, no interior do processo de luta interna na esquerda, como fruto do desencontro entre os desafios impostos pela conciliação e os desafios impostos pelo enfrentamento, e que desse desencontro produziu-se o atual quadro de desmobilização de massas.

Se o desafio consiste em mobilizar, há que se olhar para as raízes do problema. Tocando em pontos capitais da conjuntura política brasileira, Safatle ainda não conseguiu ultrapassar os limites de um pensamento que não consegue acertar constas consigo mesmo.

PS. Num determinado momento da entrevista, Safatle afirma que “durante anos uma parte muito significativa da classe média votou no PT”. A expressão “parte muito significativa” é um tanto vaga. Convém notar, no entanto, que o voto no PT nunca foi predominante nessa classe. Em relação à relação entre voto e classe, se é certo não haver uma clivagem total (evidentemente, há pobres entre os eleitores de Aécio e ricos entre os eleitores de Dilma), Safatle perde de vista a predominância. Em cada fração de classe, predomina certa preferência. O fenômeno da predominância verifica-se inclusive nas recentes manifestações, como as pesquisas mostraram.

Antônio David desenvolve pesquisa de doutorado no Departamento de Filosofia da USP.

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Comentários

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Lucas

sobrentende-se do texto que a esquerda só tem apoio popular se ela está no governo.
Jaz aí o lapso de pensamento, a covardia e o erro irremediável dos setores reformistas brasileiros. Sabem que sem a máquina estatal eles não são nada, não tem ideologia nenhuma que não seja administrar o Estado burguês tentando dar migalhas para os pobres, na esperança de que os pobres os apoiem para… para que eles continuem dirigindo a máquina estabilizadora do capitalismo.

Matheus

A desmobilização dos movimentos populares é um FATO. Não cabe colocar “suposto” aí. É só encarar a realidade da atuação prática da UNE, MST, CUT, etc. Quando cresceram movimentos independentes, a resposta do PT como governante foi se aliar à pior escória direitista para reprimir e desarticular. Ou alguém aqui finge que não ouviu o ministro Cardozo anunciando apoio a governadores tucanos e peemedebistas para reprimir protestos e greves? Agora não reclamem, pois destruíram a única coisa capaz de frear o avanço protofascista num país onde oligopólios televisivos nacionais de filhotes da ditadura foram impostos muito antes da escolarização universal (que ainda é uma demanda). Neste contexto, a revolta espontânea contra o que na verdade são heranças da ditadura militar e do neoliberalismo dos anos 1990 acabe sendo canalizada, pela militância de extrema-direita e pela mídia da oligarquia, como uma “revolta contra o PT”. Quem precisa de autocrítica, de verdade, são os burocratas petistas, que falam fininho com a direita e grosso com a esquerda.

Paulo Falcão

Convido para uma interessante e crítica análise deste artigo. Recebeu o irônico título “COMPANHEIRO, VOU FAZER SUA AUTOCRÍTICA” e pode ser lido aqui: http://goo.gl/p7odNH

    abolicionista

    Mas que imbecilidade, Marx era um homem do século XIX. Além disso, sua análise econômica não pode ser refutada pelo fato de que ele era homofóbico (e, muito provavelmente, também racista). Pouco importa se Marx era boa ou má pessoa, o que importa é saber até onde sua análise político-econômica acertou ou não. O resto é populismo e revisionismo histórico…

abolicionista

A questão central, que o autor ignora de propósito, é como fazer o país distribuir renda, como fazer o andar de cima abrir mão dos privilégios. Sem enfrentamento, isso é impossível. Outra coisa, nossa elite não abre mão de um centavo, defende cada centavo com toda a força que tem à disposição. Ponto. Falar em coalizão é fingir que não temos uma elite escravocrata, bélica, unida e aguerrida. Os ricos nunca foram tão ricos e o PT, mesmo despertando tanto ódio por sua origem popular, sequer arranhou a imensa desigualdade estrutural da sociedade brasileira. Sem responder a isso, fica difícil acreditar nos argumentos dos petistas…

Adolfo Silva Rego

Foi dito por Batista Neto: “não aceitaram a decisão da maioria e partiram para a ruptura”. Não e não e não. Isso é inversão do ocorrido. Não foram os então “radicais” do PT que “partiram para a ruptura”! Foi a burocracia petista que, para fazer uma média com os novos parceiros da direita, simplesmente os expulsou, sem direito a apelos. Inverter o ocorrido, a essa altura, cheira a stalinismo barato!

Maria Paula

E bom ler textos e opinoes que me faz refletir.

JC

O texto é admirável, mas a visão é falha ao defender nas entrelinhas um governo de conciliação o que dá a entender que a oposição brasileira atua de moto próprio e tem poder de decisão. Ledo engano, diriam até os poetas, mas dele o povo brasileiro toma a cada dia mais conhecimento. Com bens de discutível origem alocados em outros países, parte importante da oposição tornou-se uma simples refém. Passou a agir e somente como um mero instrumento do ‘mercado’, do grande capital de nações mais poderosas. É ele quem igualmente dita o comportamento da grande imprensa cujo objetivos presentes não são outros que o caos, a desordem, precursores do aniquilamento total da nacionalidade, da soberania.
JC

Adolfo Silva Rego

Apesar de não estar dito expressamente, encontra-se nas entrelinhas a seguinte estratégia, com a qual concordo, e que não está descartada no posicionamento de Safatle:

A conciliação com a direita só é possível se a esquerda encontrar-se mobilizada. Em outras palavras, a direita precisa ser encurralada, pressionada, para aceitar a conciliação como um mal menor. De outro modo, ela coloca suas mangas de fora contra qualquer mudança. E porta-vozes não lhe faltam: a própria mídia conservadora e monopolística, as redes sociais cheias de jovens despolitizados etc. etc.

O erro do governo Lula não está na conciliação. Está na estratégia de conciliação: para agradar a direita, desmobilizou os movimentos sociais. Nesse sentido, pode-se apontar que: a) os principais dirigentes da CUT foram incorporados ao governo (tornaram-se ministros, deputados, prefeitos, etc.), com o intuito de enfraquecimento e “apelegamento” do movimento sindicalista; b) em vez de fazer a reforma agrária, cooptaram-se as lideranças do movimento (muitos entraram para a política) e deram-se incentivos materiais aos integrantes, os quais foram cadastrados em programas sociais, passaram a receber benefícios assistenciais (como forma de apaziguamento e intimidação), sem serem atendidos em suas reivindicações.

Por outro lado, os governos do PT nada fizeram para democratizar a mídia. Utilizaram a estratégia de ficar ameaçando com a democratização como moeda de troca. A mídia aceitou essa situação por conveniência, mas, na primeira oportunidade em que se deparou com o governo enfraquecido, deu o troco.

Assim, se o projeto petista sobreviver à intentona direitista, precisa reciclar-se. Voltar às origens, redemocratizar internamente o partido e abandonar a tática eleitoreira, que está destruindo o partido. Deve-se voltar a candidatar os filiados de base, militantes, e esquecer os Andrés Sanchez da vida e muitos outras figuras públicas que adentraram as fileiras petistas com o intuito meramente eleitoreiro.

Claudio Freire

Boa análise.

Véio Zuza

Brilhante e ponderada análise. De acordo em tudo…

Diego

UM DESABAFO

Longe de desertar da luta ,mas, ainda que consciente da necessidade de se manter a governabilidade, é cada vez mais difícil para mim defender um governo que tem ministros como Levy, Katia Abreu, Kassab, Gilberto Ochhi, que promove um aperto nos benefícios trabalhistas, flerta com a privatização da caixa economica federal, não promove a reforma agrária, enfim, a lista de contrariedades é grande para aqueles que defendem uma agenda progressista.

Todos os dias torço para que a gestão Dilma II faça ao menos um aceno para a esquerda, tome uma atitude de impacto que faça com que eu tenha orgulho de defender seu governo. Acredito em algum programa que contemple alguma reivindicação histórica da esquerda, para que assim ela consiga demarcar claramente qual a posição do seu governo. Mas a cada momento esse desejo parece estar mais distante de ser realizado.

Passou da hora dos conciliadores governistas de plantão adotarem, minimamente, uma postura de enfrentamento contra a direita oposicionista e contra a direita que supostamente está na base aliada. Com as atuais posições o governo não consegue apaziguar o ódio de seus adversários ( para eles, nunca será suficiente) mas consegue afastar seus possíveis defensores.

    Mário SF Alves

    A querida presidenta Dilma vacinou-se contra a infantilidade de todo e qualquer voluntarismo esquerdista praticado no Brasil. E a vacina foi o PLENO ENTENDIMENTO de como e porque se deu o vergonhoso e trágico golpe [dito] de Estado de 1964. Ela sofreu [e certamente sofre] no corpo e na alma as consequências de tudo aquilo:

    1) Quarenta e tantos anos de injustificável atraso socioeconômico;
    2) Quarenta e tantos anos de atraso na superação do capitalismo mais injusto e sádico do Planeta;
    3) Cinquenta e um anos de atraso nas Reformas de Base idealizadas pelo governo do presidente João Goulart.

    Creio que seja isso.

Mário SF Alves

1) O enfrentamento é inevitável? Hoje mais do que nunca, acredito que sim, até porque, não fosse assim, jamais teria sido possível a adoção pública daquela esquizofrenice “o que é bom para os EE.UU. é bom para o Brasil”.

A questão que subsiste é: conciliação ou enfrentamento?
Pergunto: não dava pra ser as duas, cada qual a seu tempo e hora?
E quem disse que o Brasil é, foi ou está vocacionado a ser vanguarda na superação do capitalismo? Que pretensão é essa?

2) “Aqui, afasto-me de Safatle quando ele afirma que “o Brasil sempre foi um país dividido entre direita e esquerda”. Trata-se de uma má leitura do Brasil. Na verdade, o Brasil sempre foi dividido entre ricos e pobres e entre brancos e negros, mas a divisão política entre direita e esquerda só raras vezes veio à tona. Na verdade o povo não é por natureza nem de esquerda, nem de direita, mas vulnerável à mobilização da esquerda e da direita de acordo com a situação.”

Comentário: Concordo. Não com o afastamento, lógico.

3) “Ao mesmo tempo, o equívoco daqueles que advogam pelo enfrentamento é não ter visto o potencial transformador da estratégia de conciliação. Foi exatamente um governo de conciliação que propiciou a melhora das condições de vida material do povo e que, paradoxalmente, alimentou o conflito, mesmo quando sua intenção era evitá-lo. Se hoje o povo quer mais, é porque foi empurrado (pelo governo) a querer mais.”

Comentário: Discordo. Se o povo, a imensa maioria população brasileira, historicamente alijada do direito à cidadania plena, quer mais, é porque, em realidade, pode querer mais. E pode querer mais porque o Brasil não é um paisinho qualquer. O Brasil que sempre nos foi negado é um País muito maior do que historicamente, cinicamente e sadicamente nos foi mostrado. É esse o Brasil de verdade (ou quase pleno) que apareceu aos olhos de todos nesta última década. Nesse sentido, observe o impacto da indústria da construção em grandes centros urbanos; pense no projeto de transposição das águas do São Francisco; pense nos grandes projetos de hidrelétricas; pense no orgulho público que foi a Petrobras (antes da sabotagem midiática); pense na arrogância do FMI caindo fora após décadas ditando regras e humilhando o Brasil; pense no Lula exorcizando a tsunami com o galhinho de arruda da marolinha; pense no orgulho da política externa nos governos Lula; recorde-se do Lula na ONU ou ao lado da Rainha da Inglaterra; enfim, recorde-se do esplendor da Copa do Mundo de Futebol no Brasil (igualmente quase sabotada).

    Maria

    Apoiado

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