J. Carlos de Assis: Se sugar a economia real, mais imposto agrava a recessão

Tempo de leitura: 3 min

foto levy gasolina

Se for para sugar a economia real, mais imposto agravará a recessão

por J. Carlos de Assis, no GGN

A elevação das alíquotas de alguns impostos por Joaquim Levy contrapõe-se a um dos maiores equívocos da administração Mantega no primeiro governo de Dilma. O conjunto de exonerações determinado por este último em nome de um keynesianismo mambembe de livro texto, sem considerar as condições monetário-fiscais brasileiras, em lugar de contribuir para o crescimento do PIB foi um dos principais fatores da estagnação em que nos encontramos.

O pressuposto das exonerações fiscais é que seus beneficiários, principalmente empresários, investiriam ou consumiriam imediatamente os recursos economizados com impostos. O governo teria menos para gastar, mas os privados investiriam mais. Dessa forma, estimulariam o crescimento. Entretanto, em face de um consumo tendente à estagnação, e na presença de taxas de juros reais extravagantemente elevadas num mundo de taxas básicas em nível zero, os empresários, em lugar de investir, preferiram aplicar no mercado financeiro brasileiro ou simplesmente remeter os lucros excedentes para o exterior. Assim, exportamos os impostos “economizados”.

Claro que apenas manter a carga fiscal não teria resolvido o problema da estagnação. Teria sido necessário que toda a carga de impostos original, antes da desoneração, fosse aplicada, com o conjunto dos impostos, em investimentos ou em consumo do setor público. Isso é óbvio, porque imposto significa retirar recursos da economia, o que só pode ser contrabalançado em termos de contribuição ao crescimento pelo gasto público ou privado. Quando se tira imposto muito acima do gasto público  não financeiro (superávit primário), se o privado não investir na economia real a economia tende necessariamente à estagnação.

Desonerações fiscais, nas condições brasileiras, significaram redução, e não aumento do investimento na economia. Mas a mesma coisa acontece com o superávit primário. Nesse caso, retiram-se recursos da economia para que sejam esterilizados na dívida pública sob a forma de pagamento de juros e amortizações. Se as taxas de juros forem altas, esses recursos não retornam à economia real. Diante disso, é preciso saber exatamente o que Joaquim Levy pretende fazer com o aumento dos impostos. Se for apenas “economizar” para pagar juros, teremos o ciclo clássico dos ajustes fiscais de caráter recessivo, que está liquidando com a maioria das economias europeias.

Diante dessas considerações, sou totalmente favorável, sob condições, à restauração da CIDE, o imposto sobre a gasolina (22 centavos o litro) e o diesel (15 centavos). Ele nunca deveria ter sido zerado em 2012. Na origem remota, a CIDE era um imposto vinculado a investimentos sobretudo em logística, numa época em que tinha outro nome (IUCLG). Graças ao imposto vinculado construímos uma vasta rede rodoviária. Quando entramos em crise cambial e tivemos de recorrer ao FMI, o Fundo exigiu a extinção dos impostos vinculados.

Um dos últimos atos do Governo Fernando Henrique foi restaurar o imposto, porém sem vinculá-lo a investimentos específicos. Em outras palavras, caiu no caixa único do Tesouro. Se é para reverter à caixa única a fim de se fazer superávit primário, sou frontalmente contrário à restauração da CIDE. É que basta circular pelo país para concluirmos que precisamos de grandes investimentos em logística, o que não acontecerá apenas com PPPs, sobretudo agora que as grandes empreiteiras enfrentam óbvias dificuldades em suas operações com o setor público.

Joaquim Levy revelaria um alto grau de sabedoria se mandasse ao Congresso um projeto de lei vinculando a CIDE a investimentos em logística. De acordo com as faixas anunciadas do tributo, deveremos ter uma arrecadação anual da ordem de R$ 2,8 bilhões de acordo com o consumo de gasolina e diesel no ano passado. Parece pouco, mas não se isso alimentar um Fundo de Investimento setorial. Uma arrecadação firme próximo dos R$ 3 bilhões anuais para o Fundo, legalmente estabelecida, possibilitaria um financiamento imediato de R$ 110 bilhões em rodovias, ferrovias e hidrovias num prazo de 30 anos, com baixíssimo risco. Isso resolveria parte substancial de nossos problemas logísticos.

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J. Carlos de Assis – Economista, doutor pela Coppe/UFRJ, professor de Economia Internacional da UEPB.

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Comentários

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lulipe

É só o começo do pacotão de maldades, vai faltar eufemismo para defender o governo, cof cof cof……

Arimatea13

é impressão minha ou os blog’s sujos foram invadidos por tucanos? É cada comentário idiota que tenho visto, seja no Nassif ou no Viomundo. Cada cretinice maior que a outra.

    tiago carneiro

    Comentario idiota eh não repetir o que o caf diz? Nem o paulo Henrique Amorim consegue defender a presidenta.

    A proposito, por onde ela anda?

pap

JOAQUIM LEVY = DELFIM NETTO

LEANDRO

Que texto sem sentido. A cide foi zerada porque o petroleo estava nas alturas. Ou se zerava a cobrança ou aumentava a gasolina e estourava a inflação. Agora o petroleo desabou e o governo tem que tapar rombos e roubos e volta com esse famigerado imposto. Quero ver cortar despesas, diminir algum dos 39 ministérios, etc…tentar administrar assim é fácil, imagina se a dona de casa pudesse aumentar a renda da familia sempre que necessário ao invés de economizar quando a situação aperta?

    ZePovinho

    O sistema financeiro privado faz isso.Cria moeda do ar por meio do sistema de reservas fracionárias.O Estado não pode,porque está proibido na constituição por instrumento colocado lá por eles mesmos.

Leonardo

Da minha parte já não dou mais um centavo do meu dinheiro pra esta gente escrota do PT.

Vendi o carro e aderi ao fretado e comprei uma bicicleta para o lazer.

Passo um perrengue, mas farei questão de zerar todos os meus gastos possíveis e não dar um centavo do meu dinheiro pra esta gente corrupta comedora de impostos

    Ralph Panzutti

    Sugiro que o senhor não faca analise com figado.Como quer que alguem leia sua opinião ofendendo as pessoas. Educação é importante. Ofensa não.

Romanelli

As contas públicas estão uma fossa.

Tivemos uma oportunidade ÍMPAR pra provarmos a validade de políticas anticíclicas que pudessem ser tocadas por governantes éticos e determinados ..mas..

DILMA desperdiçou ..desviaram, roubaram, deram pra campeões Nacionais, entulharam em investimentos – tipo com CUBA – que de retorno e pagamento duvidoso, ainda foram tidos como em “segredo Nacional”

A própria Petrobrás amealhou R$ 180 bi em capitalização, e aonde aplicou ? Fez US$ 2 virar US$ 18 bi na Abreu e Lima, ou US$ 6 se passar pro US$ 48 bi com a Comperj, teve mais uns BILHÕES em gasodutos e enterrados em Passadena.

reformas que é bom, nadica ..ao contrário, nos brindaram com 39 ministérios, 39

CLARO que o problema maior esta nos investimentos mal feitos e nas DESPESAS de custeio.

isso pra não falarmos nos programas assistências pouco avaliados e nada transparentes ..assim, já que não tem renda, pensam, encabrestem com alguma bolsa ou subsídio (energia, gás, água, refeição, medicamento, enxoval, uniforme, material, transporte, bolsa aluguel, bolsa GRAFITEIRO, bolsa TRAVESTI, bolsa DROGADO, bolsa família etc)

Despesas como os R$ 4,3 mil/mês de ajuda de aluguel, mais R$ 4 mil/mês em ajuda educação (ambos que já se pedem 20% de correção pra 2015) dado a juízes, promotores e procuradores federais.

Ou nos R$ 24 mil de aposentadoria dados a quase todo governador que se aposenta integralmente pelos 4 anos de mandato (tipo Jaques VAgner e Roseane Sarney)

ou nos R$ 45 mil mensais dados a um presidente do SESI por exemplo

Francamente, não há imposto que chegue mesmo.

bem, ao menos agora muitos entendem o pq de pagarmos, quase sempre, produtos, serviços e tarifas mais caras do mundo ..é pa bancar este tipo de orgia, né ?!

    tiago carneiro

    Produtos e serviços mais caros? Lembra qual seu voto em 1994? Culpa dele.

    Romanelli

    NÃO tenho NENHUMA preferência partidária e minhas críticas foram voltadas apenas a administração da COISA pública, não consegui entender a sua colocação ..penso que esse DRAMA transcende correntes, esta nas entranhas do modelo

    VC poderia desenhar pra mim o que a eleição de 1994 tem a ver com TODO o problema ? Já na época anterior de hiper inflação, os preços relativos tb aqui eram escandalosos.(inclusive devido a limitações de importações e a mercados pouco ou nada amadurecidos)

    Se vc quis se referir às privatarias, FORA de terem perpetuado cartéis e monopólios ao simplesmente transferirem do Estado pra inciativa privada atividades essenciais(*), lembro a vc que MUITO antes estes “negócios” na mão do Estado tb faziam água e NINGUÉM conseguia administrar bem ..e as mordomias, maracutuais e benefícios acintosos dados a poucos, não cessarão.

    Ademais, mesmo com os pogrecistas, as concentrações não pararam. Por ex:

    1.TROLLER e Ford
    2.ATACADÃO e Carrefour (primeiro ATACAREJO do Brasil)
    3.ASSAI e Pão de Açucar
    4.Ponto Frio e Pão de Açucar
    5.Casas Bahia e Pão de Açucar
    6.Unibanco e Itau
    7.Sadia e Perdigão
    8.Lucky Salgadinhos (Torcida) e Pepsico- Elma Chips
    9.AMACOCO (Kero-coco) e Pepsico-Elma Chips
    10.Mate-Leão e Coca-Cola
    11.refrigerantes Jesus e Coca-Cola
    12.OI e Brasil Telecon (BROI)
    13.Bertin e JBS-Friboi (menor, no Brasil, apenas que a PETROBRÁS)
    14.Marfrig-SEARA
    15.concentração do segmento de PLANOS DE SAUDE
    16.concentração do segmento de SEGUROS
    17.Concentração do segmento de MEDICAMENTOS GENÉRICOS
    18.Citrosuco e Citrovita..
    19.GOL e WEBJET
    20.Rede ONOFRE farmácias para Caremark
    21.venda AMIL para Unitedheath
    22. Yoki para Kitano
    23. Batavo e Elege para a Parmalat

    (*) A Embraer pra mim foi NOTO 10, siderúrgicas nota média, a VALE o MAIOR dos crimes, Teles não tinha saída mas poderia ter sido MUITO melhor executada, e as elétricas, veja o que acontece hoje em dia – é tudo farinha.

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