Dois anos sem Aaron Swartz. Ele queria mudar o mundo através da internet
Tempo de leitura: 4 minKika Br: “So… Many and lots of thanks dear Aaron. I love you”
Foi no dia 11 de janeiro de 2015 que um gênio criativo absoluto da informática e internet, um ferrenho defensor do conhecimento livre e colaborativo, chamado Aaron Swartz, completou dois anos de sua morte. Sabe-se e comprova-se que foi suicídio. Mas, tenho por mim, que o que o matou foi um sistema político totalmente errado e podre sobre o controle da informação na web, o que pode ou não vir a público gratuitamente ou com valores, mesmo que tal informação já seja de natureza “pública, grátis”.
Ele foi perseguido, processado, preso, solto, arruinado material e mentalmente pela magnífica “democracia americana”, que tanto preza a liberdade de informação, a liberdade de expressão, a “liberdade” em geral. Mas que, de fato, faz tudo ao contrário do que prega.
Quem vive dessa arma letal encantadora chamada internet sabe que informação é poder. Também sabe que esse universo paralelo, esse mito platônico ideal, por ter sido inventado pelo homem repete as mesmas falhas ou belezas do homem. E sabe que tudo que o homem inventou à sua semelhança, como Deus e o Tempo, pode virar uma encrenca sem limites, caso o inventor seja um lixo ou mesmo um gênio.
No caso de Aaron, um gênio do bem, tudo o que ele criou ou ajudou a criar em colaboração com outros, desde os 12 anos, foi pro beleléu. Ele não tinha as mesmas intenções de um ignóbil Gates, um visionário irascível Jobs e confrades mundo a fora, como o equivocadamente amado Facebook. O moço não visava o lucro ou negócios. Aaron queria que os poderes da informação/conhecimento fossem absolutamente livres, gratuitos para qualquer usuário da web.
Sua linguagem de programação era (ainda é, pois usamos e usaremos por longo tempo o que ele criou sem percebermos ou darmos crédito) um primor de clareza e funcionalidade. Seu cérebro funcionava quase à velocidade da luz, dava baile em veteranos, abismava qualquer um sem dó ou piedade. Um pivete ensinando e contribuindo junto aos PHDs do ramo.
Mas acabou morto pelo sistema que muita gente sonha ter, admira, inveja: o fascinante “american way of life”. Nesse filme, que espero seja visto cuidadosamente, mais uma vez se comprova a hipocrisia, a maldade, a imperfeição horrenda (sob muitos aspectos) da filosofia americana, tão cultuada por aqui. Não é um filme fácil. É vergonhoso, dolorido.
Se depois de assisti-lo você não parar para refletir com seriedade, sobretudo se não entender de uma vez por todas o que de fato é informação e quem a deseja com ardor infinito ao mesmo tempo em que a comanda, detém e vigia; o que é a internet, o que é esse perigosíssimo Face e as ditas “comunidades virtuais” tão lindinhas… Se você continuar boiando e fazendo em público o que só se faz na privada, é melhor deixar um aviso para fecharem a tampa porque você já morreu, tá fedendo no caixão e não percebeu.
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Quem sabe também consiga ver o outro lado de fatos como o do francês Charlie. Pode ser que sirva de lição sobre o que é “lei de meios”. Talvez repense a diferença entre liberdade e libertinagem, medo e respeito, ódio e burrice, ignorância e multifobias… O Aaron explicou tudo direitinho, mas contra imbecilidade não há remédio.
Mas ele nos deixou muitos legados em sua guerra em favor do livre, amplo, irrestrito direito ao conhecimento. Meu preferido é o caso que aparece quase ao final do filme. Um garoto de 14 anos, Jack Andraka, inventou algo sensacional e revolucionário no campo da medicina, graças ao que Aaron expôs ao mundo – o JSTOR, publicações científicas que deveriam ser públicas, mas ficavam trancadas nos servidores universitários, a não ser que pagassem muito por elas, algo que Andraka não poderia fazer – eram U$35,00 por uma publicação de 10 páginas. O menino copiava todos os artigos e os lia “religiosamente todos os dias”.
O que Andraka fez? Primeiro enviou insistentes e-mails a todos do departamento de oncologia da John Hopkins. Apenas um dos pesquisadores respondeu e o convidou a ir até lá. Juntos eles trabalhavam às noites e finais de semana para aperfeiçoar o tal invento de um menino de 14 anos, morador em Baltmore.
O que era, afinal? Um simples e baratíssimo teste que detecta o câncer de pâncreas em estágio muito inicial. Coisa que evita tratamentos violentos, cirurgias de alto risco (verdadeiras reengenharias abdominais) e a morte do paciente, antes inevitável. Porque essa doença é difícil de ser diagnosticada. Quando aparece o veredito, já é tarde demais. Só resta jogar com a sorte e torcer para que as drogas funcionem, já que não há remédio específico para esse tipo de câncer.
Não é maravilhosa essa invenção? É espetacular. A notícia saiu quase um mês após a morte de Aaron Swartz. O garoto Jack o agradeceu publicamente pela chance de ter tido acesso aos arquivos.
De fato, informação é poder. Principalmente quando usada por gente do bem, para o bem de todos. Mas Aaron foi tratado como terrorista, vândalo, ladrão e mais um monte de coisas que totalizaram 13 tipos de crimes, de acordo com a “justiça” dos USA.
So… Many and lots of thanks dear Aaron. I love you.
O Menino da Internet: a História de Aaron Swartz
O filme narra a história do jovem Aaron Swartz (1986-2013), um jovem programador norte-americano que acreditava na mudança radical do mundo através da internet
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