David North: Charlie lembra revista que promoveu antissemitismo

Tempo de leitura: 6 min

Captura de Tela 2015-01-13 às 12.54.58

Ilustração via Gerson Carneiro

A hipocrisia da “liberdade de expressão” depois do ataque no Charlie Hebdo

por David North, no World Socialist Web Site, em 09.01.2015

O ataque contra o escritório editorial do Charlie Hebdo chocou o público, que ficou horrorizado com a morte violenta de 12 pessoas no centro de Paris. As imagens de vídeo de um atirador disparando e matando um policial já ferido, vistas por milhões, deram ao evento de quarta-feira uma atualidade extraordinária.

Na sequência imediata do ataque, o Estado e a mídia estão tentando explorar o medo e a confusão do público. Mais uma vez, a bancarrota política e o caráter reacionário do terrorismo são expostos. Ele serve aos interesses do Estado, que utiliza a oportunidade dada pelos terroristas para aumentar seu autoritarismo e militarismo.

Em 2003, quando o governo Bush invadiu o Iraque, a oposição popular na França foi tão grande que o governo do presidente Jacques Chirac foi obrigado a se opor à guerra, mesmo sob pressão política maciça dos Estados Unidos.

Agora, 12 anos depois, enquanto o presidente François Hollande tenta transformar a França no principal aliado dos Estados Unidos na “guerra ao terror”, o ataque reforça sua posição.

Nesta tentativa Hollande pode se apoiar na mídia, que em tais circunstâncias dirige toda a sua energia para a manipulação emocional e a desorientação política do público.

A mídia capitalista, que combina supressão de informação com meias-verdades e mentiras descaradas, desenvolve uma narrativa calculada para apelar aos instintos mais básicos do grande público, mas também aos seus sentimentos idealistas e democráticos.

Apoie o VIOMUNDO

Em toda a Europa e nos Estados Unidos, a alegação está sendo feita de que o ataque à revista Charlie Hebdo foi um assalto à liberdade de imprensa e ao direito inalienável dos jornalistas de se expressar em uma sociedade democrática sem correr o risco de perder a liberdade ou temer por suas vidas.

A morte dos cartunistas e editores do Charlie Hebdo está sendo proclamada como um assalto aos princípios da liberdade de expressão, que são supostamente tão queridos na Europa e nos Estados Unidos. O ataque ao Charlie Hebdo, assim, é apresentado como outro ultraje cometido pelos muçulmanos, que não podem tolerar as “liberdades” ocidentais.

Disso se conclui que a “guerra ao terror” — isto é, o ataque imperialista ao Oriente Médio, Ásia Central, África do Norte e Central — é uma necessidade inevitável.

Em meio a esta orgia de hipocrisia democrática, nenhuma referência é feita ao fato de os militares norte-americanos, no curso de suas guerras no Oriente Médio, serem os responsáveis pela morte de 15 jornalistas.

Na atual narrativa de “liberdade de expressão sob ataque”, não há espaço para qualquer menção ao ataque, com um míssil ar-terra, ao escritório da Al Jazeera em Bagdá, em 2003, que deixou três jornalistas mortos e quatro feridos.

Nada é escrito ou dito sobre o assassinato, em julho de 2007, de dois jornalistas da Reuters que trabalhavam em Bagdá, o fotógrafo Namir Noor-Eldeen e o motorista Saeed Chmagh.

Ambos foram deliberadamente atacados por um helicóptero Apache enquanto trabalhavam em Bagdá oriental.

Os públicos norte-americano e internacional puderam ver as imagens do assassinato a sangue frio dos dois jornalistas e de um grupo de iraquianos — filmado de um dos helicópteros — como resultado de um dos vazamentos do WikiLeaks do material secreto obtido do cabo norte-americano Bradley Chelsea Manning.

E como os Estados Unidos e a Europa agiram para proteger o exercício de liberdade de expressão do WikiLeaks? Julian Assange, o fundador e editor dos WikiLeaks, tem sido submetido a insistente perseguição. Importantes figuras políticas e midiáticas dos Estados Unidos e do Canadá o denunciaram como “terrorista” e exigiram sua prisão, com alguns pedindo até seu assassinato.

Assange está sendo perseguido em alegações fraudulentas de “estupro” criadas pelos serviços de inteligência norte-americano e sueco. Ele foi forçado a buscar esconderijo na embaixada do Equador em Londres, que está sob constante guarda da polícia britânica, que vai prendê-lo se Assange deixar o local. Quanto a Chelsea Manning, ele está na prisão, servindo uma pena de 35 anos por traição.

É assim que as grandes “democracias” capitalistas da América do Norte e da Europa demonstraram seu compromisso com a liberdade de expressão e a segurança dos jornalistas!

A narrativa desonesta e hipócrita criada pelo Estado e pela mídia requer que os cartunistas e jornalistas do Charlie Hebdo sejam tratados como mártires da liberdade de expressão e representantes de uma reverenciada tradição de jornalismo atrevido e iconoclasta.

Numa coluna publicada quarta-feira no Financial Times, o historiador liberal Simon Schama colocou o Charlie Hebdo na gloriosa tradição da irreverência jornalística que é “o sangue da liberdade”.

Ele relembrou os grandes satiristas europeus entre os séculos 16 e 19, que submeteram os grandes e poderosos a seu profundo desprezo. Dentre seus alvos, Schama lembrou, estiveram o brutal Duque de Alba, que nos anos 1500 mergulhou a luta dos holandeses por liberdade em sangue; o rei sol francês, Louis 14; o primeiro-ministro britânico William Pitt; e o príncipe de Gales.

“A sátira”, escreveu Schama, “se tornou o oxigênio da política, trazendo saudáveis gargalhadas de desprezo às cafeterias e tavernas, onde as caricaturas circulavam todo dia e toda semana”.

Schama coloca o Charlie Hebdo em uma tradição à qual ele não pertence. Todos os grandes satiristas aos quais Schama se refere eram representantes do Iluminismo democrático, que dirigiam seu desprezo contra os poderosos e corruptos defensores dos privilégios da aristocracia.

Em seu implacável e degradante retrato dos muçulmanos, o Charlie Hebdo goza os pobres e os impotentes.

Falar dura e honestamente sobre o caráter sórdido, cínico e degradante do Charlie Hebdo não significa concordar com as mortes de seu pessoal. Mas quando o slogan “Eu sou Charlie” é adotado e pesadamente promovido pela mídia como slogan para as manifestações, aqueles que não foram convencidos pela propaganda do Estado e da mídia ficam obrigados a responder: “Nós nos opomos ao ataque violento contra a revista, mas não somos — e não temos nada em comum — com o Charlie”.

Os marxistas não são estranhos à luta para superar a influência da religião sobre as massas. Mas eles conduzem a luta com o entendimento de que a fé religiosa é sustentada pelas condições de adversidade da vida e pelo desespero. A religião não deve ser ridicularizada, mas entendida e criticada, como Karl Marx entendeu e criticou:

“A angústia religiosa é… a expressão de angústia real e também um protesto contra a angústia real. A religião é o suspiro de uma criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, assim como é o espírito em condições inóspitas. É o ópio do povo”.

“Abolir a religião como a felicidade ilusória do povo é exigir sua felicidade real. A exigência por abandonar as ilusões sobre as condições atuais é a exigência por acabar com o estado de coisas que exige ilusões. A crítica da religião é, assim, o embrião da crítica de um vale de lágrimas, do qual a auréola é a religião”. [Contribution to Critique of Hegel’s Philosophy of Law, in Marx and Engels Collected Works, Volume 3 (New York, 1975), pp. 175-76]

É preciso apenas ler as palavras acima para ver o abismo intelectual e moral que separa o marxismo da sopa doentia de cinismo da ex-querda política que encontra expressão no Charlie Hebdo. Não há nada revelador, o que dizer edificante, na tentativa da revista de denegrir, de forma pueril e muitas vezes obscena, a religião muçulmana e suas tradições.

As caricaturas anti-islã que apareceram em tantas capas do Charlie Hebdo, cinicamente provocativas, facilitaram o crescimento dos movimentos chauvinistas de extrema-direita na França.

É absurdo alegar, como defesa editorial do Charlie Hebdo, que seus cartuns são todos “de brincadeira” e não têm consequências políticas.

1893_La-Libre-Parole-antisemitische-Karikatur

Além do fato de que o governo francês busca desesperadamente apoio para sua agenda crescentemente militar na África e no Oriente Médio, a França é um país onde a influência da Frente Nacional neo-fascista está crescendo rapidamente.

Neste contexto político, o Charlie Hebdo facilitou o crescimento de uma forma politizada de sentimento anti-islâmico que tem uma inquietante semelhança com o politizado antissemitismo que emergiu no movimento de massas da França nos anos 1890.

No uso cruel e vulgar de caricaturas que promovem uma imagem sinistra e esteriotipada dos muçulmanos, Charlie Hebdo relembra as publicações racistas que tiveram um papel significativo na agitação antissemita que dominou a França durante o famoso Caso Dreyfus, que irrompeu em 1894 depois que um oficial judeu foi acusado e falsamente condenado por espionagem em nome da Alemanha.

Ao fortalecer o ódio popular contra os judeus, La Libre Parole, publicado pelo infame Edoard Adolfe Drumont, fez um uso altamente eficaz de cartuns que usavam temas antissemitas. As caricaturas serviram para inflamar a opinião pública, incitando multidões contra Dreyfus e seus defensores, como Emile Zola, o grande novelista e autor de J’Accuse.

O World Socialist Web Site, com base em seus antigos princípios políticos, se opõe e inequivocadamente condena o assalto terrorista contra Charlie Hebdo. Mas recusamos nos juntar àqueles que definem a revista como mártir da causa da democracia e da liberdade de expressão — e alertamos nossos leitores para a agenda reacionária que motiva esta campanha desonesta e hipócrita.

Leia também:

Luana Tolentino: Quem sairá às ruas pelas vítimas de massacres na Nigéria?

Apoie o VIOMUNDO


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Jorsom

Mona Chollet, jornalista do Charlie Hebdo, protestou contra a intolerância do jornal e em reposta ao ato de usar a sua liberdade de expressão ao criticar o jornal foi demitida por seus editores. Meu máximo protesto contra as suas mortes, mais acho que eles radicalizaram excessivamente no escárnio e vestidos de iconoclastas semearam o ódio e na sua arrogância não compreenderam que as suas charges só aumentaram o desejo dos fanáticos em derramar sangue.

A declaração de um importante líder muçulmano no Oriente Médio, ao ver a ultima capa do Charlie Hebdo que já vendeu três milhões de exemplares, me deixou preocupado. Ao ver a capa do jornal ele faz uma pausa e diz: “Ele (Alá) perdoa, mais os humanos não”. Outros lideres muçulmanos também condenaram o jornal e a ideia de que minorias isoladas agem sem o conhecimento de seus lideres é colocado em xeque. A preocupação imediata dos governantes e lideres de outras religiões em desassociar o fanático do religioso é uma forma de colocar água fria no fervor dos conflitos existentes entre a sociedade ocidental e muçulmana e que estamos vendo hoje é só a ponta do iceberg. O diálogo aberto e franco entre as civilizações é a única forma de evitar que as “profecias” de Samuel P. Huntington se compram.

As vezes abrir mão de minha liberdade de expressão, em criticar ou condenar o outro na sua forma de ser, seja ela cultural, filosófica ou religiosa respeitando suas diferenças é o ápice da liberdade, a sua mais nobre expressão, e sua consequência final será semear a igualdade e a fraternidade.

FrancoAtirador

.
.
Houve um Atentado não só à Liberdade de Expressão,

mas fundamentalmente à de Respirar e à de Ir e Vir.
.
.

    FrancoAtirador

    .
    .
    E os assassinos, antes de serem muçulmanos,

    eram fanáticos religiosos e muito burros,

    semelhantes aos Muares Fascistas braZilêros.
    .
    .

wendel

A acreditar nesta fatalidade, como sendo obra de mulçumanos, estaremos já mortos!
Mortos no sentido de não mais ter condições de analisar a grande farsa que foi montada, para justamente justificar we buscar apoios populares, para medidas de controle das massas, e possivelmente novas intervenções no oriente e norte da Africa.
Isto tudo me faz lembrar o que disse Victoria Nuland, diplomata do Deptº do Estado norte-americano quando da crise na Ucrania : “F… the EU” (A UE que se f…”).
Agora, com este “ato terrorista”, os países da UE, vassalos do império, se sentirão “obrigados”, a compactuar com as decisões que vierem a serem tomadas pelo immpério, e o que é pior, com o aval do cordeiros tão bem amestrados pelas organizaões midiáticas!!!!
” … e alertamos nossos leitores para a agenda reacionária que motiva esta campanha desonesta e hipócrita.(David North).

Eder Carvalho

Belo artigo, se as caricaturas fossem de Jesus ou Moisés a direita não teria a mesma opinião…

Lukas

Charlie Hebdo lembra la Libre Parole…

Charlie Hebdo representava os perseguidores…

Charlie Hebdo promove a islamofobia…

Tudo isto na capa de Viomundo.

É ou não é campanha? Não, é o Outro Lado…rs

    Gabriel Braga

    Não é possível que seja tão complicado entender determinadas coisas.

    O Viomundo,ao trazer textos como esse,está fazendo o contraponto ao discurso dominante na mídia tradicional,que está retratando os cartunistas da Charlie Hebdo como mártires.Na grande imprensa sim não há espaço para o chamado outro lado e qualquer questionamento,por menor que seja,da postura da publicação é vista como se fosse um endosso à barbárie praticada contra os jornalistas.

edna

Muito bom texto. Parabéns.

Leo

O atentado na França foi um atentado à liberdade de expressão. Contudo, antes de qualquer discussão, não podemos prescindir dos direitos e garantias individuais. Por outro lado, temos que ter cuidado para não nos deixar levar pela hipocrisia sobre o fundamentalismo islâmico, já que o fundamentalismo cristão dos EUA, que nada tem de Cristo, já levou espada e sangue aos quatro cantos do planeta com o aval dos principais líderes mundiais.

Mauro Assis

Putz!
Me digam só uma coisa: os terroristas islâmicos precisam do estímulo de publicações francesas para sair matando gente? Os malucos do EI são todos letrados em francês?

    daniel

    Os autores dos atentados eram cidadãos franceses.

Indio Tupi

Aqui do Alto Xingu, os índios podem dizer “Je suis Tupã” ou, como os católicos podem dizem “Je suis Jesus”. A propósito deste último, os índios submetem um texto do filósofo Enrique Dussel:
“”

Um imigrante e exilado
político chamado de Joshúa de Nazaré

A filosofia política nos
permite realizar uma hermenêutica filosófica de narrativas e conteúdos em
textos religiosos; o que se chama de “Natividade” é um festival das culturas do
Mediterrâneo e de outros povos em que se celebrava o 21 de dezembro, o dia mais
curto do ano, porque nesse dia o sol haveria de ir “crescendo”. Era o sol de natal (nascimento do sol). Desde
o século III d.C., o cristianismo adotou essa festa, que não era nem judia nem
cristã, e celebrou nesse momento o nascimento de Joshúa de Nazaré. As circunstâncias
desse nascimento passam despercebidas, fetichizadas sob sentidos completamente
superficiais. Vejamos um pouco a questão.

Sabe-se que o imperador romano
do momento ordenou que se efetuasse um censo para a cobrança de tributos dos
súditos coloniais. A Palestina era uma colônia romana. A família de Joshúa,
descendendo da dinastia do rei David, rei do pequeno reino entre o Egito e a
Mesopotâmia, devia ir a Belém, lugar de nascimento e residência do indicado
reizinho.

Como não tinham recursos –
eram imigrantes pobres –, Maria devia dar a luz ao menino em condições de
indigência: “o envolveu em panos e o encostou em um estábulo, porque não
encontraram lugar na pousada” (Lucas, 1,7) Pobres
imigrantes, então! Um latino ou brasileiro no império estadosunidense! Logo
a situação se agravará.

E isso porque o monarca colonial
colaboracionista do Império Romano, sendo Herodes um usurpador (como entre nós
podem ser um Pinochet, um Videla, um Solano Lopes e tantos outros que não vale
lembrar), não de estirpe real, ao inteirar-se de que havia a possibilidade do
nascimento de um descendente de David, temendo então que um dia lhe disputaria
o poder, ordenou “matar todas as crianças de até dois anos de Belém e seus
arredores” (Mateus, 2, 16). José foi informado de que “Herodes buscava o menino
para mata-lo. Por isso, José se levantou, pegou a criança e sua mãe à noite
(próprio para um perseguido assustado) e fugiu para o Egito, e ali ficou até a
morte de Herodes” (Mateus, 13-14). Vemos, então, que a vida de Joshúa se
iniciou no perigo da pobreza, da humilhação, da opressão (nasceu em um
estábulo) e, nem bem nascido, quase o assassinam (a não ser por causa dos
informantes que José tinha). Era, então, um perseguido político! E leia-se bem: Perseguido político e não religioso,
porquanto se intentou assassiná-lo porque na “genealogia de Joshúa, o Ungido,
(estava indicado que era) descendente de David” (Mateus, 1, 1). Era, então, um
imigrante indefeso!

Essa estada no Egito não foi
inútil para Joshúa. Com efeito, deve ter aprendido muitas coisas nessa grande
civilização – imensamente mais desenvolvida que sua pequena Palestina. Entre o
que aprendeu se contam os critérios éticos universais que enumera como
princípios do Juízo Final (acontecimento celebrado nas tradições egípcias e que
tinha a grande deusa da justiça Ma`at por protagonista e que, como suprema,
perguntava ao morto, que lhe rogava a ressureição, o que havia feito de bom em
sua existência: ao que o morto respondia: “Dei pão ao faminto, agua ao sedento,
roupa ao desnudo e barco ao peregrino” (Capítulo 25 do Livro dos Mortos do Egito, que Joshúa reproduz em Mateus, 25,
enunciado muito mais completo que os sugeridos por Isaías). O certo é que
aquela família de exilados políticos e indefesos imigrantes, quando obtiveram a
informação de que “Herodes morreu (…José) se levantou, tomou a criança e sua
mãe e entrou em Israel” (Mateus, 2,21). Mas, como toda família de exilados políticos,
“teve medo de ir lá”, e isso porque “Arquéalo reinava na Judéia como sucessor
de seu pai Herodes”. Foi por isso que preferiu ficar longe de Jerusalém, onde
os serviços de informações da época eram menos ativos e por isso “retirou-se à
Galiléia” (Mateus, 22-23).

Mas, isso não é tudo. Ao final
de sua vida, aquele laico (porque Joshúa nunca foi um sacerdote, e celebrou
cultos próprios de todo pai de família, como o hagadá, a chamada “última ceia”) endereçou sua crítica em primeiro lugar contra a corrupção da
religião de seu povo (“toda crítica começa pela crítica da religião”, diria
séculos depois um descendente judeu alemão), já que, entrando no templo de
Jerusalém, derrubou as mesas dos cambistas e os postos dos que vendiam pombas,
dizendo-lhes: “Minha casa será casa de oração, mas vocês converteram-na em cova
de ladrões” (Mateus, 21, 13). Podemos dizer, objetivamente, que Joshúa era anticlerical, quando o sacerdócio se
burocratizou e se transformou em cúmplice político do poder, esse mesmo
fetichizado.

Aquele messias profético (não
davidico ou político) viveu toda sua vida a partir da experiência “do tempo que
resta”, como alguém com tal responsabilidade pelos pobres e as vítimas que dava
pouco valor à sua vida, que estava empenhado na luta contra a injustiça e o
domínio dos poderosos (do templo, da pátria colonial e do Império). Por isso,
ao final, foi acusado de “rebelar o povo” (“rebela o povo com seus ensinamentos”,
Lucas 23,5) contra o rei palestino
Herodes, o filho, e o mesmo Império Romano. Ao final, é crucificado (a cruz era a cadeira elétrica política daquela época). A cruz era a condenação política contra os
terroristas que se levantavam contra
a lei sagrada do Império. Essa acusação era novamente uma acusação política, não religiosa (porque Pilatos
não a aceitou ou não lhe deu importância de haver sido só uma acusação
religiosa).

Por isso, o exilado político no Egito terminou assassinado
sob a acusação de rebelião política,
e com um aviso sobre sua cruz, novamente, que nada indicava de religioso “Joshúa
de Nazaré, o rei dos judeus” (Mateus,
27, 38), título político e não religioso que o mesmo Joshúa aceitou (“ – És tu
o rei dos judeus? […] –Tu o dizes – respondeu Joshúa” Mateus, 11). O que mais
irritou os traidores políticos e religiosos coloniais judeus, e à soldadesca do
Império, era a prédica profética política
de Josúa que dava fundamento aos pobres e humilhados para suas lutas contra a
dominação, transformando-os em atores da história desde o postulado de um reino
da justiça fraterno. O certo é que tal postulado transformará a partir de baixo todo o Império Romano, e
a outros posteriormente!

    anac

    Amém!
    Os impérios cairão TODOS!

    Yacov

    Clap clap clap …

    “O BRASIL PARA TODOS não passa na REDE GLOBO de SONEGAÇÃO & GOLPES – O que passa na REDE GLOBO de SONEGAÇÃO & GOLPES é um braZil-Zil-Zil para TOLOS”

Deixe seu comentário

Leia também